Sobre Príncipes e Princesas escrita por Hanna Martins


Capítulo 6
Vejo folhas em você


Notas iniciais do capítulo

OMG, OMG, estou surtando muito aqui. Capítulo dedicado a linda da Sweet A, que presenteou a fic com uma linda recomendação. Obrigada, sua linda, por confiar na fic! Eu realmente surtei de felicidade aqui.
Obrigada, seus lindos, por estarem comigo. Obrigada por por confiarem em mim. Vocês não fazem ideia de como estou animada escrevendo essa fic, graças ao apoio de vocês!



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As mãos rápidas e seguras de Lyane arrancam um som hipnotizador do violino, vibrante e ao mesmo tempo com um toque melancólico. Lyane parece saída de uma pintura, seus cabelos cor de fogo caem livremente por suas costas, dando a leve impressão que ela está em chamas. Parece em transe, não há distinção entre a música que sai dos seus dedos e ela. Lyane é a música. A música é Lyane. Seu corpo vibra com cada nota musical. As pessoas olham admiradas para Lyane, completamente hipnotizadas pelo som que ela tira do violino.

A música de Lyane me traz certa nostalgia. Um mês e meio atrás, em um sábado de manhã, eu provavelmente estaria entregando as encomendas da lavanderia de meus pais pelas ruas do meu bairro, na velha bicicleta verde. Sentindo o vento no rosto, enquanto eu pedalava livremente. Agora, estou aqui, em um grande e luxuoso museu, prestigiando a abertura de uma exposição de arte.

Ultimamente, tenho participado de vários eventos. Esse é terceiro da semana. Segundo Daphné, eles estão pegando leve comigo. Se isso for leve, nem quero saber o que é considerado pesado. A realeza e eu temos visões muito distintas sobre as coisas.

Lyane agradece aos aplausos entusiasmados que recebe com uma graciosa reverência, parece uma bailarina. Ela desce do palco improvisado, sendo cercada por algumas pessoas que a cumprimentam pela performance. Quando o pequeno grupo, que a cerca, se dissipa, ela me vê e sorri. 

— Não havia visto você — se desculpa, aproximando-se de mim.

— Você estava ocupada — aponto com a cabeça o palco.

Lyane sorri amavelmente.

— Você toca muito bem.

— Obrigada — agradece. — Minha professora insistiu tanto para que eu tocasse na abertura dessa exposição que não tive como recusar. Ela é muito persuasiva — fala com um sorriso brincalhão. — Foi bom te encontrar aqui.

A última vez que vi Lyane foi no clube de hipismo. Em contrapartida, tenho visto Muriel diversas vezes. Nós nunca chegamos a conversar, apenas nos cumprimentamos. Muriel sempre sorri daquela maneira falsa e presunçosa de quem sabe coisas que eu não sei. Seria muito melhor se eu tivesse encontrado Lyane nos eventos em que sou obrigada a comparecer. Ela é muito mais agradável.

— Você veio sozinha? — indaga.

— Não... — olho em volto em busca de minha companhia, mas parece que ela me abandonou. — Charlie veio comigo...

— Ah...

— Ela deve estar em algum lugar por aí... — A capacidade de Charlie fugir de seus guarda-costas é incrível. Acredito que seja seu esporte predileto.

— E você? — indago.

— Vim com minha professora e alguns colegas de turma. Ah, ali está ela — seu olhar volta-se em direção a uma mulher alta de cabelos curtos louros. — Tenho que ir. Foi um prazer te encontrar aqui — sorri gentilmente.

— O prazer foi meu.

Lyane se despede e vai falar com sua professora.

Percorro meus olhos pelo grande salão na vã esperança de encontrar Charlie. Onde será que a princesa caçula foi se meter?

— Procurando por alguém? — uma voz baixinha sussurra em meu ouvido, o que me ocasiona um pequeno susto. — Desculpe — diz Will ao ver minha expressão. — Aceita uma bebida? — diz, apontando para o drink em sua mão.

— Não, obrigada...

— Sei que ainda é cedo, mas há certas ocasiões em que apenas uma bebida pode ajudar...

Olho para ele interrogativa. Will apenas sorri. Ele passa a mão por seu cabelo perfeito. A realeza deve gastar uma fortuna com shampoo e condicionador. Se nossa economia entrar em crise, sabemos de quem é a responsabilidade.

— Hum... meu primo não está aqui?

— Não... ele está... — sinceramente não faço a mínima ideia em que lugar Sua Idiota Alteza se encontra. — Ocupado.

— Compreendo... Tem certeza que não quer uma bebida? — insiste com sua voz quase rouca.

