Sobre Príncipes e Princesas escrita por Hanna Martins


Capítulo 5
Nunca recuse batatinhas


Notas iniciais do capítulo

OMG, surtando aqui. A fic recebeu duas recomendações!!! Eu fiquei tão feliz com essas recomendações que vocês não fazem ideia. Meus vizinhos, tadinhos, devem ter ficado surdos devido aos meus surtos. Capítulo dedicados as lindas Beatriz e Lopes Dias. Obrigada por confiarem na fic e me fazerem ficar sorrindo aqui o dia inteiro, suas lindas!!!
Também queria agradecer a todos vocês que comentaram, favoritaram, que estão comigo nessa jornada. Saibam que vocês me deixam cheia de ânimo para continuar trilhando esse caminho. Obrigada, seus lindos!



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— Não há como fugir de seu destino, Édipo Rei de Sófocles expressa isso. Quanto mais Édipo tentava lutar contra seu destino, mais ele se aproximava dele. Nem mesmos os deuses gregos poderiam lutar contra o destino, menos ainda um mero mortal como Édipo — a voz limpa e forte da professora Florence ressoa na sala.

Os gregos estavam certos, não há como fugir do seu destino, quanto mais você tenta escapar, mais você chega perto dele. E o meu destino está cada vez mais próximo. Dois meses, falta exatamente dois meses para meu... casamento (se tem uma palavra que peguei antipatia ultimamente é esta).

O som de canetas no papel é único que se ouve, além da voz da professora Florence. Amy olha de relance para mim, mas rapidamente volta para suas anotações. Bem, essa semana está sendo tranquila. Parece que finalmente meus colegas se acostumaram com o fato de que me casarei com um príncipe. Aquele que tem um verdadeiro fã-clube. Pelo menos, essa semana eu ainda não ouvi nenhum comentário ou pergunta sobre como eu fisguei o príncipe adorado pela nação.

Aparentemente ganhar um neto real como presente não pega bem na realeza, por isso a história verdadeira por trás do mais novo casamento real não foi divulgada. Tudo o que as pessoas sabem é que meu avô era um guarda real, e que eu e o príncipe nos conhecemos, nos apaixonamos e vamos nos casar. Uma história digna de um conto de fadas. Parece que a nação tem a sua Cinderela. Acontece que tudo o que menos sou é uma Cinderela. Não tenho sapatinhos de cristal e muito menos um príncipe encantado.

— Continuamos na próxima aula — anuncia a professora Florence. — Não se esqueçam de me entregarem o ensaio na próxima semana.

Meu ensaio sobre o teatro grego anda... na verdade, eu ainda nem comecei. Eu, simplesmente, não tenho tempo. Assistir as aulas na universidade e me manter acordada já está sendo uma grande conquista. Depois das aulas da faculdade, volto para o palácio, onde me espera uma tonelada de livros e aulas. Estou tendo aulas sobre a história da família real, com direito a aula de etiqueta real. Minha cabeça começa a girar só de pensar naquela montanha de regras (sem nenhum sentido) que preciso decorar.

Estou parecendo um zumbi.

Sinto falta de chegar em minha casa (a minha casa de verdade) jogar minhas coisas e não fazer nada.  Sinto falta de andar pelo bairro na velha bicicleta verde fazendo entregas da lavanderia de meus pais. Sinto falta de minha família sem noção. Sinto falta de me esticar no sofá e trocar os canais de TV ao acaso, enquanto escuto a tagarelice da minha mãe e do meu irmão. Sinto falta de tanta coisa. Tudo o que há para mim, nesse momento, são as frias paredes de um rico palácio.

Meus colegas começam a sair da sala. Pego minhas coisas e saio o mais rápido possível. Não queremos incidentes aqui, como aquela vez que havia uma multidão de jornalistas do lado de fora do prédio em que assisto as aulas. Sou o assunto do momento. Todos querem saber sobre mim, o que eu estudo, quais meus passatempos preferidos, o que eu como, como eu fisguei o príncipe mais cobiçado da nação...

