Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 61
Provas do destino




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Passara um mês desde a estranha e repentina separação de Clint e Diana, a morena arrastava-se lentamente entre lagos de lágrimas e paisagens de insegurança, esforçando-se por esconder a tristeza que insolentemente dilacerava o seu coração, tentando absorver as nódoas de sofrimento que lhe feriam os olhos encerrados pela mágoa, esforçando-se por submeter à sua vontade as maldosas correntes do desespero e da solidão que cruelmente lhe prendiam o espírito a uma rocha coberta de espinhos e punhais, tentando capturar os seus sonhos, há muito destruídos, na palma da sua mão. O Arqueiro deambulava desnorteado pelos bares de diversão nocturna, acarinhando com ternura os milhares de copos e garrafas de álcool que se tornaram quase rotineiros. A sua aparência calma, tranquila e despreocupada mascarava a espiral de sofrimento e solidão que lhe massacravam de forma impiedosa a alma, atirando-se frequentemente na esfera quente e solidária da sua almofada derramando compulsivamente lágrimas de saudade, confusão e desespero. Passara grande parte do seu tempo em casa, na companhia do seu cão ou esporadicamente Scott aparecia com uma enorme pizza e uma garrafa de coca-cola, por certas ocasiões Natacha também o visitava, numa tentativa inútil de o chamar à razão.

— Vamos a levantar! Não acredito que estiveste a beber outra vez! - Recriminou a Viúva em tom reprovador, abrindo com estrondo os estores quase sempre fechados.

— Fecha essa porcaria, deixa-me dormir! - Berrou o Gavião indignado, puxando os cobertores para cima da cabeça.

— Que lindo estado, não haja dúvida. - Constatou a Russa em voz fria, analisando o monte de roupa que Clint cultivava num dos cantos do quarto. - Queres que leve estas roupas para a lavandaria?

— Não quero nada, deixa-me em paz de uma vez por todas! - Retaliou o louro em voz impaciente, olhando Natacha sobre as milhares de gotas de álcool que lhe navegavam no sangue.

— Quanto tempo mais vais comportar-te como uma criança? - Perguntou Natacha de forma imperativa, sentando-se na beira da cama do Arqueiro.

— Até esquecer que aquela miúda existiu, ou até ela voltar para mim. - Respondeu o mestre das setas com a tristeza deitada a seu lado, encarando uma fotografia de Diana pousada na sua mesa-de-cabeceira.

— É mais fácil pensares em esquecê-la, deixa-a seguir com a vida em frente. - Retorquiu a Viúva de forma calma e distante, tentando não ferir ainda mais os sentimentos do seu amigo.

— Quando é que tu metes nessa cabeça dura que eu a amo, não pretendo desistir dela! - Exclamou o Gavião completamente frustrado, sentando-se na cama de rompante, quase derrubando a ruiva.

— Clint sê razoável, ela é apenas uma miúda, e para as raparigas da idade dela as relações são passageiras. - Afirmou Natacha de forma sábia.

— Tu não a conheces. - Disse o mestre das setas convicto das suas ideias, ninguém compreenderia o que ele e Diana passaram juntos, fora algo tão forte, tão apertado, tão intenso que as simples e banais palavras jamais teriam a capacidade de descrever.

— Não alimentes esperanças que nem tu acreditas que existem, por favor. - Atirou a Viúva sem rodeios, erguendo-se, preparando-se para ir embora.

— Não me interessa do que tu pensas, vou provar que estás enganada. - Proferiu o mestre das setas em voz baixa, como se temesse que as suas inabaláveis certezas fugissem através das finas partículas de menta que brotavam dos seus lábios.

— Brevemente terás notícias minhas, Adeus Agente Barton. - Despediu-se a Viúva em tom enigmático, acenando levemente com a mão demarcando a sua saída e colocando mais uma pergunta no ar.

Steve Rogers espreitava pela janela aberta da sua sala, o seu bonito rosto ostentava uma expressão calma e amável, fitando com saborosa delicadeza duas meninas que passeavam alegremente com a sua mãe, rindo por tudo e por nada, baloiçando na pura inocência que apenas a infância possuía, inocência que jamais deveria ser abandonada. Desviou por momentos os seus sonhadores olhos para o relógio pendurado num dos cantos da divisão, marcava oito e meia, estava quase na hora do pequeno-almoço.

