Alma de Coordenadora Pokémon - Fita da Vida escrita por Kevin


Capítulo 19
Captura


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela falha na postagem da semana passada.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/671282/chapter/19

— Definitivamente, devo concordar com a maioria das pessoas que disseram que você é idiota! -

 

Revirei os olhos diante a constatação de Misty. Não que eu estivesse ofendida com a fala, mas era a terceira vez que ela dizia aquilo em sequência e eu já não sabia se ela estava tentando me convencer daquilo, ou ela era idiota de ficar repetindo a mesma coisa toda hora.

 

— Sua história é incrível e acho que agora sei porque Brock a enviou até aqui. -

 

Após Misty narrar seu envolvimento difícil com a ACP eu narrei minha história para ela, afim que nós duas encontrássemos a resposta para o porquê Brock, amigo de Misty, achava que ela poderia me ajudar a ser uma coordenadora melhor e tudo partiria da Fita da Vida.

Eu devo admitir que com a história de Misty eu pude aprender muito de coordenação e entender o quanto a fita destruída que eu carregava era especial. A Fita da Vida valia sozinha uns cinco milhões hoje e como foi concedida pelas mãos de Kelly Kornox, em vida, poderia valer muito mais. Eu não tinha ideia que carregava uma fortuna comigo. Na verdade, eu não tinha ideia que destruíra uma fortuna.

Mas, a parte importante é que eu tinha algumas ideias do porquê Brock queria juntar-me a Misty e agora, após narrar minha história, Misty parecia entender também o motivo.

 

— Vou ser sincera, estou inclinada a te ensinar sobre coordenação pokémon. – Misty disse pensativa e eu tenho certeza que minha expressão foi de criança diante de um doce. - Mas, precisarei pensar um pouco sobre isso. Agora são seis da noite e vou pedir vinte quatro horas para avaliar o assunto e tentar entender o que Brock queria com tudo isso. -

 

— É sério que você me ajudaria? -

 

— Se eu chegar à conclusão que devo, sim! Não vai ser nada fácil para você e não te garanto que na prática você será uma coordenadora melhor, mas tenho certeza que não estará totalmente despreparada para esse mundo que tanto deseja enfrentar. -

 

Eu tinha uma chance. Uma chance totalmente boa e razoável. Era um passo importante, ainda mais que o Grupo Olimpo contava comigo.

 

— Então volto amanhã! -

 

Eu sorri levantando-me e fazendo um gesto para Houndoom me seguir ele saltou da cadeira e se posicionou próximo a porta no mesmo instante.

 

— Ia esquecendo... – Disse Misty ao me ver abrir a porta. - O único requisito que pedirei por hora é que capture um pokémon novo até as seis horas, quando veir falar comigo! -

 

 

Alma de Coordenadora Pokémon
— Fita da Vida -
Episódio 18: Captura

 

 

Capturar pokémon é uma das atividades básicas de todo viajante da carreira pokémon. Não que fosse essencial ou fundamental ter uma coleção de criaturas super poderosas a sua disposição, mas não se podia esperar rodar o mundo apenas com um à sua disposição.

O primeiro motivo para se ter mais de um pokémon era o fato de que eles poderiam cansar, adoecer ou qualquer outra coisa que o deixasse indisponível para quando você precisa-se se defender. Logo, independente de sua profissão, se você ia se meter na mata durante um tempo considerável, um pokémon era quase suicídio. E eu posso afirmar que entendo de suicídio.

O segundo motivo era que dependendo da profissão você precisava de mais pokémon ou não teria o efeito esperado. Cada pokémon tem sua peculiaridade e assim agem de formas distintas em situações diversas. Para um treinador ter vários pokémon significa ter mais de uma opção de guerreiro para a batalha e isso pode significar vitória ou derrota, a identificação do tipo de pokémon que entrará num determinado tipo de batalha é essencial. Assim como para coordenadores que precisam fazer apresentações bem diversificadas, escolher um pokémon que melhor se adapte à apresentação é algo básico. Algo que não se pode fazer tento apenas um a disposição.

