Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 69
Um novo amanhecer




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Tony Stark deslizava sobre o jardim de alcatrão e poeira, o alucinante brilho do seu Lamborghini anulava a luzidia tonalidade da distante e cautelosa lua. O seu corpo estava ali, preso e viciado nas artérias sujas e criminosas de Nova Iorque, todavia a sua inteligente mente vagueava perdida entre os mistérios e os horrores do mundo espacial. Havia dias que se trancara no seu laboratório acompanhado daquelas malditas informações alarmantes, porém estava tão longe de descobrir os perigos que habilmente se escondiam na noite silenciosa como de existir água em Mercúrio. Estacionou perto da casa de Diana, a curiosidade fervia no seu mais íntimo interior, a jovem ligara-lhe minutos antes, a sua voz estava dragada pela urgência e pela entreajuda, porém quis manter o assunto imerso em suspense.

— Há quanto tempo é que eu não via uma cara tão linda! - Exclamou o milionário feliz, quando Diana abriu a porta. - Como estás miúda?

— Olá Tony, como estás? - Interrogou a Vingadora sorridente, ele tinha razão, há imenso tempo que não colocava os pés na mansão dos heróis mais poderosos da terra, mais tarde ou mais cedo alguém notaria a sua repentina ausência.

— Para falar a verdade ando cheio de trabalho, mas arranjo sempre um tempinho para a menina mais linda do universo. - Disse o Homem de Ferro em tom doce, sentando-se no sofá junto do enorme cão, que soltou uma enorme rosnadela. - Parece que ele não gosta de mim!

— Claro que gosta, ele ultimamente tem andado um pouco maldisposto, não nego que a culpa é inteiramente minha. - Explicou a Sereia tristemente, lamentando todos os momentos que não dera a necessária atenção ao seu querido amigo. - Nem te perguntei, queres beber alguma coisa?

— Pode ser, uma cerveja se tiveres. - Pediu Stark de forma ensonada, realmente o trabalho extraordinário e obsessivo andava finalmente a derrubá-lo.

— Não tens muita sorte meu amigo, contenta-te com um sumo! - Comentou a jovem divertida, levantando-se e caminhando até à cozinha.

— Ok, venha de lá esse sumo. – Resignou-se o milionário a grande custo. - Então diz lá minha querida, o que é que precisas? - Perguntou, segurando no ice tea que a adolescente lhe estendia.

— Bem Tony, este assunto é muito complicado, porém acredito que me possas ajudar. - Principiou a jovem, adoptando um tom mais sério e urgente.

Depois da narrativa de Diana, Stark ostentava uma expressão minimamente estranha, por um lado as faíscas do orgulho incendiavam os seus sábios olhos, por outro existia uma notória reprovação a retorcer os seus finos lábios, algo remexia-se dolorosamente no seu coração, algo que nem o passado conseguiu afogar, algo que nem o álcool conseguiu destruir, algo que nem a escura noite foi capaz de amordaçar.

— Certo, vou ver o que consigo fazer pela Melissa. - Afirmou o milionário em voz baixa e pensativa. - Talvez se consiga alguma coisa na Stark Enterprise, tenho a certeza que sim.

— Obrigada Tony, isto é muito importante para mim, aquelas duas precisam realmente de ajuda. - Reforçou Diana em voz séria, apelando a toda a compreensão e solidariedade escondidas no interior do coração, por vezes mal compreendido do milionário.

— Eu não tenho um cargo específico para ela, todavia tu sabes que as empresas Stark são imensamente vastas, existem variadíssimas coisas que ela pode fazer, quando ela sair do hospital manda-a falar comigo. - Prontificou-se Tony em voz apressada, erguendo-se do sofá, preparando-se para sair.

— Espera Tony, ainda não me disseste em que andas a trabalhar! - Exclamou Diana surpreendida com a estranha atitude evasiva por parte do milionário.

