Sobre Príncipes e Princesas escrita por Hanna Martins


Capítulo 7
Onde está Charlie?


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a linda da Eletryka que presentou a fic com uma capa nova. Obrigada, sua linda, por sempre presentar minhas fics com suas capas incríveis!



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Eu quero minha cama. Sinto que meu cérebro parou de funcionar há algumas horas. Não aguento mais ouvir a voz de Daphné, já são onze horas da noite, e ela ainda não me abandonou, segue firme e forte, explicando sobre um bando de regras que não fazem o menor sentindo para mim.

Nestes últimos dias, fui sobrecarregada por uma carga anormal de coisas para fazer. São aulas e mais aulas. Não tenho tempo nem para pensar direito. Nem para me lamentar. Talvez, seja justamente esse o objetivo de manter extremamente ocupada, não lamentar sobre nada. Ainda por cima, fui dispensada das minhas aulas na universidade. Falta apenas duas semanas para o casamento real, e as pessoas estão com muito interesse, o que pode ocasionar problemas para minha segurança, segundo o chefe do Departamento de Segurança da Realeza. O lado bom disso, é que não preciso comparecer mais a eventos da realeza.

Aquelas fotos do “encontro romântico” estão por todos os lugares.

“Casal real se diverte em passeio romântico”.

“A futura princesa traz diversão a realeza”.

“O jovem casal mostra que a realeza também pode se divertir”.

Estas são algumas das manchetes que saíram por aí.

Segundo fontes (li isso em algum jornal), essas fotos são as mais procuradas na internet nessas últimas semanas.  E a foto de Leon limpando meu rosto ganhou ares de um gesto muito romântico. Todo mundo, que vê aquela foto, pensa que ele está me acariciando (se eles soubessem da verdade...). Encontrei até comentários do tipo: “namore com alguém que te acaricia como o príncipe Leon acaricia sua noiva”. Argh, como esse príncipe consegue conquistar todo mundo?

Agora, passo os meus dias praticamente trancada em meu quarto, estudando regras da realeza, decorando nomes de membros da Realeza. O que vai mudar na minha vida saber que o duque de Horle foi neto do príncipe Adrian? Aparentemente tudo, já que essa informação parece extremamente vital. Como eu vivi até agora sem essa informação valiosa e importante para sobrevivência de qualquer mortal?

— Ouviu, Emma? — indaga Daphné.

Assinto. Ela pode ter acabado de decretar minha sentença de morte, mas eu não consegui absorver uma única palavra.

Pela primeira vez, a sempre impassível Daphné demonstra algum enfado. Ela bate a caneta de forma regular e irritante em cima da mesa. Tenho às vezes sérias dúvidas sobre a humanidade dela. Será que ela não é um androide disfarçado?

— Terminamos amanhã... — diz um tanto irritada, com minha falta de interesse por um assunto tão notável. 

Finalmente! Alguns segundos para respirar. Daphné se vai em seu salto vinte.

Me jogo na cama. Eu não estou exausta fisicamente, estou exausta mentalmente, o que é muito pior. A exaustão física se resolve depois de uma boa noite de sono, mas a exaustão mental... essa aí é um caso sério.  

— Ei! Emma! — uma voz baixinha, quase um sussurro me chama. — Emma! — olho para todos os lados e nada... — Emma, aqui! — vejo um vulto na porta de vidro que dá acesso ao jardim.

— Ei...

— Silêncio! — me interrompe a voz. — Sou eu, Charlie! Abre aqui!

Abro a porta e Charlie entra rapidamente.

— O que você está fazendo aqui?

— Vim te dar meu presente de casamento! — ela exclama toda empolgada e com um enorme sorriso travesso.

— Como? — me coloco na defensiva. A família real não é lá muito boa em dar presente, vide o histórico do avô, deve ser algo hereditário. 