Mas, acho que o problema de todo viajante são justamente essas peculiaridades. Que pokémon escolher para capturar? Qual se adéqua mais ao seu time? Qual se adéqua mais ao que pretende fazer? Qual você realmente deve capturar com suas limitações?

Isso me deixava inquieta. Quando saí de casa, pensando viajar por Jotho, eu tinha resposta para tudo aquilo. Era um planejamento claro e perfeito. Eu era como uma diretora de arte pronta para escolher o elenco de meu show. Mas, estando em Kanto e tudo tendo mudado, todos esses questionamentos ainda existem.

Eu não sabia quase nada sobre captura, apenas que eu precisava de uma pokebola, que eu não tinha, e precisaria enfraquecer o pokémon primeiro, significava que teria que batalhar, coisa que eu não tinha experiência. De qualquer forma pensava em que tipo de pokémon eu poderia encontrar ali e minhas escolhas pareciam todas estranhas para uma coordenadora.

 

— Talvez devêssemos ter esperado por Aries. -

 

Era uma constatação que foi acolhida por Houdoom, afinal o treinador daquele maravilhoso cão de fogo era experiente em capturar pokémon, se assim poderíamos chamar a caça aos pokémon. O dia raiou e Aries não havia retornado, então a Joy me deu uma noção básica e disse que tipo de pokémon eu poderia encontrar e disse que se corresse o amanhecer me daria opções interessantes.

A enfermeira de Cerulean não mentiu. O amanhecer naquela mata próxima realmente era tão belo. Por quase todo o caminho eu temi estar fazendo alguma idiotice, afinal, lá estava eu indo para uma mata no final da madrugada com um pokémon que não era meu. Mas, a visão dos raios de sol surgindo no meio da mata era algo incrível. Muitas folhas, molhadas de orvalho, refletiam a luz que nelas batia como uma intensidade sem igual.

E lá eu vi alguns pokémon noturnos recolhendo-se e alguns pokémon diurnos despertando. Eu encontrei os Zubats ditos por Joy e alguns pokémon escuros com cara de poucos amigos que me fascinaram, mas Houndoom indicou que era não melhor mexer com nenhum deles.

Mas, passada três horas do amanhecer já havia visto uma meia dúzia de espécies diferentes e nenhuma que parecesse boa para ser capturada. Qual deveria ser meu critério de escolha? Houndoom não dizia, mas apenas indicava que alguns não eram muito amistosos. Isso me fez perceber que Talvez eu devesse ter esperado Aries.

 

— Não Mirian! Você tem que fazer isso por você mesma. Vamos parar e pensar! - Falei comigo mesma fazendo Houdoom me olhar e depois deitar-se em um bocejo. Aquilo parecia uma insolência, mas acho que ele já estava entediado de ficar me seguindo para cima e para baixo e impedindo-me de cair em algum novo ninho.

Sentei-me ao lado dele e fiquei a relembrar os pokémon que a enfermeira falou e eu havia visto. Eram 3 tipos de pokémon, após a noite ter acabado. Voadores, insetos e plantas. Acho que os voadores eram pidgeys e uns Beedril, que nesse caso também eram insetos. Tinha as pré-evoluções daquelas abelhas irritantes e uns vermezinhos verdes que eu acho que são os Cartepies. Mas, foi raro achá-los e estavam bem cercados de Beedrills. As plantas eu havia visto uma tal Bellsprout que era totalmente desengonçada, Oddish e Paras. Eu esperava cruzar com um Ratata, não que eu fosse capturá-lo, mas esse foi o primeiro pokémon falado pela Joy, então achei que fosse o mais comum.

Dos que eu vi o mais bonitinho me pareceu ser o Oddish, todos andando em fila e cantando alegremente. Quando nos viram ficaram todos parados analisando e logo voltaram a andar como se nós não fossemos ameaças. Achei-os divertido e despreocupados e talvez essa fosse a personalidade que eu queria no meu segundo pokémon. O Paras também pareceu atrativo a primeiro momento, mas eu não conseguia decidir se ele realmente era uma planta e Houdoom pareceu não apreciar ir atrás dele.