— Agora não tenho tempo para explicações, desculpa falamos mais tarde. - Despediu-se Stark de forma brusca, saindo pela porta de rompante, arrancando na sua potente viatura a tremenda velocidade.

A noite já ia alto quando a Sereia entrou no apartamento de Steve carregada com uma pesada mochila com as suas roupas e produtos de higiene pessoal. Os seus passos telintavam na pureza do silêncio da noite, arrastando no seu encalce a atmosfera polida das estrelas. A sala de estar beijava-a com a ternurenta sedução do encantador sono, olhou em redor, nas paredes reflectiam-se as imagens desfocadas de um passado tão belo e fantástico como a cúpula negra do mar. Steve adormecera sentado no sofá, segurando nos braços a doce infância de Aurora, a jovem aproximou-se cautelosamente, deu umas pequenas palmadinhas na cara do louro, fazendo-o despertar.

— Desculpa, adormeci. - Pediu Rogers em tom ensonado.                          

— Vou levá-la para a cama. - Disse Diana em voz suave, pegando com cuidado na pequena menina.

— Então já trouxeste as tuas coisas? - Inquiriu o soldado em voz cansada, quando Diana reentrara na sala com passos tão leves como a brancura da neve.

— Sim, acho que sim. - Respondeu a jovem de forma sumida e nostálgica, sentando-se junto do Capitão. - Posso ouvir um pouco de música? - Perguntou a Sereia em voz doce, fitando a aparelhagem que nunca antes tinha sido ligada.

— Claro que sim, mas será que a Aurora não acorda? - Questionou o soldado em voz preocupada.

— Não, ela está a dormir profundamente. - Respondeu a jovem, caminhando até á estante de madeira clara e brilhante, ligando a aparelhagem.

A doce voz de Christina Perri inundou as almas dos dois heróis com milhares de flocos de açúcar, água e fogo, Diana cantarolava baixinho aquela linda e inspiradora melodia que anula as condições impostas ao ser humano, transformando-as num incondicional amor e o prolongar desse sentimento até à sublime eternidade espiritual.

— Queres dançar? - Interrogou Diana em voz sonhadora, deixando-se envolver pela terna esperança de mil anos.

— Eu não sei dançar. - Disse Steve de forma atrapalhada, porém já era tarde para palavras, Diana colocara um dos seus braços em volta de Rogers e suavemente arrastava-o para o compasso cintilante da eterna espera.

Diana embalava cada perfeito acorde com um simples deslizar dos seus lábios cor de cereja, tornando a sua paralisante voz na melodia das ondas marítimas, adormecendo os dois corpos com o reluzente sentido de cada nota, transformando-os em meras auras de cumplicidade, carinho e nostalgia, vagueando perdidas pelas distantes margens azuis de Neptuno, duas tristes pétalas emergindo no abismo da felicidade e da harmonia, unindo-se somente numa leve gota de água salgada.

— Tenho a certeza que darias um excelente pai. - Comentou a Vingadora em voz distante, quando a última nota musical os arrastou de novo para as garras terrenas.

— As certezas são inconclusivas e por vezes mascaradas. - Respondeu o louro de forma enigmática, voltando a repousar sobre o seu sofá.

— Acho que estou demasiado cansada para interpretar os teus enigmas, desculpa. - Disse a adolescente, lançando um largo bocejo. - Vou dormir, até amanhã.

— Até amanhã, dorme bem. - Despediu-se Steve de forma ausente, vendo Diana misturar-se com a frescura do mundo da fantasia. - As insígnias do oceano moldam tesouros.

Daí a três dias, Diana e Steve entravam pelo assombrado e triste apartamento de Melissa, estavam decididos a criar um verdadeiro oásis de felicidade, tranquilidade e paz, com pequenos gestos criam-se grandes coisas, e naquele momento era esse o seu grande objetivo.

— Achas que ela vai gostar? - Questionou Steve em voz insegura, colocando diversos sacos no pavimento lascado pela violência.