— A Diana deve estar a chegar, olha para a tua figura ainda de pijama, andas a ficar preguiçoso Rogers. - Recriminou-se em voz baixa, olhando o seu reflexo num dos vidros de um carro estacionado no passeio. - Desde que a Diana acabou com o Clint a nossa aproximação tornou-se algo precioso, algo que supera todas as adversidades, barreiras e inseguranças, contudo não tenho plena certeza se estes laços são os melhores para ela, tenho medo de falhar, tenho receio de a desiludir, tenho pavor de a fazer sofrer. Depois de alguns dias passados na sua companhia compreendo que já não consigo imaginar as minhas manhãs sem aquele lindo sorriso que desvanece a luz clara e quente do sol, ela sem se aperceber plantou na minha vida milhares de pétalas de esperança e frescura que eu confesso que jamais pensei ser possível. - Reflectia distraído, enquanto caminhava até ao seu quarto. - Lamento do fundo do meu coração que alguém tão puro e digno tenho sido maltratado pelas duras insígnias do destino, ela merecia bem melhor do que as pedras da perda, as espadas do desespero e as partidas cruéis da negra morte. Gostava de a libertar de tudo o que a faz ou fará sofrer, gostava de a salvaguardar das traições constantes do mundo, gostava de a salvar das injustiças e da maldade dos homens, gostava de a esconder das garras aguçadas do destino impiedoso, todavia sei que não consigo satisfazer os meus devaneios loucos e impossíveis, resta-me apenas ser o escudo que a protege dos momentos traiçoeiros que enlouquecem as noites e os dias. - Analisava, à medida que colocava uns jeans brancos e uma t-shirt azul clara. - Mas pensando melhor, todas estas atrocidades que deflagraram ao longo da sua curta vida tenham sido as impulsionadoras para ela se ter tornado a miúda corajosa, honrada e bondosa que é hoje. - Concluiu num misto de tristeza e orgulho.

— Bom dia! - Exclamou Diana divertida, abrindo a porta do apartamento de forma entusiasmada, Steve dera-lhe uma chave fazia algumas semanas.

— Estou aqui no quarto, vou já. - Respondeu Rogers sorridente, terminando de calçar os ténis.

— Trouxe pequeno-almoço. - Anunciou a adolescente, pousando uma caixa e um pequeno saco sobre a mesa de refeições. - Uau, que lindo Capitão! - Elogiou, fitando surpresa as roupas que o louro elegantemente trajava. - Espero que não te importes. - Disse, apontando para o enorme cão branco que farejava o chão da divisão, procurando certamente restos de comida!

— Claro que não, anda cá rapaz! - Exclamou o super-soldado, batendo na perna numa tentativa de captar a atenção do fofo Gavião, conseguira sem dificuldade, o cão adorava festinhas.

— Então hoje não foste correr? - Perguntou Diana admirada, começando a colocar sobre a superfície polida da mesa dois pratos e dois copos bem como uma enorme pilha de guardanapos.

— Se eu te disser que não fui ficas a pensar mal de mim? - Interrogou Steve apreensivo, sentando-se confortavelmente, apoiando as enormes patas do cão nas suas pernas.

— Claro que não fico, até o Capitão América tem direito a descansar! - Respondeu a Sereia sorridente. - Queres croissant de chocolate ou de amêndoa?

— Pode ser o de chocolate. - Retorquiu Rogers em voz gulosa, lambendo os lábios. - E fico com o sumo de ananás, não te importas pois não?

— Claro que não. - Respondeu a Vingadora feliz, deitando no seu copo uma generosa quantidade de sumo de pêra.

— Como estás? - Questionou o louro em tom doce e sereno.

— Estou a viver um dia de cada vez. - Respondeu Diana pouco à vontade com aquela pergunta, ainda não esquecera Clint, nem para lá caminhava, no entanto lutava com todas as suas forças para manter aqueles sentimentos bem no fundo do seu coração, encarcerados pela sua determinação.

— Tens estado com ele? - Insistiu Steve curioso.

— Quando por alguma casualidade temos que nos cruzar ignoro-o, acho que é o melhor que faço. - Explicou a morena, deixando-se absorver involuntariamente pelas espessas nuvens da tristeza sem se aperceber. - Parece que para ele eu já nem existo, talvez realmente nunca tenha existido.

— Não penses dessa forma, não te desvalorizes, tu és uma miúda fantástica, só tens que encontrar a tua estrelinha da sorte. - Tranquilizou-a o Capitão em voz amável e carinhosa, dando uma leve carícia no rosto ternurento da jovem.

— Acho que já a encontrei. - Proferiu a Sereia em voz enigmática, sorrindo ligeiramente, dando um pedaço de croissant ao seu querido Gavião que a fitava com aqueles olhos carinhosos que se torna impossível resistir.

— Há sim? Quem é? - Contudo a questão do Capitão foi cortada a meio pelo aguçado ruido da campainha, anunciando a inesperada chegada de alguém.

Steve levantou-se da cadeira, caminhou rapidamente até à porta, abrindo-a de par em par, cedendo a passagem a uma elegante jovem ruiva que transportava nos seus magros braços uma enorme pilha de roupa molhada. A jovem vagueou aos tropeções através da sala, desequilibrando-se com o peso exagerado da roupa...

— Deixa, eu trato disso. - Prontificou-se o louro em tom cordial, retirando as suas vestes dos braços da rapariga. - Solipa, aconteceu alguma coisa à máquina de secar? - Perguntou surpreendido.

— A máquina foi roubada senhor. - Explicou Solipa em voz tímida. - Lamento.

— Não tem importância, quanto te devo? - Questionou Rogers em voz simpática, puxando pela sua carteira.

— Nada senhor, o trabalho não ficou completo. - Respondeu a jovem honestamente.

— Toma, isto é para ti. - Disse Steve, em voz serena, passando uma nota à jovem. - Até à próxima. - Despediu-se, com um leve aceno.

