Naquele momento a única coisa que Scorpius desejava era não ter discutido com Albus. Ele seria o seu maior apoio, naquele momento. Ele seria aquele que o impediria de fazer asneiras. De dizer coisas que não deveria. De dizer algo que pudesse deixar Rose furiosa.

Mas eles tinham discutido. O tema era o mesmo dos últimos dias. Octavia. Albus continuava irredutível apesar de há alguns dias ter afirmado que não queria perder Octavia.

—Scorpius. – chamou Rose pela terceira vez enquanto caminhavam, de mãos dadas, em direção à biblioteca. A hora de estudo com Liam Kane tinha chegado.

—Diz princesa. – disse Scorpius voltando ao mundo real.

—Estava a perguntar o que querias estudar agora. – disse Rose olhando para o namorado – Estavas a pensar em quê?

—No Albus. – respondeu Scorpius omitindo a parte que estava a pensar em Albus para que este o ajudasse a passar o tempo com Kane sem se passar com ele.

—Ele vai voltar logo a falar contigo. Vocês não aguentam muito tempo sem se falarem. – disse Rose encorajando o namorado.

A biblioteca estava completamente cheia. Este era o grande sinal que os exames estavam próximos. Faltava cerca de duas semanas.

Mas antes dos exames ainda existia a última visita a Hogsmeade e a final de Quidditch. Ravenclaw contra Gryffindor. Muitos alunos estudavam afincadamente naqueles dias para ter esses dias livres para se divertirem.

—O Liam guardou-nos mesa. – disse Rose apontando para Liam que se encontrava numa mesa perto da bibliotecária de Hogwarts, Miss Williams – Vamos, Scorp.

Scorpius sabia que não tinha alternativa. E sabia também que não podia reclamar. A discussão entre os dois ainda estava muito fresca. E Rose tinha a total razão nela. A última coisa que Scorpius podia fazer era dizer algo contra Liam. Aquilo ficou claro. Rose achava ridícula a hipótese de Liam se ter aproximado dela por causa do maníaco dos bilhetes. Já Scorpius não achava assim tão ridículo.

Mas, como se fosse uma luz ao fundo do túnel, Octavia apareceu à sua frente cheia de livros. Possivelmente estava à procura de mesa.

—Olha se não é o meu casal preferido. – disse Octavia cumprimentando Rose e Scorpius.

—Sempre soube que me adoravas. – respondeu Scorpius mostrando o seu melhor sorriso.

—Não sonhes com isso, Malfoy. Vocês são o meu casal preferido mas adorar, só adoro a Rose. – disse Octavia mostrando também o seu melhor sorriso.

—Escusas de esconder o teu amor por mim, Octavia. – provocou Scorpius – Vais ficar por aqui a estudar?

—Eu ia mas não tenho mesa. – respondeu Octavia. Scorpius sabia o que tinha de fazer a seguir.

—Podes juntar-te a nós. – ofereceu Scorpius – O Kane guardou-nos mesa.

Octavia não deixou de notar o desprezo de Scorpius quando disse o nome de Liam Kane. Era óbvio que o sentimento que Scorpius menos tinha por Liam era simpatia.

O que Octavia não percebia era, se ele não se dava com Liam então porquê que ia estudar com ele. A resposta estava ao seu lado. Fora Rose que o obrigara a estudar com Liam.

—Claro. – respondeu Octavia mostrando o seu maior sorriso.

Rose seguiu na frente sendo seguida por Octavia e Scorpius. Estes seguiam lado a lado em completo silêncio. Isto claro, até Octavia o interromper. Ela queria confirmar a sua teoria.

—Eu sei o que estás a fazer. – sussurrou Octavia para que apenas Scorpius ouvisse – Eu ajudo-te mas quero depois quero saber tudo.

Scorpius acenou em concordância. Naquele momento ganhou uma aliada.

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O estudo não podia estar a ser menos produtivo para Scorpius. Ele tentava concentrar-se, tentava ler o livro de Poções que se encontrava à sua frente mas era completamente impossível tendo Liam colado a Rose o tempo todo.

—Pelo menos podias disfarçar um pouco mais. – sussurrou Octavia – Se o olhar matasse, o Kane já estava morto.

—Se isso acontecesse, esta situação deixaria de acontecer. – concluiu Scorpius.

