Alma de Coordenadora Pokémon - Fita da Vida escrita por Kevin


Capítulo 17
Amizade


Notas iniciais do capítulo

E para aqueles que estavam ansiosos com o capitulo de hoje... ^^



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Aries se aproximou de mim com aquele ar perigoso.

 

— Você não seria capaz disso, pelo que conheço de você. - O sorriso dele não apareceu, apenas a parte perigosa. - Mas, se estiver envolvida de alguma forma com essa chantagem, vou te caçar como a um pokémon! -

 

Cambaleei para trás em busca de apoio, afastando-me de Aries. Seus olhos faiscavam uma vontade nítida de agarrar meu pescoço ali mesmo e resolver o problema que o atormentava. De todas as vezes que senti medo dele, especialmente quando o conheci junto a sua irmã, esta era a primeira vez que sentia tanto medo.

 

— Vamos parar com a gritaria que estão atrapalhando meu trabalho! –

 

Uma voz fina, aguda e de mulher. Beta estava na porta de entrada do seu apartamento com cara de poucos amigos, exigindo que parássemos de gritar. Atrás dele existia uma sombra que ou deveria ser de seu cliente ou recepcionista. Eu desviei o olhar dela e ela foi até Aries irritada.

 

— Não vê que ela é uma criança! Olha só como a deixou! – Beta apontou para mim que tentava conter as lágrimas e o medo que estava sentindo.

 

— Não se meta nisso! – Disse Aries.

 

— Por que não? - Ela questionou. - Está acontecendo na minha casa e atrapalhando o meu consultório. Motivos o suficiente para eu me meter! - Ela bradou com ele. - Sente-se ai e vamos resolver tudo isso! -

 

Aries resmungou algo inaudível e senti o ambiente ficar ainda mais pesado. Comecei a andar pela sala ganhando a porta, passando por quem fosse que estivesse acompanhando Beta para ganhar as escadas e a rua. Eu não iria ver Beta e Aries brigarem por minha culpa! Eu não iria conseguir impedir a briga, mas não iria testemunha!

 

Quando ganhei as calçadas me senti tão desnorteada com a luz do entardecer, o som dos veículos indo e vindo que a única coisa que consegui fazer foi me apoiar na parede do prédio e deixar as lágrimas vertem pelo meu rosto com mais força.

 

— Entre! -

 

Era uma sugestão, ou ao menos dava entender que sim! Olhei para o lado das escadas e pude ver um homem moreno dos olhos fechados e cabelos castanhos escuros bagunçados. Era Brock, o líder de ginásio que descia as escadas e apontava para a porta do consultório de Beta.

 

— Está tudo bem! - Eu disse enxugando as lágrimas. - Não precisa se preocupar. -

 

Eu não fui convincente o suficiente, afinal a voz ainda estava tremula e o rosto inchado de choro. Ele apenas passou por mim, abriu a porta do consultório e ficou esperando que eu entrasse.

 

— É sério! Estou bem! – Respirei fundo. – Foi apenas uma... –

 

— Não estou interessado em conversar sobre a briga lá de cima. - Comentou Brock. - Quero algo que está com você! -

 

 

Alma de Coordenadora Pokémon
— Fita da Vida -
Episódio 16: Amizade

 

 

 

Acredita-se que a palavra vem do latim derivando-se do amicus, mas a quem diga que venha do grego. Mas, sua origem não importa realmente, seu significado não varia de acordo com sua origem. Sempre será um sentimento de afeição e simpatia recíprocas entre dois ou mais entes. Uma relação de concordância, sentimento e afinidade.

A amizade que eu tenho para com Mauricio supera qualquer explicação e sei que ele faria qualquer coisa por mim e eu faria qualquer coisa com ele. Às vezes, as pessoas até confundiam nossa amizade com romance, mas isso não afetava ou mudava a forma como nos sentíamos em relação um ao outro. Pois amizade pode ter derivado da palavra amar.

Isso quando não se trata de Aries, pois nada dele pode derivar do amor. Para ele, certamente, amizade significa algo completamente diferente do que para mim ou mesmo para Brock.

