Alma de Coordenadora Pokémon - Fita da Vida escrita por Kevin


Capítulo 10
Caçador


Notas iniciais do capítulo

Consegui postar em dia... huahauhauha
Acho que gostaram desse capitulo!!

Agradeço a todos que ainda acompanham e peço desculpas pela falta de respostas, no feriado estarei respondendo a todos!!!



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Meus olhos se abriram lentamente em meio a escuridão e demorei alguns instantes para lembrar que eu estava em um quarto diferente do meu e que também não era o da casa de Hina. Dormir na casa dos Bluenda havia me dado uma falsa sensação de conforto familiar e como percorremos 35 quilômetros em um dia, aquela cama me pareceu a melhor cama do mundo.


De certo modo, apaguei muito satisfeita comigo mesma! A distância foi quase o limite de um viajante normal e ainda fui elogiada por Aries que conseguiu ser gentil em me deixar com o quarto sozinha e dormir na sala, me dando alguma privacidade na pequena casa que nos abrigava.

 

Mas, agora que eu estava desperta, o corpo começava a dizer que banho e cama não eram o suficiente, precisava de comida. Levantei-me com calma, temendo que o corpo cobrasse pelo esforço do dia, ou pela falta de alimento. Também para não fazer barulho e acordar os donos da casa. Cheguei à porta do pequeno quarto, guiada pela fraca luz que passava por debaixo da porta. Abri-a lentamente.

 

Uma corrente elétrica de pavor cortou meu corpo com a cena que eu via. Não paralisei, talvez porque não fosse burra suficiente para ficar parada diante de uma cena como aquela. Eu era uma pessoa urbana e poderia congelar diante aos perigos da mata, mas aquilo era bem urbano para eu saber que fugir era a primeira opção se você não tivesse sido notada. Voltei para cama tão rápido quanto pude, sem causar barulho para que Aries não soubesse que eu o vi lustrando um rifle prateado que parecia poder derrubar até mesmo um Snorlax.

 

 

Alma de Coordenadora Pokémon
— Fita da Vida -
Episódio 09: Caçador

 

 

De todos os perigos que imaginei poder passar na jornada, nenhum havia se concretizado até aquela noite quando flagrei Aries armado. Armas eram o que eu mais temia, porque o estrago que elas podem fazer é muito grande, não só nos humanos, mas nos pokémon também. Não que eu já tivesse sido ferida por uma arma, mas já estive na mira de uma arma e não foi nada agradável. Acho que se Mauricio não tivesse tido sangue frio naquele momento algo pior poderia ter acontecido.


Mas, Aries com uma arma daquele tamanho? Eu nem sabia que ele carregava uma. Por alguns segundos, enquanto estava deitada na noite passada, imaginei que poderia ser da casa, mas por mais lesada que eu estivesse ao chegar no local que nos acolhera, eu teria visto uma arma como aquela. Aries não seria louco de pegar sem permissão a arma do dono da casa, ou seria? Não! Ele é louco, não burro.


Além disso, eu sabia que a arma estava com ele por toda a jornada, somente não havia percebido ainda. A mochila de viagem dele era maior que qualquer outra que eu já havia visto e possuía muitos ferros na parte das costas que uma vez perguntei para que serviam, imaginando ser para mesa de camping ou mesmo maca. Mas, a resposta dele foi de serem partes de sua arma.


Evidente que achei que ele estava me zoando. Uma arma desmontada? Para que alguém andaria armado? Que tipo de arma precisaria daqueles canos? Com a visão da noite passada, com a resposta que ele deu e a informação da profissão dele no portal do Grupo Olimpo, a ficha caiu como uma bomba.


O site do Grupo Olimpo dizia a profissão de cada um dos filhos e a profissão registrada para Aries era Assistente de Captura. Eu nunca ouvi falar de tal profissão, mas achei que fosse algo como um tutor para pessoas que querem capturar algum pokémon especifico e não estão conseguindo, ou mesmo um iniciante que contrataria serviços para aprender a arte da captura de pokémon.