— Não... Você viu a Charlie? Estou procurando por ela — desvio meus olhos dele.

— Ela deve estar tentando bater seu recorde de fugir dos guarda-costas — um sorriso travesso e um tanto sexy paira em seu rosto.

 — Vou procurar por ela...

— Eu te ajudo — se prontifica o príncipe como um bom samaritano.

Deve ser todo esse lance de ser o senhor sou-sexy-muito-sexy, mas não me sinto muito confortável na presença de Will. Algo nele me lembra um felino, estudando cuidadosamente sua presa, para ver a melhor hora de atacar.

— Não, obrigada — recuso. — Ela deve estar aqui por perto...

— Por que você sempre recusa a minha ajuda? — indaga.

— Não... não é verdade — me apresso em negar, embora eu tenha certeza que tenha soado mais como uma afirmativa.  

— Então, me deixe te ajudar... — há algo de muito persuasivo nele.

— Se você insiste...

Começamos a caminhar. Preciso caminhar vagarosamente graças aos meus sapatos que estão apertados.

— E como está Leon? Ultimamente não tenho o visto muito...

— Está bem — respondo laconicamente. Bem, eu também não tenho o visto.

— Hum... — ele me olha com o canto dos olhos e mais uma vez passa a mão por seu cabelo perfeito. Alguém precisa avisá-lo que não estamos gravando um comercial de shampoo.

Ele toma um gole do drink e passa a ponta da língua pelos lábios. Will anda bem pertinho de mim. Até consigo sentir seu perfume, um toque de madeira.

— Você parece tão tensa... — observa. — Eu não mordo — garante com um sorriso brincalhão.

Charlie discorda disso.

Avisto Sebastian caminhando em nossa direção.

— Você é muito bem guardada — fala Will ao ver meu guarda-costas aproximando-se de nós.

— Precisamos ir, Emma... Houve uma mudança de planos em sua agenda... — Sebastian diz laconicamente.

— Certo...

— Onde está a Charlie? — pergunta Sebastian.

— Não sei... — dou os ombros.

Observo um discreto suspiro sair de seus lábios e ele fala algo no rádio de comunicação.

— Que pena que você não possa ficar mais na exposição... — lamenta Will. — Parece que nunca posso conversar com você, isso é uma lastima...

— É...

— Mas, tenho certeza que logo teremos outras oportunidades — sorri daquele jeito sexy. — Até logo, Emma.

— Até!

Will se vai. Caminha igual alguém que tem o mundo aos seus pés (de repente, ele tem mesmo). Observo duas garotas soltarem risadinhas ao vê-lo passar. E ele pisca para elas. Pobres garotas. Esse cara não cansa de fazer as garotas desmaiarem?

— Problemas? — pergunto ao ver o ar preocupado de Sebastian.

— Os de sempre... A princesa Charlotte sabe causar problemas quando quer...

Dou uma olhada pelo salão e não avisto qualquer sinal de Charlie.

— Temos que ir, os guarda-costas dela vão encontrá-la.

— Minhas aulas foram transferidas? — pergunto.

Segundo o cronograma de hoje, tenho aulas de história da família real e etiqueta real a tarde inteira. Uma tarde muito divertida de sábado com Daphné falando e falando com aquela voz monótona espera por mim.

— Você vai para um piquenique — responde.

Piquenique. Isso significa comida. Subitamente, meu ânimo melhora.

— Mas, primeiro temos que passar no palácio.

— É algum evento oficial?

— Não, exatamente. Será na verdade... um encontro.

— Um encontro? — quase grito.

Eu sei exatamente o que essa palavra significa. E detesto seu significado.

— Sim — ele responde calmamente. — Você e Leon vão sair para um piquenique no parque.

Preciso mencionar o fato que meu ânimo sofreu um grave acidente de percurso e caiu lá no chão?

— Por quê? — não posso evitar perguntar.

— Porque vocês dois têm que ser um casal apaixonado, ora essa, Emma — fala Charlie atrás de mim. — E, você, Bash, está perdendo suas habilidades! Demorou tempo demais para me encontrar. Ou será que eu estou ficando melhor nesse jogo? — se empolga com essa possibilidade.

— Parabéns por suas habilidades, Charlotte — diz Sebastian ironicamente. — Vamos, estamos quase atrasados.

Não acredito que vou ter que passar a tarde inteira com Sua Idiota Alteza. Quais são os crimes que cometi em minha vida passada?

— Divirta-se, Emma, no piquenique — Charlie provoca maliciosamente, enquanto entramos no palácio.

— Como se eu pudesse...

Ela solta uma risadinha e dá um tapinha em minhas costas.