 

— Deixa eu ver se entendi... Você tem uma amiga que pode me ajudar a melhorar minhas habilidades como coordenadora e possivelmente, em troca, tudo o que precisarei dar é a fita rara de minha mãe? -

 

Brock teve um dia cheio muito mais cheio que o meu. Trabalhou no ginásio pela parte da manhã e do almoço em diante estava recepcionando os quatro primeiros colocados do concurso em seu centro de criação, mais um acompanhante de cada. No entanto, criação também envolvia a nutrição dos pokémon e para isso ele contava com os serviços de Beta. Ao que parecia algum pokémon não estava desenvolvendo-se como deveria e por isso Brock pediu uma consulta de emergência para uma dieta especial, por isso ele estava ali na hora que minha briga com Aries se iniciou. E tudo mudou nos planos dele.

 

— Eu pretendia procura-la a noite para falarmos sobre isso. -

 

Ele estava sentado na cadeira de Beta, atrás da mesa, tentando explicar-me o que ele queria e ao mesmo tempo me acalmar, tanto que pediu ao recepcionista que nos desse alguma privacidade, com a suposta desculpa que eu precisava de um momento.

Após eu beber um pouco de água e me acalmar ele perguntou se eu queria falar sobre ocorreu lá em cima e diante a minha negativa ele despejou rapidamente algumas informações que eu ainda tentava processar e que consegui resumir no interesse dele sobre a fita rara de minha mãe.

 

— Como sabe, cada cidade possui sua própria fita de concurso que leva o nome da própria cidade. A fita concedida a Amora Amada aqui em Pewter foi a Fita Pewter ou se preferir a Fita da Cidade de Pewter! – Ele levantou um dedo. – Mas, existem fitas especiais que não levam o nome da cidade e sim o nome do torneio na qual foi concedida, o nome do Top Coordenador que a concede em seu evento especial ou ainda nomes especiais escolhidos pelos Top Coordenadores conforme sua vontade. -

 

Apenas sacudi a cabeça compreendendo. A fita da minha mãe era uma especial. Concedida a ela diretamente por sua Top Coordenadora favorita, como prova de reconhecimento.

 

— Ela está em busca de uma fita especifica, mas não conseguiu encontrar. E posso dizer que a vida dela mudaria por completo se obtivesse essa fita. Ela até mesmo te treinaria para ser uma excelente coordenadora. - Brock inclinou-se. - Um dos coordenadores que está visitando meu centro de criação falou que você possui uma Fita da Vida. -

 

E ali estava a parte que eu não pude compreender. Eu acreditava conhecer cinco dos oito que estavam na visita e nenhum deles sabia da fita.

 

— Quem te falou isso? – Questionei.

 

— A menina de cabelo azul. – Ele pareceu tentar lembrar do nome. - Hina! -

 

Nunca havia dito a Hina que eu tinha uma fita ou a mostrei. Talvez ela tenha visto em quanto eu estava na casa dela e nada falou a respeito. Por sinal, era a fita de minha mãe, completamente destruída e que eu ainda não tinha tido coragem de falar que a roubei e a destruí. Possivelmente minha mãe já sabia do roubo, ela não passava muito tempo sem olhar para ela.

 

— Ela não falou diretamente comigo, Amora estava se gabando das fitas que já conquistou em todos esses anos e Hina para fazê-la parar de falar questionou se ela tinha alguma fita especial como a Fita da Vida que Mirian possuía. -

 

Brock explicou como ele veio a saber da vida e calou-se deixando-me pensar. Ele queria que eu trocasse a fita por um treinamento. O tipo de amigo que eu respeitava. Sua amiga estava à procura da fita e ele estava agora criando a oportunidade para ela. Parou tudo o que estava fazendo para fazer algo por ela. E o que ele ganhava em troca? Nada!

 

— A fita não é minha. - Eu disse por fim. - É de minha mãe. Não posso dá-la desta forma e acredito que ela não iria aceitar a fita desta forma. -

 

E quando eu dizia desta forma, era por estar no meu bolso, completamente destruída e não numa troca de serviços ou por imaginar que ela iria querer conquista-la.

 

— Você não conhece aquela maluca! - Ele deu uma risada e pegou uma caneta na mesa de beta e começou a rabiscar em um papel do bloco de anotações. – Não precisa me dizer sim ou não. Afinal, a fita não é para mim. Vá até ela e saiba da história dela e decida depois. Não se preocupe que ela é maluca, mas não ladra! E é por isso que acredito que você pode aprender muito com ela! –

 

Ele esticou um endereço para mim e eu hesitei em pegar por alguns instantes. A primeiro momento imaginei que ele queria era examinar minha Audino, afinal também é médico pokémon. Mas, ele queria era ajudar a amiga dele. Era o tipo de coisa que Mauricio faria por mim.

