Alma de Coordenadora Pokémon - Fita da Vida escrita por Kevin


Capítulo 18
Dama das Águas


Notas iniciais do capítulo

Estamos de volta!
Sinto pelo Hiato de um pouco mais de um mês. Mas, estava de mudança e com isso fiquei sem internet (bem mais que um mês).

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Espero que gostem deste capitulo!



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Ele estava boquiaberto e não tenho certeza se ele sabia disso. Pensei em levar minha mão ao seu queixo e fechar a boca dele, num ato de puro deboche e convencimento. Mas, as consequências de fazer isso com Aries não eram muito claras em minha mente.

Eu tinha que confessar que o show foi impressionante e que certamente fiquei como ele durante algum tempo, mas passado uma hora ele ainda parecia estar em transe com a apresentação artística da líder do ginásio de Cerulean. Definitivamente, Brock tinha razão, aquela amiga dele poderia realmente me ajudar a me tornar uma coordenadora melhor.

 

— Dama das Águas é realmente uma ótima peça. -

 

Comentei a fim de conversar sobre o que havíamos visto enquanto cruzávamos os corredores do ginásio atrás da líder local. Uma peça de quatro atos que estávamos assistindo onde tudo se passava em uma piscina que pokémon e sua treinadora encenavam uma peça com movimentos incríveis. Era uma apresentação que faria inveja a qualquer coordenador. Eu gostava dessa parte de conversar sobre arte, discutir os elementos e outros, mas além de não conseguir fazer isso com as apresentações devido a pressão de compará-las com as minhas, o fato de eu não saber das técnicas pokémon, eu não tinha com quem fazer isso, Aries não sabia falar!

Meu companheiro de viagem simplesmente me deixava de cara sempre que eu tentava conversar sobre isso. Enquanto na casa de Beta, que a vi fazendo exercícios desse estilo com os Bluenda e Aries mostrando boa analise, imaginei que isso seria algo que eu poderia fazer com ele.

 

— Fico feliz que tenha gostado! - Uma voz de mulher soou na ponta do corredor. - É uma das poucas que escrevi sozinha. -

 

Era uma mulher já desenvolvida, com corpo atlético, antes com um biquíni revelador e agora uma roupa leve que mais lembrava uma saída de praia. Ruiva, de pele clara ela estava em uma postura a vontade, observando nossa aproximação.

 

— Sou Misty, líder do ginásio. - Ela disse e olhou primeiro para mim e depois para Aries que finalmente havia fechado a boca. - Suponho que você não seja o treinador desafiante, tem cara de caçador. - Ela disse para Aries. - Se bem que você não tem cara de treinadora também. - Ela sorriu sem graça. - Mas, sei que não se julga livro pela capa, então espero que faça uma excelente batalha. -

 

Dei uma risada seguida por Aries. A enfermeira Joy local havia nos advertido que após as apresentações ela costuma ficar muito falante. Estava tagarelando no nível que imaginei.

 

— Acertou o dele. - Eu disse imaginando o que deveria ter entregado a Aries. - Mas, enganou-se com o meu. Não sou treinadora. -

 

— Não? - Olhou-me por alguns instantes e riu. - Todos somos treinadores na essência. - Ela deu de ombros. - Mas, se não é treinadora o que é? -

 

— Sou coordenadora po... -

 

Ela não deixou eu terminar de falar, simplesmente virou as costas para nós e saiu andando.

 

— Tem dois minutos para sair do meu ginásio ou chuto você daqui! -

 

 

Alma de Coordenadora Pokémon
— Fita da Vida -
Episódio 17: Dama das Águas

 

— Ai! -

 

E eu cai de peito no chão após a líder de ginásio me pegar e realmente me chutar do lugar após dois minutos passados para sair. Eu não imaginava que aquele tipo de coisa poderia acontecer. Se aquele era o trato que os coordenadores recebiam na área, eu definitivamente entendia porque era dada como zona morta.

 

— E eu achava que já havia visto de tudo. - Aries ria encostado na parede de entrada do ginásio enquanto eu me levantava batendo a poeira. - O que vamos... - Ele parou de falar enquanto eu preparava-me para entrar novamente no ginásio. - Por mais que a cena tenha sido engraçada e tenho certeza que será engraçada quantas vezes ela acontecer, não creio que tenha gostado de ser chutada. -

 

— Ela não pode fazer isso com as pessoas! - Disse irritada. - Mas, tem razão, entrar ai só fará eu ser chutada novamente. - Cerrei os punhos irritada. - O que o Brock estava pensando quando me falou para vir falar com ela? -

 

Um levantar de ombros indicando que não tinha a menor ideia. Olhei em volta e percebi que estávamos em uma entrada diferente da que havíamos entrado. Aquele tinha a placa do ginásio, ao invés da placa do show e do aquário. Cerulian era uma cidade grande com muita coisa para se visitar, turistas adorariam aquele lugar e gastariam o dia inteiro no ginásio, olhando o aquário e a apresentação. Caso desse sorte talvez poderia presenciar a líder mal educada enfrentar um desafiante do ginásio ao defender sua insígnia.

 

— É isso! -

 

Eu parei de andar enquanto circundávamos a estrutura que a líder tomava conta. Aries me olhou sem entender e apenas sorri, voltei correndo para a porta pela qual fui chutada e ele ficou um tempo parado, talvez não acreditando no que eu estava fazendo. Mas, no final acabou seguindo-me.

Eu passei pelos corredores pela qual fui empurrada pela líder e fui parar, novamente no corredor no qual encontrei-a e passei por ele rapidamente até chegar na arena de batalhas do ginásio, onde ela estava sentada, a beira da piscina conversando com um pokémon que me fez paralisar.

As vezes pergunto-me se sou realmente idiota. A ideia era simples e convincente, mas não havia pensado em tudo. O primeiro líder de ginásio que conheci na vida chamava-se Brock e tinha uma serpente de pedra monstruosa como parceiro pokémon principal a defender seu ginásio, quais as chances de Misty ter uma serpente monstruosa a defender seu ginásio? Total!

