Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 58
A garra do herói




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Diana corria apressadamente sobre a ponte do desespero e da maldição, tinha que salvar o seu melhor amigo, não podia deixar que a cruel e gélida morte voltasse a percorrer insolentemente as profundezas cristalinas dos seus olhos, não podia permitir que a perda cravasse no seu coração marcas de dor que jamais cicatrizariam, não podia facilitar que a saudade permanente voltasse a inundar o seu espírito com o amargo sabor da ausência, não podia desenvolver na sua mente aquele doloroso sentimento de solidão, frustração e impotência que tão bem conhecia, chegara a altura de se redimir com os seus fracassos, chegara a altura de os transformar em milhares de borboletas cristalinas que transmitiriam através dos sete mares a sua coragem, bondade, carinho e dignidade, chegara a altura de os personificar em anjos transparentes que salvariam as pequenas sementes da terra, chegara a altura de os transformar em ondas que levariam todos os sonhos para um local seguro e quente, onde jamais se perderiam e livres flutuariam para toda a eternidade nas asas do destino.

— Meu deus, quantos monstros marcham afinal sobre a terra? - Pensava a morena aterrorizada, à medida que o cheiro chamuscado do fato do seu amigo lhe entrava cruelmente pelas narinas. - Não posso usar a minha voz, afinal para que é que ela me serve? - Constatou frustrada, compreendendo que a potência do seu poder acabaria por provocar a morte de Peter, caso o Duende o largasse em cima das chamas o que sem dúvida era o mais provável. - O que é que eu faço? - Cismou apreensiva, batendo com o pé no alcatrão, fitando com interesse um pequeno ferro pontiagudo que caíra dos arcos da ponte.

— Tio, tia. - Murmurou o Aranha desesperado, reparando na aura clara e fresca da sua melhor amiga recortar-se na noite escura.

— Aguenta Peter. - Murmurou a Vingadora em tom corajoso, correndo na direcção do fogo com o pequeno espigão em riste, preparando-se para almejar o sádico duende com a força da cruel esperança que jamais se esgota. - Espero que resulte, espero que resulte! - Pensava, à medida que a distância encurtava a passos largos. - É agora! - Sussurrou, parando a escassos metros do monstro, prendendo a pequena arma entre os dedos lançando-a com precisão e mestria em direcção à nuca do Duende Verde.

— Em cheio, mesmo ao estilo dos arqueiros! - Exclamou Peter impressionado, aproveitando a distracção do seu oponente para se libertar da prisão de chamas serpenteantes.

— Obrigada, graças a deus que namorei com um...

— Com o Gavião Arqueiro. - Completou o herói em tom perspicaz, sorrindo de satisfação. - Mas depois falamos sobre isso, agora deixa-me tratar da saúde ao nosso amigo.

— Já estou a tremer! - Exclamou o monstro em tom sarcástico, atirando uma das suas mortais abóboras contra os dois heróis.

— Falhaste. - Gritou o Aranha divertido, saltando por cima do autocarro em chamas.

— Não falharei outra vez. - Garantiu o Duende de forma convicta, jogando outra das suas fiéis armas.

— Os teus poderes de adivinhação estão a dar as últimas, dedica-te à agricultura pode ser que tenhas mais sorte nesse ramo! - Exclamou o herói sorridente, escapando-se de uma nova investida do seu tenebroso oponente. - Cuidado!

— Ahhhh! - Gritou Diana, vendo que uma das abóboras voava na sua direcção, porém o seu grito paralisara momentaneamente a maldade fulminante do duende. - Boa. - Murmurou, compreendendo o efeito da sua voz, aproveitando para desferir um incrível pontapé voador no queixo do inimigo, que tombou por terra.

— Fantástico, acho que temos de arranjar um nome para a nossa dupla. - Aplaudiu o Aranha entusiasmado.

— Maldita rapariga vais pagar bem caro. - Ameaçou o sanguinário verde completamente colérico, avançando na direcção da jovem.

— Se queres pagamentos dirige-te às instalações das finanças! - Discordou o jovem de forma trocista, segurando o duende pelos ombros, dando-lhe uma valente joelhada nas costas. - Não achas que são horas dos idosos estarem a dormir? - Zombou, passando num salto por cima do duende, dando-lhe um pontapé em cheio na cara. - Devias fazer uma operação plástica!

— Quem ri por último ri melhor, não te esqueças disto! - Berrou o monstro em tom rancoroso, içando-se para o dorso malévolo do seu planador. - Esta miúda é uma Vingadora, não posso permitir que esses palhaços mascarados intervenham na minha demanda, por agora retiro-me para mais tarde voltar ao ataque. - Pensou, reconhecendo a figura de Diana das páginas ilusórias dos jornais. - Deixo-vos um presentinho de despedida, espero que gostem! - Grunhiu, retirando uma quantidade monstruosa de abóboras da sua bolsa maligna, jogando-as na direcção de Peter e da Sereia sem qualquer rasto de piedade ou misericórdia.

— Diana baixa-te! - Gritou o herói amedrontado, atirando-se de cara no alcatrão.

— Peter onde estás, eu não vejo nada! - Gritou a Vingadora completamente surpreendida com aquele ataque, deitando-se apressadamente sobre aquele manto cinzento coberto de maldade e caos.