— Só não mate meu irmão. Aquele cara pode ser um idiota de vez enquanto, ou seja, quase sempre, mas ainda é meu irmão, sabe?

— Vou pensar nisso — juro de um jeito solene.

— Vou me divertir mais um pouquinho... —  Charlie começa a correr ao ver os guarda-costas. Às vezes, sinto pena dos guarda-costas dela.

— Precisamos ir ver alguém antes — explica Sebastian, quando em vez de seguirmos para o corredor que leva até o meu quarto, me conduz por um corredor desconhecido.

Noto que estamos indo para uma ala do palácio que eu nunca havia frequentando antes. Esse lugar parece um verdadeiro labirinto de corredores e cômodos. Andamos por um algum tempo até chegarmos perto de um grande salão. Sebastian se apressa em abrir a porta para que eu entre.

A primeira coisa que vejo são dois esgrimistas duelando com sabres sobre uma pista de esgrima. Um deles se destaca por seus movimentos, que são rápidos e ágeis, lembram uma espécie de dança. Mal posso seguir o movimento de seus sabres.

O esgrimista, que conduz seu sabre como se estivesse dançando, consegue tocar o peito do seu adversário. Ele retira sua máscara e o rosto suado e belo de Leon surge. O outro esgrimista se retira.

Só então noto um homem perto de mim. Ele tem cabelos grisalhos, estatura mediana e um rosto afável. Tento me recordar se o já vi antes. Circulam tantas pessoas pelo palácio que fica um pouco difícil recordar de todas elas. Mas, acho que não.

— Emma — inclina a cabeça ao me cumprimentar. — Sou o chefe do Departamento de Diplomacia e Imprensa da Realeza, Adam Bradbury.

Claro o departamento responsável por cuidar (controlar) de cada passo dos membros da família real. Também conhecido por mim, como aquele que organiza minha agenda e decide cada passo que eu dou. Ora, ora, o que será tão importante para que seu chefe tenha que falar pessoalmente comigo?

Leon se aproxima de nós.

— Preciso falar com vocês sobre o piquenique de hoje — os olhos pequenos do senhor Bradbury nos analisa por um momento. — É a primeira aparição... romântica do casal real — enfatiza. — Vocês devem se mostrar... apaixonados — fala de um modo significativo.

Apaixonados? Daqui a pouco vão querer que eu estabeleça a paz mundial também.

— Espero que Sua Alteza Real possa nos ajudar... — olha para Leon.

Ele apenas solta um demorado suspiro.

— Já tenho feito coisas demais — afirma.

— Sua Alteza Real... — há algo no tom de sua voz e no seu olhar que sugere mais do que suas simples palavras.

— Certo — concorda, dando um golpe com seu sabre em um adversário imaginário.

— Irá haver alguns fotógrafos. Mas, eles não estarão à vista. Também iremos reduzir sua segurança — explica.

Leon continua a dar golpes em seu adversário imaginário, pouco atento as instruções do senhor Bradbury.  

— Emma — ele se volta para mim. — Foi um prazer conhecê-la.   

O senhor Bradbury faz uma pequena inclinação de cabeça e se retira com passos rápidos.

Sua Idiota Alteza ignora totalmente minha presença e continua a duelar com seu adversário imaginário. Um encontro romântico, eles disseram. Queria ver eles tendo um encontro romântico com Sua Idiota Alteza.

— Sua simpatia é tanta — resmungo por trás de suas costas.

— Claro, plebeia — droga, ele me ouviu! — Sou muito simpático — volta-se para mim.

— Pelo menos, você reconhece — falo ironicamente. — Se seus súditos soubessem... aposto que ficariam encantados — o encaro.

Ele me olha. Primeiro irritado, mas depois um sorriso realmente adorável surge em seus lábios.

— Você teve aulas de atuação! — o acuso.

Leon dá os ombros.

— Quem sabe? Esse não é o ponto aqui, plebeia... — me encara de modo petulante.

Sinto a raiva tomando conta de mim. Ficar por muito tempo na presença desse principezinho por mais de meio segundo é um sério risco para minha saúde. Nos encaramos. Sinto que meus pés estão com muita vontade de praticar meu esporte predileto.

— Emma — Sebastian entra no salão, me salvando de me tornar uma inimiga da nação por assassinar o príncipe. — Precisamos ir...

— Ok — dou as costas para a Sua Idiota Alteza e saio pisando firme.

— Algum problema, Emma? — indaga Sebastian, enquanto andamos por um dos corredores que levam ao meu quarto.

— Nada... — ainda estou irritada. — É que Sua Alteza Real — pronuncio sarcasticamente. — É muito... amável.