 

<><><><>

 

O jantar tinha um clima esquisito. Os irmãos Bluenda falavam animados da visita ao centro de criação e que todos os oito ganharam um cartão para participar de um evento de criação pokémon alguns meses à frente em Vermilion. Beta e Aries estavam em um pé de guerra de olhares e eu estava ali pensativa sobre visitar essa amiga de Brock.

Fita da Vida. Eu nunca soube que este era o nome e fico curiosa para imaginar o motivo. Minha mãe sempre disse que foi concedida por sua Top Coordenadora favorita em reconhecimento as suas habilidades, mas nunca disse o nome ou contou muito do dia que isso aconteceu.

 

— Nós vamos atravessar o túnel dos Diglets e seguir para Celadon. - Disse Hina. - Venham conosco! O próximo concurso é daqui a duas semanas e será numa cidade ao lado de Celadon. Vamos ficar em Celadon e seguir só na véspera! -

 

Sorri diante o convite. Viajar só com Aries era meio estressante. Mas, havia algo que eu precisava fazer antes. Matar minha curiosidade sobre a fita da vida.

 

— Eu adoraria. Mas, estava pensando em ir a Cerulian. -

 

— O que? -

 

Blue e Beta deram um salto de suas cadeiras ao mesmo tempo.

 

— Não há nada para você em Cerulian. - Disse Beta. - Na verdade, não há nada para nenhum coordenador na cidade ou suas redondezas. - Ela sentou-se. - É sério, nenhum coordenador que preza sua carreira vai para aquele lado. -

 

Eu olhei-a confusa.

 

— Não existem concursos naquela área a mais de dez anos. - Hina começou a falar com mais jeitinho e acabei ficando curiosa sobre não haver concursos naquela área. - A parte norte de Kanto é chamada pelos coordenadores como Zona Morta. Não há concursos ou pokémons que tenham aptidões iniciais chamativas para as apresentações. É uma jornada de um mês passando por lá que apenas gasta recursos. - Ela parou alguns instantes. - O máximo que há de importante é o Monte Lua. É por isso que quer ir para aquela área? Realmente dizem que a subida e descida do Monte Lua é melhor ser feita por Cerulean! -

 

Monte Lua. Eu estudei-o na escola e realmente não parecia promissor para alguém como eu. Uma grande montanha com pokémon territoriais e inúmeras trilhas e tuneis que se não seguidas de forma correta dariam em situações perigosas ou mesmo em grandes jornadas em círculos.

 

— Você se estrepou toda indo de Pallet a Tin, que não tem dificuldade nenhuma. Vai morrer no Monte Lua! - Disse Blue. - Venha conosco! Podemos te ajudar a capturar um pokémon forte para a segunda fase dos concursos! -

 

— Ela tem a mim para ajudar a capturar o pokémon que quiser. -

 

Era a primeira vez que Aries falava algo desde que retornei para o apartamento. Ele parecia ainda bem irritado e isso fez sua fala parecer bem ríspida. Mas, acho que o mesmo pareceu perceber e respirou fundo parecendo se acalmar.

 

— O Monte Lua não é local para ela realmente. Mas, acredito que um pokémon daquela área, negligenciado pela maioria dos coordenadores, possa ser uma vantagem para ela. - Comentou Aries que logo depois me encarou. - Não sei o que quer em Cerulian, mas se quiser ir para lá te acompanharei sem problemas. -

 

Beta olhou incrédula para Aries por alguns instantes e sorriu parecendo deixar aquele assunto de lado. Mas, Hina e Blue pareciam que não se convenceriam tão fácil.

 

— Mirian, não vá! Você precisa aproveitar a fama que tem agora no próximo concurso. - Hina voltou-se para mim. - Ela não durará muito se ficar desaparecida por muito tempo. -

 

E talvez ela tivesse razão quanto aquilo. O mundo da coordenação pokémon era muito confuso, mas tudo tinha relação com o quanto de atenção você consegue chamar e manter em si. Eu poderia não ter ganho o último concurso, mas era a coordenadora mais comentada que participou dele. De fato, esse era um fator que eu ainda estava tentando aprender. Se quem dava nota eram os juízes o que a população realmente podia influenciar nas notas?

