Sobre Príncipes e Princesas escrita por Hanna Martins


Capítulo 4
Sobre conselhos


Notas iniciais do capítulo

Surtando aqui!!! OMG, fiquei tão feliz em receber a primeira recomendação da fic! Ainda mais porque eu não esperava receber uma recomendação no comecinho da fic!! Capítulo dedicado a Gabi Ferreira, que me deixou flutuando aqui de felicidade. Obrigada, sua linda por confiar na fic e dar esse belo presente!



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Meu temperamento, às vezes, pode me levar longe demais. Charlie agora está me arrastando para o clube de hipismo. Claro que não estamos sozinhas, Sebastian e outros guarda-costas nos acompanham. Tenho que me acostumar com o fato de que sempre vou ter alguns guarda-costas em meu encalço. Sempre. 

— Bash, seja bonzinho e tente não nos seguir — pede Charlie, quando o carro atravessa os portões do clube.

Ele olha para ela.

— Só estou cumprindo o meu dever.

— Cumprindo bem demais — lamenta Charlie com um muxoxo. — Seja um pouco displicente de vez enquanto, homem!

— Certo — ele fala ironicamente. — Eu já disse, Charlotte, seus truques não funcionam comigo.

— Pobre Emma — ela me dá um tapinha consolador nas costas. — Eles realmente pegaram pesado com você... nomear Bash como seu guarda-costas foi golpe baixo.

Sebastian finge que não escutou os lamentos da princesa caçula.

Charlie e eu saímos do carro, com os guarda-costas em nosso encalço, obviamente. E, que surpresa (ironia), o local que serve como clube de hipismo é gigante. Todos os locais frequentados pela realeza são grandes, imponentes e luxuosos. Devo estar utilizando muitos estes adjetivos ultimamente. Mas, o que posso fazer, se estes lugares são exatamente assim. O clube se parece um tanto com um parque, cheio de árvores.

Charlie me conduz até um prédio. Um elegante prédio, que sinalizada ser uma construção recente. Entramos em uma sala. Uma sala que lembra algo campestre, adequada para um dia frio, tem até uma lareira. As paredes são cobertas com tapeçaria que estampam motivos de cavalaria medieval. Há algumas pessoas no local. Porém, elas estão ocupadas conversando em pequenos grupos e não notam nossa presença. Em um canto descubro os cabelos cor de fogo de Lyane e ao seu lado Muriel. Charlie sorri.

— Precisamos cumprimentá-las — diz, caminhando em direção a elas.

Sigo Charlie. Afinal, estou aqui, graças ao convite delas. Às vezes, temos que cumprir tarefas não muito agradáveis.

— Lyane! Muriel! — exclama Charlie.

— Olá, Charlie — cumprimenta Muriel. — Como vai, Emma? Estávamos esperando por vocês. Sentem-se — convida, apontando para o sofá.

Ela é gentil. No entanto, há algo de forçado em sua gentileza. Seu sorriso não soa natural.

Meus olhos procuram por Sebastian e os outros guarda-costas. Eles estão a uma certa distância de nós. É estranho, quase bizarro, ser seguida por outras pessoas. Não me sinto nenhum pouco confortável.

— Aceitam um chá? — indaga Lyane, estendendo xícaras para mim e Charlie. — Ainda falta um tempinho para o almoço.

Aceito o chá que Lyane oferece. Ela sorri amavelmente, enquanto nos serve o chá.

— E Leon? — pergunta Muriel.

— Não sei — responde Charlie. — Ele falou iria vir almoçar aqui, daqui a pouco ele aparece.

Muriel assente, tomando um grande gole de chá. Lyane lança um discreto olhar para ela. Porém, esta finge que não percebeu.

— Podemos dar um passeio para você conhecer o lugar — sugere Charlie, muito empolgada. A princesa caçula tem muita energia.

Assinto imediatamente. Dar um passeio será muito mais interessante do que ficar aqui com Muriel.

Charlie e eu nos levantamos. No entanto, não chegamos a dar um passo (pelo menos eu não dou um passo), Charlie começa a correr em direção a um rapaz que acabou de chegar.

Cabelos castanhos um tanto bagunçados, rosto belo e sedutor, pele bronzeada. Alto e elegante. As roupas de montaria favorecem muito bem o seu físico. A calça justa de montaria realça suas pernas longas, e a camiseta polo rosa destaca seu peitoral e bíceps. William. Como eu poderia não reconhecer o príncipe conquistador de nossa nação? A lista de conquistas de William é extensa, atrizes, modelos, cantoras... Digamos que o príncipe sempre anda bastante ocupado. William é o filho da princesa Sylvia, irmã mais nova do rei Carlos. Na verdade, ela é a irmã gêmea do rei. 