Sebastian me espera do lado de fora da sala. Assim que ele me vê, sorri e vem até mim. Noto que algumas de minhas colegas soltam coraçõezinhos pelos olhos ao ver Sebastian. Tenho sérias suspeitas que minha turma criou um fã-clube para meu guarda-costas. Também vendo meu guarda-costas diariamente não culpo ninguém por suas atitudes.

— O que temos para hoje? — indago.

— Aula de história da família real e etiqueta real — responde.

— Vamos logo com isso — solto um suspiro.

E lá vamos nós para mais um dia muito divertido (ironia).

Tenho apenas vinte minutos de almoço, antes que minha aula comece. O almoço é servido em meu quarto (como sempre) e consiste em uma salada de agrião e laranja, sopa de cebola e um guisado de carne, e como sobremesa um doce de abacaxi.  Trato de comer o mais rápido possível. Esse é um dos únicos momentos em que tenho um pouco de liberdade. Tempo é algo muito precioso por aqui.

Meu tempo se esgota de uma maneira incrivelmente rápida. Quando eu menos espero, Daphné, minha professora de história da família real e etiqueta real, está em minha frente.

— Temos muito trabalho hoje — diz, sentando-se e cruzando suas longas pernas, enquanto consulta algo em seu tablet.  

Tudo nela sempre está perfeito, nada fora do lugar, falhas certamente são imperdoáveis para ela. Seus cabelos castanhos estão sempre presos em um coque, em que não há qualquer fio fora do lugar, sua roupa é impecável, nenhum traço de amasso. Hoje, ela usa um blazer preto com risquinhos brancos que combina com sua saia e seu sapato. Aliás, sempre fico impressionada como ela consegue se equilibrar nesses saltos enormes. Eu não consigo dar um passo sequer em cima dessas coisas, tenho a sensação que estou andando com uma perna de pau. Pelo menos, ela parou de insistir para que eu andasse com esses saltos depois de minhas constantes quedas. Se eu continuasse insistindo, provavelmente, teria quebrado uma perna ou duas. Definitivamente, sou um caso perdido para ela.

A aula é monótona. Daphné explica tudo com uma voz baixa, desprovida de sentimentos, e quase automática, fazendo pausas calculadas. Um belo sonífero. Recomendo as aulas de Daphné para quem sofre de insônia. Estou quase fechando meus olhos, quando algo me faz despertar completamente.

— Hoje, você irá fazer sua primeira aparição pública.

— O quê? — quase grito. Daphné franze o cenho, claro, princesas não devem gritar.

— No evento de caridade — responde com sua voz monótona. — Será algo pequeno — como se isso fosse me ajudar. — Acreditamos que você deva ser introduzida as aparições públicas aos poucos, sem grandes alardes.

Por que sou sempre a última a saber das coisas importantes que dizem respeito a minha pessoa? Um pouco de consideração não faria mal.

— Por isso, acabaremos mais cedo hoje. Você precisa se preparar para a ocasião. É algo simples — o conceito de simples pode ser diferente para mim. — Lembre-se do que estudamos até agora — isso soa como “não nos envergonhe”.

Daphné logo se retira. Porém, mal fico dois segundos sozinha e uma equipe formada por maquiadores, cabeleireiros e estilistas entram em meu quarto. Sim, tenho uma equipe responsável por escolher minhas roupas, tornar meu cabelo apresentável e fazer minha maquiagem em ocasiões importantes.

Nunca me interessei por maquiagem e nunca me sinto eu mesma quando a uso. Enquanto, todas as garotas estavam interessadas em aprender truques de maquiagem, eu estava interessada em ler os livros da biblioteca do colégio. Sim, sou diferente do restante do mundo e não me importo com isso.

As roupas são caras e desconfortáveis. Prefiro muito mais minhas calças jeans e minhas camisetas.

Pelo menos, consegui me livrar deles para ir a faculdade (com muita insistência). Assim, não tenho que passar por este ritual longo e cansativo todas as manhãs e posso ter mais alguns minutos de sono. Preciosos minutos. 