— Sei que você deve estar bem entediada, trancada neste quarto, tendo como única distração as aulas de Daphné... Por isso, vim te levar para um passeio! — anuncia muito animada. Animada demais. — Eu sei, sou um gênio!

— Charlie, você pirou, são onze horas da noite! Ninguém vai deixar a gente sair a essa hora! — digo, querendo colocar um pouco de juízo na cabeça da princesa caçula.

Ela me olha como se eu fosse alguém muito ingênuo.

— E quem disse que vamos avisar? Tenho anos de experiência... sei como sair daqui...

— E se nos pegarem? — argumento, tentando chamá-la a razão.

O palácio é muito bem guardado. Diria até que é mais difícil sair do que entrar.

Ela dá os ombros.

— Confie em mim! Eu sou muito boa nisso — garante com muita confiança.

A encaro com a sobrancelha arqueada. A princesa caçula está indo para o mesmo caminho do avô. Não tem jeito, a família real tem muitos parafusos a menos.

— Você não quer quebrar as regras, não quer se vingar deles um pouquinho por te manterem aqui? — abre os braços, apontando meu quarto. — Não está cansada de ser seguida noite e dia, dia e noite, como se fosse uma criminosa? Não quer ver o mundo lá fora? O mundo lá fora é imenso...

Tenho que admitir, Charlie sabe argumentar.

— Não quer enganá-los nem que seja um pouquinho assim? — ela me tenta. — Não quer respirar?

Me vingar deles... De repente a ideia me parece muito tentadora. Eu estou cansada daqui. O palácio sufoca. Eu realmente preciso respirar. Por um momento não quero andar com guarda-costas no meu encalce.

— Vamos! — insiste. — Vamos respirar... Emma, vamos... — Charlie insiste. — Só desta vez, não se importe com nada... Só... respire.

A ideia de Charlie parece um tanto... maluca. Mas, há momentos na vida que tudo o que você necessita é de um: dane-se!

— Vamos! — digo com muita resolução.

Um imenso sorriso surge no rosto da princesa caçula.

Ela apanha um moletom com capuz no closet e joga para mim.

— Use isso! Ainda bem que Bash não está trabalhando hoje, a coisa seria mais difícil para nós.

— Charlie... — espero não ter me metido em uma furada.

— Não se preocupe — sorri confiante.

Ela vai até porta e dá uma boa olhada no jardim.

— Vamos! — diz.

Sigo-a.

Parecemos duas criminosas escapando da prisão. Charlie caminha na frente com passos ora ágeis, ora lentos. Não trocamos nenhuma palavra. De vez, enquanto, vejo um guarda do palácio, o que faz meu coração quase saltar pela boca. E se nós formos pegas? Nem quero pensar.

Depois de alguns minutos circulando pelos jardins. Charlie finalmente encontra o que estava procurando. Um buraco bem escondido por um arbusto no muro do palácio.

— Ufa, ainda está aqui! — fala aliviada.

Olho para ela apreensiva.

— O que foi? Acidentes de percurso acontecem... Vamos.

Charlie praticamente me empurra pelo pequeno buraco. Nessas ocasiões, dou graças ao fato de ser pequena. Mesmo assim acabo cheia de folhas em meu cabelo e em minhas roupas. Um ímã de folhas. 

— Pronto, passamos pela primeira etapa.

— Ainda tem mais?

Ela assente solenemente.

— Nosso palácio conta com muita proteção, dizem que é para nos proteger, mas... tenho minhas dúvidas... Porém, ninguém pode deter uma princesa em fuga!

Avistamos dois guardas perto do buraco pelo qual saímos. Que situação! Começo a questionar meu breve momento de perda de juízo.

— Caminhe normalmente, ok? — instrui Charlie. — Se acontecer alguma coisa... corremos em direção opostas.

— Nós vamos ser pegas?

— Não! — afirma cheia de convicção. — Espero... — fala baixinho. — Mas se acontecer alguma coisa, nos separamos e depois nos encontramos em um parquinho que fica a umas três quadras daqui, ok?