Eu ainda tinha muito a aprender sobre concurso e o tempo da cirurgia da minha mãe se aproximava rapidamente. Eu não poderia simplesmente ignorar que em Cerulean existe uma mulher que poderia me ensinar sobre concursos, não iria dar a Fita da Vida destruída para ela, mas certamente haveria outra coisa que eu poderia oferecer a ela.

 

— Iremos para Cerulean amanhã. - Aries levantou-se de seu lugar. - Agradeço pela refeição. Vou começar a fazer os preparativos. -

 

Ele saiu sem dizer muita coisa após isso. Assim que a porta se fechou e escutamos a porta do final da escadaria também se fechar beta encarou-me rapidamente.

 

— Nós só brigamos e gritamos como duas crianças, então não sei o motivo pelo qual entraram em conflito mais cedo, além de que ocorreu uma desconfiança dele sobre alguma coisa que aconteceu e o forçou a ser sua fada madrinha. - Ela parou alguns instantes. - Por acaso ele quer te forçar a ir em Cerulian? -

 

Dobrei a cabeça tentando entender como Beta poderia ter chegado naquela opinião. As coisas só se complicavam a cada minuto, seria difícil passar a noite sem falar sobre a conversa de Brock e toda a explicação se aquelas perguntas continuassem.

 

— Tem uma pessoa naquela área que eu preciso ver, por causa da minha mãe. - Disse tentando mostrar um certo desanimo. Não era mentira nada disso, mas me sentia mentindo. - A briga de mais cedo foi... -

 

E o que foi a briga de mais cedo? Eu não podia explicar a eles o ocorrido, mesmo sendo meus amigos. Não podia mentir e não queria deixar que Aries levasse a culpa disso.

 

— Não tenho certeza se sei porque ele estava tão estressado. – E isso não era mentira alguma.

 

<><><><>

 

Não tive dificuldades de pegar no sono, mesmo com Hina deitada na cama ao lado, animada de me contar tudo o que rolara na visita, agora os detalhes mais pessoais quanto a discussão com Amora e como Brock desapareceu de repente, deixando um de seus irmãos com o grupo. Não sei em que parte adormeci, mas acordei no meio da noite, com umas risadas próximas.

 

— Desculpe-me! –

 

Hina pediu em meio a penumbra. Ela estava deitada em sua cama, com algo em mãos que iluminava seu rosto. Demorei para identificar que era o Tablet.

 

— Tudo bem! - Bocejei. – Eu que deveria desculpar-me, você toda animada para contar de sua excursão e eu adormeci enquanto falava. Não sou uma boa amiga. -

 

— Acontece. - Ela disse ainda risonha. - Não é como seu eu fosse a pessoa mais divertida do mundo. Em casa não tinha muitas amigas, porque minha cidade não tem tantas crianças de minha idade. -

 

Eu me levantei e fui até a cama dela sentando-me por cima das cobertas. Ela me pareceu bem solitária ao dizer aquilo e consegui relembrar que enquanto estive na casa dela, Blue saiu para ver os amigos, mas ela não. Também lembrei que ela reclamava que Blue ficava a tentar agarrar todas as garotas que ela tentava fazer amizade. No final, acho que eu era a amiga mais próxima que ela tinha e nem me sentia tão próxima dela assim.

 

— Preciso ir a Cerulian porque acho que lá vou me tornar uma coordenadora melhor. -

 

Amizade era uma coisa difícil de explicar. No final eu entendia que ela queria que eu fosse com ela para Celadon porque queria uma amiga na viagem e não apenas o irmão que a deixaria pelo primeiro rabo de saia, coisa que eu juro que ainda não entendo como acontece. Eu gostava da companhia de Hina e não queria que ela pensasse que a estava evitando.

