Perdida em Crepúsculo: além do sonho. escrita por Andy Sousa


Capítulo 30
Suspeita.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Aneliese PDV

"Ouvi dizer que você encontrou aquela por quem procurava,
Gostaria de ter descoberto que não era eu.
Mesmo depois de todo esse tempo, ainda me pergunto:
Por que não consigo seguir em frente tão facilmente
Da mesma maneira que você conseguiu?
Tive uma overdose, deveria saber que seu amor era um jogo
Agora não consigo te tirar do meu cérebro, é uma pena!
Deve haver uma boa razão pela qual você se foi,
De vez em quando me pego pensando que você
Talvez gostaria que eu aparecesse em sua porta,
Mas tenho medo demais de que esteja errada.
Não quero saber se você está olhando nos olhos dela,
Se ela está te abraçando como eu costumava abraçar...
Nós não nos falamos mais como costumávamos,
Não nos amamos mais, para quê foi tudo aquilo?"

We Don’t Talk Anymore – Charlie Puth feat. Selena Gomez

~*~

Cheguei ao final do corredor e avistei o estacionamento, ao fundo havia o prédio anexo da secretaria e uma ideia ousada me veio à mente. Com medo de mudar de decisão, marchei para lá.

Ao menos não está chovendo, refleti enquanto caminhava. Mas por fim decidi que a falta de chuva era o que fazia o clima ser tão intenso, de toda forma eu agradecia por meus pés estarem secos. A secretaria estava quente e confortável se comparada ao lado de fora, por ser horário de aula eu era a única estudante ali no momento.

Assim que cruzei a porta, o sininho da entrada soou anunciando um visitante e logo senhorita Cope surgiu aos fundos.

— Aneliese! Como está?

Me senti estranha por ouvi-la me chamando assim, não somente porque estava acostumada aos professores utilizando meu sobrenome, mas principalmente por ver que a secretária me conhecia o bastante para acertar meu nome de batismo. Isso me indicava que eu já estava em Forks há mais tempo do que pensava...

Senhorita Cope pareceu surpresa quando lhe disse a que viera, porém, minha insistência a fez deixar de argumentar e contatar o diretor. Ouve uma breve conversa e ao desligar ela me olhou, a expressão clara de censura.

— O senhor Greene concordou com seu pedido Aneliese, mas ele disse que irá informar ao xerife – comunicou.

Não me surpreendi, era uma atitude esperada, afinal eu viera até aqui solicitar que eles me dessem a suspensão que eu devia, era óbvio que fora imaturidade, mas eu simplesmente não pude evitar fazer uso do que para mim era um benefício, já que eu conseguiria ficar longe da escola ao menos por hoje.

Depois de assinar um caderno de capa preta – do tipo que deixa a gente com medo só de olhar – eu ganhei o direito de me retirar. Quando retornei ao frio inclemente não me senti mais tão corajosa e não pude evitar me recriminar, fora irresponsável de minha parte ter feito isso, sabia que senhor Greene não iria esquecer o ocorrido e ele seria como uma mancha em meu histórico escolar, mas agora já estava feito.

Enquanto caminhava olhei ao redor e tive uma visão diferente do cenário que me cercava, da posição em que me encontrava podia avistar a escola, uma parte da rodovia e a floresta ao fundo, como sempre emoldurando a paisagem. Eu estava em Forks.  A Forks. A cidade dos vampiros, dos lobisomens, a cidade que Stephenie Meyer idealizara como lar de criaturas fantásticas, como ambiente para uma linda história de amor. Uma história de amor que não existira.

Eu entendia agora que na realidade em que me deparava, nada havia acontecido como deveria: Edward e Bella sequer se conheciam! O fato dela não ter vindo a Forks havia mudado drasticamente o rumo da história, eu me perguntava se seria possível consertá-la a esta altura. O que eu fazia aqui além de interferir no desenrolar dos fatos? Havia de fato um propósito para minha presença?

Alcancei a picape e ansiosa me acomodei no banco do motorista, sem perder tempo coloquei a chave na ignição, queria ser discreta, mas por causa da baixa temperatura o motor não funcionou de primeira e foram preciso cinco tentativas até que ele finalmente respondeu. Irritada forcei o acelerador e o ruído de resposta foi ensurdecedor, pela primeira vez tive raiva da picape, eu não me importava que fosse velha, mas definitivamente detestava ficar em evidência e quando saí do estacionamento era como se estivesse fugindo.