 

— Você de novo? – Ela não havia escutado a minha chegada, mas seu pokémon ficou a me encarar e ela percebeu que algo estava atrás dela. - Você é masoquista? -

 

— Acredite, eu questiono-a sobre isso o tempo todo! - Aries respondeu-a assim que chegou perto de mim. - Gyarados? Agora entendi porque parou de correr e parecia uma estátua desde que consegui te ver quando entrei no corredor. -

 

Então aquele era o nome da criatura a minha frente. Uma serpente marinha gigante com escamas que pareciam reluzir como metal. Corpo azul com algumas partes amarelas e uma grotesca e feroz. Ele metia mais medo que Onix certamente! Eu tinha que ter paralisado de medo, aquilo era assustador.

 

— Vou dar dois minutos para ir embora ou agora em vez de lhe chutar vou deixar Gyarados dar um jeito em você! - Disse Misty de pé cruzando os braços. - Nada contra a você caçador, só contra ela! -

 

Ela olhou-me parada e tentei reagir, mas não consegui. Era como se eu tivesse entrado no ninho daquele gigantesco pokémon, pois ele continuava a me encarar e eu diria que ele só não havia me atacado ainda, por esperar por algo.

 

— Ela tem esses momentos de paralisia quando fica muito assustada. Vai demorar mais do que dois minutos para ela se recuperar. - Ele me cutucou demonstrando e apesar de eu sentir ainda não me sentia pronta para me mexer. - Mas, eu vou adorar bater no seu pokémon até ela poder... -

 

Foi por instinto! Minha mão foi ao braço dele e olhei para seu rosto, mesmo ainda um tanto estática. Aries estava com aquele olhar louco e faiscante, demonstrando que faria daquele momento sua guerra pessoal, por mera diversão. Eu não podia deixar isso acontecer! Eu vim pedir ajuda para minhas habilidades de coordenadora e as coisas já estavam difíceis sem ele tentando matar os pokémon da líder. Respirei fundo enquanto ele demonstrava que estava pronto para cair dentro de uma luta que não existia, ao menos para ele.

 

— Brock me mandou falar com você. –

 

Eu disse um pouco incerta. Eu ainda lutava contra aquela minha paralisia, eu deveria parecer muito idiota para a líder. Mas, aquele era o meu plano quando decidi entrar de novo.

 

— Brock? - Ela fez uma cara surpresa. - Por que não disse isso antes? - Ela fechou a cara irritada! - Nesse caso, não dou nem um segundo, Gyarados Jato de Água! -

 

Jato de Água! Eu não me preocupei muito ao escutar o comando, era um movimento simples, iria me molhar, mas nada que fosse realmente machucar. Isso era o que eu pensava até ver aquela bocarra se escancarar e um pilar de água, quase da mesma grossura do corpo da serpente, ser lança contra nós.

Joguei-me para o lado aterrorizada, torcendo para que minha reação tivesse sido o suficiente para desviar daquela pancada que eu estava para receber. Mas, minha surpresa foi que quando sai do meu lugar um pilar de fogo cortou o ar chocando-se contra o pilar de água. Fumaça e de repente Gyarados rugiu de uma forma animalesca que eu só podia entender como raiva.

Olhei para o lado e vi Houndoom com cara poucos amigos e posicionado para a batalha. Eu deveria agradecer por ele me defender, mas por que aqueles dois queriam resolver aquilo no braço?

 

— Fique afastada Mirian, assim que acabarmos com ela, ela vai falar até o que você não quer saber! - Os olhos de Aries faiscavam, como ansiando pelo embate. Eu realmente não entendia como alguém poderia querer enfrentar um pokémon como aquele. - Vamos lá líder, me dê o prazer de batalhar contra essa coisa. -

 

— Eu vou é fazer vocês dois se arrependerem de me ... -

 

Misty parou de falar percebendo minha ação. Acho que só naquele momento eu percebi minha ação de ficar entre eles e abrir os braços mostrando que não ia haver luta.

 

— Não vai ter luta! - Eu disse. - Não vim aqui para lutar! - Eu me virei para Aries por alguns instantes e o encarei. - Eu não vim para lutar e nem para ser agredida. Vamos embora! -

 

Eu comecei a andar e passei por Houndoom e o pokémon simplesmente ignorou a mim. Rosnava e estava prestes a saltar contra Gyarados. Como ele poderia ser tão burro?

 

— Recolha-o e vamos embora. - Eu disse a Aries.

 

— Você não conhece nada sobre pokémon, não é mesmo? - Misty riu.

 

Olhei-a irritada.

 

— Você agrediu-me e atacou-me com um pokémon que poderia me matar com um único golpe. - Eu a encarei. - O que vai acontecer aqui é o seguinte, vou embora e vou dar queixa à polícia por agressão. Então ria enquanto pode, pois quando eu voltar vai se dar mal. Sua líder sem honra! -

 

Um bater palmas que eu não esperava. Virei-me e vi Aries batendo palmas com um olhar feliz que eu nunca havia visto.

 

— Eu estou tão orgulhoso de você! Finalmente colocou as garrinhas de fora, usando a cabeça e ameaçando as pessoas. - Ele sorriu. - Aposto que nesse momento uma chantagem cairia como uma luva. Ela vai perder a credencial de líder se for provado que ela a atacou sem motivos, afinal dois minutos para sair do lugar é ridículo! - Ele riu. - Como chantagem não está no seu repertório o ginásio será fechado. Vá em frente e faça sua denúncia. Infelizmente, precisarei ficar, já que a líder está certa sobre Houndoom, ele já se convenceu de que irá lutar e não vai ter pokebola que o confine. Ele vai lutar e eu vou adorar isso! -

 

Eu fiquei olhando para Aries enquanto ele se deliciava com aquele momento. Eu realmente não pensei na chantagem, apenas em fazer o que era certo, fazê-la aprender a não atacar as pessoas daquele jeito. Mas, agora eu não podia simplesmente ir embora e deixar os dois se engalfinharem por minha causa.