— O que vais fazer com toda essa roupa molhada? - Questionou a Vingadora preocupada. - Se quiseres posso estendê-la no terraço, não me importo.

— Tens a certeza disso? - Inquiriu o louro apreensivo.

— Se não quisesse nem se quer me oferecia. - Respondeu a Sereia em voz sincera, segurando na roupa, colocando-a dentro de um alguidar.

— Podes com isso? - Questionou Steve, olhando para a figura esguia e elegante da morena e em seguida para o peso bruto da roupa molhada.

— Estás a subestimar as minhas capacidades, Rogers? - Questionou a Vingadora adoptando uma expressão falsamente dura.

— Por quem sois misse Diana! - Exclamou o Capitão, imitando a voz pomposa de Stark.

— Tu realmente és incrível! - Proferiu a Sereia, desatando a rir a bandeiras despregadas.

— Eu não, o Hulk sim. - Rematou o louro, partilhando a mesma alegria de Diana.

Cinco minutos depois, a jovem chegava ao andar superior do velho prédio, onde se localizava o solarengo terraço. Pousou o alguidar no chão acimentado e começou a estender a roupa, sentindo os potentes raios de sol almejarem de forma feroz a sua pele. Alguns passos dotados de uma leveza impressionante captaram a atenção da adolescente, esta virou-se e deu de caras com a mesma rapariga com quem se cruzara dias antes no elevador.

— Bom dia! - Saudou a Vingadora educadamente. - A expressão dela permanece vazia, fria e distante. - Constatou, segurando numa t-shirt branca do Capitão. - Sou a Diana.

— Bom dia! Eu chamo-me Melissa. Tu não moras aqui, pois não? - Perguntou a rapariga em voz sumida, olhando a morena com uma ligeira chama de desconfiança.

— Não, apenas venho visitar um amigo. - Respondeu a Sereia sorridente, apressando a sua tarefa, pois o sol ardia-lhe violentamente nos ombros. - Tens uma linda bebé.

— Ela é a melhor coisa que a vida me deu. - Afirmou Melissa em voz triste, beijando de forma demorada a sua filha na bochecha rechonchuda. - Diz olá, Aurora.

— Aurora é um nome lindo. - Elogiou Diana, pegando a menina nos seus braços. - O que aconteceu ao teu braço? - Perguntou impressionada, reparando num profundo corte que decorava terrivelmente o antebraço da rapariga.

— Isto não é nada, cortei-me a preparar a sopa da Aurora, sou muito distraída, este tipo de acidente é bastante frequente, não te preocupes. - Justificou-se Melissa rapidamente, cobrindo a sua alma com as frias e escuras tábuas da mentira e da vergonha.

— Devias ir ao hospital, isso parece ser fundo. - Sugeriu a Vingadora, sentindo a raiva e o ódio ferverem nas suas veias, entregando a bebé nos braços da sua mãe.

— Não tem importância, já estou habituada. - Disse a rapariga de forma evasiva.

— Existem sempre saídas para os nossos problemas, nós não temos que os encarar sozinhas. - Proferiu a Sereia em voz encorajadora, retomando a sua tarefa.

— Diana! - Exclamou a voz familiar de Steve, vinda do cimo das escadas. - Olha o Tony ligou-me, tenho que ir até à Mansão, queres vir comigo?

— Não, eu fico a terminar isto. - Respondeu Diana de forma insegura, não queria encarar Clint. - Até logo.

— Até logo. Depois tens que me contar o que te preocupa. - Disse o louro em voz baixa, saindo dali a grande velocidade, acenando suavemente a Melissa.

— Ele gosta muito de ti. - Comentou Melissa em voz ciumenta.

— Um dia também encontrarás alguém que goste realmente de ti, só precisas de ter a coragem de...

— Então estás aqui! - Exclamou um rapaz corpulento em tom cínico, olhando Melissa com profundo desprezo. - Tens coisas para fazer em casa.

— Certo Jeff, vou já. - Assentiu a rapariga em voz temerosa, estremecendo com os ventos velozes de um furacão.

— Tu não tens que...

— Está tudo bem. - Interrompeu Melissa, completamente perdida na colina do medo e da submissão, seguindo o seu namorado.

— Tenho que a ajudar. Preciso de contar esta situação ao Steve. - Decidiu a Vingadora colérica, finalizando a sua tarefa.

O relógio de bairro anunciava a chegada badalada da meia-noite, a lua iluminava fracamente a figura arrogante de Natacha Romanov, enquanto esta se esgueirava pelas escadas silenciosas do prédio do Arqueiro.

— O que queres daqui? - Perguntou a voz fria do Gavião, deparando-se com a Viúva na ombreira da sua porta.

— A S.H.I.E.L.D precisa de ti. Vai buscar o equipamento e segue-me. - Anunciou a Russa em voz misteriosa, acendendo no coração do mestre das setas a adrenalina que somente as missões da S.H.I.E.L.D. lhe traziam – Esta noite viajaremos até ao meu país.

Como culminará a história de Melissa? Qual é a missão que colocará o Agente Barton de novo no terreno? O que leva Natacha de volta ao seu país de origem?


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