Ao atingir a pista principal aos poucos relaxei, mas não diminuí a velocidade, de certo modo o que queria era sair logo de dentro do carro, eu conhecia o caminho muito bem e consegui concluir o percurso em poucos minutos. Foi um alívio finalmente estacionar a picape em seu habitual lugar no quintal de Charlie, o silêncio que se seguiu após o motor ser desligado foi desconcertante, pois me indicava o quanto o carro era barulhento.

Aos poucos fui me acostumando com a quietude, ainda era manhã, por volta das nove horas e o distrito estava quieto. Ouvi o som de uma porta sendo fechada e automaticamente observei a casa, atenta. Parecera muito que o movimento havia vindo dos fundos, mas eu sabia que Charlie não estava. Permaneci quieta, escutando, mas não pude ouvir mais nada e comecei a pensar que havia sido invenção de minha cabeça, a possibilidade de um ladrão assaltando a casa do xerife parecia improvável.

Passado o momento inicial e me sentindo mais calma resolvi enfim adentrar a residência, saí da picape e andei de forma cadenciada até a porta da frente, me sentia tola enquanto procurava tornar minha presença perceptível para meus vizinhos, mas de algum modo eu não quis passar despercebida desta vez.

A fechadura estava devidamente trancada, dei duas voltas na chave antes de poder adentrar o hall e soube de imediato que eu fora a última pessoa a passar por ali – eu sempre dava duas voltas na fechadura quando saía, era costume. Ponderei por alguns segundos, a porta aberta enquanto procurava escutar qualquer ruído suspeito, mas ao fim não identifiquei nada e tive de fechar a passagem.

Como era habitual, o tique-taque dos relógios era o único barulho audível. Tudo parecia perfeitamente normal e com um suspiro resolvi deixar a desconfiança de lado, tinha de admitir que ultimamente andava meio paranoica e estava começando a ficar preocupada com minha sanidade mental.

Fui até a cozinha e deixei minha mochila sobre uma cadeira, quis agir naturalmente, mas não pude evitar encarar a porta dos fundos, ela estava fechada, mas tive de ir até lá verificar também a sua fechadura.

— Trancada – constatei.

Num momento de desvario peguei a velha caixa de sabão em pó que ficava na lavanderia, mas ao retirá-la do lugar vi que a chave reserva permanecia no mesmo lugar.

Puxei uma respiração profunda. Eu estava agindo de um modo louco, tinha de parar com isso.

Aproveitei que já estava ali e abri a porta, indo parar no pequeno quintal quadrado. Raramente eu vinha aqui, por isso me esquecia de como era relaxante, permaneci quieta, admirando a vista. Ocasionalmente algum veículo passava pela rua ou eu ouvia as vozes de meus vizinhos ao longe, afora isso haviam apenas os passarinhos que ora ou outra sobrevoavam as copas das árvores. Era nítida a diferença entre a civilização e a paisagem selvagem, de um lado a construção, do outro a floresta.

Caminhei para perto e a adentrei um pouco, poucos metros somente, mas eu já me sentia diferente.

A misteriosa floresta...

Apesar dela sempre ter estado ali era como se nunca tivesse tido tempo para a contemplar como deveria, percebi que o chão não era plano, mas sim acidentado, por vezes eu tropeçava ao procurar driblar as raízes expostas. Os troncos das árvores frondosas pareciam contar silenciosamente sua história, os anos de existência que possuíam, as folhas ora eram verde-jade, ora escurecidas, percebi que o inverno cumpria seu papel, a flora parecia menos rica, indefesa em meio ao clima severo.

Ao erguer meu olhar só o que conseguia ver eram galhos e mais galhos, emaranhados de folhas que continham a pouca luz que desejava adentrar. Mesmo o dia opaco fez parecer que aquele local era mágico e era nisto que eu acreditava. Estranhamente estas plantas, esse chão, tudo isto me fazia bem, me trazia a paz que eu não encontrara em nenhuma outra parte desta cidade.

E num breve momento me senti inteira e sã como deveria estar, soube que poderia ficar aqui por horas.

O ruído distante e abafado de um telefone tocando me tirou de meus devaneios e corri de volta, ao chegar perto fiquei contente por ter retornado, pois o som vinha do aparelho na cozinha e não de uma das casas vizinhas.

— Alô.

Era Charlie e ele estava zangado, o diretor não blefara sobre entrar em contato com ele, mas eu só não esperava que fossem incomodá-lo em seu trabalho e isto me deixou muito chateada, ao final, contudo minha revolta era somente contra mim mesma, eu simplesmente não devia ter agido por impulso. Procurei dialogar, mas foi em vão, tive de ouvir o sermão até o fim e antes de desligar o xerife me garantiu que continuaríamos a conversa pela noite.