 

— Se Brock falou para conversar comigo então sabe que vocês são os sem honra! - Misty bradou. - Coordenadores e Top-Coordenadores não passam de um bando de trapaceiros fracassados com mania de grandeza e que pensam saber algo sobre pokémon ou que o que fazem é arte! -

 

— Isso não vai livrar você! - Aries disse debochando. - Se você se apressar, talvez volte enquanto ainda lutamos. A batalha vai demorar bastante tempo. - Aries disse para mim.

 

Os dois pokémon se encaravam prontos para um combate que eu não saberia dizer se havia motivos ou não. De certa forma, Houndoom era do tipo vingativo e naquele momento estava a querer vingar o ataque covarde que sofri a poucos instantes. Eu tinha que resolver aquela situação ou seria culpada dele enfrentar aquela monstruosidade marinha.

 

— Brock só falou que era para eu falar com você sobre a Fita da Vida, mostrar a minha e você iria saber o que fazer. - Disse com calma. - Ele falou que você poderia me ajudar a melhorar minhas habilidades em troca da Fita da Vida. -

 

— Você tem uma Fita da Vida? -

 

Misty franziu o cenho por alguns instantes. Não dava para decifrar o que ela estava pensando, mas visivelmente estava pensando em algo que parecia não fazer sentido para ela. Ela caminhou pela borda da piscina, ar de pensativa e visivelmente muito incomodada com algo. Parou diante um suporte de pokebolas. Pegou uma e de repente um laser vermelho recolheu Gyarados para dentro.

No mesmo instante Hundoom aumentou o rugido e direcionou-o para Misty. Aries não fez nada para impedir Houndoom, ao que parecia o pokémon realmente não estava apenas nos defendendo, ele queria vingança.

 

— Vou propor um acordo. - Ela disse. - Vai me enfrentar numa batalha pokémon um contra um. No final, mesmo que não vença se eu achar que você merece conversaremos sobre a Fita da Vida que diz ter. Mas, em troca não vai me denunciar e nunca falará com ninguém que falamos sobre a Fita da Vida. -

 

— Não vejo vantagens! - Aries antecipou-se. - Ela ganha muito mais te denunciando. Além disso, Houndoom também acha que você merece uma lição! -

 

O cão de fogo rosnava forte, mas parecia que Misty pouco se importava. Bom, tudo o que eu precisava fazer era lutar, mas além de não ter nenhum pokémon, Houndoom continuaria a querer a atacar Misty.

 

— Posso usar o Houndoom na batalha? -

 

Era uma ideia infeliz, mas, ao mesmo tempo, promissora e Aries identificou-a como promissora imediatamente. Eu não tinha experiência em batalhas, ao menos não em que eu tivesse conseguido comandar algo e sobreviver. Mas, Houndoom era um guerreiro nato que mesmo eu vacilando nos comandos, iria pra cima do adversário por mim. Até mesmo o pokémon resolveu dar sua opinião saltando na minha frente e ficando em posição de ataque, como quem esperava uma ordem para partir e trucidar a líder.

 

— Sério que vai usar contra um pokémon de água um pokémon de fogo que não é seu? - Misty pareceu aturdida. - Você é quem sabe! -

 

Ela caminhou indicando uma arena ao lado da piscina, era uma arena normal, como as que via nos torneios. Pareceu-me razoável que não lutássemos na piscina. Aries emparelhou comigo e analisou-me por alguns instantes.

 

— Círculo de Fogo. - Ele balbuciou perto de mim.

 

Eu não tinha ideia do que era aquela fala dele, já que em seguida ele passou por mim e procurou algum lugar para encostar-se e assistir a luta. Talvez fosse uma técnica que Houndoom soubesse usar bem, ou algo que certamente fosse me dar a vitória. De certo ele imaginava que eu não saberia usar muito bem o pokémon cão negro e isso era verdade.

Mas, eu o havia visto em ação muitas vezes. Conhecia sua movimentação, sua velocidade, sua garra e meia dúzia de golpes que teriam que ser o suficiente. Além disso, conhecia outra meia dúzia de golpes típicos de pokémon de fogo que me poderiam fazer um efeito bom, uma imitação de efeito bom!

Posicionei-me como eu lembrava que os desafiantes do ginásio de Brock faziam. Todos que se posicionavam tinham seus sonhos e esperanças com eles e vencer era o mais importante. Os coordenadores poderiam ganhar ou perder que o importante era colocar sua alma naquela apresentação e isso bastava. Eu faria algo de treinadores sendo uma coordenadora e sinceramente não entendia de nenhum dos dois.

 

— Staryu! -

 

Eu sorri por instinto. Era a primeira vez que eu via aquele pokémon ao vivo, mas já havia visto-o tantas vezes em fotos e vídeos que eu me sentia íntima. Era uma das favoritas de minha mãe. Uma estrela do mar de cinco pontas, laranja com uma pedra avermelhada no centro. Seu corpo era bem resistente e se bem treinado era quase como um aço. Minha mãe gostava pois dizia que era um pokémon que um coordenador não usaria, não se podia dizer a expressão ou o que estava sentindo, pois não tinha rosto. A expressão facial era algo que muito contava para o pokémon. Então esse era um dos pokémon que Cerulean poderia oferecer que acreditavam não servir para coordenação. Minha mãe dizia que só um coordenador verdadeiramente talentoso poderia usar um Staryu em suas apresentações.

 

— Jato de Água. -

 

O primeiro movimento de minha adversária, supertalentosa, era básico. Eu fui comandar um desviar, mas Houndoom adiantou-se e mandou um Lança Chamas e um confronto foi feito. As chamas criadas por Hounddom consumiram a água e lambeu a face de Staryu que em um salto, afastou-se do alcance.

Era um efeito que eu deveria esperar, Houndoom viu o Jato de Água de Gyarados e combateu com Lança Chamas assim que foi liberado. Ele via um Jato de Água de Staryu e não tendo escutado uma resposta rápida ao movimento do adversário, atacou com o que ele achava ser o melhor ataque. A diferença era que Gyarados e Houndoom se equivaleram e agora, claramente Staryu perdia. Eu tinha o pokémon mais forte.

 

— Bolhas! -

 

— Desvie! - Desta vez eu reagi. Lembrava perfeitamente o que esse ataque podia fazer em concursos.