Meu rosto é praticamente redesenhado com cremes, pós e não sei mais o que. Meu momento predileto do dia vai ser quando retirar isso e voltar a ser eu mesma.

Empurram para mim um vestido curto com rendas em um tom pastel e um blazer na tonalidade azul marinho. Ainda bem que escolheram um sapato de salto pequeno, pelo menos poderei andar. Me sinto vulnerável usando vestidos. Eles dão a sensação de insegurança, de falta de liberdade, principalmente um vestido curto desses. Mas, não posso negar que o vestido fica bem em mim.

Para finalizar, meus cabelos são presos em uma trança despojada.  

Pronto, a primeira etapa terminou.

— Você está pronta? — pergunta Sebastian, entrando no quarto, enquanto a equipe sai.

— Estou — respondo.

— Vamos, Leon está te esperando no carro.

Eu sabia lá fundo que eu não iria a esse evento sozinha. Mas preferi ignorar essa constatação. Eu e a Sua Idiota Alteza não temos nos cruzado muito ultimamente. Tenho andado muito ocupada, e ele, bem, deve estar fazendo sei lá o que os príncipes fazem.

Sebastian abre a porta para que eu entre no carro.

— Vou seguir vocês na retaguarda — fala, apontando para um carro que está atrás.

Normalmente, Sebastian fica no mesmo carro em que estou.

Entro no carro.

Leon resmunga ao me ver.

— Finalmente!

Esse aí sempre se levanta com o pé esquerdo da cama.

— Olá para você também — digo, o olhando, e que injustiça, enquanto eu preciso usar um vestido em um dia frio, ele está vestindo um suéter azul de lã, nem preciso dizer que estou cobiçando esse suéter.

— O que foi? — pergunta ao ver meu olhar cobiçador.

— Nada — respondo. — E como vai seu traseiro? — não perco a oportunidade de lembrar ao principezinho mimado do poder meu chute.

— Vai bem, obrigado — responde ironicamente.

— Ah, bom saber... meu pé está precisando de exercício — sorrio.

Ele me encara.

— O que foi? Eu não disse nada — falo inocentemente, estou convivendo muito com Charlie.

Volto meu rosto para a janela do carro.

Não sei muita coisa sobre esse evento, apenas o que Daphné me explicou, ou seja, praticamente nada. Olho de relance para Leon que suspira impaciente. Ele está acostumado com esses eventos. Afinal, desde que nasceu precisa frequentá-los. É extremamente comum encontrar fotos dele nesses eventos em revistas, jornais e sites. Ele sempre aparece sorrindo com a expressão mais agradável do mundo. Tenho que confessar que desejaria ter um pouco de sua experiência. Locais cheio de pessoas me deixam angustiada, muito mais se são desconhecidos. Sou assaltada por um frio na barriga.

— O que foi? — sou pega em flagrante, lançando um olhar em sua direção.

— Nada...

Ele me olha desconfiado.

— Esse evento... vai demorar para acabar?

— Não sei, por quê?

— Tenho que fazer um trabalho para a faculdade... — respondo entre um suspiro.

— Ah... sempre temos algum trabalho da faculdade para fazer... — ele até que não me soa desagradável. O que há de errado com ele?

Leon também faz faculdade. Estuda economia na universidade mais tradicional de nossa nação. Muitos membros da realeza frequentaram essa universidade. Dizem que ele é um ótimo aluno, mas tenho minhas dúvidas.

— Não se preocupe, plebeia — é, eu tirei conclusões precipitadas.

— Isso com certeza vai me consolar — respondo cheia de sarcasmo.

Volto a olhar pela janela.   

Identifico imediatamente o local do evento pelo aglomerado de pessoas que circulam em volta. É, o meu conceito de pequeno e simples é totalmente diferente do de Daphné e da realeza.

O carro para. Posso voltar? Tenho mesmo que sair desse carro? Aqui está tão quente e confortável.

Leon é o primeiro a sair. Respiro fundo e também saio.

