Nunca o caminho até à torre de Astronomia demorou tanto a passar.

Rose aceitou falar com Scorpius. Quando ouviu o sim da boca da namorada, Scorpius suspirou de alívio. Por momentos, ele pensou que Rose nunca mais voltasse a falar com ele.

Mas depois disso, Rose não disse mais nada. O caminho foi efetuado em total silêncio. Um silêncio penoso. Um silêncio completamente tenso que Scorpius faria qualquer coisa para o quebrar. Mas, por outro lado, não o queria fazer. Rose é que impunha aquele silêncio, e com razão. Se havia alguém que haveria de o quebrar, esse alguém seria Rose.

Como já era característico dos dias anteriores, raios de sol ultrapassavam a torre de Astronomia. Esta estava completamente iluminada. Claro que tanto Scorpius como Rose preferiam quando a torre era ultrapassada pela luz da lua.

Rose sentou-se perto da varanda norte da torre. Scorpius seguiu-a mas manteve-se de pé.

—Tens cinco minutos. – disse Rose, friamente, de uma maneira que Scorpius nunca tinha ouvido – Depois tenho de ir para a aula.

—Eu quero pedir-te desculpas, Rose. Desculpa por tudo o que eu disse. – pediu Scorpius. Rose encarou Scorpius pela primeira vez desde que tinham chegado à torre de Astronomia – Eu expressei-me completamente mal e tu ficaste a pensar horrores de mim.

—Eu não fiquei a pensar horrores de ti, Scorp. – disse Rose em voz baixa – Eu fiquei magoada com o que tu disseste. Com a verdade que essas palavras podem trazer.

—Essas palavras não dizem verdade nenhuma, Rose. – disse Scorpius agachando-se em frente a Rose e colocando as mãos em cada bochecha de Rose para que esta o encarasse – Nenhuma, Rose. Tu és uma das mais belas e interessantes mulheres que eu conheci. Qualquer pessoa se apaixonaria por esse teu jeito doce e inocente. Assim como eu próprio me apaixonei. Rose, tu és linda. Por fora e por dentro.

Rose abraçou Scorpius e soltou as primeiras lágrimas presas desde o momento em que viu o Gritador de James.

Scorpius abraçou Rose de volta. Apesar de estarem chateado há apenas um dia, para Scorpius era como se tivesse passado uma eternidade.

—Tu não podes pensar essas coisas sobre ti, princesa. – sussurrou Scorpius ao ouvido de Rose – Só de pensar a quantidade de possíveis pretendentes que possas ter espalhados por Hogwarts e arredores faz com que eu fique cheio de ciúmes. Mas foi a mim que escolheste. E se o fizeste é porque me amas. Como eu te amo a ti.

—Pois amo. Amo-te muito. – confessou Rose.

—Desculpa por tudo, princesa. Desculpa por te fazer chorar. Desculpa por todas as asneiras que eu disse. – pediu Scorpius.

Rose não disse nada, apenas acenou em concordância. Scorpius suspirou aliviado. Rose tinha-o perdoado. Pegou no pequeno queixo de Rose e tocou com os seus lábios nos de Rose. Que saudades Scorpius tinha daquela sensação.

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O calor e os raios de sol estenderam-se pela tarde fora. Alunos de Hogwarts encontravam-se espalhados pelos jardins. Alguns estudavam, alguns namoravam, alguns apenas aproveitavam a beleza que Hogwarts tinha para oferecer.

Octavia e Sarah encontravam-se perto do lago. Os livros eram os seus companheiros. Os exames estavam próximos e ambas sentiam que estavam muito atrasadas nos estudos.

—Isto está impossível. Não sei onde estava com a cabeça quando escolhi Herbologia. – queixou-se Octavia fechando o livro e deitando a cabeça sobre ele.

—Octavia escolheste Herbologia porque queres ser medibruxa, lembras-te? – perguntou Sarah em tom de brincadeira.

—E porque é que eu haveria de querer ser medibruxa? Onde é que eu estava com a cabeça?

—No mesmo sítio de sempre, Octavia. – disse Sarah em tom sério – Agarrada ao pescoço. – concluiu em gargalhadas.

—Idiota. – disse Octavia, entre risos, atirando a pena contra Sarah. Estes cessaram quando avistou Albus junto a Rose e Scorpius.

—Devias de falar com ele, Octavia. – disse Sarah percebendo o olhar da amiga – Está claro o quanto vocês sentem a falta um do outro.

