Perdida em Crepúsculo: além do sonho. escrita por Andy Sousa


Capítulo 29
Sede.


Notas iniciais do capítulo

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Aneliese PDV

"Você me prendeu em toda essa confusão,
Acho que nós podemos culpar a chuva.
Minha dor é saber que eu não posso ter você!
Me diga, ela te olha do jeito que eu olho?
Tenta entender as palavras que você diz
E o modo como se move?
Ela tem a mesma emoção
Quando você a abraça e suas bochechas ficam vermelhas?
Recupero meu fôlego, aquele que você levou
No momento em que entrou no quarto.
Meu coração, ele se parte, só de pensar nela te abraçando...
Talvez eu esteja sozinha nisso,
Mas eu encontro paz na solidão sabendo que
Se eu pudesse ter ao menos um beijo,
Nós estaríamos brilhando.
Me diga, eu estou louca ou isso é mais que uma quedinha?"

Blame It On The Rain – He Is We

~*~

Estava absurdamente frio.

Na véspera o clima havia mudado, pude sentir a temperatura caindo alguns graus, mas não era capaz de conceber que somente a madrugada tivesse sido suficiente para que amanhecêssemos para uma clara manhã de inverno. Foi imperativo desejar permanecer na cama, envolta por minhas cobertas quentes, enquanto procurava esconder cada pedacinho de mim do ar gelado ao redor, contudo eu tinha uma rotina a seguir e não pude me demorar onde estava.

Procurava não pensar no quanto me sentia desconfortável, mentalizava um dia quente de verão enquanto me aprontava para mais um dia de aula. Quiquei escada abaixo dando de encontro com Charlie, que servia um pouco de chá em uma caneca.

— Bom dia. Tome, vai lhe fazer bem – falou enquanto me oferecia a bebida.

Olhei para o líquido verde-escuro e fiz uma careta.

— Detesto chá.

— Vai lhe ajudar a se aquecer – foi só o que disse, me indicando que eu não tinha escolha senão obedecer.

Ocupei meu lugar junto a ele na mesa e comecei a me servir de torradas, a cada mordida eu dava um gole e de certa forma me ajudou a disfarçar o gosto amargo das ervas.

— Imagino que não tenham inverno em seu país – o xerife comentou por detrás de seu jornal habitual. Ao que parecia ele estava achando minha reação um tanto exagerada.

— É claro que temos inverno, mas não assim – resmunguei apontando para a paisagem opaca do lado de fora. – Não tem como um ser humano sobreviver a isto!

Ele baixou o jornal e me lançou um olhar sugestivo.

— Sabe que estamos apenas no começo da estação.

— Vai ficar pior, não é?

— Ainda não começou a nevar – esclareceu.

Fechei meus olhos por um breve instante. Neve.

Frio em floquinhos, ótimo!

— Eu vou morrer – dramatizei.

Ele pareceu não aprovar minha frase e achei melhor continuar bebendo meu chá, mesmo que à contragosto.

— Se serve de consolo, o natal é uma das épocas mais bonitas que temos por aqui, na verdade já está em tempo de as pessoas começarem a enfeitar suas casas. Eu nunca liguei muito para essas coisas, mas podemos tentar dar um jeito por aqui desta vez.

Meu rosto se iluminou.

— Seria legal!

Consegui me imaginar perfeitamente feliz enquanto ajeitava os enfeites de natal, sempre gostara de ajudar minha mãe com a tarefa e senti pena de Charlie por ele não ter tido ninguém com quem comemorar as festas, pelo menos até agora.

— É uma ótima ideia, Charlie, eu faria bom uso de minhas economias.

— Não me referi a você ter de pagar – ralhou.

— Você vai preferir que eu pague, sabe... Eu gosto muito de esbanjar.

Lhe dei um sorriso angelical, que ao mesmo tempo indicava que não estava brincando. O xerife pareceu pensar em algo, talvez no quanto de dinheiro que tinha disponível em sua conta bancária, por algum motivo eu ri.