Assinto.

Respiro fundo e tento caminhar como se eu fosse uma cidadã comum e não uma futura criminosa procurada em todos os estados.

— Então, ela disse “cara, você vai morrer” — Charlie fala com um sotaque americano, bem alto.

Olho para ela interrogativa. Ela me dá uma cotovelada.

— Se falarmos alto, eles não vão ligar para nós — cochicha. — Fala alguma coisa... — ela ri.

— Oh, ela disse isso? — tento imitar um sotaque francês. No entanto, não sou um gênio da atuação como os membros da família real, por isso falho miseravelmente. Minha voz soa esganiçada.

— Juro! — Charlie continua a falar. — Você precisava ver!

Um dos guardas olha para nós. Praticamente perco a capacidade de falar. Ele nos olha fixamente.

Dou uma cotovelada em Charlie. Ela olha para mim.

— Corre — sussurra.

Começo a correr como se não houvesse amanhã. E não vai haver mesmo se eu for pega.

Ouço os passos dos guardas. Charlie seguiu para a uma direção oposta à minha. As únicas coisas que são favoráveis a nós, é o fato de ser noite e os guardas ainda estarem meio atordoados, não sabendo que direção seguir, se perseguem a mim ou a princesa problema. 

Não tem para onde escapar. O que eu faço? Eu ganhei certa vantagem dos guardas, graças a estratégia de Charlie. Entretanto, essa vantagem vai desaparecer em questão de segundos.

Avisto uma árvore. Não tenho outra alternativa. Subo-a. Vejo os guardas passarem correndo, imediatamente, após eu terminar de subir na árvore.

Veja, a situação em que me encontro! Em uma árvore, fugindo de guardas do palácio. O que mais pode dar errado?

Meu coração pulsa tão forte que posso ouvi-lo querendo sair do meu peito. Espero alguns minutos.

Não há mais nenhum guarda por perto. Olho para baixo, eu subi mais do imaginava. A adrenalina em minhas veias deve ter feito isso. No entanto, não posso ficar a noite inteira na árvore. Como eu desço daqui? Não vejo outra alternativa. Fecho os olhos e salto.

Tenho que morder meus lábios para reprimir um grito. Acho que quebrei meu tornozelo direito. Por quê?

Consigo me levantar com algum esforço. Mancando, sigo para o parquinho do qual Charlie falou.

Demora algum tempo para eu chegar no local do nosso encontro. No entanto, meus problemas não terminam ainda. Cadê a Charlie? Ela não está em lugar algum do parquinho. Tento ligar para ela. Mas, não consigo. O celular só dá caixa postal.

O parquinho está deserto. Meu tornozelo está doendo e muito. E eu não faço a mínima ideia de como entrar no palácio sem ser vista. Esse é o meu fim, perdida em um local desconhecido, morrendo de frio e machucada. 

Tenho que fazer alguma coisa... olho para meu celular. O que eu faço? Há uma alternativa...

Não. Não. Não... eu não posso chamá-lo!

Não... prefiro ficar aqui.

É... mas pode ter acontecido alguma coisa com Charlie...

Não, Charlie vai aparecer, não vai?

Olho ao meu redor... tudo continua silencioso.

Charlie, onde está você?

Os minutos passam e nada de Charlie aparecer. Já é quase uma hora da manhã.

Respiro fundo e ligo. Veja bem, se eu não tivesse outra alternativa, eu nunca faria isso.

— O que foi? — indaga uma voz irritada, demonstrando que acabou de acordar.

Ainda posso desistir, não posso?

— Sou eu, Emma — falo, contrariando o meu bom senso.

— Plebeia? O que aconteceu? Por que você está me ligando? Você está com falta de sono e resolveu ter um pouco de companhia, é?