 

A estrela do mar emitiu bolhas de água em nossa direção. Não pareceu perigoso ou incomodo. O cão de fogo simplesmente deu alguns passos lentos para o lado, evitando as bolhas. No entanto, logo percebi meu erro, o campo estava sendo tomado pelas bolhas.

 

— Imagino que não saiba que existem diversos níveis para um ataque de bolha. - Era a fala de Misty. - Qual seria a que estamos usando? Qual estratégia vai usar para se livrar disso? -

 

Imaginei que eu deveria estar pensando em uma estratégia de luta desde o começo e estava apenas sendo reativa na batalha. Eu não iria vencer apenas esperando ela atacar e reagindo a isso e muito menos dando golpes a esmo.

 

— Pelo visto não sabe o que fazer, né? – Um sorriso debochado apareceu na face de Misty. - Eu estava esperando uma meia dúzia de combinações, pouco eficiente em batalhas, mas belas de se ver, que só um coordenador poderia pensar. Mas, pelo visto eu vou ter que te mostrar um pouco de combinações artísticas com nível superior. -

 

Houndoom olhou para mim como quem estava começando a se irritar com minha lentidão. Foi então que as bolhas começaram a estourar, quase todas juntas. Nada causaram ao pokémon que eu comandava, mas pude perceber que o chão ficou molhado.

 

— Arte número um, variar forma de um movimento clássico! Jato de água no estilo pistoleiro! -

 

A voz de Misty me deixou um tanto confusa a primeiro momento. Ela estava anunciando o que iria fazer, como uma apresentação? Olhei para Staryu e esperei que a ponta da estrela que ficava voltada para cima, pois ela ficava em pé como um bípede, se inclinando e disparando água contra Houndoom. Foi uma surpresa ao ver que as pontas que serviam de braço direito e esquerdo moverem-se e começarem a disparar pequenos projeteis de água na direção de Houndoom que partiu em movimento não me esperando comandar.

Era como se Staryu estivesse com duas pistolas, uma em cada mãos e atirasse contra Houndoom balas de água. Houndoom corria pelo chão molhado enquanto era perseguido pelas balas de água. Eu não conseguia comandar de tão surpresa com a ação quase humana de Staryu.

 

— Acorda e luta, idiota! -

 

Aries gritou da arquibancada e sacudi minha cabeça no mesmo instante. O movimento era belo e eu sentia que era para me humilhar. Mas, aquele jogo valia para as duas.

 

— Continue se movendo e dispare brasas contra ela! -

 

Houndoom pareceu não gostar da ideia, fez uma careta e por alguns instantes senti-o balançar a cabeça como se aquilo não fizesse nenhum sentido. Eu podia perceber que faltava toda a experiência em luta e tentar imitar a ela não seria uma estratégia inteligente, já que ela deveria ser bem treinada para aquela situação e eu seria apenas reativa.

Staryu parada no centro atirava como maestria em sua imitação de pistola e agora começava a desviar jogando o corpo de um lado para o outro, com certa pericia que eu não acreditava ser possível. Nem mesmo nos vídeos que via de coordenação com minha mãe um pokémon desviava daquela forma tão interessante.

Houndoom, por sua vez, não estava ficando atrás. Ele corria saltando de um lado para o outro, evitando assim ser atingido pelos projeteis de água enquanto disparava o Ataque de Brasas contra o inimigo. Eu diria até que a mira estava muito boa, em ambos os casos. Acho que a esquiva de ambas estavam excelentes. Mas, distraída com o jogo de atirar e esquivar que ambos estavam fazendo, não percebi que Houndoom estava se aproximando de Staryu a cada instante. Só mesmo quando o vi para saltar sobre ela e um sorriso de triunfo de Misty é que percebi a aproximação e intenções do pokémon.

 

— Recua! -

— Arte dois! Prisão de água! -

 

Misty gritou junto comigo e o tempo de reação de Houndoom foi menor.

Houndoom saltou e foi pego no ar pela água que estava acumulada no chão, toda empossada pelos ataques anteriores, que subiu e reuniu-se em uma jaula com grades de água em pleno ar, prendendo Houndoom!

O cão de fogo gemia, provavelmente o contato com a água estava enfraquecendo! Ele tentava se libertar, mas as barras de água pareciam firmes e não chegavam a se abalar!

 

— Então, quando percebeu o que ia acontecer? - Misty olhou para mim. – Sabe o que eu fiz? -

 

— Eu nunca vi esse movimento. Eu só sabia que mesmo sendo superior em velocidade e poder, Staryu levaria vantagem na curta distância. Não percebi Houndoom aproximando-se antes da distância estar pequena. -

 

— Esse é um dos problemas de se usar um pokémon que não é seu. Ainda mais um com esse instinto de luta. Ele faz coisas que não mandamos e mesmo para uma pessoa sem experiência, o que seria vantagem se torna o final do jogo. – Ela sorriu. - Usei uma combinação de campo e Pulsação de Água em forma alterada, tendo que preparar o campo antes. Nivel alto demais para você. Estou vendo pelo seu rosto! Bem, Jato de Água! –

 

E o nível era alto mesmo. Aquilo não era coisa de treinador ou líder de ginásio. Eu vi Kenan fazer combinações e havia diferença entre as combinações de coordenadores e treinadores, claramente. Apesar de serem muito próximas umas das outras, o apelo visual das combinações dos treinadores era bem menor do que o dos coordenadores e naquele momento Misty havia apelado para manipular a água a seu bel prazer.

 

— Idiota! Faça alguma coisa! -

 

Aries novamente gritou! Mas, o que eu podia fazer? Staryu estava a menos de um metro, mas Houndoom já havia tentado sair por conta própria usando a força, mordendo as barras, disparando seu jato de fogo e não havia surtido efeito. Eu o vi usar quase todos os golpes que eu conhecia, só faltava o que Aries me disse anteriormente.

 

— Círculo de Fogo. -

 

Disse sem saber se aquilo teria realmente algum efeito produtivo. Houndoom escutou-me e pude ver seus olhos faiscarem como os de Aries faiscava quando estava para colocar sua vida em risco. Ele inflou os pulmões e labaredas de chama começaram a sair de sua boca e começar a rodear a grade em uma grande espiral crescente no sentido anti-horário. A espiral de fogo saiu pelas grades envolvendo a jaula e evaporando a água.