 

Se eu pensar que eu vou precisar que ele me ensine em algum momento, não seria absurdo. Só é absurdo por causa da personalidade dele, quem é que vai pedir ajuda a uma pessoa que faz questão de te humilhar antes de te ajudar?


Aries jamais poderia ser um tutor. Mas, se ele faz capturas, ajuda pessoas com capturas, pessoas se dispõem a pagá-lo por isso e anda com uma arma toda desmontada e acima de suspeitas que ele pode mudar a espessura do cano para variar assim o tipo de munição que ele usará, só penso numa única profissão para ele.


Não gostaria de admitir, já que ninguém gosta de caçadores, mas a forma como ele lida com os pokémon selvagens, como ele trouxe aqueles Ekans abatidos em Morin, o cuidado com que ele toma com a arma só pode ser um caçador. Eu não gosto de caçadores! Ninguém gosta de caçadores! Nos filmes eles sempre são cruéis e vivem à margem da lei. Os noticiários mostram caçadores terríveis como a Caçadora J. Então, quais as chances dele ser um caçador do bem? Melhor dizendo, existe caçador do bem? Será que não é ilegal? Será que tem diferença caçar e capturar?

 

— Você lavou tudo isso sozinha? -

 

Eram pouco mais de oito da manhã e depois do café da manhã eu precisava pagar nossa hospedagem na casa dos Golti, a família que nos recebera na cidade de Nark. No geral, sempre questionei-me porque viajantes eram tão bem recebidos em casas de estranhos e descobri que eles ajudavam na casa em que pernoitavam. As vezes aravam a terra, pintavam, limpavam, algo que fosse útil aos donos da casa e que não viesse a envolver dinheiro para não onerar ao viajante e ao mesmo não criar um vínculo comercial que teria que ser fiscalizado. Aries desapareceu antes que eu conseguisse levantar, o que foi uma sorte pois minha mente ficou girando com a visão da arma dele e certamente acabaria pergunto a respeito. Mas, com isso eu fiquei para realizar o pagamento da nossa hospedagem.

 

— Sim. - Comentei sorrindo. - Por que? Não ficou bom? -

 

Eu havia lavado as vasilhas do jantar e do café e depois estava com uma trouxa de roupa para lavar. Tudo dos dono da casa, as minhas roupas ainda estavam na fila e tudo tinha que ser a mão, o que era estressante devido as calças jeans. Mas, nada que fosse incomodo ou fora da minha rotina de casa, já que meu irmão não ajudava em nada na casa e as roupas de minha mãe não podiam ir em máquinas, normalmente. Tarefas de casa eram moleza para mim.
Naquele momento, no entanto eu estava sendo questionada por um garotinho de sete anos, Mitto, filho dos dono da casa.

 

— Nunca vi esses lençóis tão brancos. -

 

Dei uma risada e voltei para terminar as últimas peças para começar as minhas.

 

— Normalmente os treinadores, mesmo as meninas, pegam outras tarefas. Deve ser a primeira treinadora que vejo escolher a louça e a roupa. -

 

O garotinho continuou ali a falar sobre o que os outros viajantes normalmente faziam como tarefa para compensar sua hospedagem. Ele tinha o cabelo meio ralo, pele escura, e estava com dois dentes faltando, as famosas janelinhas da troca de dentes costumeira da idade.

 

— Comecei minha jornada como coordenadora a pouco tempo, então ainda sou muito do lar. - O que era inteiramente verdade.

 

Percebi que a voz dele parou e estranhei por não o ter percebido sair, virei-me para ir estender uma das últimas peças de roupa e fui surpreendida por ele ainda parado ali, de boca aberta e olhando-me como seu eu fosse um fantasma.

 

— Aconteceu alguma coisa? - Questionei.