Charlie o envolve em um entusiasmado abraço.

— Não sabia que você havia chegado da Itália!

— Cheguei ontem — diz, bagunçando os cabelos dela.

— Você deveria ter avisado — reclama.

William sorri. Charlie se pendura no braço dele e eles caminham até nós.

— Olá, Muriel, Lyane — cumprimenta, seus olhos castanhos quase negros e terrivelmente sedutores se detêm em mim.

— Essa é Emma — apresenta Charlie.

— Ah! Emma, a famosa Emma — praticamente soletra cada sílaba de meu nome. Há algo de sensual no modo que ele fala. Aliás, ele transpira sensualidade por todos os poros.

Ele estende a mão para mim. Aperto-a. Suas mãos são fortes e quentes.

— Prazer, Will — se apresenta, puxando a minha mão e depositando um beijo.

Espera, ele beijou a minha mão? Como? Isso não era uma coisa só de filmes? A realeza realmente vive em um mundo diferente.

Will lança seu melhor sorriso e senta-se entre Lyane e Muriel.

— Sentiram minha falta?

— É, claro — responde Muriel.

— E, você, Lyane?

Ela sorri e desarruma seus cabelos. Parece que algumas garotas estão imunes ao charme do príncipe conquistador. Will devolve seu sorriso.

— Você não irá montar hoje? — ele pergunta a Lyane, após observar que ela não veste nenhuma roupa de montaria.

— Não... apenas vim acompanhar Muriel ao clube.

— Que pena — lamenta Will. — Você é a melhor amazona de nosso clube, eu queria cavalgar com você... — esse príncipe não perde tempo em serviço. O charme que ele joga é tão forte que posso ver claramente o motivo de uma lista de conquistas tão extensa.  — E, você, Muriel? — sua voz é suave como o veludo.

— Não, hoje, não vou querer montar.

— Que pena...

Seus olhos castanhos, quase negros, voltam-se para mim.

— Emma? — por que quando ele fala tem que colocar tanta sensualidade em sua voz?

— Não, eu não sei montar.

— Posso te ensinar — se prontificar.

— Não! Obrigada.

Will sorri.

— Eu não mordo...

— Isso é mentira — interfere Charlie. — E aquela vez que você me mordeu, enquanto estávamos brincando, hein? — provoca com um sorriso travesso nos lábios.

Will ri.

— Você tem razão, Charlie, eu mordo às vezes, mas não sempre.

— Sei... — Charlie dúvida com uma das sobrancelhas arqueada.

— Bem, se vocês não querem montar, vamos dar um passeio. 

— Claro — assente Charlie entusiasmada.

Lyane e Muriel se juntam ao nosso passeio também. E, obviamente, que nossos guarda-costas nos seguem. É, verdade que eles fazem todo o possível para se manterem a certa distância de nós, mas isso não significa que dá para se esquecer de suas presenças.

Vamos até os estábulos. Há muitos cavalos aqui. Cavalos que devem valer uma pequena fortuna. Will aponta para alguns que pertencem a sua família. Entre um cavalo e outro, ele aproveita para flertar com Muriel. O príncipe leva a sério a história de não perder tempo. Será que ele está querendo entrar para o livro dos recordes ou algo do gênero? Com esse empenho todo, ele logo estará lá. 

— Tem certeza que não quer que eu te ensine a montar? — pergunta ao me ver acariciando a cabeça de um dos cavalos.

— Acho melhor não... Outro dia, talvez...

— É claro — sorri, mostrando os dentes brancos perfeitos, do tipo que estariam sem sombra de dúvida em um comercial de pasta de dente. — Você deveria pedir para meu primo. Ele será um professor bem melhor do eu, não é mesmo, Leon?

Me volto e vejo Leon nos observando. Quando foi que ele chegou aqui?

— Se você diz, primo — fala Leon com um sorriso presunçoso.

Will ri e dá um pequeno tapinha no ombro de Leon.

— Uma pequena competição? — Will aponta para os cavalos.

— Claro.

Ele está vestindo os trajes de montaria, botas especiais para montar, calça de montaria (que realça muito bem suas longas pernas, tenho que admitir), camiseta polo preta que se ajusta perfeitamente em seu corpo (ele realmente tem um belo corpo, mas vamos fingir que eu nunca admiti isso, ok?).

Leon pede para que um dos empregados prepare um dos cavalos para ele. Um cavalo totalmente preto com um pelo muito reluzente. Will escolhe uma égua branca, tão branca quanto a neve.