 

— Uau! -

 

Misty exclamou de repente. E eu fiz o mesmo baixinho, aquele era um belo movimento. Lembrava muito o lança chamas, mas as chamas ganhavam um efeito de giro em espiral que podia ser considerado, imprevisível. A maioria das coisas da Coordenação eram assim, imprevisíveis. Foi por isso que levei uma surra de Rachel, eu não tinha experiência, mas achava que ela também iria com um nível baixo!

Espera! Posso fazer como Rachel!

 

— Cortina de Fumaça e aguarde meu sinal! -

 

Era minha chance! Eu conhecia a pokémon, uma estrela do mar com corpo resistente que podia mover-se fora da água. Mas, poderia ficar desidratada facilmente dependendo da quantidade de água utilizada. Seu corpo começa a ressecar e isso acabava com os movimentos e energia. Ela gastou muita água naqueles golpes. Se eu puder fazer como Rachel e disparar um ataque de fogo a queima roupa o corpo ressecará e vencerei.

Houdoom foi muito atingido e está nas últimas, mas o espírito que ele apresenta disfarça bem. Ele seria um ótimo pokémon para apresentações não demonstrando abatimento.

Eu preparei para dar o comando de saltar e Lança-Chamas, mas vi a fumaça começar a girar. Era o Giro Rápido, assim como Blue fez contra Rachel. Eu não tinha chances de usar o Lança-Chamas, pois aconteceria como contra Blue, um tornado de fogo e água contra Houdoom.

 

— Droga... -

 

Cerrei os punhos fechando os olhos irritada, lembrando de como aquele tornado era terrível e Rachel recuou por não poder enfrentá-lo!

 

— Houn! -

 

Abri os olhos ao escutar os latidos de Houndoom. Ele havia disparado Brasas contra a fumaça, sem meu comando. E agora era um tornado de fumaça que estava ocorrendo, com brasas brilhantes correndo pelo corpo negro da tormenta.

 

— Arte número 3. - Misty osrriu. - Não tenho nome para isso, mas posso pegar qualquer coisa que mandar e devolver usando o giro rápido. É um movimento fácil para a coordenadores se aproveitar do golpe adversário e criar um movimento próprio. -

 

— Como sabe tanto de coordenação? - Questionei vendo que Houdoom tentou o lança-chamas. - Para porcaria! Você tá piorando! – Gritei para Houndoom que me olhou assustado.

 

— Staryu prepara-se para mandar tudo contra ela. Continue no seu Giro Rápido de giro horário! - Misty me ignorou.

 

— Espere o momento certo e use o proteção, vai dar certo! - Gritou Aries!

 

Eu escutava Aries gritando, eu escutava Houndoom a latir, eu escutava Misty a comandar e escutava aquela ventania do golpe de Misty que estava para varrer Houndoom. Eu levei a mão a cabeça nervosa. Como alguém podia pensar naquela gritaria? Imaginei uma plateia inteira gritando e vibrando tive certeza, aquela parte das batalhas era muito para mim. Eu faria o que Aries estava mandando. Movimento proteção, pois até Rachel tremeu na base para enfrentar um tornado de fogo no sentido horário. Eu disse horário? A Misty disse horário? O círculo de fogo e no sentido anti-horário!

 

— Houndoom tudo o que tiver em Círculo de Fogo! -

 

Houndoom colocou uma para na frente, inclinou a cabeça para o alto enchendo os pulmões. No mesmo instante o tornado de fogo, fumaça e brasas começou a seguir na direção dele. O cão de fogo expeliu o Círculo de Fogo, que pareceu muito mais poderoso do que quando estava enjaulado na prisão de água e vinha criando a expeliu no sentido anti-horário.

Minha teoria era que a força de rotação do Circulo de Fogo seria o suficiente para anular a rotação no sentido oposto daquele tornado de fumaça, fogo e brasas.

O movimento de Houndoom envolveu o tornado por alguns instantes, pareceu não ter efeito, mas Houndoom continuou seu ataque parando o tornado de andar e foi diminuindo até que ambos se extinguiram por completo.

 

— Houn... - Escutei o gemer de cansaço de Houndoom. Eu parei aquele forte ataque, mas havia esgotado-o. Não tinha como continuar a batalhar. - Tudo bem! - Suspirei. Eu não tinha como ganhar de uma líder de ginásio. - Eu de... - Eu parei de falar aturdida. Havia levantado o olhar para desistir, mas Staryu estava caída, chamuscada e não parecia se mover. -

 

— Isso é inesperado. - Misty comentou. - Demorei demais para mandar o tornado para você e o fogo que havia nele acabou assando-a no ar quente. - Misty recolheu sua pokémon em meio a risadas. - Sua demora em fazer as ações fez o meu próprio golpe criar efeitos colaterais. Nada mal para uma coordenadora. -

 

Eu venci?

 

— Foi por isso que disse para usar a proteção. Já tinha visto que ela já estava nas últimas em meio ao tornado. Bom, imagino que não tivesse percebido isso pela sua cara. – Aries disse se aproximando de mim.

 

Eu venci?

 

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Era um suco gostoso e eu bem precisava para repor minhas forças, o show foi logo após o almoço e estávamos nos aproximando das seis da tarde, ingerir algo era realmente necessário. Enquanto fazia isso observava Houndoom comendo a ração que eu havia preparado pela manhã e me senti feliz por não ter errado a mão. Assisti uma peça incrível, ganhei uma batalha, ou algo próximo a isso, e acertei a receita de ração pokémon para a dieta especial de cada um. Era um ótimo dia, se eu tirasse o fato de ter sido chutada na bunda.

Misty pediu uma hora para enfrentar um desafiante do ginásio e logo em seguida conversaríamos. Eu rodei pelo local apreciando minha entrada grátis no aquário e logo parei no refeitório onde me ofereceram um suco. A líder surgiu com um vestido vermelho com um colete que eu não tinha certeza do tecido, mas as vestimentas indicavam que as funções de líder haviam acabado por aquele dia. Um gesto e eu entendi que era para segui-la. Toquei em Houndoom que prontamente levantou-se para me acompanhar.