 

— Essa pessoa que precisa ver, por causa de sua mãe, vai te ajudar a ser uma coordenadora melhor? - Ela abaixou a tela tablete por alguns instantes. - Não sei como isso pode acontecer, mas você foi bem nos dois concursos que participou, então deve saber o que está fazendo. - Ela de repente começou a rir. - Já está até ficando popular entre os malucos. -

 

Eu não compreendi o que ela quis dizer, mas estava claro que era o motivo anteriores das risada dela. Ela pegou o tablet e me mostrou um site onde estavam exibindo um vídeo de minha entrevista. Eu sequer havia assistido a entrevista sendo exibida em primeira mão na televisão, mas confesso que não fiquei tão curiosa em ver isso na televisão. Inicialmente queria ver a repercussão, mas com a briga com Aries eu acabei desanimando.

 

— Veja estes comentários! -

 

Eu li o primeiro e comecei a rir no mesmo instante. Os comentários sobre a entrevistas nada tinham a falar realmente sobre o tema da reportagem, apenas dizem coisas como: “Inspirados a lavar pratos”; “Que minha mãe nunca veja esse vídeo!”; Ou até mesmo “Quero ver Amora de biquine lavando carros!”. Havia algo realmente de sem noção, mas todos curtiam a entrevista e davam apoio a minha apresentação. No entanto, um prendeu minha atenção.

 

“M@uM@u - Mais EleGAntE e VOLUptuosa apresentaÇÃO de um praTo limpo. desmbanCou a Elite.”

 

Ela continuou rindo, mas eu não consegui. Fiquei ali parada, fingindo acompanhá-la enquanto pensava no que havia acabado de ler. Eram comentários para lá de esquisitos e sem nexo algum, mas aquele me chamou a atenção. Eu ignoraria a forma esquisita da escrita, não fosse o nome do usuário. Maumau era o apelido de Mauricio. Ou melhor dizendo, meu apelido para Mauricio.

Eu passei o dia todo pensando nele, com saudades dele! Principalmente depois que Aries resolveu ficar louco. Eu sempre achei que ele precisava muito de mim, mas era duro perceber que era eu quem mais precisava dele. E estar longe dele a tanto tempo talvez me faria pensar que aquela mensagem fosse dele, principalmente por ele ser fã do programa versão Jotho, não seria difícil ele acessar o portal da versão Kanto.

 

— Posso? -

 

Pedido tablet e acessei rapidamente meu e-mail para ter certeza que nada havia chegado de meu melhor amigo e pude comprovar que não. Mas, acabei voltando a mensagem e tentando clicar no nome M@uM@u. Era um usuário criado recente, pouco mais de um mês e não dizia nada sobre ele.

 

— Não vai me dizer que ficou interessada nessa mensagem? - Hina me olhou com um olhar zombeteiro. - Vai agradecê-lo pelo elogio ou mandar ele aprender a escrever. -

 

Eu ri. Não valia a pena explicar, porque eu não saberia explicar. Mas, era difícil não achar que aquela mensagem fosse dele. Não era apenas a saudade, coincidência do apelido e a necessidade que eu tinha de alguém me entender. Era a forma como ele havia digitado as coisas. Às vezes ele me mandava mensagens com coisas escondidas nelas, as vezes claras que eu não precisava nem pensar. Mas, as vezes tão difíceis de decifrar que eu era obrigada a perguntar o porquê ele cifrava essas coisas para mim.

 

<><><><>

 

— Acorda! Acorda! –

 

Meu corpo era sacolejado e acordei assustada, com um salto e levando a mão à frente do corpo. Estava tendo um pesadelo e alguém que resolveu me acordar, ou por piedade diante dos meus gritos ou por incomodo pelos mesmos.

Aos poucos a imagem de Hina foi tomando foco e pude ver o quanto ela estava assustada. Mas, admitia se eu tivesse gritado a quantidade que gritei no sonho, eu também estaria assustada. No sonho eu era perseguida por Rachel e seu Charmander que tentavam atear fogo em mim.

 

— Desculpe. Foi um pesa... –

 

— Rachel está lá em baixo querendo falar com você e Blue está a ponto de atacá-la! - Hina falou tão rápido, cortando minhas desculpas, que mais uma vez pude perceber que meus pesadelos não era tão importantes assim para as outras pessoas. Ela falou Rachel querendo falar comigo? – Me ajuda a separá-los! -

 

Hina correu para fora do quarto e eu me levantei apressada, temerosa do que realmente iria acontecer. Eu havia acabado de sonhar que a cabelo de fogo me atacava e iria sair correndo para cima dela? Que tipo de louca eu estava sendo? Saí do quarto e fui ra janela da sala onde vi uma cena a qual eu não compreendi. Lá estava Blue com uma pokebola na mão direita e o braço esticado na direção de Rachel. As coisas não estavam ficando nada boas. Fui para a escada, mas parei por instinto e olhei para baixo, eu estava com roupa de dormir e não iria a rua daquela forma. Voltei correndo retirando a roupa e catando as peças que usei ontem após as entrevistas. Mas, apressei-me ao escutar alguns gritos e impactos.