No dia em que me deram o telefone do quarto de Sua Idiota Alteza, eu pensei que nunca o usaria, e se um dia eu chegasse a usá-lo, eu teria que questionar seriamente minha sanidade mental.

— Charlie... — respiro fundo e falo tudo de uma vez. — Ela sumiu...

Ouço apenas silêncio do outro lado da linha.

— O que aconteceu? — ele fala, finalmente.

— Nós... saímos do palácio... alguns guardas nos viram... e eu e Charlie acabamos nos separando... — tento dar uma explicação coerente, embora minha apreensão não me permita tanto.

Mais silêncio do outro lado da linha.

— Onde você está? — pergunta, depois de um tempo.

— Em um parquinho a umas três quadras do palácio...

Leon desliga o telefone. Eu não acredito que acabei de recorrer a ele!  Eu devo estar desesperada mesmo.

Poderia ter pedido ajuda a Sebastian. Mas, não sei o telefone pessoal dele.

Estou sentada em um dos balanços do parquinho. Eu não consigo dar mais um passo sequer. Meu tornozelo dói tanto que chega a queimar.

Se eu queria uma aventura de uma noite. Parabéns para mim.

Não há nenhum sinal de Charlie.

Repentinamente, o barulho de uma moto rompe a redoma de silêncio que cobre o parque. Fico em alerta.

Uma moto se aproxima. Perfeito, vou ser roubada também. Era o que faltava para completar “As aventuras de Emma Jones”.

O motociclista para a moto perto de mim.

— Sobe! — diz, sem retirar o capacete.

Os olhos verdes inconfundíveis de Leon me fitam pelo visor do capacete. Como ele conseguiu uma moto?

Me levanto e começo a andar, ou melhor, mancar, até Leon.

— O que aconteceu com você? — indaga ao me ver mancando.

— Acho que quebrei meu tornozelo...

— Como você conseguiu isso? — pergunta, retirando o capacete.

Dou os ombros. No entanto, vacilo no meu próximo passo.

— Me deixa ver isso...

— Não!

Mas, ele me ignora e desce da moto.

— Que bela escapada essa de vocês. O que vocês estavam querendo? — um sorriso um tanto brincalhão paira em seu rosto.

— Nada.

— Certo — ele me olha. — Me deixa ver seu tornozelo. Quero ver só a desculpa que você vai arranjar para isso? — alguém parece estar se divertindo com minha falta de sorte.

— Não importa...

— Sei...

Como não dei muitos passos, acabo voltando a sentar no balanço.

Leon se agacha perto de mim e pega meu pé direito e o mexe, o que quase me arranca um grito. No entanto, não permito que ele escape da garganta.

— Não está quebrado, está apenas torcido... Você vai sobreviver. Não é nada grave. 

— Como você sabe?

— Os príncipes apreendem muitas coisas, não somos tão inúteis como você pensa — ele continua a mexer no meu pé.

— Como você conseguiu sair do palácio?

— Tenho meus truques... — responde.

Ele retira seu cachecol azul e o rasga.

Olho interrogativa para ele. Será que ele endoidou de vez? Os membros da família real devem ter sérios problemas de sanidade. Deve ser culpa daquelas coroas de ouro e todas aquelas pedras preciosas. O peso é tão grande que afeta o cérebro. 

— Sei que sou lindo, não preciso de ninguém para me dizer... — fala, sem olhar para mim.

— Você é alguém inacreditável...

Leon começa a imobilizar o meu tornozelo com parte do cachecol.

— Obrigada pelo curativo... — digo. 

— Você não deveria ter seguido minha irmãzinha. Ela pode ser bem encrenqueira. 

— Você sabe onde está Charlie?

— Eu gostaria de saber... Mas, ela sabe se virar.  Da próxima vez que você quiser fugir, é melhor ter um bom plano... Pode ser que eu não esteja por perto, e você vai ficar com mais de um tornozelo torcido...

— Ah, é claro! Você é meu cavaleiro de armadura brilhante! — ironizo.