Os dois montam seus cavalos e vão para o hipódromo. Charlie os segue, louca para ver quem irá ganhar. Lyane e Muriel também vão até lá. Porém, eu não estou muito a fim de ver essa competição. Além disso, noto que meus guarda-costas não estão à vista. Sei que eles estão por perto, mas me deixem ter a sensação de liberdade por apenas uns breves minutos, sim?

Saio dos estábulos e vou dar uma volta pelo clube. Caminhar sozinha é tão bom. Aproveito cada segundo dessa quase liberdade.

No entanto, meus breves momentos de solidão não duram muito. Por que ela não ficou lá apreciando a beleza de certos príncipes?

— Dando um passeio, Emma? — pergunta Muriel, se aproximando de mim. Ela anda como uma modelo em uma passarela.

— Sim — respondo.

Ela me lança aquele olhar analisador.

— E como vão as coisas no palácio, princesa? — embora seus lábios sorriem, seus olhos não os acompanham.

— Eu não sou princesa — sorrio. — E as coisas no palácio estão... interessantes.

Muriel continua com aquele sorriso que pode ser tudo menos verdadeiro.

— Vou te dar um conselho, Emma — realça cada sílaba de meu nome. — O príncipe Leon não é tão príncipe assim, cuidado para que sua futura coroa não seja tirada de sua cabeça. Ele adora trocar de princesas.

Sério que eu tenho que escutar isso? Maldita hora que meu avô perdeu sua sanidade e resolveu aceitar o presente daquele rei com miolos estragados devido ao peso da coroa.

— Não posso fazer nada se ele fizer isso, não é mesmo? — utilizo todo o meu sarcasmo.

— É só um conselho, Emma. Não leve para o lado pessoal.

Por que as pessoas amam dar conselhos, quando ninguém pede?

Antes que eu responda qualquer coisa, Will e Lyane se aproximam de nós.

— Estavámos te procurando, Muriel! — diz Lyane.

— Então quem ganhou? — indaga Muriel, olhando para os dois.

— Leon — responde Lyane.

— Ele é um cavaleiro bem melhor do que eu, preciso admitir. Você perdeu uma bela competição, Emma — Will sorri para mim.

— Que pena... — falo apenas por falar, porque realmente não lamento ter perdido esse espetáculo.

Will se aproxima de mim.

— Espero que tenhamos outras oportunidades — sua voz é baixinha e quase rouca. — Para demonstrar meu talento...

— Claro — Leon (não sei como ele apareceu) me puxa pelos ombros, me afastando de Will e levando meu corpo para próximo do seu.

Esse dia está estranho.

Will e ele sorriem um para o outro.  

— Vamos, já está na hora do almoço — fala Lyane.

Os três começam a andar. Eu e Leon ficamos para trás.

Leon ainda tem sua mão em meu ombro. Estou bastante próxima dele. Não gosto dessa proximidade toda. Me afasto de Leon com um safanão. Estico o meu pescoço e o encaro — por que ele tinha que ser tão alto e eu tão baixinha? — com minha sobrancelha arqueada.

— O chute no seu traseiro afetou o seu cérebro?

Leon sorri daquele modo petulante de sempre, como se soubesse coisas que eu não sei. Como odeio esse sorriso.

— Um conselho...

— Ótimo, todo mundo resolveu me aconselhar hoje! — digo.

Leon me olha interrogativo, porém prossegue com seu conselho.

— Não chegue tão perto de Will.

— E, por quê?

Os olhos incrivelmente verdes de Leon se detêm nos meus.

— Will pode engravidar uma garota só de falar com ela — ele diz isso de modo sério. O que deixa a situação muito hilária. Não posso evitar soltar uma risada.  

— É, aquele chute afetou o seu cérebro.

Leon me olha por um breve instante e depois desvia seus olhos de mim, como se eu fosse uma causa perdida.

— Depois não diga que eu não avisei...

— Obrigada pelo conselho — digo ironicamente. — Mas estou dispensando conselhos hoje.

— Plebeia, você deveria me ouvir.

— Claro.

— Você... — ele começa a falar, mas hesita no meio do caminho.

— Emma, Leon! — grita Charlie, vindo a todo vapor em nossa direção. — Estava procurando por vocês! — ela se detém no meio do caminho, alternando seu olhar entre eu e Leon. — Hum... já entendi, acho melhor eu voltar... vocês resolveram namorar escondidos.

— Charlie! — eu e Leon falamos em uníssono.

Ela ri.

— Ok, vocês querem namorar em segredo.

— Charlie! — novamente eu e Leon falamos juntos.

— Não vou contar para ninguém. O segredo de vocês está bem guardado comigo — ela fala baixinho.

Leon resmunga algo.

