Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 70
A realeza das águas




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Steve reflectia a sua valentia e honra na vidraça trémula da sua sala, enfrentando aquele misterioso e sedutor piscar da prateada lua, desenhando com as constelações um destino imperfeito traçado pela grande guerra e pelo traiçoeiro oceano. Os seus sonhadores olhos recaíram sobre um carro familiar que se aproximava do estacionamento que circundava o seu prédio, um carro que personificava a dureza e a leveza de um elegante par de setas aguçadas e frias, setas que anunciavam o prelúdio de uma discussão quase certa e inadiável.

— Boa noite Clint. - Saudou Rogers em voz baixa, abrindo a porta do seu apartamento.

— Boa noite Cap, achas que podemos falar? - Perguntou o Arqueiro de forma tranquila, todavia os seus olhos faiscavam através da grossa parede do ciúme.

— Claro, entra. - Assentiu Steve pouco à vontade com o clima tenso que se arrastava através da penumbra azul da noite. - O que se passa? - Perguntou, observando a expressão carregada que desfigurava o bonito rosto do Arqueiro.

— Quero falar sobre a Diana. - Desvendou Clint em voz determinada, sentando-se no sofá junto de um jornal aberto que mostrava uma grande notícia referente ao dia vinte e um de Março de dois mil.

— Não sei o que teremos nós os dois para falar sobre a Diana. - Comentou o Capitão de forma insegura, adivinhando o que se avizinhava.

— Ah isso é que temos, o ar de despercebido não te assenta nada bem Capitão! - Exclamou o Gavião levantando o tom da voz, a frustração que o consumia faz dias começava a mostrar a sua imbatível manipulação. - Eu tenho o direito de compreender o que se passa entre ti e a Diana, tenho o direito!

— Não tens direito algum sobre a vida dela, tu desperdiçaste a tua oportunidade, ela não merecia o que tu lhe fizeste. - Desaprovou o Primeiro Vingador em voz autoritária. - Quem é que tu pensas que és para tentar interferir na vida dela? Já não basta o que ela sofreu! Deixa-a seguir em frente!

— Tu não conheces os pormenores do que realmente aconteceu, não tens o direito de me julgar! - Gritou o Arqueiro completamente colérico perante aquelas declarações. - Eu nunca a traí, nunca!

— Não mintas, assume a porcaria que fizeste! - Ordenou Rogers sem paciência para lamentos e justificações.

— Eu não te admito que me chames mentiroso! - Berrou Clint perdendo as estribeiras. - Eu amo-a como nunca amei ninguém, será muito complicado de entender?

— Tens uma maneira muito estranha de o demonstrar. - Atirou Steve em voz cortante, pegando no jornal e amachucando na palma da sua mão milhares de vidas.

— Eu vou provar que estás errado, ela ama-me eu sei disso. - Afirmou o mestre das setas em voz sufocante. - Nem tu nem ninguém vai impedir-me.

— Isso é o que vamos ver. - Avisou o super-soldado, encarando aqueles olhos traquinas e indomáveis. - Eu não vou permitir que a faças sofrer outra vez.

— Eu não vou desistir dela, eu sei que ela ainda não me esqueceu. - Garantiu o Arqueiro de forma segura. - Irei lutar por ela até ao fim, tu não serás adversário à minha altura.

— Clint estás a pisar o risco! A Diana merece alguém melhor do que tu! - Exclamou Steve revoltado, encarando a porta do seu apartamento que se abria lentamente.

— Boa noite meus senhores! Quem é que não merece a Diana? - Questionou a voz cínica de Tony Stark, parando na ombreira da porta, encarando com cara de poucos amigos aquela estranha e reveladora conversa.

— Só me faltava mais este. Eu estava a dizer ao Cap que não vou desistir da Diana! Vou recuperar o tempo perdido! - Explicou Clint com um traquina ar provocador a brincar nos seus lábios.

— Clint pensa no que estás a dizer, tu sabes que ela não queria que se soubesse, respeita a sua opinião. - Avisou Steve apreensivo, fitando o Arqueiro de mau-humor.

— Já chega de esconder, eu estou apaixonado por ela, e não vou descansar enquanto não recuperar o nosso amor. - Afirmou o Gavião em voz decidida, apelando a toda a sua coragem para enfrentar os olhares com trago a fogo que o almejavam. - Não olhem para mim dessa forma, não pretendo desistir.

— Deixa-me ver se eu compreendi bem o que os meus ouvidos me transmitiram, tu e a Diana tiveram um caso? - Perguntou o milionário incrédulo, caminhando lentamente até Clint.