— Sou mais bonito que um bravo cavaleiro de armadura brilhante — rebate.

Leon continua a imobilizar o meu tornozelo. Será que ele está tentando ser um bom garoto esse ano para não ficar sem seu presente de Natal?

— Você nunca quis fugir do palácio? — indago, lembrando de nosso primeiro desastroso encontro. 

— Quem nunca? — noto um tênue sorriso se formando em seus lábios.

— E já fugiu?

Ele solta uma risadinha, mas não me responde.

— Pronto. Isso vai servir por enquanto — diz, colocando o tênis no meu pé. — Só não mova muito o pé...

Ele se levanta.

— Vamos.

— E Charlie?

— Sebastian está cuidando disso... Quando ele não está trabalhando, ele pode quebrar uma regra ou duas. Temos que ir, se nós dois desaparecermos também... digamos que estaremos com muitos problemas.

Me levanto do balanço. Leon estende a mão, arqueio a sobrancelha. Estou desconfiada que este é um clone. Ou o irmão gêmeo do bem.

— Vamos logo — ele balança a mão de modo insistente.

— Você foi substituído?

Ele resmunga algo.

— Por que você não acredita em mim?

— Porque você é... você! — falo com um olhar bem significativo.

— Estamos perdendo tempo... — insiste com a mão estendida.

Pego a mão que ele me estende. Ela está quente. Leon me ajuda a chegar até a moto.

— Toma — me entrega um capacete.

Coloco-o. Ele monta na moto. Apoio as mãos nos ombros dele para subir. Como tenho que tomar cuidado com meu pé direito, preciso fazer as coisas com bastante cuidado.

— Segure firme... — seguro fortemente o banco da moto — Assim não!

Ele pega meus braços e os envolve em sua cintura.

— Assim!

A posição em que me encontro é... inusitada... estranha... perturbadora... e... quente, o corpo de Leon é quentinho... (vamos fingir que eu não pensei isso, ok? Isso soou estranho).

Leon acelera a moto. Agora sei o porquê de ele ter falado para segurar forte. A moto não corre, voa. Me vejo apertando ainda mais a cintura forte e quente dele.

Andar de moto dá uma certa sensação de liberdade, de perigo, um friozinho na barriga, como se a qualquer momento você estivesse preste a cair. É bom, preciso admitir. 

Não demoramos quase nada para chegar ao palácio. Entramos por um portão que eu nem sabia da existência. E não é guardado por nenhum guarda, o que é algo realmente inusitado.

Leon deixa a moto em uma das garagens.

— Agora, precisamos ter um pouco de cuidado... não podemos despertar nenhuma suspeita. Sebastian conseguiu contornar um pouco o problema com os guardas que viram vocês... Ainda bem que eles não conseguiram ver vocês direito, por isso não deram ainda o alerta para a segurança — suspira.

Os olhos de Leon me sondam por um instante, por fim, ele se aproxima de mim.

— O que você está fazendo?

— Tive uma ideia... Ninguém irá perturbar o casal real.

Ele envolve meus ombros com seu braço.

— Ei!

— Vai ser difícil se você não cooperar... E temos que disfarçar o seu tornozelo torcido. Apoie seu peso em mim... Se alguém nos ver juntos, não vai despertar suspeitas... O que foi? Não sou eu que estou fugindo da segurança...

Suspiro e apoio meu peso em Leon. Embora eu não goste da ideia, não posso negar que ela tem seus méritos. Passo meu braço por sua cintura.

— Vamos caminhar normalmente, ok? — diz.

Assinto.

Começamos a andar em direção a ala em que fica meu quarto. Tomamos o máximo de cuidado para evitar os locais com guardas. Temos que andar devagar devido ao meu tornozelo. Aliás, a dor diminuiu um pouquinho.

Quando já estamos na ala em que fica meu quarto, sinto Leon ficar tenso.

— O que foi?

