Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 65
Pesadelo




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A noite beijava com aparente tranquilidade a solitária casa de Diana, lançando na poeira prateada das estrelas a dureza dos pesadelos e a falsidade dos sonhos. A morena corria apressada de um lado para o outro, à medida que o seu querido Gavião, sentado no confortável sofá, a olhava perplexo do fundo das suas maravilhosas íris azuis, pensando porque é que a sua dona procurava os seus haveres pelos quais já passara inúmeras vezes, era estranho o seu comportamento.

— Bolas finalmente! - Exclamou a Vingadora aborrecida, encontrando o seu laço que compunha o vestido lilás que elegantemente trajava, em cima do braço do sofá pelo qual passara milhares de vezes. - Mas onde está a porcaria da mala? - Perguntou desesperada, varrendo a pequena divisão com aqueles sonhadores olhos cor de água. - Bolas estou sempre atrasada! - Ripostou, segurando a sua bolsa preta, colocando-a sobre o ombro, abriu a porta e encarou a noite escura e mascarada.

Steve fitava atentamente a fechadura da sua porta polida, ela rodaria a qualquer momento anunciando a atrasada chegada de Diana.

— Está atrasada. - Constatou Rogers em voz sumida, brincando com o comando da TV.

— Olá Steve, desculpa! - Exclamou a morena em voz estridente, entrando aos tropeções no pequeno apartamento, derrubando um enorme balde de pipocas coloridas sobre a alcatifa da sala. - Bolas! - Murmurou, ajoelhando-se no chão, começando a apanhar a imensa maré de doce e cor.

— Miúda não vale a pena semeares aqui, isto não é terra, elas não crescem! - Brincou o louro em tom divertido, ajudando a Vingadora na sua tarefa.

— Passei no supermercado para as comprar, pensei que seria agradável. - Explicou Diana tristemente, tinha que domar a sua tendência para desastres.

— Não tem importância, eu tive a mesma ideia, e também comprei pipocas, espero que não te importes que eu tenha pedido com extra caramelo! - Exclamou o Capitão em voz doce e ternurenta, conduzindo uma pá cheia de pipocas até ao balde do lixo.

— São as minhas favoritas, obrigada. - Respondeu a Sereia de forma desapontada, ainda lamentando a sua falta de jeito.

— Também comprei gomas diversas e bombons de chocolate de leite, achei que decorariam muito bem o nosso serão. - Disse Steve, remexendo num pequeno saco de papel, retirando do seu guloso interior vários pacotes.

— Desta forma fico parecida como uma baleia, depois como é que apanho os vilões? - Perguntou a morena fingindo falsa indignação, abrindo a boca, deliciando-se com um bombom que Steve lhe dava.

— Se ficares gorda, o que eu duvido que aconteça, corremos a maratona. - Solucionou o bravo Capitão sorridente, jogando-se preguiçosamente no sofá, puxando Diana para o seu lado.

— Qual é o filme? - Questionou a jovem interessada, observando a imagem parada no ecrã da televisão.

— Acho que conheces, chama-se Titanic. - Desvendou o super-soldado pouco seguro da sua escolha cinematográfica, realmente desconhecia as preferências estudantis em relação à sétima arte.

— Por acaso até gosto, já vi, mas ver contigo deve ter outro sabor. - Respondeu a Vingadora feliz, aninhando-se nas fofas almofadas, observando com atenção cada imagem que ganhava vida na sua mente.

— O seu respirar contém a frescura nostálgica da maresia, os seus olhos de um azul infinito reflectem com tremenda e delicada doçura os compassos do céu e os acordos do oceano, os seus lábios formam um leve sorriso que abençoa o monstruoso milagre dos deuses, a leveza da sua aura rivaliza com o pó prateado das estrelas e com o suave murmúrio da lua. - Pensava o bravo soldado, analisando a jovem com a precisa mestria dos astros. - O seu nobre coração dispara embalado por mil cores celestiais quando o amor evapora o triste sibilar das ondas, dos seus olhos amaram centenas de gotinhas límpidas e emocionadas que derretem o gelo atroz do seu passado, e só então ela se revela em toda a sua plenitude, frágil, linda e corajosa. - Reflectia pensativo, à medida que Céline Dion enfeitiçava o panorama celestial com as belas notas da sua voz. - Puxo-a para os meus braços, afago-lhe ternamente o cabelo liso e doce como a seda das borboletas.