—Ele não deve sentir assim tanto a minha falta. – disse Octavia prendendo a atenção de Sarah – Eu vi-o a passear no outro dia com uma gaja qualquer. Além do mais, lembra-te que ele ainda é suspeito pelas palavras espalhadas por Hogwarts.

Os comentários durante aqueles dias foram muitos. O facto de Sarah Finnigan ser homossexual foi falado por todo o castelo. Por cada sítio que Sarah passava, olhos se levantavam e cochichos começavam.

Inicialmente aquilo incomodou Sarah. Realmente a incomodou. Mas ela tinha Octavia ao seu lado. Pronta a ameaçar qualquer um por quem passavam. Octavia realmente a apoiava mesmo sabendo que ela lhe tinha escondido este segredo e mesmo sabendo que ela estava apaixonada por ela.

—Tu sabes a inimizade que tenho pelo Albus, mas sinceramente acho que ele não tem nada a ver com isso. Octavia lembra-te que a pessoa que fez isto comigo anda a ameaçar a Rose e o Scorpius. Tu achas que ele faria isso com eles? Com os seus próprios amigos?

Se Sarah perguntasse isto há algum tempo, a resposta de Octavia seria que não sabia. Octavia sabia de coisas que Sarah nem sequer imaginava. O facto de Albus ter andado muito tempo obcecado com Rose. O facto de se ter chateado com Scorpius por este e Rose se começarem a dar bem. O facto de se ter aliado a Diana Anderson para destruir o relacionamento de Rose e Scorpius. O facto de ter raptado Rose só para conseguir o que queria.

Mas agora, Octavia sabia que Albus não faria isso. As coisas com Rose estavam resolvidas. E, apesar de ter andado a investigar Sarah, Octavia sabia que Albus tinha mudado. Ela sabia que ele já não fazia mais coisas daquelas. Ele percebera o quão longe tinha ido com Rose.

—Tens razão, Sarah. Ele não seria capaz de fazer uma coisa dessas.

—Então porque não vais falar com ele? – perguntou Sarah.

—Eu já te disse. Eu vi-o no outro dia com outra. – respondeu Octavia – Não te incomoda estarmos a falar do Albus? – perguntou tentando mudar o assunto.

—Octavia, o que interessa aqui é a tua felicidade. Não vamos mudar de assunto. Nota-se a léguas de distância que estás mal. Mal por estares longe dele. E ele está igual. Eu soube que ele tem sido visto no Três Vassouras. E não num estado bom.

—Como é que soubeste disso? – perguntou Octavia. Esta já sabia pois Rose tinha-lhe contado.

—Foi a Molly que me contou. – respondeu Sarah - E, pelo que estou a ver, tu já sabias. E se já sabes isso porquê que não falas com ele?

—Eu já te expliquei. Se ele está realmente mal não andava por aí com outras. Se ele quisesse resolver as coisas, vinha falar comigo.

—Assim como tu podias ir falar com ele. - começou, outra vez, Sarah.

—Eu não o vou fazer. - disse Octavia, convicta - Eu tenho de ir. Tenho coisas para fazer.

Octavia arrumou as suas coisas e saiu sem dizer mais nada.

—A Octavia não está para conversas hoje. - disse Molly sentando-se ao lado de Sarah. Molly cruzara-se com Octavia mas esta mal lhe falara.

—Foi mais a nossa conversa que não lhe agradou. O tema era demasiado sensível para ela. - disse Sarah fechando o seu livro.

—Albus? - perguntou Molly já sabendo qual seria a resposta. Sarah acenou em concordância - Então quer dizer que ainda continua tudo na mesma?

—Exato. Eu bem tentei convencê-la a falar com o Albus, mas ela está irredutível. Diz que se ele quiser que venha falar com ela.

—Não te incomoda? - perguntou Molly. Sarah olhou-a sem entender - Falar com a Octavia sobre estas coisas? Afinal, tu gostas dela.

—Neste momento, não muito. Estou a seguir um conselho de uma amiga e estou a dar oportunidades a outras opções. - disse Sarah sorrindo para Molly.

—Essa tua amiga não podia estar mais certa. - respondeu Molly sorrindo também.

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Olá priminha,

Queria que soubesses que já tratei do problema Scorpius (não da forma que gostaria mas o que fiz também me agradou). Espero que ele tenha entendido a mensagem.

