Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 60
Quarteto Fantástico




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Almejado pela fraca luminosidade do sol, Jeremy escondia-se nas sombras sujas e enevoadas dos amontoados blocos de cimento, fitando com profunda atenção duas pessoas que se deslocavam no passeio repleto de latas e pontas de cigarro.

— Senhor estou a observá-los neste preciso momento, contudo o nosso alvo continua demasiado protegido para fazer qualquer tipo de tentativa. - Proferiu o jovem em voz urgente, segurando com apreensão no seu telemóvel, nunca perdendo de vista os dois transeuntes.

— Estás a demorar tempo a mais meu rapaz. - Censurou uma voz fria e calculista, demonstrando toda a sua incontrolável impaciência pelo atraso na concretização da missão.

— Eu sei senhor, mas ainda não se proporcionou a altura ideal. - Justificou-se Jeremy amedrontado com os aguçados punhais que disparavam de cada palavra prenunciada pelo estranho.

— Espero que essa ocasião não tarde, não gosto de investir o meu tempo e as minhas palavras num incompetente, aguardo desenvolvimentos o mais breve possível. - Avisou o sujeito em voz ameaçadora, desligando o telemóvel, deixando o louro pregado à sua sorte e ao deslize do futuro.

No apartamento de Steve, Diana saboreava deliciada um delicioso pequeno-almoço, torradas barradas com uma amorosa compota de frutos vermelhos e sumo fresco, enquanto Rogers folheava apressadamente um jornal, passando os olhos pelas notícias mais badaladas.

— Afinal o que se passou? - Inquiriu o Capitão em voz calma, pousando o jornal sobre uma cadeira vazia, detestava colocar materiais de informação sobre a mesa de refeições.

— São coisas minhas. - Respondeu a morena tristemente, amachucando um guardanapo.

— Não as podes partilhar comigo? - Questionou o louro educadamente, segurando na mão suada da jovem. - Vá lá, seja o que for eu estou aqui, afinal de contas somos amigos não é verdade?

— Claro que somos, nunca coloques isso em causa. - Confirmou a adolescente, sorrindo ligeiramente. - Eu consigo resolver os meus assuntos sozinha, e para falar a verdade não aconteceu nada de importante.

— Só se me contares é que eu sou capaz de avaliar o grau de importância que os teus problemas têm. - Declarou o louro preocupado, espreitara inúmeras vezes através da cortina da tristeza, e os olhos de Diana não o enganavam.

— Eu não te quero preocupar Steve desculpa. - Disse a Vingadora em voz abafada, contendo algumas lágrimas que saltavam de forma magistral das profundezas marinhas do seu ser.

— Vem cá, fala comigo. - Proferiu o Capitão em tom baixo e doce, puxando a cabeça da adolescente para o seu ombro.

— Acabei com o Clint. - Desvendou a Sereia em voz toldada pela frescura cálida das lágrimas e pelas opalas frias da tristeza.

— O que é que ele fez desta vez? - Perguntou Rogers ligeiramente furioso, contudo o seu tom leve e sereno manteve-se inalterado.

— Apanhei-o em momentos comprometedores com a Viúva Negra. - Explicou Diana melancolicamente, recordando aquele vermelho provocante que lhe cegava o coração.

— Filho da mãe, se eu lhe ponho as mãos em cima!

— Não faças nada, eu resolvo os meus problemas com ele. - Pediu a Vingadora rapidamente, segurando o bravo Americano pelo fardo braço.

— Eu pedi-lhe para não te magoar, e o que é que ele faz? Precisamente o contrário. - Ripostou Steve em voz furiosa, que contrastava na perfeição com o azul tranquilo dos seus olhos.

— Steve por favor. - Insistiu a Sereia em voz alarmada. - Eu soluciono os meus problemas, mas acredita que fico extremamente grata por me teres escutado.

— Certo, eu tenho alguma dificuldade em lidar com o facto de tu estares a sofrer e eu não poder fazer nada para te ajudar. - Justificou-se Rogers, cobrindo o rosto atraente com as mãos.

— Tu já me ajudaste, eu sinto-me bastante melhor. - Tranquilizou-o a morena honestamente, abraçando com carinho o ícone americano.

— Não devias ser tão permissiva e tolerante, as pessoas normalmente aproveitam-se dessas características. - Comentou o Capitão, afagando a cabeleira achocolatada da adolescente.

— Obrigada. - Disse a morena em voz doce, dando um demorado beijo no rosto do Capitão, enlaçando-o com as algas reluzentes da sua alma.