Octavia abafou uma gargalhada. Era completamente visível que Scorpius Malfoy estava cheio de ciúmes. Mas Octavia compreendia. Liam não largava Rose. Octavia duvidava que Liam tivesse assim tantas dúvidas, afinal ele pertencia aos Ravenclaw.

—Não podemos ter tudo o que queremos, Malfoy. – respondeu Octavia.

—Está tudo bem por aí? – perguntou Rose voltando a face para Octavia e Scorpius.

—Está Rose. O Scorpius estava apenas a tirar-me uma dúvida. – respondeu Octavia.

—Rose, tenho outra dúvida. – disse Liam para voltar a ter a atenção de Rose.

—Porque não vais…

—Eu e o Scorpius vamos andando. – disse Octavia interrompendo Scorpius - Já está perto da hora de jantar e eu ainda preciso de falar com ele.

Rose concordou sem fazer questões. Na sua cabeça o único tema plausível entre os dois era Albus.

Octavia e Scorpius arrumaram as suas coisas. Ainda antes de sair, Scorpius aproximou-se de Rose e beijou-a apanhando-a desprevenida. Eles estavam em plena biblioteca, Rose nunca pensou que Scorpius fizesse aquilo.

—Uma hora, Malfoy. Conseguiste aguentar uma hora. Estou impressionada. – debochou Octavia.

—Queria ver se fosses tu. Estares com o teu namorado e teres uma gaja qualquer a fazer-se a ele mesmo à tua frente. – respondeu Scorpius completamente chateado. Aquele Kane tinha cá uma lata.

—Desfazia-a em pedaços. – respondeu Octavia com a maior naturalidade do mundo – Mas isso sou eu.

—Eu faria o mesmo se pudesse. Mas estou com rédea curta com a Rose. – confessou Scorpius chamando a atenção de Octavia.

—Eu acho que ela perceberia o teu lado. É claro que ele se está a fazer a ela. Mas, pensando por outro lado, talvez a Rose não percebesse. Ela é demasiado inocente para perceber estas coisas. – concluiu Octavia – Mas o que é que fizeste para estares de rédea curta com a Rose?

—Fiz asneiras. Das graves. Disse uma coisa à Rose e ela entendeu que eu disse que mais nenhum rapaz, sem ser eu, conseguiria gostar dela. – contou Scorpius em tom baixo. Ele envergonhava-se completamente disso.

—Mereces que ela esteja assim contigo. – disse Octavia honestamente – Se eu fosse tua namorada e me dissesses algo que me levasse a entender isso não ficavas direito. E ainda te fazia questão de mostrar que estavas errado.

—Medo! Muito medo. – disse Scorpius olhando chocado para Octavia.

—Cada um reage de maneira diferente, Scorpius. Por exemplo, a minha vontade, neste momento, é meter-me com um gajo qualquer e andar aos beijos com ele mesmo em frente ao Albus. Era o que ele merecia. – confessou Octavia esquecendo completamente com quem estava a falar.

—Pensava que vocês se tinham chateado por causa do que ele estava a fazer à Sarah.

—E chateamos. – confirmou Octavia.

—Então o que é que uma terceira pessoa tem a ver com isto. Ele não se meteu com ninguém. – disse Scorpius defendendo o amigo.

—Esclarece-me o porquê de estarmos a falar sobre isto? – perguntou Octavia finalmente entendendo com quem estava a falar sobre este assunto.

—Foste tu que começaste, Octavia. – disse Scorpius mostrando o óbvio – E está óbvio que precisas de alguém com quem falar.

—E de onde é que veio essa grande conclusão? – perguntou Octavia sarcasticamente.

—Quem começou a conversa foste tu. – retrucou Scorpius voltando a mostrar o óbvio daquela conversa.

—Adeus, Scorpius. – disse Octavia continuando o seu caminho.

Scorpius deixou-a ir. Não valia a pena dizer mais nada. Assim como não valia a pena dizer mais nada a Albus. Eles não queriam ouvir a voz da razão. Ambos preferiam estar magoados, tristes do que falar um com o outro. Maldito orgulho que não ia abaixo por causa da felicidade. Scorpius não faria mais nada. Eles se quisessem que falassem um com outro.

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O dia da visita a Hogsmeade finalmente tinha chegado. Rose estava ansiosa que aquele dia chegasse. Dominique e James estariam lá como tinham combinado.

Scorpius iria com Rose. E, tal como Rose, Scorpius também estava ansioso. A única diferença era que não era o mesmo tipo de ansiedade que Rose estava a sentir. A ansiedade da namorada era porque queria estar com Dominique e James. A ansiedade de Scorpius devia-se ao facto de ter de encontrar James.