 

— Houndoom, você pode me ajudar a capturar um Odish? -

 

Foi algo estranho. Ele me olhou e lembrei que aquela era a conversa que eu teria que ter com a Audino, conforme informações da Joy de Tin. O pokémon inicial ajudaria a criar o elo com os demais pokémon da equipe. De qualquer forma acho que ele pouco ligou pois voltou a deitar a cabeça.

 

— Vamos, ajude-me a encontrá-lo! -

 

Dei uma empurrada para ver se ele se movia. Ele fez um movimento com a cabeça e olhei para a direção que a cabeça dele se moveu. E lá estava um Oddish solitário. Voltei a olhar o cão negro que pareceu tão convencido, naquele momento, quanto seu treinador.

Voltei a olhar Oddish e aquela parecia ser minha chance. Até então estavam todos andando em bando e isso significava que Houndoom teria que lutar contra vários deles sozinho. Por mais que não parecessem perigosos eu não conhecia as habilidades daquelas beterrabas ambulantes, mas certamente teriam algo na manga para não ser apenas correr e gritar por suas vidas. Só eu fazia aquele tipo de coisa, por mais vergonhoso que seja admitir.

Levantei-me com uma pokebola na mão, pronta para minha primeira captura. Eu sentia a euforia no meu corpo, a sensação de que logo eu poderia dizer que entrei na mata e capturei uma criatura em seu habitat natural. E, então parei por alguns instantes. Eu estava cometendo três erros. O primeiro era que eu não podia simplesmente jogar a pokebola, tinha que enfraquece-lo primeiro. O segundo era que eu estava indo para cima de um pokémon, eu deveria mandar outro pokémon. O terceiro era algo que ninguém nunca me disse, mas eu podia ver, eu estava fazendo algo errado para com aquele pokémon.

Eu vi os Oddish andando todos juntos, fossem todos amigos ou família, ele tinha com quem viver. Aquele solitário estava atordoado por algum motivo e eu não podia apenas colocá-lo dentro de uma esfera e leva-lo para onde quer que eu quisesse. Que tipo de pessoa eu seria se fizesse isso?

Se uma pessoa tira outra do seu seio familiar a força ela é um monstro. É sequestro! Eu não podia simplesmente fazer isso do nada. Eu não seria uma sequestradora de pokémon.

Eu nunca havia pensado nisso antes, para capturar um pokémon eu forço-o a lutar por sua liberdade e se eu vencer o arrasto para onde quiser. Somos cruéis com essas criaturas! Não são como os iniciais que nascem e são criados para seguir com treinadores e coordenadores. Eles tem vidas e sonhos nas suas vidinhas pequenas e ao capturar faço tudo se perder porque agora eles terão que servir de instrumento de escada para outros sonhos.

Eu dei um passo para trás e esbarrei em Houndoom que havia ficado de pé e me encarava com um olhar enigmático. Escutei um barulho da frente e voltei meu olhar para Oddish e soltei um grito de medo. Odish estava sendo atacado.

Ele não estava sem seu grupo, havia sido retirado dele ou ficado para trás, e não estava atordoado atoa, ele estava sendo espancado. Aquela pobre criaturazinha roxa, que muito lembrava uma beterrabazinha com pés e cabelo de folhas verdes estava diante de um algoz impiedoso e que eu nunca havia visto antes.

Era uma ave, com penas brancas, marrons quase acinzentadas e alguns traços verdes. Não era um Pidgey e nem mesmo um Spearow, esses possuíam bicos afiados já o que estava a minha frente tinha um pico mais achatado. Ele avançava contra Oddish com velocidade usando seu bico e algo que está em suas asas, fazendo as vezes de mãos, e parece um bastão de alho-poró.

Eu via a velocidade e agressividade do ataque. O far-far que a ave do bastão emitia se misturava aos gemidos de dor de Oddish e aos sons das pancadas. Em um instante Oddish foi acertado com tanta força que caiu de costas e não mais conseguia se levantar e mexer, agitanto os pezinhos desesperado.

A ave saltou, levantando voo e indo para cima da beterraba desesperada.