Sebastian me olha e sorri. Um sorriso, que ao contrário dos sorrisos de Leon, me acalma.

— O príncipe é alguém... interessante.

— Você diz isso porque não é você que vai se casar com ele — bufo.  

Sebastian mais uma vez lança um de seus sorrisos matadores. Sorrisos assim deveriam ser proibidos por lei. O que será de nós reles mortais diante de um sorriso destes?

Mal chego ao meu quarto e sou recebida por minha equipe de preparação. E eu que pensei que hoje só passaria pelo ritual uma única vez. Cada vez mais, tenho certeza absoluta, que fui uma criminosa muito temível em minha vida passada.

Dessa vez, para minha total surpresa, não exageram muito na maquiagem e me dão até que uma roupa confortável. Uma calça e um suéter marrom (não vou morrer de frio). Também escolhem um cachecol preto para mim.  Para completar, uma bota de cano alto, que é até confortável, pelo menos não tem salto. Meu cabelo é deixado solto.

Assim que a equipe sai, Sebastian vem me buscar.

— Dessa vez, eu não estarei tão perto de vocês — explica, enquanto caminhamos até o carro.

— O senhor Bradbury explicou que iriam reduzir nossa segurança.

— É, algo assim. Mas ainda estaremos por perto. Apenas não seremos vistos.

Leon já está no carro, quando chegamos. Ele parece nem se dar conta da presença de minha pessoa. Está com os olhos fechados e com fones de ouvido. Pelo menos, agora posso fingir que ele não existe.

Encosto meu rosto na janela do carro e fico observando as ruas quase desertas pelas quais o carro percorre. Minha tarde de sábado desperdiçada... Maldita hora que meu avô aceitou esse presente real. Aquele rei com miolos estragados estava querendo acabar com minha vida, tenho certeza.

Estou ao ponto de fechar os olhos, quando o carro para. Leon retira os fones de ouvido.

— Estaremos por perto — diz um dos guarda-costas de Leon, entregando uma cesta de piquenique para ele.

Ele assente.

Saímos do carro. Uma bela paisagem verde está em nossa frente.

Leon se aproxima de mim. Começamos a caminhar. Os nossos guarda-costas ficam cada vez mais longe.  

— Vamos ao romance — diz com um belo sorriso nos lábios.

Lanço um olhar significativo para ele.

— Mestre da atuação — resmungo.

— Sorria... Eu não quero fazer tudo sozinho.

— Não sei como você consegue enganar toda a nação! Você é mesmo um... — me controlo para não soltar um palavrão.

Olho para ele. Estamos passando perto de um lago. Por um segundo, posso visualizar a cena. Eu empurrando Leon (Sua Idiota Alteza está me transformando em uma assassina sanguinária). Leon se debatendo na fria água do lago... e eu sendo presa. Ok, mudança de planos. Mas, meu ânimo melhora um pouco, após imaginar a cena.

Leon escolhe um local embaixo de uma grande árvore. Ele estende uma toalha.

Me sento na toalha. Olho em minha volta. Não há qualquer sinal de pessoas por perto.

— Não se engane — diz Leon. — Eles estão por perto, aguardando o momento mais propício... O Departamento de Diplomacia e Imprensa da Realeza tem a incrível capacidade fazê-los acreditar que isso é um grande flagra — ironiza. — Amanhã as revistas e jornais estarão recheados com nossas fotos...

Leon deita-se de costas na toalha. Olho mais uma vez, e não consigo ver nada. Tudo está tão silencioso.

— Somos a atração da nação — fala, fechando os olhos. — Uma distração... No meu caso, uma bela distração.

Ótimo, Sua Idiota Alteza é um narcisista.

Olho para ele que mantem os olhos fechados. Uma mecha de cabelo cai sobre seu rosto sem defeito. Com os olhos fechados assim e sem falar bobagens... por que ele tinha de ser tão parecido com um deus decido do monte Olimpo vindo a terra somente para atormentar os pobres mortais com sua beleza?... Droga, meu cérebro não está bem hoje.

— Sou tão bonito assim, é? — diz, abrindo os olhos e me pegando totalmente desprevenida. Ele senta-se na toalha.

— Quem disse que eu estava te olhando? — puxo a cesta de piquenique. — O que temos aqui?

Na cesta há sanduíches naturais, frutas e sucos. Pego um cacho de uva e as esmago entre meus dentes. Depois começo a comer um dos sanduíches.

— Isso é bom!

Ele me olha.

— O que foi?

— Nada... — mas não deixa de me olhar. — Nossas companhias estão ficando cada vez mais atrevidas...

— Tem um paparazzo aqui?