Assim que Misty anunciou que conversaria comigo Aries disse que iria nos deixar a vontade, pois claramente muita coisa pessoal seria dita e ele não iria ser intrometido. Misty pareceu ficar satisfeita com aquilo, mas eu sabia que ele estava indo caçar. Havia uma mata de vegetação distinta que ele não esperava encontrar na cidade e ele queria testar a sorte e teorias. Ele disse que faria isso apenas a noite, mas não tendo mais que me acompanhar certamente estaria apressando-se.

No entanto, Houndoom permaneceu acompanhando-me pelo complexo. Era nítido que ele não confiava na líder após ela ter comandado um gyarados a me atacar e eu agradeci em silêncio por aquela posição. Seria uma hora sozinha e também não me sentia à vontade naquele lugar, depois de tudo que aconteceu.

 

— Entre! -

 

Ela abriu a porta e deixou que eu entrasse primeiro. Era um escritório bonito de onde parecia que Misty administrativa seu ginásio, seu aquário, sua casa e seu teatro. Organizado e com vários itens de água, no entanto, havia algo que me surpreendera. Eu havia visto, enquanto passeava pelo complexo, uma ala cheia de troféus, alguns de competições de batalhas pokémon, outras premiações das peças de teatro e alguns até pelo aquário, mas dentro daquela sala estavam 5 premiações em separada, colocadas exatamente acima da cadeira principal.

 

— São fitas e taça de concurso? -

 

Eram brilhantes e totalmente lindas. Eu nunca havia visto uma taça de concurso tão de perto e naquele momento eu não estava vendo apenas uma taça, estava vendo também fitas incríveis.

 

— Uma Fita da Vida? - Exclamei sem entender e a porta atrás de mim se fechou de imediato. Misty passou por mim e sentou-se em sua cadeira, deixando as fitas e a taça acima de sua cabeça. - Achei que não tinha a fita. O que o Brock quer afinal me mandando vir aqui? -

 

— Isso é o que vamos descobrir! - Misty ficou à vontade em sua cadeira e olhou para uma em que eu pudesse sentar. - Pode se acomodar no puff ou em qualquer lugar que achar melhor Houndoom. –

 

O cão de fogo já havia dado um pequeno rosnado ao ver a porta ser fechada e trancada e preferiu ficar na cadeira onde eu deveria sentar, mostrando que ele estava alerta a tudo. Restou-me puxar uma outra cadeira, menos confortável e próximo a ele.

 

— O norte de Kanto nem sempre foi dito como zona morta para os coordenadores. Imagina se um lugar como este ginásio, que faz dezenas de apresentações artísticas com os pokémon iria ser negligenciado por profissionais da arte pokémon. Sediávamos constantemente a edição do Concurso Pokémon de Cerulean e eu e minhas três irmãs revezávamos anualmente para quem seria a jurada aqui e nas cidades vizinhas que não possuíam celebridades do mundo pokémon. - Ela parou por alguns instantes. - Treze anos atrás eu saí em jornada para dar mais um passo em direção ao meu sonho, Mestra Pokémon de Água. Uma de minhas irmãs foi jurada no concurso do ano e algo estranho aconteceu. Ela deu uma nota excelente a um coordenador durante a fase de apresentações, mas o mesmo não foi classificado. Ao conferir a nota ela viu que a nota que ela deu não estava correta. -

 

Senti um arrepio em meu corpo naquele momento. Misty olhava diretamente nos meus olhos, sem desviar ou piscar. Decidi que não interromperia.

 

— Não foi um caso isolado, minhas outras duas irmãs tiveram o mesmo tipo de problema nas cidades vizinhas. Uma nota se transformou em outra. Elas então questionaram o caso e o Mestre de Cerimônias da época, mas ele alegou que elas poderiam ter se enganado ao dar a nota. - Misty deu uma risada. - Definitivamente não conhecem minhas irmãs. São líderes de ginásio, mas acima disso levam a arte muito a sério. Elas aceitaram que poderiam ter se equivocado, só não aceitariam que aquilo viesse a ocorrer de novo. - Misty fez uma pausa. - As três eram adoradas pelo público e por isso foram selecionadas para participar como juradas em algumas das etapas do Grande Festival. Evidente que elas aceitaram, mas estavam prontas para colocar a boca no mundo se identificassem outra alteração de notas. -

 

Houndoom não tirava os olhos de Misty, Misty não tirava os olhos de mim e eu vagava entre Misty e as fitas lindas que ela possuía acima de sua cabeça, principalmente a Fita da Vida.

 

— Elas viram as notas serem trocadas. - A ruiva suspirou naquele momento de uma forma que eu senti o pesar dela. - Existe um contrato de confidencialidade das notas e outros para os jurados sobre diversos aspectos dos concursos, inclusive sobre suas notas. É um acordo que faz sentido, imagina se você tira uma nota mediana e descobre que uma enfermeira Joy lhe deu uma nota ruim, ou que a nota maravilhosa que um jurado convidado deu foi justamente para um conhecido. Seria ruim, certo? - Misty deu um sorriso amarelo. - Então todo jurado assinou aquilo. Minhas irmãs fotografaram suas notas e quando perceberam que elas haviam sido trocadas, acionaram o Ministério Público de imediato. O que ocorreu foi no dia seguinte elas estarem algemadas e jogadas em uma cela especial, acusadas de fraudar concursos. -

 

Eu fiz um gesto para que ela esperasse. Aquilo era um absurdo, eu nunca havia escutado sobre fraude em concursos. Mesmo que na época eu tivesse apenas três anos de idade, isso seria algo que minha mãe comentaria pela eternidade. Além disso, como quem descobriu a fraude foi acusado de fraude?