 

— Para! -

 

Por um segundo tudo parou e eu me perguntei se realmente havia sido eu que tinha gritado daquela forma. A ave interrompeu o ataque e planou pousando a uma distância segura de Oddish. A pequena planta havia parado de se sacudir e conseguiu ficar de pé, olhando para mim assustado e Houndoom olhava tão perplexo quanto aos pokémon.

 

— Pare de bater no pequeno! Quer matá-lo? - . Senti algo me puxando para trás. Olhei e vi Houndoom mordendo a barra de minha calça e me fazendo recuar. - O que? Não posso deixar uma coisa dessas acontecer! -

 

E eu não entendia nada dos pokémon realmente. Adoraria que eles falassem para me explicar o que estava acontecendo e talvez me ajudassem naquele problema de eu não achar certo capturar um pokémon selvagem quando tantas pessoas o faziam sem nenhum problema.

 

— O-o-o-o-o! -

 

Olhei para a ave valentona, pois assim eu a chamaria por espancar outro mais fraco e vi que agora ele me ignorava e encarava um grupo de Oddish que havia surgido. Eram uns dez e todos rodearam o pequeno machucado. Um tomou a frente e gritou qualquer coisa que eu não pude compreender, apenas pude perceber que não havia nada de irritação. Mas, a ave gritou alguns Far-Far e caminhou na direção deles.

Céus, que ave louca! Iria encarar tantos Oddish sozinho? Mas, ele passou por eles, marchando e parou alguns metros depois e arrastou seu bastão no chão fazendo uma linha e depois apontou para depois da linha. Os Oddish pareceram confabular após aquilo e eu olhei para Houndoom que observava tudo a minha frente impedindo que eu me metesse.

Finalmente os grupo dos roxinhos encerrou a reunião e marcharam em fila para depois da linha. O pequeno que havia apanhado anteriormente foi o último a passar e parou diante a linha e algo estranho aconteceu. Uma as folhas de sua cabeça abaixaram-se e ficaram estendidas para a ave que usou sua asa e segurou na folha. Era um aperto de mão, ou algo similar a isso. O grupo de Oddish logo após isso sumiu na mata enquanto a ave deu uma meia dúzia de passos pegando seu rumo.

Eu fiquei parada tentando entender o que havia acontecido ali. Parecia que haviam feito um tratado de paz, mas não tinha certeza disso. Talvez fosse uma briga por território, ou os pequenos poderiam ter invadido o espaço da ave por engano. Eu assumiria isso como verdade, afinal Houndoom pareceu não querer interferir e nem me deixar interferir e como as coisas terminaram talvez fosse a verdade. Mas, os Oddish eram muitos e poderiam ter vencido a ave, eu acho. O mundo pokémon é tão confuso.

Um rosnar estranho e olhei para frente, antes de olhar para Houndo. O Pato estava em uma posição tipicamente de ataque, nos olhando como se fossemos seus piores inimigos.

 

— Isso é sério? - Questionei abismada. - Você acabou de vencer uma batalha e já quer entrar em outra? Você sabe que... -

 

Eu havia abaixado a cabeça para convencer Houdoom que não queria uma luta desnecessária. Percebi que ele rosnava bravo, mas estava virado de costas para o pato e atento ao que estava atrás de mim. Eu deveria ser algum tipo de pessoa que atrai pokémon problemático. Eu resolvi que não queria virar para saber o que tinha atrás dei uns passos para frente até emparelhar com a ave do bastão e só então me virei para ver. Beedills, ao menos umas dez delas.

 

Houndoom recuou um pouco enquanto a ave do bastão de alho avançou ficando à frente do cão de fogo.

 

— Far-far-Far! -

 

E algo tentou ser dito ali que eu não tinha ideia do que era. Mas, aparentemente as abelhas não estavam interessadas no papo, pois avançaram de imediato.

O massacre estava declarado, a vantagem numérica era evidente. A ave até alçou voo e desviou das três primeiras que retornaram ignorando Houdoom e assim a ave ficou cercada e logo foi manda para o chão.