Ele assente. Começo a voltar meu rosto, porém ele segura delicadamente meu queixo.

— Não olhe... estamos aqui para que eles nos vejam, não o contrário. Às vezes, penso que os paparazzi de nosso país pensam que os membros da família real são míopes.

Ele ainda segura meu queixo. Sorri e aproxima-se de mim. Seus olhos verdes são mesmo hipnotizantes.

— O que foi?

Seu polegar desliza até o canto da minha boca.

— Está sujo — responde, limpando.

Leon se afasta de mim e deita-se novamente na toalha, entrelaçando seus dedos embaixo da cabeça. O suéter de Leon ajusta-se tão perfeitamente em seu corpo que consigo ver seus bíceps bem definidos. Aposto que ele está fazendo essa pose para as fotos. Esse aí gosta de sair bem nas imagens.

Continuo a comer.

O nível de romantismo desse encontro é inferior a zero. Leon está deitado, eu estou comendo. Os jornalistas vão ter sérios problemas para encontrar um momento romântico.

Olho mais uma vez para Leon. Eu não consigo imaginar que dentro de um mês e meio estarei casada com ele. Aliás, eu nunca nem cheguei perto de sonhar em me ver casada aos dezoito anos.

— O que vai acontecer com a gente depois... — murmuro.

— Somos apenas um joguete nas mãos da realeza — responde, o que me deixa surpresa, já que pensei que ele não tinha me ouvido. Ele se senta e me olha. — Estamos jogando um jogo cheio de interesses, um jogo que envolve muitas pessoas — há algo de seriedade na voz dele. — Por isso... — aproxima-se de mim. — Tenha cuidado... eu nunca serei um marido ideal, o príncipe encantado. Não espere isso de mim.

Pela primeira vez, não estamos brigando. Pela primeira vez, o príncipe não parece um idiota.

— O palácio é algo... frio. Todos estão solitários no palácio...

Ele pronuncia essas palavras com tanta convicção que sinto um súbito terror tomar posse de mim. Eu terei que viver naquele frio palácio.

Então, ele explode em uma sonora gargalhada, dando a impressão de que tudo o que ele falou segundos atrás não passou de uma piada.

— É claro que sou um príncipe encantando — ri.

— Você tem sérios problemas! — digo, me levantando indignada. — E você não é de maneira alguma um príncipe encantando, está mais para um sapo — falo ironicamente.

— Tem certeza? Não é o que seus olhos estavam me dizendo... ou pensa que não reparei...

— Convencido... Estou vendo que vou precisar te jogar naquele lago... Andei treinando meu pé, sabia? Agora, ele está com uma pontaria ainda mais precisa.

— Oh, estou morrendo de medo da plebeia — debocha.

— Não queira pagar para ver! — ameaço.

— Ah, é mesmo? — ele se levanta. — Olha como eu estou morrendo de medo! 

— Seu...

Ele ri, igual a um garotinho travesso e começa a correr.

— Volta aqui!

Tento alcançá-lo (inutilmente). Ele é bem mais rápido do que eu, devido as suas longas pernas. Por que eu tinha que ter pernas tão curtas?

Nosso joguinho, me leva até um local cheio de árvores e com folhas secas espalhadas pelo chão. Está tudo tão silencioso... Me ponho em alerta. Não vou deixar Sua Idiota Alteza ganhar de mim. Ouço o barulho de folhas sendo pisadas, não penso duas vezes, me lanço em direção ao barulho e me jogo com tudo.

Eu e Leon caiamos, espalhando folhas por todas as direções.

— Tsc, tsc, tsc, tão previsível...

— Você não sabe perder! — pego um bom punhado de folhas e jogo em Leon.   

Rio da cara que ele faz. Uma mistura de indignação com perplexidade. Mas minha risada acaba, quando ele joga uma porção de folhas em mim.

— Ei! — jogo mais folha nele.

As folhas caem sobre nós, em uma verdadeira chuva, ou diria, guerra de folhas. Tentamos acertar um ao outro.

Estamos ofegantes devido aos esforços. Há folhas grudadas no meu cabelo, em minhas roupas, em minha pele. Folhas por todas as partes. Sinto que estou em um mar folhas. Leon não está me melhores condições. Ele cai no chão, fazendo sinal de rendição.

— Ganhei — declaro, mal conseguindo falar.

Caio no chão ao lado dele.

Olho para ele, que faz um imenso esforço para respirar. Eu compreendo cada vez menos esse príncipe. Se eu enlouquecer, a culpa vai ser inteiramente dele.   


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? E esse encontro romântico aí? Leon é cada vez mais um enigma, não? E ouço sinos de casamento badalando rsrsrsrs



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