— Não foi um caso, foi uma relação que, honestamente, prefiro recuperar. - Esclareceu o Arqueiro orgulhoso, estava farto de esconder os seus sentimentos, estava farto de amordaçar o amor que nutria por Diana, chegara a altura de o libertar através da brisa e das águas.

— Porque é que eu nunca soube de nada? - Interrogou Stark completamente manipulado pela cólera.

— Porque não tinhas nada a ver com isso! - Provocou Clint aborrecido, Stark não tinha qualquer tipo de ligação com Diana, não possuía o direito de impor a sua vontade perante aquela relação tão bonita e perigosa.

— Como é que tu te atreveste a tocar-lhe? - Berrou Tony com a raiva a incendiar cada esporo do seu corpo, perdendo o controlo da sua vontade, segurando Clint pela garganta. - Nunca mais lhe tocas!

— Tony pára com isso! Olha a estupidez que estás a cometer! - Exclamou Steve surpreendido, colocando-se no meio guerrilheiro dos dois heróis. - Deviam ter vergonha, olhem para o vosso comportamento, parecem duas crianças, onde está a vossa honra de Vingadores? - Perguntou indignado. - A Diana não é um objecto de disputa, ela não é um troféu pelo qual se possa competir, espero que as vossas prioridades estejam bem definidas, caso contrário podem sair. - Afirmou, indicando a porta do apartamento.

— Tu sabias disto tudo e nunca tiveste a coragem de me contar nada, mas que raio de homem és tu? - Inquiriu o Homem de Ferro enraivecido, focando nas pontas cortantes da sua fúria o rosto do Capitão.

— Sabia, mas como não tem nada a ver com a minha vida, achei que não me devia meter. - Respondeu Rogers seguro, encarando aquele olhar repleto de faíscas e relâmpagos.

— Nunca pensei que pudesses descer tão baixo Steve. - Cuspiu Stark com um detestável desenho de desprezo a desfigurar-lhe o rosto, agora pálido e sem qualquer baga de sangue.

— Tony não percebo qual o motivo de tanto alarido. - Comentou Clint confuso, aquela atitude era simplesmente estranha.

— Ainda bem que te prenunciaste meu menino, devias ter vergonha na cara, ela é somente uma miúda, ela não sabe o que quer e tu aproveitaste-te da sua pura ingenuidade. - Atirou o milionário em tom ameaçador. - Mas daqui para a frente eu vou protegê-la de ti e das tuas más intenções.

— Nunca a obriguei a nada, ela só estava comigo porque gostava de mim. - Proferiu o mestre das setas em voz segura, não iria deixar que Stark erguesse uma parede de betão entre ele e a sua Sereia.

— Isso é o que vamos ver…

— Boa noite meus senhores peço que controlem as vossas hormonas para principiarmos a reunião que nos trouxe aqui! - Ordenou a voz fria e hipócrita de Nick Fury, arrastando-se vagarosamente até ao centro da sala. - Barton o que estás aqui a fazer?

— Nada de nada, não sabia que agora existiam reuniões secretas, pensei que o lema dos Vingadores era a união, todavia vejo o quanto estava enganado, adeus. - Afirmou o Arqueiro indignado não estava à espera de uma traição daquele calibre, equipa sem confiança não resulta e ele não queria fazer parte da queda dos heróis mais poderosos da terra, não iria pactuar com tal injúria contra a humanidade.

— Ele brevemente perceberá do que se trata, deixem-no estar, ele ainda é demasiado jovem para analisar as inconveniências das conversas mal direccionadas. - Disse Nick em voz confiante, desvalorizando o comentário do Gavião, conhecia-o há imenso tempo, sabia lidar muito bem com aquela personalidade rebelde e indomável, uma personalidade que lhe dera tantas vezes o êxito de diversas missões. - Tens alguma fresquinha Rogers?

— Por hábito não bebo, porém comprei algumas. - Respondeu o Primeiro Vingador sem dar grande importância, caminhando até à cozinha. - Aqui têm.

— Obrigado. - Agradeceu o director da S.H.I.E.L.D em voz rouca, tomando um grande trago da cerveja. – Bem, Stark já conseguiste apurar a natureza das informações cedidas pela S.W.O.R.D?

— Nada de nada. - Respondeu Tony de mau-humor, pousando a sua garrafa com força sobre o tampo da mesa. - Nunca antes me tinha cruzado com uma energia tão arrebatadora, por mais estudos e pesquisas que realize não saio do mesmo sítio, não existe nenhum programa altamente tecnológico ou rudimentar que reconheça estas ondas energéticas. Já recorri a estudos do meu pai, e de cientistas que antecederam o meu pai e nada, não existe nada.