Ele se aprumou e deu uma olhadela no relógio.

— Recomendo que vá às compras ainda neste final de semana se quiser garantir os melhores preços, quanto mais esperar, mais eles irão aumentar.

— Sei disso, no Brasil acontece exatamente o mesmo. Mas no domingo o comércio não abre, talvez eu deixe para a segunda-feira.

— Você pode ir no sábado após o expediente, sai mais cedo da loja estes dias, aproveite que já estará no centro da cidade, mas não se demore, já disse que não a quero vagando por aí após o anoitecer.

Ele se levantou, estava prestes a partir, mas suas palavras me deixaram nervosa. Eu tinha dito sobre sair no domingo, pois justamente neste sábado seria a noite da apresentação com a banda, eu não me dera conta de que não havia comunicado ao xerife ainda e depois de seu aviso tive certeza que seria difícil convencê-lo.

Eu teria de lhe contar mais cedo ou mais tarde e achei melhor não prolongar.

— Charlie, espere.

Ele se virou e me encarou. Não iria criar mais coragem se enrolasse, portanto decidi ser breve.

— Neste final de semana tenho um show com a banda, será em Tacoma, por volta das sete horas.

Ele, que até então só tinha se curvado para me escutar, virou seu corpo por completo e apoiou as mãos na cintura, me olhando de cima.

— Quando pretendia me contar sobre isso Aneliese?

— Eu ia contar, mas me esqueci.

— Bem, a resposta é não.

Ele foi inflexível e senti a ansiedade me dominar, se não o fizesse mudar de ideia eu estaria com sérios problemas.

— Charlie, essa apresentação é muito importante, vamos tentar fazer a gravação de uma demo, não é uma oportunidade que surge sempre, os meninos vêm batalhando por isso há anos!

— Pois deixe que os meninos se resolvam sozinhos. Você não vai Aneliese.

Me levantei exasperada.

— Charlie, você não entende! Eu tenho que ir, faço parte da banda e eles estão contando comigo.

— Pois deveria ter me consultado antes de prometer que iria, eu lhe disse que esta história de ‘mundo da música’ não era boa ideia, uma coisa é você ir aos ensaios, mesmo que volte à noite, está em Forks, mas Tacoma fica há uns bons quilômetros de distância daqui. Além do mais a senhorita sabe bem o que penso sobre estas festas, da última vez em que foi a uma acabou de castigo, não se lembra?

— Aquilo foi diferente...

— A mim parece igual – me cortou. Novamente ele olhou o relógio. – Chega dessa conversa, tenho bastante coisa com que lidar na delegacia, o garoto dos Davies continua desaparecido – ao dizer isto sua feição modificou, se tornou muito séria. – Você não irá e ponto final. Eu lhe disse que cuidaria de sua segurança e é exatamente o que estou fazendo, se insistir em me desobedecer a proibirei de continuar na banda. É você quem decide, confesso que estou bastante inclinado a acabar com isso agora mesmo!

Eu tentei dialogar, mas não soube o que dizer, não havia nada que não fosse me causar complicações e também ficara profundamente chateada com Charlie, meu orgulho me fez deixa-lo sozinho e subir às pressas para meu quarto, sem dizer mais nada.

Eu olhava as árvores através da janela da sala de aula, me distraí contando os inúmeros galhos, perdendo a conta e então recomeçando a contar... Estava desanimada, talvez devesse ter ficado na cama desde o começo. O dia continuava frio, eu fazia uso de meu cachecol e luvas e ainda assim me sentia dentro de uma geladeira, além disso a discussão que tivera com Charlie acabara me dando a impressão de que as coisas estavam piores do que pareciam.

E eu não tinha encontrado meu celular.