 

— Coordenadora? Daquelas de palco e tudo? - Ele pareceu não acreditar, mas confirmei com a cabeça. - Isso é impossível! Você está toda machucada e coordenadores não aparecem machucados, além disso nenhum coordenador fica na casa das pessoas desta forma, eles precisam de muitos cuidados e se recusam a fazer esse tipo de tarefa. -

 

— Ahn? -

 

Ele tagarelou mais N argumentos, deixando a impressão de que ele acreditava que os coordenadores eram uma classe superior, a elite das pessoas e que estariam acima das tarefas corriqueiras. Eu não conseguia compreender o que ele estava dizendo. Tudo bem que alguns coordenadores realmente eram frescos e que os que conheci até ali baseavam suas carreiras em um treinador campeão de liga e por isso não poderiam ser parâmetros, até por terem começado junto comigo, por assim dizer, mas não poderiam ser todos a terem esse chilique de estrelato.


Lembro das histórias de minha mãe e tirando minhas trapalhadas e falta de habilidades, não divergia tanto do que estava fazendo agora. Lembro que uma vez hospedamos uma coordenadora em nossa casa e ela não pareceu nada daquilo.

 

— Por... -

 

Iria questionar, mas parei antes mesmo de começar. Uma forte rajada de vento que quase nos derrubou ocorreu. Olhei para as roupas de imediato, mas, elas permaneceram presas no varal. Aquela era a quinta rajada de vento como aquela e nas duas primeiras o que eu havia lavado foi para o chão sujando e fazendo-me repetir o processo.

 

— O que é essa ventania toda? - Questiono a Mitto. - Isso é normal? -

 

— Sim! De primeiro acontecia bem mais, mas agora, como são poucos Fearows, tem acontecido menos. -

 

Ele se moveu rapidamente para uma posição e apontou para algo no céu. Coloquei a última peça de roupa no varal e segui-o para olhar o que ele apontava. No alto, descendo em velocidade, estava um grupo de pokémon aves. Tudo em volta do local que elas passavam sacudia. Uma atreveu-se a ir mais longe e passou próximo a nós e fomos ao chão devido a pressão de vento que ele criou próximo a nós. Do chão eu fique aturdida, tentando acreditar que aquelas aves estavam causando a ventania, mas não batendo asas, apenas da pressão que causavam ao passar velozmente por algum lugar.


Não acreditava que aquele tipo de coisa era constante e acontecia com muito mais frequência. Teve um momento que a casa chegou tremer com a ventania e como a cidade era um tanto quanto rural, a poeira levantava-se a todo momento. Não havia como alguém viver com isso!

 

— Está brincando, né? Acontecia mais vezes? - Falei alarmada. - Como aguentam? -

 

— Eram mais de trinta Fearows e seus filhotes, Spearows espelhados fazendo seus rasantes atrás de comida. De Ratatas aos outros menores desavisados, mas os favoritos são os Ekans! - Ele parou por alguns momentos e pareceu arrepiado. - Desde que um caçador veio e levou o Fearow alfa, o grupo tem diminuído, ora porque um simplesmente parte ou ora porque perdem para outros predadores. -

 

— Existem predadores contra essa ave gigante? - Naquele momento tive a impressão de ter soado como uma criança mais nova que Mitto, mas parecia impossível que existisse predador para aquela ave. No máximo, um rival. - Você disse Caçador? -

 

Talvez ele não tivesse falado isso e eu apenas estivesse mexida com a ideia de estar andando para cima e para baixo com um caçador. Mas, por outro lado ele poderia ter realmente falado aquela palavra. Afinal, eu não acreditava que um treinador pudesse abater uma ave como aquela sem que as outras fizessem algo a respeito.