Por aqui anda tudo agitado. As crianças continuam a dar muito trabalho (eu continuo sem me queixar afinal amo os meus filhos). Não percebo como pessoas que só têm um filho de cada vez se pode queixar. Nota-se que nunca tiveram três de uma vez.

Estive a falar com a Domi e concordamos em passar por Hogsmeade no dia em que houver a visita lá. Eu sei que é por esta altura (pouco tempo antes dos exames começarem) mas diz-me qual o fim-de-semana em concreto, priminha.

Como anda o meu irmão? Está controlado? Deixou de ir a Hogsmeade? Nunca mais falei com ele depois daquela noite. Diz-me coisas, nós não falamos mais.

As coisas entre ti e o Scorpius como estão? É preciso dar cabo desse Malfoy? Estou pronto!

Espero que esteja tudo bem com a minha priminha favorita.

Com o maior carinho,

Sirius

Rose guardou a carta. Responderia mais tarde. Precisava de silêncio e paz para o fazer e a última coisa que tinha naquele momento era sossego. Albus e Scorpius discutiam em pleno jardim de Hogwarts.

—Já te disse que não é da tua conta o que eu faço ou deixo de fazer. - disse Albus pela milésima vez.

—Vais começar com essas coisas, Albus? Eu estou a querer ajudar-te. A dizer-te que o que estás a fazer é péssimo. Estás a estragar-te completamente. Porque não falas com a Octavia e resolvem as coisas de uma vez por todas?

—Porque ela disse-me coisas horríveis. Estou farto de te dizer.

—Ainda no outro dia falamos disto, Al. Tu disseste que não a querias perder.

—E eu não quero.

—Não parece. Não te vejo fazer nada para a recuperares. - disse Scorpius. Albus levantou-se e saiu dali sem dizer uma única palavra.

—Não achas que pegaste demasiado duro com ele? - perguntou Rose colocando a cabeça nas pernas de Scorpius.

—Sinceramente, não. - respondeu Scorpius.

—Ambos sabemos que ele está mal. Mas tu estás a pressioná-lo demasiado.

—Eu quero que ele perceba que quanto mais demorar, maior são as probabilidades de perder a Octavia.

—Ele sabe disso. E tenho a certeza que ele vai agir conforme isso. Ele não a vai deixar fugir.

—Esperemos que não. Esta separação está a fazer-lhe mesmo mal. Nunca pensei vê-lo assim por causa de alguém.

—É sinal que ele está realmente apaixonado, Scorp.

—Eu sei, princesa. - disse Scorpius beijando de leve a namorada - Podíamos ir para algum lado mais sossegado.

—Não podemos, Scorp. Precisamos de estudar. - disse Rose sentando-se e pegando no livro de Transfiguração - Já agora, esqueci-me de te dizer mas hoje o Liam vai estudar connosco.

—O Kane o quê? - perguntou Scorpius sem acreditar no que ouvia - Por Merlin, porquê que ele tem de vir estudar connosco?

—Ele perguntou-me e eu disse que não havia problema nenhum. Vês algo contra isso? - perguntou Rose encarando o namorado.

Scorpius acenou negativamente. Mas, no seu interior, não era isso que ele pensava. No seu interior, ele está completamente furioso. Liam não deixava Rose por um segundo. Ele sabia que ela tinha namorado e mesmo assim não a deixava. Liam queria tirar-lhe a namorada, Scorpius tinha a certeza disso. Mas Scorpius também tinha a certeza que não o iria deixar fazer nada disso.

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O facto de Hogwarts ser tão recetivo a espalhar segredos era impressionante. O facto de descobrir tão facilmente o envolvimento de Sarah Finnigan e Molly Weasley foi um achado brilhante. Só foi mesmo pena Sarah não ceder à sua chantagem. Foi pena Sarah não se ter intrometido no namoro de Scorpius e Rose. Mas ainda havia esperança. Ainda havia maneira de os separar. Havia mais alguém na jogada. Alguém que podia acabar com o namoro dos dois. E havia grande esperança nisso. Scorpius Malfoy era ciumento.

Mas claro que esse não era o seu plano final. Existiam muitos planos. Um melhor que o outro. E haveria algum que resultaria. A persistência era um dos seus fortes. E não desistiria até que Scorpius e Rose estivessem separados. Nem que para isso alguém tivesse que morrer.