Quando finalmente cheguei lá em baixo a situação já havia tomado grandes proporções. Rachel estava ali, com as mesmas roupas de ontem com seu Charmander a sua frente. Do outro lado estava Blue com seu Squirtle. Pareciam já ter tido um confronto, pois ambos estavam com alguns arranhões e eu podia ver o chão molhado de um lado, bem como o asfalto queimado de outro.

 

— Por que estão lutando? - Perguntei para Hina.

 

— Eu falei que Blue estava a ponto de atacá-la! - Resmungou Hina. - Quando cheguei aqui em baixo ele estava desafiando-a da forma clássica para uma batalha, uma pessoa honrada não pode recusar! -

 

Eu não sabia muito sobre o que era essa tal forma clássica, era algo mais usado para treinadores, pelo que falei. Mas, que coordenadores e qualquer outro que entendesse o mínimo de batalhas respeitava. Então imaginei que tivesse sido aquela estranha posição ao qual Blue havia ficado enquanto estava na janela.

 

Escutei Rachel comandar Cortina de Fumaça e senti um calafrio. A fumaça começou após uma pose forte de Charmander e então Squirtle foi encoberto pela fumaça. Blue deu um salto para trás, olhando furioso e viu Charmander saltar ao grito de Explosão de fogo dado por Rachel. Era o mesmo movimento que ela usara contra mim.

Era difícil de acreditar que um dia eles foram amigos próximos. Eu olhava-os nos olhos e só via a rivalidade e uma vontade de fazer o outro cair. Não era como se um tivesse crescido com o outro. Não era como se um dia um tivesse frequentado a casa do outro. Como uma amizade podia se tornar algo como aquilo? Como eles podiam achar que colocar seus pokémon para brigarem por eles iria resolver alguma coisa?

 

— Vou sair dessa como um coordenador que é para você aprender uma lição! - Diz Blue. - Giro Rápido! -

 

A grande estrela flamejante saiu da boca de Charmander enquanto, por algum motivo que eu não entendia, a fumaça começava a girar de uma forma estranha. Mas, rapidamente tornou-se um tornado de fumaça e pude ver que o pokémon de Blue estava escondido em seu casco rodando velozmente.

A fumaça dissipou-se assim que as chamas chegaram a ele causando um forte explosão de chamas. Protegi meus olhos com o braço direito, bem como Hina. Mas, pude ver que as chamas acabaram sendo dominadas pelo Giro Rápido que pegou as chamas fazendo um tornado de fogo.

 

— Agora Jato de Água e tudo contra ele! -

 

Água começou a sair do casco e de repente havia um tornado de água junto com o tornado de fogo. As chamas pareciam ter conseguido sinergia de existência com a água, pois o laranja se misturava ao azul com perfeição e então o tornado foi contra Charmander que vinha para tocar o solo.

 

— Volte! –

 

Rachel gritou rápido, erguendo a pokebola e acionando o laser vermelho para recolher sua criatura, segundos antes de o tornado chegar onde ele estava e explodir em água e fogo para todos os lados.

 

— Uau! -

 

Algumas pessoas haviam parado para ler, principalmente aquelas que estavam de carro e tiveram sua passagem obstruída. Eu estava com um misto de medo e deslumbre com o que acabara de ver. Blue havia lidado com aquela combinação com tanta facilidade e transformando tudo em arte a favor dele a ponto de fazer Rachel recuar. Ele era muito forte e isso me dava calafrios, em pensar que aquele era o nível das pessoas que eu teria que enfrentar se quisesse levar a taça para casa. Por outro lado, ainda estava achando incrível como Blue conseguiu dominar os dois ataques adversários e usá-los a seu favor.