 

— Esses Fearows são os mais rápidos de Kanto e Jotho e por isso muitos treinadores passavam aqui tentar capturá-los, ou ao menos enfrentá-los para treino. Mas, sempre saem derrotados. Acho que meu pai falou que um treinador, quando ele era criança, acabou fazendo amizade com um que o seguiu, mas ele não lembra do fato direito pois era mais novo que eu. - Ele pareceu realmente tentar se lembrar. - Caçadores também apareciam com frequência, dizem que uma ave dessas pode valer até meio milhão se pega em boas condições, mas além dos moradores colocarem-nos para fora, eles não conseguiam caçar devido a velocidade. Só que um conseguiu e levou justamente o líder. -

 

Mitto de repente levantou a barra da bermuda e mostrou uma marca de mordida que muito se assemelhava as do Ekans.

 

— Sem o líder e os que debandaram, os que sobraram começaram a perder terreno para o Ekans que pareciam se multiplicar ou migrar para cá. Eles no geral não atravessam as áreas de plantio durante o dia e são meio quietos a noite, mas alguns que chegam migrados são mais atrevidos e foram parar na minha cama. - Ele comentou um tanto quanto pensativo como se a mordida ainda doesse ou pudesse ainda sentir o veneno tentando tirar sua pequena vida. - Por isso nos acostumamos com os Fearows velocistas, pois são uma defesa natural do ambiente contra os... -

 

Um estampido alto ocorreu e ele parou de falar arregalando os olhos. O eco percorreu toda a cidade e eu pude ver as casas vizinhas com pessoas curiosas olhando de um lado para o outro assustadas. Aquilo havia sido um tiro, alto forte e de uma arma que eu quase tinha certeza de quem era.

 

— Estão caçando! - Mitto gritou assustado e correu para algum lugar que não pude acompanhar.

 

As vezes acredito que eu suspeitava demais de Aries e me envergonhava disso. No entanto, aquela situação era diferente das outras em muito. Eram os fatos dizendo que meu parceiro de viagens, aquele com o qual fiz uma parceria de negócios, havia escondido ser um caçador e no momento estava para roubar as defesas naturais da cidade e perturbar, ainda mais, o equilíbrio ambiental local.


Comecei a andar pela cidade com ruas de chão batido e ao redor plantações a perder de vista. As casas amontavam-se não tendo mais de dez metros de distância uma das outras, dando uma impressão de que tudo era próximo demais e isso me incomodava, pois não importava por onde eu andava, não conseguia ver Aries em parte alguma e aquilo só indicava uma coisa, ele estava caçando. Olhei para a floresta e a acompanhei com os olhos até um morro rochoso, não muito longe da cidade. Era talvez o ponto mais alto daquele local, com exceção de algumas árvores que estariam muito mais distantes da cidade.
Nark era como uma clareira gigante no meio da floresta e alguns montes rochosos. As pessoas eram hospitaleiras e trabalhadoras. Viviam, a maioria, da agricultura e exportação do que plantavam. Se havia algo de chamativo naquela cidade eram os Fearows velocistas, pois não parecia um local que alguém viesse para passar alguns dias de lazer. Na verdade não parecia ter nada de lazer naquele local. Só estávamos ali porque Aries dizia ser um caminho menos perigoso, para mim, até Sarta, cidade vizinha de Pewter. Em Sarta eu encontraria a tal Beta, nutricionista pokémon que me ajudaria com a nutrição de minha Audino machucada e depois eu rumaria para Pewter, torcendo para que todo o tratamento a fizesse se recuperar-se em um mês e não dois como era o previsto para ela estar como nova.

 

Mas, isso era o que eu planejava e Aries dizia apoiar. Agora eu já entendia que Nark estava em seus planos desde o início e eu nunca teria conseguido fazê-lo desviar para passar pela floresta de Verdiana a Pewter. Não que eu realmente estivesse interessada em dormir na mata. Mas, era apenas um detalhe!


Comecei a correr na direção dos montes rochosos, atravessando as plantações. Se eu fosse ficar em lugar para observar e esperar uma oportunidade de atirar, teria que ser de um lugar alto e que me desse uma visão do todo. Claro que eu escolheria um local com sombra, mas como ele saiu muito cedo, talvez não estivesse preocupado com o sol, ou naquela direção pudesse ter encontrado uma sombra. Talvez até tivesse uma forma de se proteger, dependendo do quão experiente ele realmente era.