O ar gelado da tarde me pega. Mais uma vez, me vejo cobiçando aquele suéter. Meu blazer nem de longe é tão quentinho. Eu só quero uma roupa quentinha!

Sinto todos os olhares voltando-se para o futuro casal real e flashes são disparados.

O que eu faço? Cada flash é uma flechada em mim. Olho para Leon que encara tudo com muita naturalidade. Nós dois estamos bem próximos. Ele olha para mim, sorri, um sorriso realmente encantador, terno e gentil e oferece seu braço para mim com um gesto muito educado e amável. Acho que estava certa sobre as aulas de atuação que os príncipes recebem. Leon, aliás, deve ter tirado um imenso A. Não é possível que aquele cara mal-humorado de minutos atrás, está, agora, sorrindo para mim dessa maneira totalmente adorável. O sorriso dele me pegou tão desprevenida que quando dou por mim, estou com meu braço apoiado no seu. 

Começamos a andar lentamente. Leon tem um sorriso encantador nos lábios, enquanto eu devo estar com uma expressão confusa e assustada. Se Daphné me visse, com certeza, me daria um grande F. “Lembre-se do que estudamos até agora”, a voz monótona dela ressoa em minha mente. Faço meu melhor esforço para esboçar um sorriso.

Fotos são tiradas. Sorrisos são dados. E sob os olhares e os flashes, finalmente, entramos no local em que será realizado o evento. Um jardim. Perfeito. Está frio, e eu estou com um vestido curto. Ninguém pensa em mim (que grande novidade).

Há muitas pessoas e fotógrafos espalhados pelo jardim. Ainda continuo segurando o braço de Leon. Há vários olhares sobre mim, olhares demais. Pelo menos, Leon é alto e forte o suficiente para me dar a sensação de que posso jogá-lo na frente e sair correndo se algo acontecer. Para alguma coisa Sua Idiota Alteza deve servir, não é mesmo?

— Leon — uma voz o chama.

Ele volta-se para a voz, eu acompanho seus movimentos.

Rosto delicado, quase angelical, adornado por cabelos louros de um tom platinado. Olhos azuis cristalinos. Esquia e alta.

— Guinevere — cumprimenta Leon.

Ela sorri. Guinevere realmente se parece com uma daquelas princesas dos contos de fadas. A nação adora-a (exceto as garotas que perderam seu amado príncipe Francis no ano passado devido ao casamento. Estas aí realmente não são fãs de Guinevere).  

— Você deve ser a Emma — olha para mim.

Assinto.

— Seja bem-vinda, Emma — seu sorriso é muito simpático.

— Obrigada...

— Francis não está aqui? — pergunta Leon.

— Não, ele está viajando — responde.

Não será dessa vez que conhecerei o belo Francis, o príncipe herdeiro e irmão mais velho de Leon e Charlie. Ele é um príncipe muito ocupado, sempre viajando pelo mundo, ajudando em causas humanitárias e ambientais. A princesa Guinevere também está sempre ocupada com essas causas. Aliás, ela era uma médica antes de se casar com Francis. Os dois se conheceram, quando eram crianças. Namoraram na faculdade. E, finalmente, veio o casamento.

— Preciso deixar vocês. Divirtam-se.

Guinevere vai falar com algumas pessoas. Eu e Leon continuamos a andar até encontrarmos uma mesa com uma plaquinha com nossos nomes. Claro que somos acompanhados o tempo todo por flashes e olhares. Somos a atração principal de hoje.

Quando chegamos à mesa, descubro algo trágico. Não estamos sozinhos. Will e Muriel estão sentados à mesa. Eles sorriem ao nos ver. Will com seu sorriso sexy e Muriel com aquele sorriso nenhum um pouco verdadeiro. Esse evento vai ser mais longo do que eu imaginava. Solto o braço de Leon e me sento no local destinado à minha pessoa.

— Olá, Emma — cumprimenta Will com aquela voz baixinha, quase rouca e, sobretudo, sexy.

— Olá — respondo.