 

— Não! - Gritei. Qual era o problema desses pokémon afinal? – Círculo de Fogo! -

 

Houndoom olhou-me incrédulo, mas resolveu me atender. Talvez não gostasse das Beedrills, ou imaginara que eu deveria ter um plano melhor do que o anterior de querer fazê-los parar de brigar.

O ataque foi rápido e os insetos pokémon sentiram-se desnorteados com o fogo e dispersaram. Cada uma voou em uma direção da mata, fugindo das chamas e abandonando o que era uma luta desigual com a ave.

Corri até a ave e a peguei no colo. Ela se agitou rapidamente e fui obrigada a saltá-la. Ela foi ao chão e bateu a poeira de seu corpo. Eu via que estava machucada, mas não parecia nada grave.

Ela me olhou e olhou Houndoom e Far-far-Far agitando o bastão como se eu fosse entender o que ela dizia. Mas, para o meu azar Houndoom entendeu. Imagino o que ele tenha dito pois em instantes Houndoom estavam me jogando para o lado com o corpo e abrindo uma bocarra para a ave. Um urro animalesco saiu do pokémon de fogo que estava aos meus cuidados, e eu aos dele, de uma forma que eu tenho certeza a ave estava com medo. Por que eu sabia disso? Não era só porque ela tremia, mas por que eu tremia e estava apavorada.

 

— S... - Senti minha voz vacilar, mas respirei fundo. - Sem brigas! -

 

Consegui dizer em tom firme, por fim. Os dois me olharam e a ave pareceu altamente confusa.

 

— Ave que eu não sei o nome, não seja má educada! Nós não queremos violência e já estávamos de saída. Aconselho a parar de querer brigar com todo mundo, seja lá qual for o motivo vocês todos vivem aqui e tenho certeza que a presença de todos é importante para esse ecossistema. - Ainda havia aquilo, mais um motivo para eu não capturar nenhum pokémon dali.Como ficaria o ecossistema? - E é só por causa disso que não vou tentar te capturar! -

 

Houdoom ficou me olhando e foi até mim e apontou para a pokebola.

 

— Eu sei que ele parece muito bom para capturar, mas eu não quero arrancar nenhum pokémon de seu habitat. Por mais que se eu tirasse ele daqui as coisas aparentemente ficariam mais calmas. -

 

Não sei se Houndoom realmente me entendera ou não, já que me mandou aquele velho olhar sério que me mandava quando nos conhecemos. Talvez para ele, naquele momento, eu fosse idiota. Mas, a ave estava entendendo pois quando virei ela estava com uma das asas esticadas para mim, assim como fez com Oddish. Era um trato de paz, ou algo assim?

 

— Foi um prazer! - Eu disse sorridente segurando a asinha.

 

Assim que o saltei ele virou e começou a caminhar para desaparecer perto de uma moita. Mas, antes de chegar nela ele gritou assustado, algo do chão surgiu o içando.

 

Houndoom e eu corremos até ele e vimos que o ave havia sido pega em uma rede que ficara içada. Ela se debatia, tentando se saltar e gritando constantemente. Eu tentei umas duas vezes arrebentar a corda, na tentativa de libertá-lo, mas não consegui. A rede parecia muito forte e preparada para quase todo o tipo de pokémon da área.

 

— Lança Chamas! -

 

Comandei, mas Houndoom nada fez. Eu olhei para ele e apontei uma parte da corda que içava.

 

— Houndoom, Lança Chamas! Temos que soltá-lo! - Mas, ele apenas ficou em posição ereta me olhando sem nada dizer. - Você está me escutando? –

 

— Tenho certeza que ele está, afinal, estou te escutando a uns cem metros. -

 

Eu parei fechando meus olhos incrédula do que estava acontecendo ali. Aquela ave havia caído em uma armadilha de rede que o pokémon que me acompanhava não queria destruir. Certamente ele sabia que a armadilha era de seu treinador, Aries e não pretendia destruir uma rede do seu treinador só porque eu estava mandando. Possivelmente Houndoom imaginava o certo, eu não tinha ideia do que estava acontecendo ali.