— Eu serei para sempre o escudo que te protegerá da ambição desmedida da humanidade. - Prometeu o louro em voz baixa e delicada, como se o simples facto de prenunciar aquelas palavras em voz alta desvalorizasse a sua verdadeira simbologia.

— Eu serei a brisa que soprará para sempre no teu ouvido palavras de coragem, carinho e amizade. - Jurou Diana em voz sonhadora, pedindo a todos os oceanos que aquelas sinceras palavras não se perdessem na atmosfera inóspita e traiçoeira daquele universo imenso.

— O que pensas fazer daqui para a frente? - Perguntou Steve, olhando Diana com a sabedoria que apenas os anos nos fornecem.

— Vou seguir com a minha vida. - Respondeu a jovem em voz insegura, receando pensar num futuro desconhecido que se avistava nas imediações da sua aura azul e clara. - Mas de uma coisa tenho a certeza, quando chegar a casa vou tomar um grande banho.

— Podias ter tomado cá, mas acho que as minhas roupas não te servem, ou melhor servem de mais! - Exclamou Rogers divertido, começando a levantar a mesa do pequeno-almoço.

— Bem eu vou dando notícias. - Despediu-se a Vingadora sorridente, Steve retirara-lhe um enorme peso de cima.

— E se não apareceres, apareço eu. - Afirmou o louro feliz, percebendo que aquele lindo sorriso voltaria a cintilar muito em breve por detrás daquela espessa cortina de neblina.

— Olá, bom dia! – Saudou a morena em voz doce, passando por uma rapariga no elevador cujos braços envolviam fortemente uma pequena bebé. - O rosto dela está marcado por bofetadas sucessivas, os seus braços estão coloridos pela cor vermelha do sangue, no seu corpo magro noto que existem inúmeros hematomas e a sua alma está mais perdida do que um barco à deriva no oceano, porém o seu falso sorriso denuncia ardentemente as feridas que brotam arrogantemente do seu coração, um sorriso apagado, sem vida e sem calor, um sorriso que iludiria com facilidade os olhos dos mais desatentos. - Constatou tristemente, vendo a rapariga irromper escada a cima. - O que leva uma mulher a submeter-se a tal tipo de violência? Amor, medo, culpa, dependência? - Questionou-se, sentindo a angústia e a repulsa inundarem o seu espírito. - Ela com certeza merece bem melhor do que murros e pontapés. - Pensou, enquanto abria a porta do seu carro.

Na mansão dos heróis mais poderosos da terra, Tony Stark fazia o seu habitual desfile com o jornal Clarim Diário numa das mãos, atravessando com passada demorada e pomposa a sala de estar apinhada.

— Quais são as notícias Tony? - Perguntou Thor em tom automático. - Porque é que ele está sempre à espera que alguém faça esta pergunta? - Pensou irritado.

— Nada de jeito, este jornal só publica porcaria. - Respondeu Stark decepcionado, fitando a primeira página onde fazia machete uma enorme fotografia do Homem-Aranha.

— Por Ódin, eu não te compreendo, se esse jornal somente pública porcaria, porque é que o compras? - Questionou o príncipe do trovão confuso.

— Tu não imaginas os momentos de risota que este traste me proporciona! - Esclareceu o milionário em tom deliciado, como se o jornal tivesse a fantástica capacidade de fazer cócegas. - E além disso hoje fiz uma grande descoberta, descobri alguém que partilha comigo a tremenda simpatia dos meios de comunicação, acho que o vou convidar para entrar para os vingadores, o que acham?

— Quem é ele? - Interrogou Janet curiosa, terminando de comer o seu iogurte.

— O Homem-Aranha, creio que todos já ouviram falar dele! - Exclamou Tony divertido, sentando-se junto do Homem-Formiga que se distraía com um qualquer jogo portátil.

— Claro que já, mas para falar a verdade acho que ele é mais do tipo solitário. - Respondeu Carol sinceramente, colocando de parte um folheto formativo sobre um qualquer creme milagroso.

— Qualquer dia em vez de nos chamarem Vingadores chamam-nos insectos ou vermes. - Atirou Clint em voz arrogante, entrando na sala, espalhando água à sua passagem.

— Se te consideras um verme, isso é contigo. O que se passa Gavião, a noite correu-te mal? - Provocou o Homem de Ferro com um sorriso escarninho a bailar-lhe no rosto. - Parece que o teu charme perdeu o seu normal perfume, trata disso meu amigo, caso contrário ficas com os restos.

— Não te metas na minha vida! - Berrou o Arqueiro completamente colérico, dando um valente murro na boca do milionário.