A última conversa que teve com James foi quando este lhe enviou um Gritador. Isto não foi bem uma conversa, dado que, apenas James falou. E, apesar de saber que provavelmente Rose contou a James que já estava tudo bem, Scorpius continuava receoso. Ele lembrava-se bem do dia que James o avisou que ele estava tramado se fizesse a Rose sofrer. E, mais tarde, Scorpius soube que James estava a falar a sério. A primeira vez aconteceu na Toca quando James só não o deixou pior porque Rose interveio. A segunda vez aconteceu quando James lhe mandou o Gritador. Scorpius tinha plena consciência que só não aconteceu algo pior porque estava em Hogwarts e James não tinha acesso a ele.

—O Albus não vem? – perguntou Rose a Scorpius enquanto caminhavam em direção a Hogsmeade.

—Ele disse que vinha mais tarde.

—Está tudo bem, Scorp? – perguntou Rose. Havia algo na voz de Scorpius que lhe fazia acreditar que não estava tudo bem.

—M…

—Olá Rose. Olá Scorpius. – cumprimentou Liam aparecendo ao lado de Rose – Posso acompanhar-vos?

—Eu não acredito nisto. – disse Scorpius acelerando o passo.

Liam não largava Rose. O caso da biblioteca não foi um caso isolado. Depois disso, Liam aparecia por todo o lado. Ou era para ir com eles para as aulas, ou para ir para o salão Principal. Uma vez até chegou a acompanhar Rose até à torre dos Ravenclaw.

Tal como na biblioteca, Scorpius manteve o silêncio. Ele continuava a sentir-se culpado pelo que fez Rose entender e sabia que continuava de rédea curta. Mas tudo tinha um limite. Liam estava a passar completamente os limites.

—Desculpa Liam, não é uma boa altura. -  desculpou-se Rose indo atrás do namorado – Scorp, o que é que se passa?

—O que é que se passa, Rose? O que é que se passa? – perguntou Scorpius encarando Rose. Como é que era possível ela ainda não ter entendido o que se passava? – O que se passa é que o Kane não te larga. Nós não conseguimos estar dois minutos sozinhos. Estamos sozinhos e lá aparece o Kane, sabe lá Merlin de onde, para se intrometer. Eu tentei aguentar Rose, eu juro que tentei, mas tudo tem um limite. Já não bastava o facto de estar nervoso porque vou encontrar o teu primo hoje e ainda tenho de aturar isto. Desculpa Rose, mas tudo tem um limite.

—Scorpius, tu sabes que é de ti que eu gosto. Tu sabes perfeitamente que eu não te vou deixar por ninguém.

—Eu sei, Rose. A questão não é essa. É o quão intrometido o Kane consegue ser. Foi como te disse. Nós já não conseguimos estar sozinhos. Ele tem que aparecer sempre.

—Mas eu não tenho culpa que isso aconteça. Não sou eu que o chamo.

—Pois não. Mas se fosses um bocadinho menos prestável talvez ele não andasse sempre atrás de ti.

—Eu não vou mudar a minha maneira de ser só porque tu queres, Scorpius. – disse Rose. Ela não estava a gostar nada do rumo daquela conversa. Ela tinha receia que terminasse da mesma forma que a outra que tiveram relacionada com o Liam.

—Eu nunca te pediria isso. Eu amo a tua maneira de ser. Amo a maneira como ajudas as pessoas. Amo ver o entusiasmo na tua face cada vez que ajudas. Adoro ver a forma delicada de como o fazes.  – declarou Scorpius arrancando um sorriso de Rose. Talvez esta conversa não fosse pelo rumo da outra - Mas talvez o Kane esteja a pensar outra coisa. Rose, ele está interessado em ti. Isso não podes negar.

—Podemos não falar sobre isto agora, Scorp? – pediu Rose – Por favor? O James e a Dominique estão à nossa espera. Não vamos estragar o nosso dia por causa disto.

—Está bem, princesa. – concordou Scorpius. Ele também não queria que aquilo se tornasse numa discussão.

—E que história é essa de estares com medo de encontrares o meu primo hoje? – perguntou Rose.

Scorpius corou. Rose nunca tinha visto Scorpius envergonhado. Rose sorriu percebendo o que se estava a passar. Scorpius estava com medo de encontrar James por causa do Gritador que este lhe tinha mandado.