— Merda, o chefe dos guarda-costas está aqui... — indica discretamente com a cabeça o senhor Miller, que está com outros dois guarda-costas, conversando no final de um dos corredores. Justamente, o que leva ao meu quarto.

— O que ele está fazendo aqui? — os guarda-costas começam a caminhar em nossa direção.

— Eles podem ter descoberto algo... — sussurra Leon. — Tinha que ser justo o Miller? É trabalhoso enganá-lo — suspira. 

Eles ainda não nos viram, mas posso sentir a tensão no ar. Meu coração está saltando pela boca. Depois de todo o trabalho duro, vejo a perspectiva de fracassarmos, quando estamos tão próximos do fim.

Os olhos de Leon se detêm em mim. Posso ver seu cérebro trabalhando. Ele me puxa, me encostando na parede.

Leon se inclina, ficando quase da minha altura.

— Confie em mim... — pede em um murmúrio. — Apenas confie em mim...

Sua mão desliza até meu rosto. A outra vai parar em minha cintura, me trazendo para perto do seu corpo.

Seu rosto se aproxima do meu. Chega muito perto do meu, tão perto que posso verificar como sua pele é extremamente perfeita. Seus olhos verdes realmente são incríveis de uma tonalidade única, são ainda mais fascinantes e bonitos de perto. Eu me vejo em seus olhos, tão pequena. Seus olhos parecem com ondas do mar que vem até a praia e tragam tudo sem distinção. Seus olhos são perigosos, terrivelmente perigosos. A parte do seu corpo que mais deve ser temida. Porque eles podem tirar a razão de qualquer pessoa. Porque eles podem hipnotizar. Porque você pode nem sentir o golpe, quando ele está vindo.

Sem desviar os olhos dos meus, seus lábios aproximam-se. Sinto o calor emanando de sua mão em minha bochecha e cintura. Mas o calor mais forte é emanado por seus olhos.

Nossos lábios estão muito próximos. Quase nada os separa... mais um pouco e... Seus olhos repetem o que seus lábios me disseram momentos atrás, “Confie em mim”.

Ele se aproxima...

Seus lábios esbarram nos meus suavemente. Com delicadeza, ele encaixa os lábios nos meus. Sinto a maciez e o sabor de hortelã dos seus lábios, o que me lembra, por um motivo desconhecido, o orvalho.

Leon está me beijando... Leon está me beijando... Leon está me beijando. Minha mente por um momento não consegue processar a informação direito.

Os lábios dele são quentes... Por um breve instante, sinto minha razão se esvaziando.

Sei que isso é necessário para salvar a minha pele e a de Charlie. Mas, mesmo assim...

— Ah, desculpe, Sua Alteza Real — diz o senhor Miller.

Nossos lábios se separam rapidamente.

Leon se volta para o chefe dos guarda-costas com um sorriso simpático. A escola de atuação real deve ter ótimos professores.

— Nós só queremos saber se...

— Não posso acompanhar minha noiva até seu quarto? — diz entre o inocente e o malicioso.    

Então, sem aviso prévio, ele me ergue em nos braços.

— Não nos incomode...

Passo os braços por seu pescoço, encosto a cabeça em seu ombro e finjo que aquilo é a coisa mais normal do mundo. Pelo menos, eu tento fingir. Eu já fui beijada e agora estou sendo carregada por um príncipe. Claro, isso tudo é extremamente natural. Todas as garotas fazem isso, todos os dias.  

Leon é alguém... inacreditável. Por que ele é cheio de atos dramáticos? Parece até que estamos em uma peça teatral. 

Os guarda-costas saem do caminho.

— Sua Alteza Real — o senhor Miller tenta o chamar. — Precisamos saber se...

Mas Leon continua a caminhar sem se voltar para ele.

Lanço um rápido olhar para os guarda-costas e noto um olhar significativo trocado entre eles. Adivinhem quem será o assunto do palácio amanhã?