— É uma pena que Lyane não pode vir — diz Muriel. — Ultimamente, ela não está comparecendo a muitos eventos...

— É — concorda Will. — Realmente, uma pena que a Lyane não pode vir... mas com tudo o que tem acontecido...

— Leon — ela hesita por um breve momento. — Não seria bom se Lyane estivesse aqui?

Ele a olha, mas rapidamente desvia o olhar e cumprimenta com um aceno um velho senhor que está sentado a algumas mesas de nós.

— O Duque e a Duquesa de Sahay estão aqui. Melhor irmos os cumprimentar — ele se levanta e estende a mão para mim.

Leon deve ter comido comida estragada ou batido a cabeça. Ou melhor, ele comeu comida estragada e depois bateu a cabeça.

— Vamos — insiste gentilmente com a mão estendida.

Noto vários olhares em mim. Pego a mão que ele me oferece e me levanto. Ele oferece seu braço, aceito-o e, sem trocarmos nenhuma palavra, caminhamos até o casal.

— Duque, Duquesa — cumprimenta Leon de um modo totalmente amável.

Não posso evitar lançar um furtivo olhar em sua direção.

— Sua Alteza Real — cumprimentam o Duque e a Duquesa inclinando um pouco a cabeça.

— Como tem passado? Duquesa, como está seu reumatismo? — indaga com um tom preocupado. Um tom que soa muito real.

Certo príncipe certamente comeu comida estragada. De onde veio essa amabilidade toda?

— Estou bem — responde a Duquesa com um sorriso gentil. Ela lembra aquelas velhinhas que sempre são escolhidas para representar o papel de avós no cinema.

— E como está sua asma, Duque?

— Obrigado por perguntar, Sua Alteza Real. Eu melhorei um pouco depois da indicação daquele médico — responde.

— E quem é essa jovem? — indaga a Duquesa.

— Essa é Emma, minha noiva — ele toca suavemente meu ombro ao me apresentar.

Ouvir Leon pronuncia as palavras “minha noiva” ao se referir a minha pessoa, é totalmente surreal.

Cumprimento-os e os dois sorriem bondosamente para mim.

— Você é tão jovem, criança — fala a Duquesa. — Faço votos para que vocês sejam muito felizes.

Leon sorri gentilmente e faz algumas outras perguntas sobre a saúde do Duque e da Duquesa.    

Ele parece ter incorporado o príncipe encantado hoje. Com certeza, ele fez aula de atuação. Paguem bem o professor de teatro da família real, ele merece, depois de tantos esforços.  

Depois de cumprimentar a Duquesa e o Duque em vez de voltarmos para nossa mesa, Leon resolve ir cumprimentar outras pessoas e me leva junto. Sou apresentada a tantas e tantas pessoas que depois de um tempo não lembro o nome de mais ninguém.

Meus pés já estão doendo e meus lábios estão secos de tanto sorrir. Vou ter câimbras no rosto. Nada aparece afetar Sua Alteza Real e seu sorriso encantador. É, o professor de teatro precisa de um aumento.

Só voltamos para a mesa, quando alguém sobe no palco que foi improvisado no meio do jardim. E fico feliz ao descobrir que um garçom trouxe alguns petiscos para nossa mesa.

Já anoiteceu. Luzes chinesas estão espalhadas por todo o jardim, deixando-o bem iluminado.

Não presto muita atenção ao discurso de abertura. Quando você está com frio, ouvir outras pessoas falando não é muito convidativo. Depois do discurso, criancinhas de um coral cantam. As criancinhas do coral saem e outras crianças, agora, dançarinas, ocupam os seus lugares.

Will e Muriel conversam entre cochichos. Ele é ótimo em fazer piadinhas, o que sempre provoca algumas risadinhas em Muriel. Leon está sentado entre seu primo e eu, o que me impede de escutar a maior parte da conversa.