— Desculpa Steve, este filme liberta a fraqueza da vida, ensina-nos como devemos segurá-la com todas as nossas forças, ela é a coisa mais preciosa que possuímos e depois zás, mal damos por nós não existe nada para segurar. - Desabafou a morena em voz sumida, limpando o seu rosto com um guardanapo que o louro carinhosamente lhe estendia.

— Tens razão, a vida é tão débil como uma pequena pétala de rosa, linda, esplendorosa, contudo frágil. - Concordou Rogers, completamente atónito com àquelas declarações vindas dos lábios de alguém tão jovem. - Queres mais um chocolatinho?

— Sim, obrigada. - Respondeu Diana ligeiramente mais tranquila, abraçando o Capitão com a tremenda força das ondas do futuro.

— Como está a tua relação com o Clint? - Perguntou o soldado visivelmente receoso, não sabia como Diana reagiria à abordagem daquela questão.

— Somos como dois estranhos, nada mais. - Esclareceu a Sereia tristemente, comendo uma goma de morango.

— Esperava que este filme te ajudasse a compreender algumas coisas. - Comentou Rogers pensativo, fitando o relógio no seu pulso.

— Steve a única coisa que realmente me importa neste momento é encontrar o meu pai, apesar de ter consciência de que quanto mais tempo decorre mais ele se afasta de mim, porém não penso em desistir. - Confessou a Sereia em tom distante, fitando o espelho enegrecido da sua infância.

— Os sonhos só são impossíveis se nós não acreditarmos que são possíveis, confia em mim, o teu futuro está ao alcance de uma vaga marinha. - Declarou o Capitão sabiamente, observando cada profunda linha azul escondida nos lindos olhos de Diana.

— Tens razão. - Assentiu a Vingadora, olhando para o relógio.

— Tens algum compromisso? - Interrogou Steve, não querendo parecer que se estava a meter na vida da adolescente.

— Nem por isso. - Retorquiu Diana de forma ensonada.

A atmosfera harmoniosa da mascarada noite foi quebrada por mil punhais que envenenavam os gritos apavorados de uma mulher, enlouquecendo os ouvidos daqueles que de perto repugnavam a violência. A voz de Melissa ribombava como uma poderosa trovoada maltratada pelo encantador piscar dos relâmpagos terrivelmente belos, preenchendo a fina brecha que separa a noite do dia.

— Steve, é a Melissa, tenho a certeza! - Gritou Diana furiosa, galgando a grande velocidade a pequena distância que a separava da porta, precipitando-se como uma leve gazela através dos degraus marcados pelas raízes do terror e pelas hastes do medo.

— Diana! Tem calma! - Gritou Rogers igualmente furioso, quebrando a distância que o separava de Diana, segurando-a pelo braço.

— Larga-me Steve. - Pediu a jovem mal mexendo os lábios, sabia que a suas emoções estavam altamente descontroladas, jamais colocaria a sua estrela da sorte à mercê do seu devastador poder. - Eu preciso de a ajudar.

— Eu sei disso, porém acho que é melhor chamar a polícia. - Sugeriu o Capitão de forma suplicante, tentando neutralizar a fúria azul que crescia na expressão habitualmente tranquila dos olhos de Diana.

— Eu não vou ficar aqui à espera, se queres chamar a polícia tudo bem, mas eu vou entrar. - Afirmou a Sereia em tom irredutível, libertando-se da pega do louro, correndo até à porta do apartamento de Melissa, sentindo cada agonizante grito perfurar-lhe o coração.

No apartamento de Clint, a noite desfilava lentamente, deixando à sua passagem as tristes insígnias da solidão e do frio, o louro deitado no seu sofá lia inúmeras vezes uma mensagem que Scott lhe enviara minutos antes, nos seus olhos traquinas floriam lágrimas de sofrimento e indignação.

— Clint, tal como me pediste segui a Diana, não me voltes a pedir tal coisa, ela entrou no prédio do Cap, estava incrivelmente bonita, eles viram um filme, estavam bastante íntimos, porém não consigo precisar se têm alguma relação ou são apenas amigos, desculpa. - Leu o Arqueiro tristemente pela milésima vez. - És um estúpido Barton, como é que deixaste escapar a mulher da tua vida? - Censurou-se, dando diversos murros no sofá.

Os pesadelos alucinam os sonhos perdidos num véu triste de saudade e solidão, tornando-os somente miragens que flutuam num universo escuro e inalcançável, só a nossa vontade lhes pode indicar a rota certa para os nossos corações.

Como culminará o triste filme daquela trágica noite? Como reagirá Clint às notícias trazidas pelo Homem Formiga?


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