Os dois adolescentes respiravam com extrema dificuldade, segurando com força as pequenas partículas de ar puro que ainda sobreviviam àquela neblina escura e fumegante que cobria a noite. O laranja das chamas inundava os seus espíritos como pequenas larvas que consumiam a pouco e pouco as suas dedicadas vidas, alimentando os caprichos desmedidos do duende. Um sorriso maligno e congelante arrastava as trevas infernais sobre a mítica ponte, afundando os corpos quase exaustos dos dois jovens num abismo de desespero, escuridão e maldade.

— O cheiro intenso do fumo entra dolorosamente pelas minhas narinas, quase anulando todos os outros aromas nocturnos. O som inconfundível das labaredas confunde os meus ouvidos, ressoando no meu interior como uma melodia desalinhada e mal ensaiada. O perfume arrogante da morte desliza insolentemente pelos arcos pensativos da ponte enquanto eu me desloco na sua sombra arrepiada e gananciosa, porém, ainda sou capaz de distinguir dois corações que batem descompassadamente em sinfonia com um riso pérfido e grotesco, percorro mais três quilómetros, finalmente os seus cheiros, misturados com o alcatrão atraem as atenções do meu nariz, encontrei-os. De repente travo a minha marcha, capto o som de novas batidas cardíacas, alguém se esconde nas entranhas tranquilas de um pequeno túnel, pela sua respiração consigo perceber que se trata de uma rapariga. Qual o sentido de toda esta catástrofe que me brinca nas pontas frias dos meus dedos? - Pensava o Demolidor de forma analítica, enquanto percorria a ponte através dos arcos do céu e do manto do inferno.

O Homem sem medo, apelando a todas as insígnias da coragem e da honra, correu até aos dois heróis, arrastando-os sobre o terreno amaldiçoado, fugindo dos portais esquecidos do inferno.- Obrigado Demolidor. - Agradeceu Peter ofegante, cuspindo fuligem para o chão.

— O que se passou aqui? - Questionou o ruivo confuso.

— Foi o duende e as tramas dele. - Respondeu Peter, ajudando Diana a colocar-se de pé.

— Homem-Aranha temos que ajudar estas pessoas. - Afirmou a Sereia em voz determinada, acenando ao Demolidor numa tentativa inútil de lhe agradecer.

— A voz desta miúda rebenta nos meus ouvidos como um forte foguete festivo, posso jurar que o meu corpo paralisou durante escassos segundos. Todo o seu corpo cheira a coragem, determinação e valentia, no entanto o seu coração divaga sobre a praia da tristeza e do sofrimento. - Cismava o advogado surpreso com aquele estranho poder, seguindo as passadas do Homem-Aranha e da morena até ao autocarro. - Não vale a pena procurarem sobreviventes, a única coisa que podemos fazer por elas é dar-lhes um funeral digno.

— Certo, para falar a verdade eu já estava à espera disto. - Confessou Peter tristemente.

— Mas espera, eu lembro-me que...

— Ela está ali escondida num daqueles túneis. - Completou o Demolidor em tom prestável, apontando na direcção a seguir.

— Lídia. - Murmurou Peter aflito, correndo para abraçar a jovem que se ajoelhava no chão, rezando pelas almas das suas companheiras. - Vai ficar tudo bem, fica tranquila, tudo se resolve.

— Como? Eu estou completamente sozinha. - Desabafou a noviça em voz trémula, derramando lágrimas de desespero e solidão, tomando finalmente consciência da tragédia que cruzara a sua vida, colocando em causa toda a sua colorida e incontestável fé, onde estava Deus afinal?

— Existe sempre uma saída para os nossos problemas, acredita em mim. - Disse Diana sabiamente, recordando todas as ocasiões em que estivera à beira do abismo da desistência.

— Eu não vejo nada além de escuridão e sofrimento. - Choramingou Lídia apavorada, vendo o seu futuro mais negro do que uma noite de inverno.

— Eu entendo que te sintas perdida, abandonada e até mesmo traída pela tua esperança, no entanto existe sempre uma pequena luz a brilhar intensamente nas trevas que te magoam e destroem. - Declarou a morena em voz doce e serena, segurando com força na mão da religiosa.

— Quem são vocês? - Perguntou a jovem Lídia confusa, olhando os três heróis com curiosidade e admiração.

— Somos pessoas que defendem a paz e o bem no mundo, vivemos com essa missão. - Respondeu Peter apreensivo, escolhendo cautelosamente cada palavra que prenunciava.

— Então são como anjos que fazem o trabalho de Deus. - Constatou Lídia com orgulho na voz, fazendo uma vénia repleta de gratidão e apreço aos três heróis.

— É mais ou menos isso. - Assentiu o Aranha sorrindo.

— Vocês podem ajudar-me? - Questionou a noviça esperançada.

— Eu posso. - Respondeu o Demolidor repentinamente, surpreendendo os outros dois.

Os carris que nos guiam até aos jardins do futuro luminoso são sinuosos, traiçoeiros e frios, contudo existem sempre mãos solidárias e carinhosas que se estendem sobre o nosso coração para nos ajudar a ultrapassar as adversidades que injustamente se cruzam connosco, apenas nos resta segurá-las com força, pois esse laço sobreviverá a qualquer tempestade.

Qual o plano do Demolidor? Quem comandará o seu coração, os anjos ou os demónios?


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Notas finais do capítulo

Escolhi o Demolidor para intervir nestes capitulos porque na minha opinião ele é o herói mais religioso que pertence ao Universo Marvel, achei que ficava bem integrado nesta mini-história.



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