— Por que tão sérios? — ela lança um olhar meio malicioso em nossa direção. — Vamos, está na hora do almoço.

Charlie se coloca entre eu e Leon e puxa nossos braços. Ela preenche nossa caminhada com sua tagarelice.

Vamos para um grande salão, que fica localizado no grande prédio. Uma espécie de restaurante, com direito a garçom e tudo mais. O local é luxuoso (como todo o resto aqui). Há várias pessoas almoçando. Lyane, Muriel e Will estão em uma das mesas, esperando por nós.

Quando o garçom traz o cardápio fico um tanto tonta com a variedade de coisas. Há coisas aqui que nunca provei e nem sei o que é. Nomes complicados demais. Por que complicar tanto? A comida não irá ficar mais saborosa devido a nomes bonitos. Essa não é nenhuma competição do tipo quem tem o nome mais criativo ou bonito ganha. Procuro até encontrar algo que tenho certeza do se trata, salmão com molho de alcaparras.

— Blanquette de vitela — pede Muriel ao garçom, com direito a sotaque francês e tudo mais.

— Coq au vin — diz Lyane, também com um sotaque francês.

Will e Leon também pedem Coq au vin. Charlie pede camarão.

— Como foi sua viagem à Itália? — indaga Lyane a Will.

Ele começa a tagarelar sobre a viagem e não se cala um minuto sequer. Alguns membros da realeza realmente gostam de falar. Isso é bom, o almoço corre rápido.   

Assim que terminamos de almoçar, eu e Charlie voltamos para o palácio, não tenho permissão para me ausentar por muito tempo. O que eu disse sobre aquilo ser uma bela prisão luxuosa?

Estou cansada e preciso tirar um belo cochilo. Entretanto, logicamente, não será isso que farei, já que Sebastian me avisa que a rainha está esperando por mim no gabinete real.

 — Você parece cansada... — observa Sebastian, enquanto me conduz por corredor.

— É... receber conselhos cansa — murmuro.

Ele sorri. Já disse que o sorriso dele é incrível? Tenho que parar de me repetir, mas sou totalmente inocente, não tenho culpa se ele adora dar um sorriso destes que deixam os hormônios de qualquer garota enlouquecidos.

— Vou esperar aqui — fala, enquanto abre a porta branca decorada com desenhos em relevo dourados do gabinete real.

A rainha. Só de pensar em falar com ela meu estômago se contorce. Respiro fundo e entro.

Ela está inclinada sobre alguns papéis, sentada perto da grande escrivaninha, que fica no centro da sala. Veste-se de forma simples, mas nem por isso menos elegante, usa um vestido de tom pastel com manga curta. Os belos cabelos dourados estão presos em coque, nem um fio de cabelo está fora do lugar. Um colar de pérolas é a única joia que utiliza. Também não usa quase nenhuma maquiagem, e mesmo assim, ela é a mulher mais bela que já vi.

Seus olhos verdes se erguem dos papéis e se detêm em mim.

— Por favor, sente-se, querida — aponta a cadeira vazia em sua frente.

Caminho de forma desajeita até ela. Não fui criada para me sentar perante reis e rainhas (muito menos para me casar com um príncipe).

— Como está, querida? Seus alojamentos estão do seu agrado?

— Sim, eles são bons — respondo.

— Nada lhe falta?

— Não... — sei que ela não me chamou aqui para falar sobre meu conforto.

A rainha Felipa assente. Um delicado sorriso paira em seus lábios.

— Na próxima semana, você poderá voltar para a universidade.

Sorrio. Finalmente, uma boa notícia.

— E quando eu volto para minha casa? — tenho que esconder meu entusiasmo com a expectativa de voltar para a casa.

Ela cruza as mãos sobre a escrivaninha.

— Achamos que para sua segurança, você deve permanecer no palácio.

Me sinto como um balão murchando.

— E a minha família?

— Eles devem ficar na casa de campo até seu casamento.

Casamento. Ao escutar a palavra automaticamente fecho fortemente a minha mão

— Não se preocupe, querida, vamos cuidar de tudo.

Claro, como se isso fosse solucionar todos os problemas.

— E quando será? — pergunto com medo da resposta.

— Exatamente daqui a três meses.

Três meses.

Três meses.

Três meses.

Por favor, alguém me diz que entrei por engano em um quadro de Salvador Dalí!


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? E esse príncipe conquistador que apareceu será que vai causar encrencas por aqui? Muriaca (apelido dado pelo Mari / Paçoca com Chocolate) mostrando suas asinhas, né? Por que será que ela está implicando com a Emma? E o casamento se aproxima, logo, logo teremos o casal encrenca subindo ao altar!



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