 

— Tudo aconteceu muito rápido. Quando o ministério público foi acionado e bateu a porta da Associação de Coordenadores Pokémon, a ACP, eles apresentaram toda uma documentação provando que minhas irmãs estavam a tirar vantagens das posições de juradas, chegando a influenciar os resultados. - Misty parou. - Eles tinham vídeos delas fotografando as notas delas e dos demais jurados, o que realmente aconteceu. Tinham fotos delas passando documentos para alguns competidores, que alegavam serem informações sobre outros competidores, o que tecnicamente não seria ilegal, mas elas alegavam ser autógrafos. E não bastasse isso, um dos competidores que era o favorito e recebia delas boas notas ficou hospedado por dias no ginásio, aqui em Cerulean, quando ele passou por aqui. -

 

— Elas realmente fizeram isso? - Era uma pergunta idiota da minha parte.

 

— Claro que não! - Disse Misty até muito calma. - Mas, existiam provas contra elas que pareciam muito fortes. Sendo que as provas que minhas irmãs tinham foram rapidamente justificadas com uma identificação de péssima caligrafia por parte delas. - Misty riu. - Realmente a letra delas não são das melhores. A ACP usou dessa caligrafia ruim para justificar que as notas que diziam ser alteradas eram na verdade de duplo entendimento e seguiam a tendência das notas dos demais jurados para não as ofender questionando a caligrafia. -

 

— Nossa! - Segurei um pequeno riso, era difícil imaginar uma mulher com letra feia, imagina três? - Sinto muito! Deve ter sido difícil para você e suas irmãs enfrentar isso. -

 

— Você não tem ideia do inferno que foi! - Misty disse. - A Liga Pokémon de Kanto acabou envolvida devido ao medo delas também estarem dando vantagens aos treinadores que passavam para o desafio do ginásio. Precisei interromper minha jornada de treino para ajudá-las. Conseguimos um acordo após um Mestre Pokémon amigo intervir. Elas foram suspensas por quatro anos das atividades como líderes do ginásio e isso me fez perder a competição de pokémon de água que daria o título de Mestre do elemento para alguns. Elas também foram banidas dos concursos, mas não seriam processadas caso não viessem a recorrer. O que foi bom, pois alguns competidores saíram prejudicados e não teríamos como arcar com tantos processos, mesmo sendo mentira. - Misty balançou a cabeça de um lado para o outro. - Assim o combinado foi abafar tudo. -

 

— Mas, se eram inocentes, porque não lutaram para provar? -

 

— Você é bem ingênua. - Misty falou com certa docilidade, talvez não querendo ofender. - Minhas irmãs foram ingênuas ao burlarem as regras para tentar mostrar que havia quebra de regras. Imagine se fosse verdade sobre trapaças nos concursos, iria ser um esquema bem arquitetado e não algo que com uma mera foto ou questionamento de um jurado que percebera sua nota trocada, pudesse ser descoberto. Mas, acredito nelas. Acredito que eram inocentes, principalmente porque a ACP já tinha todo um dossiê preparado sobre jurados tentando manipular a competição. -

 

— Você acha que alguém tentava manipular a competição e elas foram pegas no lugar? -

 

Minha pergunta ficou sem resposta. A mulher apenas ficou me observando e por um momento perguntei-me se ela tinha resposta para aquela pergunta e não era apenas um achar.

 

— Cortaram Cerulean do circuito de concursos, afinal elas estavam banidas e era razoável que as evitassem. No primeiro ano mantiveram as cidades vizinhas, mas os concursos em volta foram um fracasso sem a presença de minhas irmãs e como eu tinha que cuidar sozinha do ginásio não tinha como apoiar as cidades. No segundo cortam algumas cidades e começaram a criticar nossas apresentações de arte. No terceiro ano não houve quórum nos concursos por aqui, além de colocarem concursos na mesma data em outras cidades. Minaram o norte e difamaram meu ginásio. - Misty cerrou os punhos. - Quando a suspensão de minhas irmãs acabou eu precisei tirar férias pois foram anos difíceis, mas não consegui relaxar. A ACP e os coordenadores continuavam a criticar nossas apresentações e garantir que coordenadores e amantes dos concursos não viessem para cá. Não estavam apenas nos abolindo dos concursos, estavam acabando com nossa fonte de renda, nossa paixão e as cidades vizinhas que nada tinham com isso. E tínhamos culpa disso? Não! Elas não fizeram nada! -

 

Misty levantou-se por algum tempo e ficou de costas para mim, olhando para as fitas e a taça. O olhar dela era incrível, tinha raiva e rancos, mas tão cheio de vida e determinação que parecia estar pronta para defender tudo o que ela acreditava.

 

— Eu não podia salvar as áreas, limpar o nome das minhas irmãs ou qualquer coisa do gênero. Mas, eu podia me vingar! - Ela virou-se para mim sorrindo. - Eu iria ser coordenadora e vencer um Grande Festival levando a arte do nosso teatro para todos, para acabar com as críticas na cara deles e obrigá-los a admitir que somos boas. -

 

Pareceu-me algo interessante e uma ótima ideia. Os motivos eram nobres, mas o que a impulsionava era mal. Vingança parecia ser algo tão nocivo.

 

— O melhor foi que oito anos atrás, quando decidi que faria isso, aconteceu algo que era totalmente raro, Concursos de Comemoração múltiplos! –

 

Eu dobrei a cabeça sem entender.

 

— Existem dois tipos de fita. Fitas das cidades, conquistadas em concursos sediados em cidades, e Fitas Premium, as fitas símbolo dos Top-coordenadores que só são conquistadas em concursos patrocinados e organizados por eles próprios, os Top-Coordenadores. - Ela sorriu abertamente e apontou para suas fitas. - Cada uma dessas fitas é uma fita Premium, que por valor material valem mais de cinco milhões cada uma. Mas, para um coordenador, não tem preço já que elas são reconhecidas pelo mundo todo e podem ser usadas para dar acesso em qualquer Grande Festival. Em um ano eu participei de seis concursos de cidade, para me preparar e outros cinco concursos comemorativos para levar as fitas premium e fazer o mundo ver a arte do ginásio de Cerulean, calando a boca de todos da Associação de Coordenadores Pokémon, já que eles não tinham nenhuma interferência na organização dos concursos e falar que eu não merecia era criticar os Top-Coordenadores. -

 

Eu estava abismada, escutava a história de Misty e compreendia o feito dela. Era como se eu estivesse vendo a pessoa que eu queria ser, a pessoa que fez o que eu queria fazer em proporções muito maiores. Agora eu entendia porque Brock queria que eu viesse até ela, Misty fez o que eu quero fazer, vencer e ter uma taça em um ano.