— Realmente não estamos no bom caminho, não estamos mesmo. - Comentou Steve apreensivo, como poderiam lutar contra algo que não conheciam? Talvez só restasse aquela maldita e cínica espera que arrasta a calamidade e o desespero a seus pés.

— A S.W.O.R.D anunciou recentemente alguma tentativa de comunicação por parte desses estranhos seres? - Questionou Nick esperançado, remexendo na papelada que Stark distribuía pelo tampo da mesa.

— Não foi feita qualquer tentativa de comunicação, se tivesse existido eu já te teria dito, não achas? - Retorquiu o milionário irritado, detestava não ser bem-sucedido nos seus estudos, talvez colocassem em causa a sua tão prestável e rara inteligência.

— O que fazemos Nick? - Questionou Rogers em voz calma, tamborilando com os dedos. - Talvez devêssemos optar por uma abordagem mais direta.

— Nenhum de nós está capacitado para tal devaneio, talvez seja melhor falarmos com o Quarteto Fantástico, eles estão mais habituados a lidar com estas coisas do que nós, será uma ajuda imprescindível para enfrentarmos o que aí vem. - Sugeriu Fury sem grandes rodeios, gostava de solucionar os seus problemas sozinho, todavia não tinha reservas nenhumas em colocar o seu precioso orgulho para trás das costas e pedir ajuda nos momentos mais críticos e delicados, foram essas atitudes pensadas e reflectidas que o tornaram um dos homens mais temidos e poderosos do mundo. - Stark eu não estou a desvalorizar o teu esforço e as tuas infinitas qualidades, porém nestas circunstâncias eu não me posso dar ao luxo de agradar, está na altura de agir, seja de que maneira for.

— Eu compreendo e aprovo, mas gostaria de integrar a equipa de investigação. - Impôs Tony ligeiramente mais alto do que realmente pretendia, não iria ser chamado de falhado, não iria permitir que o afastassem da investigação.

— Não vejo qualquer tipo de inconveniente nisso, amanhã trago-te notícias. - Aprovou Fury em tom apressado, dirigindo-se à porta de saída, abrindo-a e partindo através do desconhecido.

— Tony eu posso explicar...

— Não quero escutar uma única palavra da tua boca. - Interrompeu Stark em voz cortante, seguindo as passadas de Nick, deixando Steve entregue aquele silêncio que já se arrastava há tempo demais.

A figura esguia e serpenteante de Diana recortava-se contra o azul nocturno e distante do oceano, a sua alma flutuava misturando-se com a leveza dourada das estrelas-do-mar, o seu doce sorriso rivalizava com os profundos guinchos dos golfinhos, os seus cabelos achocolatados invejavam a verdejante esperança das algas, o seu jovem e bondoso coração partilhava o sal e a perigosidade do mar, enquanto as águas silenciosas e cristalinas ficavam cada vez mais profundas, a curiosidade e a nostalgia começavam a desferir os seus mágicos golpes sobre a mente da morena.

— Nunca antes tinha nadado até tão fundo, quanto mais aguentarei? - Pensava feliz, saboreando aquela estranha liberdade, observando um enorme cardume de peixes azuis flutuar junto de si, entrando numa pequena gruta sombria.

Durante meia hora a paisagem marinha mostrou-se intransponível, imutável e perfeita como se a ganância e a maldade jamais tivessem poder para chegar tão longe e ainda bem que assim era, nada nem ninguém tinha o direito de profanar tal beleza, tal frescura, tal harmonia. Por fim os doces olhos da sereia desembocaram num cenário simplesmente fantasioso, incrível e inimaginável. Do fundo do mar brotavam milhares de torres brilhantes, incrustadas com corais de mil cores e formas, anunciando a grandiosidade e a fantasia daquele desconhecido reino. Em cada berma da água floriam mil jardins de algas, nenúfares e muitas outras plantas que iludiam os sonhos com as puras correntes da realidade. Em cada gota de fantasia nasciam grutas acolhedoras e decoradas com búzios e safiras do mar, onde os seus estranhos habitantes repousavam, respirando o tranquilo e lento perfume da maresia.

— Que sítio tão lindo, estarei a sonhar? Serão alucinações do sal? - Pensava a morena maravilhada, pairando através daquela ilusão perfeita e prateada.

— Quem se atreve a pisar o sagrado reino do fundo do mar? Quem tem a ousadia de poluir a pureza das águas com os pecados da pútrida superfície? - Gritou uma voz furiosa, vinda da inocência da própria água.

Onde está Diana? Quem se esconde nas sombras azuis do mundo?


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