 

Eu corri por cerca de meia hora, sendo esperta o suficiente para não estressar meu corpo além do necessário até que comecei a me aproximar do morro rochoso que parecia ter uma subida difícil. Eu via, ao longe alguns do bando fazendo seus rasantes com uma ferocidade bem maior. Eles não pareciam ser um problema, mas as rochas sim. Tive medo de começar a subir, mas a ideia de que aquele Aries estava nos arrumando confusão era grande.


Só poderia ser Aries! Se uma ave poderia valer meio milhão, do jeito que o Grupo Olimpo estava atolado em dívidas, certamente ele poderia pensar em conseguir dinheiro desta forma. Eu que era boba estava pensando nisso, que dirá uma pessoa como Aries. Eu precisava começar a subir e o fiz, mesmo sem ter certeza de como fazê-lo.


Eu não queria ser envolvida como cumplice. Eu queria dormir mais uma noite naquela casa conforme o combinado e não enfrentar os Ekans, já que ou eu voltaria para Morin, e não faríamos trinta quilômetros em metade do dia já que a outra cidade estava a quarenta e cinco quilômetros. Mas, tudo isso era até um pouco egoísmo da minha parte. E tirando a preocupação do que aconteceria com Aries, que tecnicamente me afetaria e isso era egoísmo, eu não queria que alguém da cidade fosse mordido pelos Ekans. Motti poderia ter morrido e certamente iria se outro Fearow fosse levado.


Eu não podia entender como uma pessoa poderia se disponibilizar a ser um caçador. Alguns caçavam por esporte, assustando os pokémon e os fazendo fugir de seus habitats. Outros matavam as criaturas a sangue frio, como se a morte deles trouxesse algum prazer, mas havia aqueles que capturavam-nos e os vendiam. Eu sempre tive dificuldade para conseguir compreender essa diferença entre um caçador que captura para venda e um treinador que captura para batalha. Ambos buscam o pokémon para um proveito próprio. E vender pokémon não parece tão errado, os centros de criação o fazem, pessoas com pokémon mais domesticados acabam fazendo-o quando ninhadas surgem e precisam dar um destino aos filhotes e recuperar todo o gasto tipo enquanto não os vendiam.


Mas, naquela subida martirizante que pouco conseguia entender como eu estava fazendo, eu conseguia compreender a diferença do caçador que vende e do treinador que usa o pokémon para batalha. Era o respeito! Como eu sabia? Eu não sabia de verdade! Só acreditava ser isso! Eu sentia que eram as palavras que Motti falou que estavam me dando essa visão. Os treinadores e seus similares respeitavam o pokémon e os queriam em seus times devido as suas habilidades, havia um reconhecimento das capacidades dos pokémon, e mesmo que viessem a ser explorados, o treinador enxergava o potencial dele.

 

Agora, caçadores não respeitavam realmente suas caças, estavam apenas em busca dos valores. Por mais que o potencial dissesse o quanto poderiam receber por eles, em alguns casos, eram apenas produtos a serem vendidos. Uma encomenda feita e que eles iriam entregar, sem se importar com o destino que teriam.


Aries não era treinador, era caçador e assim que eu chegasse ao topo eu brigaria com ele para colocar juízo naquela cabeça doentia. Desta vez eu gritaria, ameaçaria e se fosse necessário, se fosse muito necessário, iria descer a mão nele. Talvez eu não chegasse a tanto, mas eu iria falar algo nada agradável! Eu iria!