— Claro que sim, vai ficar tudo maravilhoso tenho a certeza. - Proferiu Diana de forma enérgica, começando a depositar sobre o sofá o conteúdo dos sacos. - Fiquei surpreendida com o Tony, não estava à espera que ele financiasse este pequeno projecto.

— Ele tem um coração muito bondoso, só lamento que seja o maior casmurro que eu já conheci. - Disse Rogers, segurando nuns bonitos cortinados cremes. - Estes são para a sala, não é?

— Sim, estes em azul claro são para o quarto da Melissa, estes cor-de-rosa são para o quartinho da Aurora e as cortinas mais pequenas são para a cozinha. - Explicou a jovem entusiasmada, dirigindo-se ao quarto da bebé com os seus braços cobertos de acessórios.

— Diana, eu não me entendo com estas coisas, anda cá! - Gritou Steve completamente frustrado, lutando contra uma bonita jarra cor de pérola que supostamente teria que pousar sobre um napperon que colocara ao contrário sobre a mesa da sala.

— Anda cá ver se gostas, eu já te ajudo com a sala! - Exclamou Diana divertida, terminando a sua tarefa.

Steve entrou no quarto, os seus lindos e sonhadores olhos recaíram sobre as janelas emolduradas por magníficos cortinados cor-de-rosa pintalgados com estrelinhas brancas, a pequena cama estava coberta por uma fina colcha de linha igualmente cor-de-rosa, sobre a qual dormitavam diversos peluches alusivos ao fantástico mundo Disney, no chão brilhava um tapete tão cintilante e macio como a neve dos cumes do amor e da harmonia, as paredes estavam decoradas com balões de mil cores e figuras de origami alusivas às mágicas profundezas do oceano, em cada canto do quarto repousavam puffs lilases e no pequeno móvel dançava um candeeiro em forma de unicórnio igualmente lilás com as suas fantasiosas asas abertas na direcção do futuro.

— Isto está lindo! - Exclamou Steve sorridente, nunca estivera num quarto de bebé, porém achava que aquele seguia as normas de doçura e conforto necessárias para o estável crescimento de Aurora. - Espera, falta aqui duas coisas, vou buscar.

Momentos depois, o Capitão entrava pelo pequeno quarto, trazendo nas suas mãos uma pequena arca de madeira revestida com papel lilás e uma bonita caixa de música prateada que ressoava com as mil notas dos fantásticos contos da boneca barbie, era perfeita para acompanhar Aurora na sua preciosa viagem através da imaginária realidade do mundo dos sonhos.

— Agora vamos despachar o quarto da Melissa. - Disse Diana orgulhosa da sua indomável personalidade determinada.

— Avante Vingadora! - Incentivou Rogers entusiasmado, seguindo Diana até à sala, pegando nos sacos, transportando-os até ao quarto da jovem mãe.

Daí a vinte minutos, a divisão personificava a tranquilidade e o vasto oceano, das janelas pendiam suaves cortinados azuis que esvoaçavam com a melodia florida das flores, o chão planava sobre a trémula suavidade dos sonhos, a cama dormitava nos agradáveis braços de uma fina colcha azul e branca, num dos cantos aninhava-se um puff azul-marinho e do tecto flutuava um candeeiro prateado, iluminando uma vida próspera e harmoniosa.

— Este também já está. - Suspirou Diana feliz, pousando duas almofadas brancas sobre a cama. - Acho que o estafeta do supermercado deve estar quase a chegar!

— Sim, acho que sim. - Assentiu Steve, olhando para o seu relógio.

— Só espero que ela se dê bem na Stark Enterprise. - Murmurou a jovem pensativa, começando a remexer nos sacos que continham a decoração da sala.

— Ela vai ter que possuir uma paciência de anjo para suportar o mau-humor do Tony. - Disse o louro receoso, o seu amigo tinha um coração de ouro, todavia o seu feitio complicado reflectia a dureza do ferro.

