Perdida? escrita por Romantica10


Capítulo 2
Capitulo Dois




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CAPITULO DOIS

Quando chove, eu não posso dar um passo para fora do quarto. Junto com a AIDS vêm as precauções chatas, mas que me mantêm viva. “Sair na chuva? Nem pensar, e se você pegar um resfriado?” E sempre isso que eu escuto, eu odeio, mas eu sei que os que estão dizendo isto se preocupam com a minha saúde.

Então enquanto fico quieta no meu quarto, eu leio. Leio Extraordinário. Não pense que eu leio esse livro pelo fato de me colocar no lugar Auggie (talvez eu me coloque sim no lugar dele), mas independente disso, independente da doença e tal, tem uma coisa que eu não tenho e talvez jamais tenha na minha vida: Uma família. Mesmo com a mudança de escola e as pessoas te excluindo, te ignorando, tendo medo de você, você ainda teria apoio, você ainda teria sua família.

De vez em quando, eu choro. Eu choro por estar sozinha e não ter ninguém. Não faço automutilação, além de ser covarde demais para isso, eu não vejo o porque de fazer isso comigo. Está bem que meu corpo tem baixa imunidade e que eu estou condenada a morrer tomando remédios, mas se eu não lutar por mim quem que vai? Eu sei que não tem muita lógica nisto, então eu devo ser covarde demais realmente.

Dormi com um cobertor grosso hoje. Estava frio e eu nem podia pensar em dor de garganta, além de ser chato ficar doente agora – sempre -, não é uma boa idéia.

Quando acordei me vesti, pois logo Tânia viria me buscar. Jeans, confere. Blusa, confere. Casaco, confere e tênis velho e surrado, confere. Tânia é minha acompanhante as idas ao Hospital, ela comunica a diretora o meu estado de saúde a cada consulta. Ela é legal, na maior parte do tempo.

Quando ela chegou, eu já estava lendo de novo. Abandonei o livro em cima da cama e deixei ela me levar até a Chevy. Durante a viajem no carro, ela tentou quebrar o silêncio falando sobre o berçário e as crianças do Orfanato, mas ficou em silêncio logo depois.

Olhei para a rua com admiração. Pessoas livres, crianças correndo e por um momento eu me imaginei ali. Comendo um Hot Dog sentada num banco da praça ou fazendo compras. Por um momento eu sorri, por um momento.

Ao chegarmos no Hospital, segui o mesmo caminho de sempre para a sala do Dr. Lewis. Lewis começou a acompanhar meu vírus letal quando eu tinha cinco anos e até hoje ele é uma cara super legal. Grisalho com um sorriso enorme, ele me recebe na sala. As mesmas perguntas, as mesmas receitas de remédio. A gente se acostuma.

Exames depois eu já estou dentro da Chevy, para voltar ao Orfanato. Quando chego, Cristina a diretora está conversando com todas as crianças, dês dos pequenos aos grandes. Só peguei a parte final.

“Amanhã os jovens voluntários da “Take Care of Another” virão nos visitar. Virão trazer uma palestra a respeito do trabalho deles e participarão da recreação com vocês, brincaram aqui. Chegarão às nove horas da manhã. Estou avisando que coloquem sua melhor roupa para essa ocasião”. Disse e se despediu, indo para o gabinete.

Eles nos davam roupas boas, disso eu não podia reclamar.

“Voluntários…” Tânia disse ao meu lado. “Garotos jovens de dezesseis a dezoito anos, hein?” Me olhou sugestivamente. “Interessada?” Começamos a andar em direção ao meu quarto no segundo andar.

“Tipo, você quer saber se eu estou interessada em garotos que nem conheço?” Digo, levantando as sobrancelhas. Eu já sei aonde esse assunto vai parar.

“Você entendeu o que eu quis dizer”. Olhou para mim, me repreendendo. “Não se interessa mesmo em saber que você pode achar um cara legal da sua idade? Não pensa em namorar, Luiza?”. Entro no meu quarto.

“Você fala como se eu pudesse me dar ao luxo de gostar de alguém”. Sento na cama.

“Luiza, você tem direito de ser feliz”.

“Estou feliz aqui. Estou com as únicas pessoas no universo que sabem a minha existência e que se preocupam com minha saúde”. Sai do assunto “ser feliz” rapidamente e Tânia saiu do quarto.

É complicado para mim entra na discussão do “ser feliz”. Sei que todos aqui tem seus problemas, mas eu… eu sou um caso perdido. Eu realmente sou uma masoquista fillha da mãe que gosta de se martirizar.

Abigail voltou mais cedo para o quarto hoje. Ela chegou enquanto eu estava tomando banho. Gritava ensandecida de felicidade, dizendo que encontraria o amor da vida dela amanhã. Enquanto eu tomava banho, se passou pela minha cabaça, quantas garotas estariam tendo a mesma reação de Abigail? Tendo esperanças de encontrar alguém para tirá-las daqui. Acho que todas, menos eu.

“Como foi o dia?” Ela me pergunta.

“Bom. Vi o Dr. Lewis hoje”. Comecei a pentear meu cabelos molhados.

“Ansiosa?”.

“Para que?” Me fiz de desentendida.

“Para amanhã, Luiza! Amanhã! Talvez encontremos alguém que possa nos amar e nos tirar daqui!” Fala alto, se levantando da cama.

“Já não há mais esperança para mim, Abigail”. Sussurro.

“Para mim também não há, mas eu não vou aceitar viver aqui para sempre! Eu vou tentar sair daqui até o ultimo dia da minha vida, porque eu quero uma família!” Berra. “Eu não vou ficar plantada esperando morrer aqui no Orfanato! Eu vou realizar meu sonho! Eu sair daqui!” Sem falar mais nada ela saiu em direção ao banheiro.

Deve ser realmente chato dividir o quarto comigo. Uma portadora de AIDS, masoquista que só pensa em si mesma. Só porque eu não tenho esperança, não devo abalar a dos outros. Quando ela saiu do banheiro subiu para sua cama e não falou mais comigo.

“Eu sei” comecei “que eu na sou a pessoa mais alegre que pode encorajar você a fazer coisas incríveis, mas eu gosto de você e espero que você consiga sair daqui sim. Meus problemas não têm haver com seu sonho. Então continue pensando positivo, talvez amnhã você conheça uma pessoa legal”.

Ela não falou nada, mas eu sabia que ela estava chorando. Ela é orgulhosa demais para admitir.


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Notas finais do capítulo

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