Ouvi o distinto ruído da cadeira ao meu lado quando ela foi ocupada por Edward, eu não precisava olhar para saber que era ele, tínhamos aula de biologia juntos. Permaneci como estava, tentando fazer parecer que minha indiferença não era proposital. Nós não havíamos nos falado mais desde que Lauren nos vira no corredor, mas por vezes eu os avistava e ao que tudo indicava haviam feito as pazes.

Era como se nada tivesse acontecido, como se o abraço que compartilhamos sequer tivesse sido real ou acontecido apenas em minha cabeça.

— Bom dia alunos!

Senhor Banner adentrou a sala como sempre com seu bom humor, ele era de longe meu professor preferido, dava ótimas aulas e sabia lidar conosco, não de uma forma forçada como outros professores tentavam demonstrar. Ele iniciou a chamada e ao terminar se ouviu uma batida na porta, me virei automaticamente e avistei senhorita Cope.

— Professor, as entregas que o senhor esperava acabaram de chegar.

Vi que ela segurava uma caixa grande de papelão que senhor Banner logo fez questão de pegar, após lhe agradecer, ela partiu e ele retomou seu lugar à frente da classe.

Talvez fosse impressão, mas me pareceu que Edward havia se movido, não era algo anormal, mas curiosa o olhei só para perceber que ele já me fitava.

O que estava acontecendo?

— Boas notícias, pessoal. A Cruz Vermelha enfim enviou os resultados das amostras de sangue que vocês colheram há algumas semanas, eu entregarei uma a uma e então poderemos seguir com nossa aula. Coincidentemente estamos estudando células sanguíneas e vocês poderão entender melhor como é feita a sua classificação.

Ele foi retirando os papeis de dentro da caixa e chamando pelos nomes correspondentes, os alunos conversavam e aproveitei a deixa para fazer o mesmo, porém em baixa voz.

— Poderia ter faltado a esta aula.

Edward sacudiu a cabeça.

— Não previ o que aconteceria, você mesma viu, foi inesperado.

O observei com cuidado, algo estava diferente. Depois de um momento arfei baixinho.

— Você está com sede? – Sussurrei.

Seu rosto perfeito se tornou rígido, ele não estava à vontade por eu ter descoberto o fato, por mais que não fosse nítido eu pude notar, pois o conhecia bem. O semblante era quase o mesmo, com exceção de leves olheiras que começavam a se formar e das inconfundíveis íris, elas agora apesar de ainda douradas estavam opacas, em um tom mais escuro.

Será que Edward conseguia captar o cheiro do sangue nos cartões? Sim, é claro que ele conseguia, vampiros eram capazes de muito mais que isto, os nômades não haviam chegado até mim mesmo estando há metros de distância? Mas isto de alguma forma poderia significar perigo? Os Cullen tinham anos de prática, sem dúvidas já haviam lidado com situações desagradáveis então imaginei que soubessem se portar, imaginei que ele soubesse se conter, mas seu olhar me inquietou, eu nunca o havia visto assim, sempre estava perfeitamente alimentado, forte, menos suscetível às tentações.

Hoje era diferente. Porque afinal ele não havia ido caçar como sempre?

— Senhorita Rodrigues.

Me retesei por reflexo, o professor segurava o papel no ar e como não teve resposta, ergueu a cabeça e me encarou.

— Vamos senhorita – solicitou enquanto sacudia a pequena folha, indicando urgência.

Rapidamente me levantei e quase corri ao seu encontro, retirando o papel de sua mão quase com rudeza, eu só queria que ele parasse de espalhar o cheiro de meu sangue ao redor. O professor pareceu não notar minha reação e continuou com o trabalho, retornei à minha carteira e depositei o resultado com cuidado sobre o tampo da mesa, colocando meu caderno por cima.

— Sabe que isto não faz qualquer diferença – comentou Edward sombriamente assim que me sentei.

Ele se referia à minha tentativa de esconder dele o papel. Não havia nada mais que pudesse fazer, senhor Banner havia deixado claro que usaríamos as amostras na aula de hoje.

— Professor, se importa se eu for à enfermaria? Não me sinto muito bem.