Finalmente a missão estava parcialmente cumprida, a sala reluzia através dos tons derivados da cor creme, cortinados, almofadas, bibelôs, jarras, um tapete bordado com pequenas pinhas e um glorioso candeeiro tombava do tecto iluminando a bola de cristal que escondia um futuro quase perfeito.

— Como é que ficou a questão do transporte hospitalar para trazer a Melissa para casa? - Inquiriu o soldado preocupado.

— Eles garantiram que lhe proporcionam o transporte, mas se não o fizerem eu vou lá buscá-la, tu ficas a cuidar da Aurora durante uns minutinhos. - Respondeu Diana em voz segura, sempre fora uma rapariga prática, isso não iria mudar.

— Certo, olha o carro do supermercado chegou, vamos buscar as coisas? - Informou Rogers rapidamente, escutando uma sonante buzina que anunciava a chegada da urgente comida para Melissa e Aurora.

Perto da hora do almoço, a ambulância fez a sua aparatosa chegada ao parque se estacionamento que circundava a o prédio do Capitão, a jovem mãe saiu do seu interior ainda bastante fragilizada, porém a sua força de vontade, determinação e coragem estavam revitalizadas, não existia margem para desistir daquele futuro montado à pressa. À sua espera estavam os entusiasmados sorrisos de Steve e Diana e a inocente doçura da sua querida filha.

— Tens uma grande surpresa à tua espera, tenho a certeza que vais adorar! - Exclamou a morena sorridente, colocando Aurora nos braços da sua mãe. - E também te arranjamos um emprego, mas vamos subir, depois conto-te todos os pormenores.

— Uau a minha casa está linda! - Exclamou Melissa impressionada quando a porta fechada revelou a beleza e frescura da sua sala, despida de sofrimento, silêncio e desespero.

— Tem calma, ainda não terminou! - Anunciou a Vingadora orgulhosa, escancarando a porta do quarto da jovem mãe.

— Não acredito! - Murmurou Elisa completamente absorvida na calmaria do seu recente quarto.

— E por último! - Exclamou a Sereia, entrando no ninho de Aurora.

— Isto só pode ser um sonho! - Desabafou a doce mãe em voz sufocante, derramando milhares de continhas de gratidão.

— Tomámos também a liberdade de vos comprar imensa comida para se conseguirem manter nos próximos tempos. - Informou Rogers em tom amável. - E em relação ao emprego está tudo tratado, a Diana depois transmite-te todos os detalhes.

— Certo, muito obrigada, estou ansiosa por ver a minha vida tomar um rumo positivo. - Agradeceu Melissa, guardando na sua mão aquela tão desejada oportunidade.

— Amanhã terás a tua entrevista de trabalho na Stark Enterprise. - Anunciou a Sereia feliz.

— Essa não é aquela multinacional extremamente conhecida? - Perguntou Melissa confusa, não querendo acreditar no que os seus ouvidos escutavam, não podia ter tanta sorte.

— Sim, eu conheço o Tony Stark, e ele vai arranjar-te um emprego, contudo amanhã assertas todos os pormenores com ele. - Explicou a Sereia de forma preguiçosa, precisava de descontrair.

Já a lua dançava alegremente no céu estrelado, quando Diana descia os degraus que conduzem à rua com a sua mochila às costas e o seu cão pela trela, a maravilhosa estadia em casa de Steve chegara ao fim e isso entristecia-a ligeiramente, contudo ela conhecia perfeitamente bem um lugar que era capaz de domar toda aquela melancolia, um lugar longe da maldade da terra e da ganância do céu.

Conseguirá a Vingadora resistir aos perigos que se avizinham? Como reagirá Clint a estes próximos acontecimentos?


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Notas finais do capítulo

A música mencionada no capitulo chama-se "A thousand years" da autoria de Christina Perri.

Avante Vingadora é uma alusão à expressão "Avengers Assemble" da versão Portuguesa



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