Estou cansada, com frio, meus pés doem e tenho fome (aqueles petiscos não foram suficientes). Eventos como esse deveriam ter mais comida, constato. Leon apenas sorri, enquanto olha para o palco, nem por um momento demonstra outro sentimento que não seja amabilidade e gentileza. Nada parece o perturbar. Nem frio, nem cansaço. E eu ainda estou cobiçando seu suéter.  

Quando o evento dá sinais de acabar, quase começo a dançar Macarena. E, olha, até dançaria, se meu pé não tivesse virado um amontoado de bolhas.

— Vamos sair daqui — Leon sussurra em meu ouvido, enquanto bate palmas para o último número da noite, um jovem que toca piano.

Assinto imediatamente. Ele se levanta com aquele mesmo sorriso, encantador, gentil e doce que usou durante todo o evento.

— Estamos indo — fala para Muriel e Will.

— Já? — indaga Muriel com a sobrancelha levantada.

— Gostaria de ficar mais — diz Leon. — Mas, precisamos ir.

— Que pena — lamenta Will. — Você nos roubou Emma praticamente durante todo o evento...

Leon olha para seu primo.

— É mesmo? — há uma pitada bem grande de ironia em sua voz.

— Foi uma pena, Emma, não podermos ter conversado mais.

— Com certeza, uma pena — concorda Muriel como se realmente lamentasse.

Acho que alguém envenenou a comida desse povo hoje...

— Mas, certamente teremos outras ocasiões para conversamos — pondera Will.

— Claro — digo. — Teremos outras oportunidades.

— Mal posso esperar... — Will lança um de seus típicos sorrisos. Muitas garotas teriam sonhos impróprios depois disso.

Leon estende sua mão para mim.

— Vamos, Emma.

Me apoio em sua mão, que está quente, e me levanto. Sinto olhares e flashes sobre nós. Começamos a sair, seguidos, obviamente, pelos olhares e flashes.

Respiro aliviada, quando vejo Sebastian segurando a porta do carro para nós. Todos os meus músculos relaxam. Sebastian tem grandes poderes.

Leon não se afasta de mim, e inclusive me conduz até a porta do carro. Aposto que isso tem a ver com o fato de que há olhares sobre nós. E o príncipe perfeito da nação não pode perder nunca o seu posto. Ótimo, mais garotas tendo os seus sonhos corrompidos graças a Sua Idiota Alteza.

Minha primeira atitude ao entrar no carro é me livrar dos meus desconfortáveis sapatos. Meus pés estão até com bolhas.

Leon se joga no banco do carro. Um dos guarda-costas senta-se no banco de carona do motorista e passa uma pequena sacola para Leon.

— Comprei o que havia me pedido, Sua Alteza Real.

— Obrigado — fala, pegando a sacola.

O carro começa a andar. Encosto minha cabeça na janela. Estranho, mas sinto um cheiro agradável no ar, algo que faz o mundo muito melhor, que deixa as pessoas mais felizes e com um humor muito bom... batatinhas fritas.

Leon está comendo batatinhas fritas! O príncipe está comendo comida de meros mortais!

— O que foi? — pergunta ao ver meu olhar abismado. — Estou com fome. Quer?  — estende um saquinho de batatinhas para mim.

Ainda continuo perplexa.

— Estão sequinhas e crocantes... Se você não quer, melhor para mim, então.

— Me dá aqui essas batatas — falo, pegando o saquinho que ele me estende. Eu nunca irei recusar batatinhas fritas. Isso seria um sacrilégio.

Realmente, as batatinhas estão sequinhas e crocantes, verifico ao provar uma. Olho para Leon que continua a comer suas batatas pacificamente.

Esse príncipe é um enigma para mim. Em um momento é um completo idiota, depois, um verdadeiro cavalheiro, e já em outro momento está me oferecendo batatinhas fritas sequinhas e crocantes.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Muriel ou vaquiranha como a Graciele Santos a chama (eu adoro esses apelidos que vocês criam!) sempre por perto, né? E esse outro lado do Leon, o que vocês acharam? Será que nosso príncipe ainda está escondendo mais outros lados? Ele até ofereceu batatinhas fritas sequinhas e crocantes para a Emma!



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