 

— De todas as vezes que você me surpreendeu, e deixemos claro que não foram tantas, essa é a que entrará para a história. - Aries saiu de trás de uma árvore. Eu percebia aquele sorriso debochado dele. - Cheguei nesta mata antes do anoitecer e consegui achar o Farfetch’d em poucos minutos. Mas, essa coisa conseguiu fugir por parte da noite, então tive que mudar os planos e coloquei todos os pokémon contra ele, para que eles o abatessem, enfraquecessem ou o fizessem recuar para uma de minhas armadilhas. - Ele parecia realmente animado com o ocorrido. - Quem diria que você é que o colocaria na armadilha para mim. -

 

Pisquei aturdida com o que havia acabado de escutar. Então Aries estava caçando esse pokémon desde que chegou e todas as lutas que ele teve com os outros pokémon era porque Aries fez algo para que os demais lutassem contra ele para cansá-lo? Isso era a caça pokémon? Como ele fez os outros o atacarem? Isso era estratégia? Que estratégia estranha!

 

— Então ele se chama Farfetch’d. - Eu disse olhando a ave que parava de tentar lutar, parecia ter desistido ao ver Aries. - O que ela tem de especial que os outros pokémon daqui não tem? -

 

— Responda-me você! Você não ia captura-lo? - Aries questionou me olhando. - Não é por isso que está com uma pokebola na mão? Na verdade, essa é uma das minhas? -

 

— Bem... -

 

Não consegui dizer nada. Eu não sabia dizer o que fazia daquele pokémon especial a ponto de um caçador querê-lo. Eu sequer cheguei a querer captura-lo de verdade, já que quando o vi eu já tinha travado com esses pensamentos sobre o quão cruel é a captura.

 

— Essa mata é uma das poucas ainda existentes por esse lado de Kanto que possua as características que os Farfetch’d gostam. Imaginei que aqui eu poderia ter sorte. – Ele parou explicando o que o lugar tinha de especial. - Esse pokémon, do jeito que está, vale no mínimo um setecentos e cinquenta mil! -

 

— Como é que é? - Gritei apalermada com o valor informado por Aries. - Por que? É um patinho de ovos de ouro? -

 

— Ele é macho. Se fosse uma fêmea valeria um milhão se jovem. - Disse Aries em meio a risadas. - Desculpe, você quer dizer porque vale tanto. - Ele pareceu cansado. - Esse pokémon pato tem a carne mais saborosa entre as aves. Então, cozinheiros pagam fortunas para tê-los, a criação deles é interessante, mas algo nos que nascem selvagem faz a consistência da carne ser mais suculenta. -

 

— Você vai comê-lo? - Foi instintivo lembrar dos Spinakrs. - Não pode fazer isso! –

 

— Claro que não farei! – Ele riu. – Como eu disse, cozinheiros pagam uma fortuna por eles. Tenho um comprador que dobrará a oferta para um milhão e meio se eu entregar um desses até o final deste mês. Prato especial para o aniversário de algum magnata. –

 

— Não! - Eu disse abraçando a rede.

 

— Eu sei! - Aries disse rindo. - Vou fazê-lo chegar a dois milhões, pois sei que o prato pode chegar a cinco milhões ao ser servido. -

 

— Não pode vendê-lo para a morte! - Eu disse. - Isso é crueldade! -

 

— Crueldade? -

 

Ele fez uma cara de quem não entendia e pareceu refletir sobre aquilo. Enquanto ele pensava no que eu havia acabado de dizer percebi o quanto ele estava sujo e cansado. Nunca o vi daquele jeito com apenas uma noite de caça, aquele pokémon realmente o havia cansado.

 

— Você fala sobre crueldade quando come hambúrguer? – Ele perguntou-me. - No caminho para Cerulean você comeu dois. -

 

— É diferente! - Eu disse. - Não vai matar esse aqui! -

 

Era realmente diferente? Eu não sei! Agarrei-me ao fato que a maioria dos Tauros e Milktanks usados em Hamburguês nasciam para serem abatidos e não eram caçados em meio a seus habitats naturais, sendo aterrorizados em meio a sua vidinhas tranquilas.