O topo me pareceu mais longe do que eu esperava e quando lá cheguei não havia sinal nenhum de Aries, sequer sinal de que algum humano tivesse passado por ali. Contive o ímpeto de gritar comigo mesma por ser tão idiota de achar que ele estaria ali em cima. Mas, a vista era belíssima! Eu podia ver a cidade, com suas construções rurais amontoadas, dois grandes celeiros que eu sequer havia percebido antes, exatamente no centro da cidade. Céu azul, toda a extensão da floresta, que atravessamos e a outra parte que iriamos atravessar, até onde meus olhos podiam alcançar. Eu sentia o vento, o cheiro de natureza e ar puro. Era como se eu tivesse me teleportado para um outro mundo.

 

— Não foi tão ruim vir aqui! -

 

Disse para mim mesma apreciando a vista, mas logo me lembrei do que fui fazer e já mais controlada virei-me para começar a descer e paralisei. Qual era mesmo o título que Aries me dera, além de idiota? Espera! Não era um título, ele dizia apenas que eu tinha uma tara por ninhos. Bem, ele tinha razão. Havia muita palha, galhos e folhas secas e entre eles ovos cheio de desenhos neles.

 

— Mirian, você está se superando a cada dia! -

 

Apressei-me para começar a descer, mas não fui rápida o suficiente conseguir sair sem ser notada. Consegui apenas me abaixar e logo senti a ventania. Os gritos começaram e senti uma das garras passar perto do meu braço. Por um segundo achei que ele tivesse sido arrancado e precisei olhar para ele e passar a mão, em meio ao pavor, para ter certeza, se ele agarrou meu braço, desistiu por algum motivo, talvez apenas não tenha conseguido prender nele corretamente. Os gritos continuavam e devido à proximidade dos ovos não atacavam com vigor, apenas desciam e tentavam me agarrar, para retirar dali.


Eu olhava para todos os lados e contava pelo menos cinco aves gigantes e as menores não poderia dizer que eram problema, porque estavam muito distantes para que eu pudesse ver, provavelmente com mais medo de mim do que eu tinha delas naquele momento. Uma resolveu me atacar e descer, como uma bala.


Um tiro. Eu havia escutado um tiro e então a ave que vinha em minha direção caiu ao meu lado totalmente imóvel. Olhei assustada para ela, mas desviei rapidamente o olhar com medo de ver o sangue ou o estrago que o tiro deveria ter feito, afinal, ela caiu imóvel. Outro tiro ocorreu e um segundo caiu próximo a mim. Levei a mão a cabeça, abaixando-me e pedindo ao céus que não fosse acertada. Eu contei oito tiros e não tenho certeza se todos acertaram os alvos.


Não tinha coragem de olhar ou me mover, o pavor estava tomando conta de mim. Mas, escutei os latidos que eram inconfundíveis para mim, afinal já tínhamos toda uma relação. Houndoom estava vindo ao meu auxilio como sempre e logo compreendi que os tiros eram de Aries. Obriguei-me a ajuda-los a me salvar e comecei a descer e antes que eu conseguisse descer metade da montanha lá estava o cão de pelos negros e olhar malvado saltando pelas rochas e já me agarrando enquanto ainda estava pendurada em uma das pedras, tentando tomar coragem para descer de uma rocha um pouco mais alta que as demais. Fico me perguntando como eu havia subido ali.


Agarrei-me rápido ao pescoço do pokémon cão, para evitar ser acertada por alguma das rochas pontiagudas que talvez não deixassem apenas hematomas. Hounddom desceu com tanta facilidade que comecei a me perguntar se eu era alguma molenga realmente. Em questão de segundos, estávamos atravessando as plantações como uma bala, já que desta vez ele não parecia ter que desviar nada. O que eu levei mais de trinta minutos para atravessar correndo ele atravessou em pouco mais de cinco minutos. Ele realmente era um pokémon incrível!


Senti a velocidade diminuir e ele parar delicadamente, o que para mim era novidade já que as últimas vezes ele foi bem abrupto. Desci dele e me vi cercada pelos habitantes que estavam todos olhando assustados e preocupados. Os mais próximos eram a família Golti!