Por fim não restava mais que fazer, eu havia ganhado algumas horas livre, mas me sentia tão culpada que não haveria como aproveitar. Pensei numa boa maneira de ocupar o tempo e decidi que iria preparar algo diferente para a refeição de hoje.

Sabe que bajular Charlie não vai adiantar.

Fiz bico. Era verdade que eu fazia aquilo procurando atenuar minha culpa.

— Ah que seja!

Se houvesse alguma chance de me manter longe de punições, eu usaria, definitivamente não estava inclinada a enfrentar mais uma rodada de castigo.

— Você foi bem nas avaliações, Liese?

Levantei a cabeça da lista de músicas que Joshua havia me dado para ler e encarei Timothy.

— Oh sim, fui bem. Melhor do que eu esperava, na verdade. E você?

— Razoável – ele fez uma careta.

Estávamos os dois no porão, enquanto os outros se encontravam no andar de cima, ocupados no computador, tentavam acertar o ritmo de uma das canções de que fazíamos cover.

— Algum problema? – Sondei ao perceber que a expressão dele não era das melhores.

Timothy era um tanto tímido e parecia nunca ficar à vontade para conversar comigo, pensei que talvez não devesse ter dito nada e evitado o clima estranho.

— Não, quero dizer... Meus pais andam pegando no meu pé por causa da Marrow, eles nunca entenderam.

Ah. Isso. Eu sabia bem como era, no entanto, pensei que para ele deveria ser pior, diferente de mim ele estava aqui há anos.

— As notas ruins não favorecem, não é?

Ele aquiesceu.

— De jeito nenhum. Eu ainda não contei a eles que reprovei em algumas matérias, vou esperar até depois do show para dar a notícia e evitar arranjar problemas para os outros.

— Entendo.

Eu viera pensando sobre a conversa que havia tido com Charlie e se deveria dizer aos demais sobre a possibilidade de talvez não conseguir ir ao show, mas ao ouvir a confissão de Timothy me senti desmotivada a falar, pois claramente não era a única que tinha escolhas a fazer. Eu sabia que qualquer um deles faria o que pudesse pela banda e eu havia prometido ser igual, havia dito desde o início que iria me doar pela causa, seria errado voltar atrás, ainda mais quando estávamos às portas de uma apresentação.

Os rapazes enfim retornaram, Zachary e Shaun foram ocupar seus lugares e verificar seus instrumentos, mas Joshua veio direto até mim.

— Estes são os ingressos para o show, ganhamos algumas entradas para levarmos amigos, você tem alguém em mente?

Minhas sobrancelhas se ergueram. Eu tinha alguém em mente? Há algum tempo havia definido que daria um jeito de levar Jacob comigo quando tivesse uma oportunidade, mas isto sequer fazia sentido agora.

— Que tal alguma de suas amigas? Jessica, por exemplo.

O olhei com interesse.

— Joshua, você está interessado na Jess? – Sondei.

Ele riu e os garotos fizeram comentários debochados.

— Ela é bonita – deu de ombros.

Sorri. Que bom, Jessica sem dúvidas iria me acompanhar depois que soubesse disto.

— Tudo bem, eu a convidarei.

Ele me disse que teria mais algumas entradas sobrando, caso eu decidisse levar mais alguém, depois disso deixamos a brincadeira de lado e partimos para o ensaio.

Como suspeitava, não adiantara nada ter preparado lasanha para o jantar, isto não aplacou a fúria de Charlie ao me ver chegar – o que achei irônico, pois apesar disto ele aproveitara muito bem a refeição. O fato de eu ter chegado algumas horas mais tarde justamente hoje não melhorara em nada seu mau humor, ele disse que havia ficado preocupado comigo, pois havia se esquecido de que às terças e quintas eu tinha um compromisso a mais além do trabalho.

— Aneliese – me chamou depois que me ouviu terminar a refeição, ele estava na sala como era habitual e assistia televisão.

De má vontade fui ao seu encontro, parando ao portal, me recostei à parede, eu já sabia o que me esperava e não estava disposta a fingir que iria gostar. Ao ver que eu me mantinha distante ele expirou o ar vagarosamente, o que indicava que não estava nada feliz.