 

— Se chama negócios! - Ele disse agora aborrecido. - Acabei de caçar uma mina de ouro. A única forma dele não ir parando na panela era se ele fosse uma fêmea jovem, ai era provável que usa-se para procriação e fonte de ovos, que são outra iguaria quando bem preparados. -

 

Eu estava horrorizada com o que estava escutando. Eu não conseguia capturar um pokémon sem pensar no quanto ele sofreria sendo sequestrado de seus habitat e Aries os arrancava de lá para ir direto para a panela de algum ricaço que se bobeasse não iria comer nem metade e deixaria o resto no prato para ser jogado no lixo.

Aquela cena na minha cabeça era terrível. Ele morto em um prato tendo cinco pedaços arrancados e o resto sendo jogado no lixo.

 

— Isso é sequestro! É assassinato! -

 

Eu gritei com os olhos meio marejados.

 

— Você está em um dia de menina? - Ele perguntou meio sem jeito. - Eu entendo essa coisa de TPM, hormônios e fragilidade. Sempre me perguntei como você ficava na TPM. Eu esperava que fosse o cão chupando manga, mas fica ainda mais molenga. – Ele pareceu suspirar. - Se for o caso, eu o deixo com você até isso passar, antes de comercializá-lo. -

 

TPM? TPM? Eu falando de uma vida e ele achando que eu estava era sendo dramática e exagerada por causa de um momento hormonal?

 

— É errado tirar eles do seu habitat de forma tão abrupta! É sequestro! - Eu estava a ponto de chorar, mas sabia que isso não ia adiantar de nada para com Aries. - Eu não posso deixar você fazer isso com ele! - Eu disse. - Eu estava atrás dele também e o encontrei primeiro! O pokémon é meu! -

 

E as vezes eu pensava que eu era louca e idiota e as vezes eu tinha certeza. Aries ficou olhando para mim durante um tempo sem dizer nada, nem sabia se ele estava avaliando-me ou avaliando a situação. Eu estava agarrada a rede que continha o Farfetch’d e faria qualquer coisa para aquele pokémon não morrer para dar refeição comemorativa a um ricaço qualquer.

 

— Deixa eu ver se entendi. - Aries começou a falar. - Você está encarando uma captura como um ato de se sequestro covarde? - Eu confirmei com a cabeça. - Eu juro que não saquei muito bem o ocorrido. Mas, vou ignorar a falta de lógica de dizer que capturar pokémon é errado e estar numa mata para capturar um. -

 

E eu tinha certeza que soava mais ridículo do que aquilo, mas o que eu podia fazer?

 

— Veja bem... São dois milhões. Não é dois mil ou vinte mil. Estamos falando sobra a casa dos milhões. Só esse patinho me garante mais da metade do dinheiro que sou responsável por conseguir esse ano para salvar o Grupo Olimpo, que é seu patrocinador. - Ele parou. - Em outras condições deixaria você levar um pokémon raro que eu estivesse caçando, mas este eu não posso. -

 

— Não! - Eu disse abraçando ainda a rede.

 

E o semblante de Aries mudou de repente. Seus olhos pareceram querer faiscar, mas pararam.

 

— Vou começar do princípio, pois já havia percebido que há em você algo que te impede de capturar um pokémon. - Ele começou a dizer aquilo enquanto em perguntava do que ele estava falando. - Mais da metade dos treinadores e coordenadores saem jornada já pensando no que capturar. Poucos são os que chegam no momento de necessidade e percebem, tenho que capturar. Você não fez nenhuma dessas coisas, mesmo estando sem um pokémon uma vez que Audino está impossibilitada, você não procurou capturar ou esboçou intenção de tal. – Ele parou parecendo querer se acalmar. Mas, ainda tinha aquele ar de superioridade de quem explicava as coisas a uma criança burra. - Me perguntei muito sobre o que isso significava e decidi que seu problema pudesse ser coisas demais na cabeça. Mas, percebi agora que você nunca pensou em capturar porque simplesmente tem uma visão problemática da parada. -

 

— Se visão problemática é pensar em como o pokémon se sente quando é capturado, então tenho sim! - Respondi.