Leon abre a porta do meu quarto com o ombro.

— Estamos salvos... pelo menos, por alguns minutos... — diz, enquanto me coloca em cima da cama. — Coloque seu pé sobre isso — ele pega um travesseiro e coloca debaixo do meu pé. — É melhor chamar um médico para examinar o seu tornozelo... O que foi? — ele senta-se em minha cama.

— Você precisava sair me beijando por aí?

— Foi uma saída de emergência — responde. — O que você queria que eu fizesse? Queria ser pega? Você sabe que é completamente proibido sair do palácio sem permissão...

Por que ele tem ótimos argumentos?

— Você também saiu do palácio sem permissão — rebato.

— Oh, me processem! — ironiza. — Coloque gelo em seu tornozelo...

Ele deita-se na minha cama sem a menor cerimônia.

— Ei!

— Estou cansado — responde, fechando os olhos. — Tenho certeza que os guarda-costas estão aí fora, e vão me encher de perguntas... Mas se você não se importa... — ele começa a se levantar.

Puxo sua jaqueta e o faço se deitar novamente. Esse príncipe é um chantagista.

Leon sorri e volta a fechar os olhos. Pego meu celular no bolso do moletom e tento ligar para Charlie, porém, apenas dá caixa postal.

— Onde está você, Charlie? — murmuro.  

Olho para Leon que continua com os olhos fechados.

— Por que não há sinal de Charlie?

— Ela está bem — abre os olhos. — Charlie sabe se virar, não é a primeira vez que ela faz isso... E Sebastian é um dos únicos que consegue encontrá-la.

Já passa das duas da manhã.

Ouço batidas na porta de vidro que dá para o jardim. Antes mesmo de verificar quem é, sinto todos os meus músculos relaxarem.

Leon abre a porta de vidro. Charlie e Sebastian surgem. Tenho uma pequena surpresa ao ver Sebastian em trajes normais, jeans e um casaco, e com um gorro verde na cabeça. Ele fica um tanto diferente sem o uniforme dos guarda-costas, terno preto Armani (como Daphné gosta de frisar).

Charlie olha espantada para mim e corre até minha cama.

— O que aconteceu?

— Torci meu tornozelo — respondo, dando os ombros.

— Você está bem, Emma? — pergunta Sebastian.

— Estou... — olho para Charlie. — E onde você estava?

— Isso... — sorri. — Tive que despistar os guardas e acabei me perdendo...

— Por que você não atendeu seu celular? — pergunto.

— Estava sem bateria — responde simplesmente.

— Ah, Charlie, você me deixou preocupada!

— Desculpe, Emma — pede daquele modo inocente, com aquele olhar que faz o do gato de botas do Shrek ficar com inveja.

Resmungo algo.

Sebastian olha para Charlie.

— Vamos, Charlotte! — diz ele.

— Não me diga que você vai me acompanhar, Bash? — indaga com aquele olhar inocente.

— Charlotte!

Ela bufa.

— Pelo menos, foi divertido — diz Charlie de um modo malicioso, o que arranca um resmungo de Sebastian.

Leon assiste a cena sem dizer uma palavra.

— Assunto resolvido... estou indo, estou morrendo de sono — diz ele.

Os três saem do meu quarto.

Que noite! Tentei escapar do palácio, fui perseguida por guardas, torci meu tornozelo, tive que pedir ajuda a Leon, fui beijada por ele...

Toco suavemente os meus lábios ao lembrar do beijo. Ainda posso sentir o gosto de hortelã, e o toque de orvalho... Droga, o beijo era mesmo necessário? Arremesso um travesseiro. 

Olho para meu pé, enfaixado com o pedaço do cachecol azul de Leon.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Primeiro beijo de nosso futuro casal real saiu, hein? Uma situação de emergência exige medidas extremas rsrsrsrs Leon entende de como sair de situação complicadas rsrsrsrs



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