— Parem com este disparate! - Gritou Thor impressionado com aquele comportamento infantil, vendo Stark precipitar-se sobre o mestre das setas, salpicando o mosaico com sangue. - Já chega! - Ordenou, atirando Clint e Tony para longe um do outro.

— Deves julgar-te o dono do mundo. - Cuspiu o gavião em voz fria, virando costas de rompante.

— Devias começar a definir prioridades, se não nada feito. - Avisou Stark frustrado, limpando os lábios a um guardanapo que Janet lhe estendia.

Nessa noite, Diana levada pelo tédio e pela solidão, conduzira até ao edifício Baxter, o quartel general do Quarteto Fantástico. Queria companhia, queria escutar aquela voz amiga e doce que somente Susan possuía, queria ser compreendida.

— Quando falámos ao telemóvel notei que não estavas bem, o que se passa? - Perguntou Sue preocupada, servindo uma generosa parcela de esparguete à carbonara.

— Vamos jantar sozinhas? - Questionou a Vingadora em voz baixa, saboreando o agradável aroma que emanava do seu prato.

— Não, os rapazes estão atrasados, para variar. - Respondeu a Mulher Invisível, olhando para o relógio de relance. - Tenho que instalar uma aplicação que alcance toda a casa e que grite as horas em altos berros, pode ser que resulte.

— Tens andado desaparecida, o que tens feito? - Perguntou a sereia, tentando desesperadamente não tocar no assunto que a levara ali naquela noite.

— Temos tido alguns atritos com o Homem Toupeira, nas nada de muito alarmante. - Respondeu Sue rapidamente, compreendendo a verdadeira intenção da adolescente. - Porque é que vejo tanta tristeza a dançar nesses olhos lindos?

— Não tenho como escapar, pois não? - Constatou Diana em voz triste, cheirando as pálidas cores do sofrimento. - Acabei com o Clint. - Disse, apanhando Susan completamente de surpresa.

— Espera lá, eu acho que não estou a ouvir bem, isto deve ser sintomas da pressão espacial, só pode ser. Tu andaste com o Gavião? - Perguntou Susan incrédula, fitando a jovem com o microscópio da curiosidade.

— Foi o pior erro que cometi em toda a minha vida. - Confirmou a Sereia de forma melancólica, brincando distraidamente com o seu garfo.

— O que é que aconteceu? - Questionou Sue em voz amável, passando um dos braços pelos ombros da morena.

— Eu não sei em concreto o que é que ele fez, todavia encontrei-o em momentos comprometedores com a Viúva Negra. - Explicou a Vingadora, derramando inúmeras gotas de prata sobre um enorme manto de tristeza e desespero.

— Não chores, pode ser que as coisas ainda resultem. - Acarinhou-a a loura em voz doce, acariciando-lhe o cabelo.

— As oportunidades esgotaram-se, ele faz parte do passado e é lá que pretendo que ele fique. - Desabafou Diana em voz depressiva, embainhando sobre as estrelas a chave do seu coração.

— Tu ainda és muito nova, um dia destes encontras a pessoa indica para ti, encontrarás a pessoa que realmente te merece. - Reconfortou-a Susan, limpando os lindos olhos azuis da morena com a ponta fofa de um guardanapo. - Não chores, nenhum homem merece as nossas lágrimas.

— Tens razão, eu sou uma estúpida. - Comentou a morena, respirando fundo, recebendo uma fresca lufada de tranquilidade e doçura.

— Assim é que é falar. Vamos miúda a vida é bela e o sol brilha no céu, tu és linda e deixas qualquer um de queixo caído. - Aplaudiu Sue energeticamente, escutando passos no corredor que acessava à sala de jantar. - Finalmente!

— Quem não acredita em contos de fadas é porque ainda não conheceu esta princesa! - Exclamou Johny Storm em voz deliciada, olhando Diana com profundo interesse, analisando com atenção o elegante vestido cor-de-rosa que esta trajava. - Como te chamas? Beleza, Perfeição, Afrodite?

— Ela chama-se Diana, e não é para o teu bico maninho. - Ralhou Sue mal-humorada, dando um apertão no ombro do Tocha Humana. - Toca a comer, pode ser que o esparguete te tape a boca.

Como correrá o jantar? O que encobre o artificial sorriso da rapariga do elevador? Com quem fala Jeremy ao telemóvel?


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Notas finais do capítulo

Jeremy teve a sua aparição no capítulo 38 e terá um papel decisivo no desenvolvimento da história.

O Homem Toupeira foi o primeiro vilão a enfrentar o Quarteto Fantástico nas BDs.



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