 

— Tarada por ninhos! - O berro veio de trás de mim, com aquele tom enlouquecido e doentio. - Que ideia foi aq... -

 

Não deixei que ele continuasse. Girei no meu lugar e acertei o rosto dele, com toda a força que eu pude, com minha mão direita. Senti o rosto dele virar junto com o estalo que ecoou. Todos pareceram ficar ainda mais surpreso e até o pokémon de fogo pareceu afastar-se.

 

— Por que não falou que era um caçador? - Berrei para ele. - Um assassino de pokémon que luta e mata por prazer! -

 

Eu não iria chorar. Eu estava muito irritada com tudo aquilo. Não podia admitir que estava ligada uma pessoa como ele. Não podia admitir que o nome de minha mãe fosse ligado a alguém como ele. E daí que ele me salvou diversas vezes. E daí que acabou de salvar? Por que ele tinha que matar todos aquelas aves só para me salvar? Minha vida não pode valer mais do que a de todos esses pokémon!

 

— Menina Mirian, se acalme! - Era a voz do senhor Golti. - Ele só estava tentando ajudar! -

 

— Ajudar? Ajudar? Ele veio para levar um Fearow velocista e nem me avisou! - Gritei. - Vai perturbar o equilíbrio daqui. As cobras vão avançar se os Fearows desaparecerem! - Encarei Aries nos olhos que me olhava friamente. - Eu tinha o direito de saber o que viemos fazer aqui! -

 

— Sou caçador! Não tem nada que eu não consiga caçar e tenho prazer em enfrentar um pokémon selvagem em seu hábitat natural, aprender sobre seus movimentos e instinto. E mato se for necessário fazê-lo! - Ele respirou fundo. - Mas, minha história e os motivos para você não saber sobre isso ficarão para outra hora, por que agora temos pouco mais de duas horas para desfazer a bagunça que você fez. -

 

— O que? - Eu não havia conseguido entender o que ele estava falando. - Bagunça que eu fiz? -

 

Aries revirou os olhos e logo em seguida eles estavam faiscando.

 

— Meses atrás um caçador levou a Fearow fêmea líder, o que causou um desequilíbrio na cadeia de comando do bando dos Fearows velocistas e também o equilíbrio das forças nessa região. Isso está fazendo a população de Ekans se multiplicar e migrar para essa área, já que seu principal predador está ausente. No entanto, o caçador entrou em contato com o Grupo Olimpo querendo um Fearow velocista macho para cruzar com sua fêmea velocista, afim de reproduzirem. Acionamos a polícia e explicamos aos moradores que iriamos pegar um Fearow, temporariamente, para atrair ao caçador ilegal para uma armadilha. Assim os dois Fearows velocistas voltariam para essa área e com sorte reestabeleceríamos o equilíbrio de forças. Isso demoraria pouco mais de três dias, tempo em que os Fearows restantes conseguiriam resistir. -

 

Ele esticou uma bala de sua arma e pude perceber que a bala era um projetil um pouco estranho. Eu a segurava e percebia que o metal parecia pronto para se desfazer. Fui apertar para despedaçá-la, mas Aries impediu que o fizesse.

 

— Ela se despedaça no corpo liberando um entorpecente forte o suficiente para deixá-los apagados vinte quatro horas. Eu não matei o de mais cedo, o dopei! Nem abati aqueles que te atacaram por você invadir o ninho, estão todos dopados. - Aquilo me fez ficar aliviada. Eu não acreditava que estavam todos vivos. Eu tive tanto medo de ver os corpos ensanguentados que não encarei nenhum deles no ninho.

 

— Só que agora a cidade que é protegida pelos Fearows não tem defesa alguma até o efeito passar. As centenas de Ekans vão perceber isso e vão avançar pelas plantações, como tentam fazer a semanas. Vão tomar a cidade expulsando os habitantes ou ... -

 

Meu coração acelerou. Eu havia errado feio novamente, mas desta vez, não era só eu que ia me dar mal. Eu havia acabado de condenar uma cidade inteira!


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