 

— E isso é porque você é inexperiente. Se tivesse me esperado para vir capturar algo eu teria te explicado que essa forma que você fez as coisas, sair para procurar algo para capturar é a forma mais simples e mais problemática. - Ele sorriu. - Basicamente você veio caçar! -

 

Pisquei aturdida novamente. Eu havia me tornado uma caçadora?

 

— A maioria espera que um pokémon apareça em seu caminho nas primeiras capturas, evitando assim esse tipo de pensamento. Se o pokémon o ataca e você o abate para poder se defender, você pode deixa-lo desacordado na mata, o que é ruim para a segurança dele, ou colocá-lo na pokebola e tratar dele. Depois avalia, ele se acostumou com você e você com ele? Se sim, leva-o com você, caso contrário liberta-o. - E eu escutava as palavras de Aries como um soco seguido de outro. Eu era tão burra que parecia ter escolhido o caminho mais difícil. - Agora, sair procurando um pokémon especifico, ou tipo de especifico ou se comprometer a sair só para capturar é caçar. Algo que precisa de um pouco mais de sangue frio. Entende? -

 

— Ou a pessoa pode ver os pokémon felizes em suas vidas e ficar sem coragem de tirá-los dessa felicidade. - Conclui e o vi sorrir de forma convencida.

 

Senti as forças do meu corpo quererem fugir e percebi estava largando a rede. Eu não acreditava que estava sendo tão fraca naquele momento. Eu poderia dizer mil e uma coisas e ainda assim Aries estaria com a razão quanto ao modo dele ver a captura. Ele tinha o passo certo para mim não ser pega nessa situação e por eu ter me apressado agora estava sozinha.

Mas, não importava se eu havia falhado nas escolhas que fiz anteriormente, não poderia agora simplesmente tirar aquilo de dentro de mim. Eu não poderia, simplesmente virar as costas para aquela ave e abandoná-la. Agarrei-me a rede ainda mais forte que anteriormente. Aries não iria levar aquele pokémon.

 

— É sério? - Ele viu minha reação de abraçar a rede. - Você por acaso me escutou? -

 

Apenas balancei a cabeça dizendo que sim. O que ele disse foi revelador, eu poderia capturar um pokémon sem que ele fosse realmente sequestrado, seria quase uma tentativa de salvá-lo. Mas, aquilo não mudava nossa situação.

 

— Estávamos ambos caçando o pato e eu o peguei primeiro. - Ele pareceu engrossar. - Se ele por ventura estivesse dentro de sua pokebola eu até teria que entender, mas nesse caso é você quem tem que entender. O capturei primeiro! -

 

Capturar? Pokebola? Capturar? Pokebola? Foi por instinto escutá-lo e fazer o que ele dizia. Não me dei conta do que estava fazendo até que o fiz. Peguei a pokebola rapidamente e ampliada e toquei-a no Farfetch’d. Uma luz se fez e a ave foi para a pokebola sem lutar, talvez já cansada de tudo o que fizera durante o dia, talvez desacreditado diante a visão do algoz da madrugada tenha desistido de lutar, ou talvez tenha percebido o que eu estava fazendo.

Aries ficou perplexo. Podia escutar um som de incredulidade vindo de Houndoom ao me lado. Talvez até minha face estivesse perplexa, mas era a verdade. Eu tinha capturado o pokémon que Aries havia caçado justamente.

 

— Você tem ideia do que acabou de fazer? -

 

A resposta era não. Foi tão instintivo que só então percebi que eu havia feito outra ação após colocar a ave em disputa na pokebola. Segurar firmemente a pokebola com a mão direita e esticar o braço para Aries em posição ereta. Céus! O que eu havia acabado de fazer? Aquela posição de braço erguido era a mesma que eu tinha visto Blue fazendo e também vi Misty fazer. Eu havia desafiado Aries para um batalha honrada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Estamos chegando no final... ^^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Alma de Coordenadora Pokémon - Fita da Vida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.