Senti um empurrão e vi que Hina estava aflita. Só então percebi que a batalha dos pokémon terminaram, mas não a dos humanos. Rachel tinha aquele olhar frio enquanto Blue, que vivia sorrindo e brincando com as coisas estava encarando-a como se fosse crucifica-la. Ele deveria estar feliz por ganhar, por fazê-la desistir. Como a amizade deles chegou a um nível de inimizade?

Senti o empurrão de Hina novamente, só que agora mais forte e me mandando em direção a Rachel. Só então me lembrei que Hina havia dito, quando me tirou da cama, que a ruiva queria falar comigo. Caminhei rápido até ela e fiquei entrei no campo de visão dos dois, acabando com aquele duelo de olhares que eles faziam.

 

— Sinto por ter perdido. - Comentei. - Na verdade, não entendo porque estavam se enfrentando. -

 

— Não é da sua conta! -

 

Foi como um tapa no rosto que me fez ficar um pouco deslocada. Rachel parecia um trator quando eu falava com ela. Mas, parecia tão graciosa olhando de longe.

 

— Desculpe acordá-la. Mas, parto na hora do almoço e queria resolver minha pendência com você antes de partir, pois não tenho garantias que nos encontraremos logo. -

 

— Pendência? - Ela a mão ao bolso e retirou um saquinho de camurça estranho e pegou a minha mão e colocou colocando o embrulho na minha. - Eu não quero... -

 

Eu tentei falar que não queria e não precisava me dar nada. Mas, ela apertou minha mão e parei. Não foi um aperto de força que me machucasse. Foi uma tentativa de me mostrar que não importava o que eu dissesse, ela iria me dar aquilo.

 

— Pulseira para você, cordão para Audino. - Ela disse olhando em meus olhos. - Uma hora vai funcionar. -

 

Ao dizer isso ela me deu as costas. E começou a caminhar na direção do Centro Pokémon. Eu via os carros começando a passar, agora que a rua não estava mais bloqueada e Blue acompanhando-a com os olhos.

 

— O que foi que ela te deu? - Hina perguntou aproximando-me de mim. - Por que ela te deu isso? -

 

— Eu não sei. – Eu disse abrindo o pacote e vendo que tratava-se de um cordão com um pingente de pedra estranha, o qual achei bonito, mas nunca havia visto antes. A pulseira também possuía pingente, uma pedra diferente da que estava no cordão, mas tão desconhecida quanto a outra. - Como uma joia pode compensar o que aconteceu? -

 

<><><><>

 

O ônibus sacudia, fazia mais barulho que uma batedeira, fedia e era totalmente desconfortável. Sem contar que as pessoas que ali estavam pareciam o ônibus personificado fazendo tudo o que aquele veículo fazia. Talvez a ideia de viajar a noite não tenha sido tão interessante quanto eu imaginava e devo admitir que Aries bem advertiu-me que se eu queria ir de ônibus era melhor ir de manhã, mas eu queria economizar indo à noite, que era mais barato, além de que gastei parte do dia pesquisando sobre a suposta mensagem cifrada que Mauricio teria postado e aquele estranho presente de Rachel.

 

— Avisei. -

 

Comentário quase inaudível. Mas, lá estava Aries surpreendendo-me. A mais de duas horas ele estava calado, de olhos fechados e imóvel. Imaginei que tivesse conseguido dormir e deixando-me acordada sozinha. Olhei para o rosto dele e vi que seus cabelos, assim como os meus, sacudiam com o vento que passava pela janela que eu deixava aberta para diminuir o mal cheiro do ambiente.

 

— Por que apoiou-me a vir a Cerulian? - Questionei-o. - Não quis saber o motivo mesmo todos dizendo que era uma perda de tempo para minha vida de coordenadora. - Revirei os olhos. - Vida essa que você falou que vai mudar de qualquer jeito! -

 

Ele não disse nada, mas abriu os olhos e ficou a fitar a poltrona da frente por algum tempo.

 

— Você entende o motivo de eu ter desconfiado de você? - Ele perguntou sem olhar para mim e logo voltou a fechar os olhos. - A resposta para essa pergunta é a mesma para a sua. -

 

— Você sabe que a resposta da sua pergunta é apenas sim ou não, não é? -

 

Ele abriu os olhos e franziu o cenho pensando naquilo. Eu percebi que talvez ele fosse me chamar de idiota e explicar algo que era muito óbvio, mas de repente começou a rir. Bom, eu queria que ele tivesse rido já que aquilo era uma gargalhada alta e que fez todos os que roncavam como motores desarranjados acordarem e aqueles que faziam barulhos diversos pararem.