 

— Você é incrível! - Eu disse. - Quer dizer que todas essas fitas, você conquistou no mesmo ano, dadas pelas mãos dos próprios top-coordenadores? -

 

— Quase todas. Três dos Top-Coordenadores já haviam falecido e os eventos eram em sua homenagem. A Fita da Vida por exemplo, a nossa questão em particular, é em homenagem a Top-Coordenadora que prezava a vida acima de tudo. O concurso era todo voltado para esse tema, vida! Tudo que fazíamos tinha que exalar vida! Ganhar essa fita me fez querer desistir de ir ao Grande Festival. - Misty pareceu se acalmar e quase entrar em uma melancolia anormal. - Vingança não é vida. E durante o concurso da Fita da Vida eu percebi isso. Imagino que tendo uma Fita da Vida você também entenda isso. Bom, certamente não foi você quem ganhou, imagino que seja de alguém próximo, com bem mais idade. -

 

— A fita é de minha mãe. – Eu disse.

 

— Bem... Sua mãe sabe o que significa a vida. - Ela me olhou com calma. – Vingança não é vida. Então eu tendo as cinco fitas poderia participar do Grande Festival de Kanto e concluir minha vingança de fazê-los se curvar a minha arte, mas não fazia mais sentido. Kelly Kornox morreu respeitando e valorizando a vida, fazendo todos sentirem apreço por isso e quando conquistei a vida dela, foi como se eu pudesse escutá-la dizer que eu precisava respeitar também. -

 

E aquelas palavras me deixaram um tanto estranhas. Ela respeitava a vida, mas chutou-me e mandou seu super pokémon me atacar. Talvez fosse esse outro motivo para Brock enviar-me. Talvez ela estivesse esquecendo de respeitar a vida e imaginou que eu tendo essa fita comigo fosse mexer com a mente dela.

 

— O mundo sabia o quanto Ceruelean vivia a arte de qualidade e tudo voltava a normalidade, eu não ia atrás da taça. - Disse Misty.

 

— A taça está aqui. - Eu a olhei. - O que aconteceu? -

 

— Lembra que alguns coordenadores disseram que minhas irmãs passaram dados sobre outros competidores? - Eu apenas assenti para ela saber que eu lembrava e continuasse a falar. - Lembra que um chegou até a dormir aqui no ginásio durante um tempo? Este era o favorito para ganhar o Grande Festival de Kanto e em uma de suas entrevistas disse que apesar de terem tentado derrubá-lo, em uma tentativa pífia de fraude de pessoas que nada entendem de arte, ele se sagraria campeão. -

 

— Então você foi para confrontá-lo. - Concluí.

 

— Eu poderia ter ficado em casa, minhas irmãs não me pressionaram a lutar por elas e ninguém sabia que falavam das minhas irmãs. - Ela estava ainda com aquele olhar determinado. - As cidades estavam salvas e nossa arte também, mas existia essa situação, de alguns sempre prontos para virem tirar nossa paz, nos acusar de algo que não fizemos. - Vi os punhos dela se fecharem. - Fui ao Grande Festival, ciente de que minha arte agora levava o peso de todas essas fitas e o que elas representavam e fiz arte na primeira fase. -

 

— E ganhou! - Eu disse animada. - Conseguiu fazer vingança sem desrespeitar a vida, né? -

 

Eu a vi balançar a cabeça de forma negativa e foi tão impactante que Houndoom agitou-se em seu lugar.

 

— Ganhei a primeira fase na base da arte. - Ela não sorriu. - Mas, a segunda fase, na primeira batalha eu tive que pedir desculpas a memória de Kelly Kornox mais tarde. –

 

Franzi a testa sem entender, se ela estava com a taça ali e vencia a coordenadora mais talentosa, o que ela fez que desrespeitava a vida?

 

— Na primeira batalha eu estava perdendo e sinceramente eu não sabia como podia perder. Estava até aceitando bem, mas vi o desgraçado daquele que era o favorito rindo na plateia. - Ela me olhou sorrindo. - Então abandonei a arte e peguei a técnica e varri com todo mundo que estava a minha frente. Eu sou líder de ginásio, candidata a Mestra, só precisava atacar de uma forma que o adversário não conseguiria fazer arte depois. -

 

— Você os inutilizou. - Eu fiquei abismada enquanto ela confirmava.

 

— Dizem que existem duas grandes vertentes dos coordenadores, artísticos que vem a coordenação como uma expressão de arte e os técnicos que entendem a coordenação como um esporte. Os dois são eficientes e precisam um pouco da outra vertente, mas veem o objetivo da coordenação de forma distinta. Eu sempre soube que devido as minhas habilidades de batalha eu me sairia melhor com a vertente técnica, mas eu entrei nisso para salvar a arte do meu teatro aquático. -

 

— Quando o teatro estava salvo e viu alguns os fazendo pouco caso, soube que era hora de fazer o que nasceu para fazer. - Eu disse.

 

— Golpear com precisão. - Ela sorriu. - Você é ingênua, meio idiota, mas pega as coisas com rapidez. - Ela balançou um dedo em minha direção com uma cara de dúvida misturada ao sorriso. - Brock conhece a história e sabe que eu não respeito ou tolero a ACP e os coordenadores, pois foram eles que me fizeram abrir mão da arte por vingança e assim desrespeitar a Fita da Vida. Por isso te chutei e a ataquei, faço com todos. - Ela disse em meio a risadas. - Desconfio de todos os coordenadores e suas intenções. Talvez Brock ache que esse seu jeito… eu já a chamei de idiota, né? - Riu de novo, acho que talvez não fosse a primeira que Brock tivesse feito isso.

 

— Não tenho certeza, mas acho que para ambos entendermos, terei que contar minha história do início. -

 

E lá estava eu, pronta para contar toda minha história novamente, sobre a doença de minha mãe até minha tentativa fraca de me tornar campeã em um ano.


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