— Não sou seu pai e nós dois sabemos bem disto, mas cabe a mim garantir seu bem-estar, como já lhe disse diversas vezes. As coisas em Forks estão um tanto complicadas, eu me preocupo com você.

— Charlie, eu não sou Spencer Davies – gesticulei impaciente.

Havia feito a escolha errada de palavras, ele colocou o televisor no mudo e se voltou para mim.

— Não, graças a Deus você não é. Eu podia fingir que não estou aliviado por você não estar no lugar daquele garoto, mas nem mesmo o xerife consegue ser sempre imparcial. Ainda assim reconheço o sofrimento daquela família e acho que você deve a eles um pouco mais de respeito! – Repreendeu.

Baixei meu olhar, envergonhada.

— Me desculpe – murmurei.

Ele se afundou na poltrona e bebeu um gole de sua cerveja, Charlie não tinha costume de beber a não ser nos finais de semana, ele jamais chegara a ficar sequer exaltado pelo álcool, na realidade parecia ter o mesmo efeito que água para ele, portando vê-lo segurar aquela lata em plena quinta-feira significava apenas uma coisa: ele estava profundamente aborrecido.

— Sabe que está de castigo, não é?

Gemi e passei as mãos pelos cabelos, assentindo para mim mesma.

— Nada de televisão, nada de computador...

— E nada de rádio – concluí. Eu já conhecia aquela ladainha.

Ele tornou a me olhar.

— E nada de banda pela próxima semana.

— Ah não Charlie, isso não!

— Não é uma sugestão – ele me encarou severamente. – Não quero você voltando tarde para casa, é perigoso. Será da escola para o trabalho e do trabalho para casa. E fique satisfeita por eu não a retirar de seu emprego, porque eu faria isto!

— Agora você está exagerando. Não pode estar falando a sério sobre me impedir de trabalhar, quem faz isso? Estou começando a achar que a bebida está lhe fazendo dizer incoerências.

Sua feição não era das melhores.

— Aneliese, você ainda nem terminou os estudos e sua rotina já é mais estafante que a minha, não acha que tem algo errado? Não a ouço falar mais de seus amigos, antes você costumava vê-los com frequência.

Semicerrei os olhos.

— Então isso tudo é porque eu parei de ver Jacob? – Ele era o único que se encaixava na descrição, pois os demais eu continuava encontrando normalmente na escola.

 Como não houve resposta interpretei como um sim.

— Você está mirando seu descontentamento na pessoa errada – esclareci.

Desviei minha atenção da conversa, insatisfeita com o rumo que tomara. Por acaso meu olhar foi parar nas fotos sobre a lareira e algo nelas chamou minha atenção, ao chegar mais perto percebi que o porta-retratos que Rafaela me dera estava posicionado de uma maneira diferente da que eu deixara.

— Você mexeu nisto Charlie? – Perguntei enquanto apontava o objeto, sua negação foi imediata. – Tem certeza? – Insisti.

— Há algo errado? – Questionou desconfiado.

Charlie sempre interpretava as coisas de uma maneira diferente, notei que seu interesse não era casual e depois do tenso bate-papo pensei que ele não iria lidar muito bem com a suspeita de que algo poderia estar fora do comum.

— Não, nada. Foi só impressão minha.

Ao que parecia a discussão havia terminado, não houve objeção quando saí do cômodo e subi, disposta a tomar banho, ao chegar no quarto não acendi as luzes, fui direto para a cama e me sentei. Minha respiração estava acelerada, pousei uma das mãos sobre o peito procurando me acalmar.

Os acontecimentos da manhã inundaram minha mente, agora não parecia mais tão improvável que tivesse estado certa. Realmente alguém estivera aqui, alguém além de Charlie e eu, podia parecer exagero que me convencesse disso quando claramente não tinha provas, mas eu tinha absoluta certeza de que deixara aquele porta-retratos em uma posição diferente da que ele estava!

Não fora à toa que optara pela escuridão, eu me sentia demasiado exposta, parecia que não tinha onde me esconder e desanimadamente concluí que estava com medo. Agora mais do que nunca me sentia desprotegida, odiava admitir minha fraqueza, mas senti falta de Jacob e tinha noção do quão egoísta isso soava. Será que estaria a salvo se tivesse criaturas míticas olhando por mim?

Mas quando haviam sido estas mesmas criaturas que haviam me machucado!

— Droga – xinguei baixinho.

O sentimento de impotência não era animador, eu enfim saí de meu esconderijo, voltando para a luz, decidi não dar bola para a ansiedade que havia se instalado em meu estômago.


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