Estava tudo escuro naquele ônibus, mas aos poucos algumas luzes de apoio foram sendo acendidas pelos passageiros. Eu até estranhei o fato daquele ônibus ter esse tipo de luz individual. Um por sinal levantou-se irritado e pareceu olhar em nossa direção. O ônibus todo encarava Aries, alguns olhares raivosos e alguns xingamentos até começaram. Aries ainda em meio a risadas levantou-se e encarou o que se levantou e de onde eu estava, mesmo no escuro via os olhos quase brancos, exalando o ar enlouquecido e suplicante para que o homem que levantara tentasse algo.

Era realmente uma visão perturbadora, era como ver algo sombrio e não natural parado em pé, no corredor escuro do ônibus. O que xingou de repente sentou-se e apagou sua luz, com tanta calma e naturalidade que duvidei que a cena era real.

 

— Isso! Volte a dormir e sem roncar desta vez! - Aries bradou. - Isso vale para todos! -

 

Era o tipo de pessoa que dificilmente conseguia manter as amizades. Ele praticamente ameaçou todo o ônibus fazendo com que qualquer chance de dormir agora desaparecesse, eu não iria pregar os olhos com medo de alguém vir dar uma lição nele durante a noite. Mas, ele não parecia incomodado com isso. Sentou-se ao meu lado ainda risonho e olhou-me durante algum tempo.

 

— Briguei com você porque você pode fazer mais do que está fazendo. - Ele disse olhando-me. - Quando você se dedica de verdade em algo dá para perceber em você uma aura diferente e os resultados aparecem, mesmo que recheado de consequências. Dedicou-se a cruzar o caminho de Pallet a Tin em meio a chuva e conseguiu. Dedicou-se a preparar uma apresentação em pouco mais do que um dia, sem nunca ter feito uma ou ter comandado um pokémon antes, e conseguiu. Dedicou-se a preparar uma apresentação simples e funcional e conseguiu. Todas essas vezes você estava focada em fazer aquilo. - Ele parou. - Então vejo em você a capacidade de fazer muito mais do que faz quando está focada. Então tive que brigar com você, pois tenho certeza que a pessoa que me chantageia sabe que você pode mais e está procurando um motivo para esses seus fracassos. -

 

Era a primeira vez que eu escutava-o falar bem de mim sem que uma alfinetada viesse junto. Era a primeira vez que ele dizia que eu tinha potencial e acreditava em mim, não porque precisava me incentivar ou porque eu acabava de fazer algo que era digno de elogio.

 

— Então... Apoioi-me a vir apara Cerulian para... -

 

— Apoiei porque senti que estava decidida em encontrar algo em Cerulian. - Ele disse. - Não sei o que é, mas parecia um caminho melhor do que seguir com os Bluenda que estavam prontos para te pressionar a entrar em um concurso daqui a 15 dias. -

 

Eu estava mesmo decidida em descobrir o que a amiga de Brock queria com a Fita da Vida. Saber o que ela significava para as pessoas e assim saber o que ela significava par aminha mãe.

 

— Então você não desconfia mais de mim, né? - Perguntei por fim. - Sabe que eu não trairia vocês. -

 

— Sei. Você é o tipo de pessoa que tentar fazer as coisas que acha certa. -

 

Ele disse fechando os olhos como se estivesse pronto para dormir. Ele me conhecia afinal. Talvez não fosse como Mauricio que cresceu comigo e sabia o que fazer para cada tipo de reação minha, mas era bom tê-lo por perto. Eu jamais poderia compará-lo a Mauricio ou esperar ter o mesmo tipo de amizade com ele, mas ainda assim era meu amigo.

Encostei-me no braço dele e fechei os olhos aproveitando que agora ventava mais pela janela e o barulho das pessoas havia diminuído. Eu podia dormir, tenho certeza que ele iria ficar acordado nos protegendo.

 

— É por isso que sei que um dia você e eu vamos elevar nossa briga a um outro nível. -


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Notas finais do capítulo

No próximo episódio veremos uma batalha como nenhuma outra!



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