O homem me olhou por um instante.

— O que você tem?

— Me sinto um pouco enjoada, na verdade não consegui tomar o café da manhã – menti.

Senhor Banner ponderou, então assentiu.

— Está bem, mas acha que consegue chegar lá sozinha? Senhor Cullen, o senhor não retirou suas amostras, então acredito que possa se ausentar por alguns minutos, porque não faz companhia à senhorita Rodrigues?

A ideia era justamente me manter longe de Edward, eu não havia pensado, apenas agido, a única maneira de parar de expô-lo à aflição seria saindo da classe e ao final de nada adiantara.

Bem, pensei, o importante é estarmos longe dos olhares.

Edward não fez objeção ao pedido, o que considerei peculiar, uma vez que havia a possibilidade de ele recusar, mas talvez estivesse somente buscando por uma desculpa para sair dali. Peguei minha mochila e me levantei, ele me acompanhou para fora, fechando a porta ao passar, depois que andamos alguns passos me voltei para encará-lo.

— Você não precisa me seguir, pode ir para seu carro ouvir música, ou então se esconda em algum lugar, tanto faz.

Eu andava apressadamente, pois queria logo sair do espaço aberto, o vento adentrava os corredores com eficácia. Senti seu toque frio em minha mão quando ele a segurou de leve e imediatamente parei.

— Porque está fugindo?

Baixei minha cabeça. Ele havia se dado conta de que esta era justamente minha intenção. Cheguei à conclusão de que de nada adiantaria mentir a esta altura.

— Porque não confio em você. 

Seus olhos se tornaram inexpressivos.

— Entendo. Acredito que esteja certa.

Nos olhamos e era como se houvesse um milhão de coisas a serem ditas. Vagarosamente puxei minha mão de volta.

— Estou não é? Você não se importa comigo. Eu só não entendo porque me manteve viva, se é algo que o atrapalha tanto.

— Atrapalha?

— Sim. Eu atrapalho sua vida, a torno mais difícil. Sei muito bem que neste instante você deve estar sofrendo pela sede que tem por meu sangue...

Uma porta se abriu em uma das extremidades do corredor e um aluno saiu, passando por nós, entrou no banheiro.

— Não acho aconselhável conversarmos – apontou Edward.

Ele estava certo, eu não media minhas palavras e alguém poderia ouvi-las, entretanto senti que era algo mais que apenas precaução, ele parecia querer ficar longe de mim. Porquê? Por causa de Lauren? Seria possível que se importasse em dar explicações a ela? Ou talvez... Sim, talvez a razão fosse mais óbvia do que parecia: Edward simplesmente não tinha mais qualquer interesse em mim, não havia porque ele permanecer.

O frio era excessivo e abracei a mim mesma, procurando de alguma maneira me esquentar, o racional seria seguir com o plano, ir até a enfermaria, fingir que não me sentia bem e procurar convencer, mas ser racional não me traria o que precisava.

Mordi o lábio um tanto nervosa, sua displicência nunca fora algo com que eu soubera conviver.

— Não se preocupe, não temos nada mais para falar.

Me afastar foi fácil, pois me sentia desprezada e o desprezo doía muito, eu só queria me ver livre dele, parecia que não mais tinha dignidade e verdadeiramente me senti tola porque eu insistia em conversar com Edward quando dizia a mim mesma que o que tinha de fazer era esquecê-lo.

Eu andava, mas não sabia ao certo aonde iria, não queria ver ninguém, não me sentia disposta a ensaiar um sorriso, fingir que estava tudo bem, porque não estava tudo bem. Era o contrário. Minha vida em Forks era boa, soava ingratidão dizer o contrário, mas por mais que tivesse o trabalho, os estudos ou mesmo os ensaios eles não passavam de distração, eu me mantinha ocupada o quanto podia para evitar pensar que, na realidade, era vazia.

Parecia que a pessoa que tinha mais sucesso em me machucar era sempre eu mesma.


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