As palavras de encorajamento e incentivo deflagravam na mente da jovem como um incêndio de esperança e alegria, a confiança e a segurança que por vezes a traiam de forma ingrata e injusta voltavam a florir fertilmente no seu jovem coração, a atmosfera envenenada dissipava-se como o gelo arrogantemente derretido pelos raios solares, submissa aos unidos esforços de Susan Storm e Tony Stark, a ansiedade do Gavião aumentava gradualmente, desejando que as aguçadas notas de cristal irrompessem docemente dos lábios cor de cereja que faziam as delícias dos seus mais íntimos e misteriosos sonhos. Então, embalada pelas emoções e pelas espectativas da sua equipa, Diana resistiu ao encantador chamar da insegurança, no ar flutuavam milhares de estrelas cantantes, à medida que a voz da morena enfeitiçava o corpo egoísta do demoníaco palhaço, celebrizando o tema “Survivor”, ilustrando da melhor forma o seu estado de espírito e o panorama vivido na cidade que nunca dorme, a vitória e a concretização pessoal sorriam-lhe das profundezas da sua alma azul, embarcando suavemente no salvamento de milhares de inocentes, o sol poluído voltaria a navegar dentro de um mar de nuvens.

— Estás preso, o espetáculo acabou! – Exclamou Clint triunfante, avançando até Bizarov que o olhava com uma expressão de raiva e desdém. – Não resistas, espera, tu não podes resistir, desculpa a minha insensibilidade! – Brincou, colocando umas potentes algemas nos pulsos inertes do inimigo, apanhando com a outra mão os dois restantes balões. – Espero que a S.H.I.E.L.D. não se demore, estou cheio de fome. – Comentou.

— Ele não é um criminoso do gabarito da S.H.I.E.L.D, será detido por oficiais estatais. – Interferiu Tony ofegante, o peso do seu erro martelava no seu peito como uma bala disparada à queima-roupa, todos o olharam incrédulos.

— Como quiseres, mais uma vez tenho que fazer o trabalho desses incompetentes, bolas! – Murmurou o Arqueiro irritado, olhando Bizarov com desconfiança.

— Como estás? – Perguntou Stark em voz doce, dirigindo-se ternamente a Diana que permanecia encostada a uma parede.

— Estou bem, obrigada Tony, obrigada por esta oportunidade. – Agradeceu a Vingadora sinceramente, ainda continuava aborrecida com o herói, contudo jamais esqueceria a prova de segurança que ele depositara no seu coração.

                Algures num dos enormes prédios uniformes localizados nas redondezas que a pouco e pouco retomavam à sua habitual rotina, alguém fazia de forma exaustiva e alheia as suas limpezas caseiras, escutando em altos berros, fazendo estremecer os vidros, a belíssima melodia entoada por Charlie Puth, “One call away”, um hino à fervilhante e insubstituível amizade desinteressada, o vento caprichoso embalava as notas musicais até às Torres Stark, mergulhando o cenário comprometedor num clima de reconciliação imediata.

— Tony eu queria pe…

— Não precisas de dizer nada. – Interrompeu o Homem de Ferro em voz carinhosa, retirando a sua blindada armadura e correndo até Diana, amarou-a num profundo e sentido abraço, como andava ansioso por aquele momento, obrigado Bizarov.

— Nunca mais vamos discutir. – Decidiu a Sereia emocionada, separando-se do carinho que emanava do peito do milionário solidificando numa agradável e terna onda de calor.

— Nunca mais. – Prometeu o herói em voz abafada, vendo o carro da polícia aproximar-se, serpenteando de forma insolente no meio dos veículos de emergência que socorriam os feridos.

— Quando eu for solto não desistirei da minha missão nesta terra, goza enquanto podes da tua fortuna porque num futuro bem próximo ela cairá na desgraça, até sempre Stark! – Cuspiu o palhaço com o rancor a pintar-lhe os olhinhos perturbados.

— Quando cumprires a tua pena garanto-te um lugar nas minhas empresas, tu mereces um trabalho que sustente a tua família. – Prometeu o Homem de Ferro fazendo jus a sua bondosa filantropia.

— É preciso ter uma grande lata, ele quase mata Nova Iorque em peso e tem direito a um abraço e eu que vim salvar o dia sou tratado com indiferença, se calhar também tenho que sair por aí vestido de palhaço preparado para dizimar a humanidade, talvez assim ela repare em mim. – Pensou Clint extremamente ultrajado, não percas a esperança Gavião!

— Susan obrigado pela tua colaboração, sem ti o sucesso desta missão não teria sido permitido. – Disse Tony honestamente, olhando Sue com pura admiração, esta sorriu.

— Não tem importância Tony, já sabes estou aqui para o que for necessário, bem até logo, depois passo na mansão para falar com a Diana, acho que ela não está para muitas conversas! – Despediu-se a Mulher invisível feliz por ter sido útil.

— Bem Tony eu vou voltar para a escola, ainda chegarei a tempo das aulas da tarde, até logo. – Afirmou a Vingadora satisfeita, dando um forte beijo no rosto do milionário, Clint olhou-a com indignação, aquilo era demais, contudo a Sereia voltou-se na sua direção e beijou-o igualmente no rosto.

— Elas não me resistem! - Pensou o Arqueiro de forma convencida, sentindo o seu sangue ferver através dos ventos do desejo e da paixão.

                No blindado gabinete de Nick Fury, uma enorme e pormenorizada notícia desfilava por um dos muitos ecrãs que decorava a divisão, ilustrada por diversas imagens verídicas que culminava num garrafal título vermelho.

— Parece que ficou tudo resolvido, ainda bem. – Comentou Steve aliviado, relendo a notícia pela centésima vez.

“ Vingadores e Quarteto Fantástico envenenam ameaça biológica”: “ Hoje pelas dez da manhã, um desastre biológico deflagrou nas imediações da Stark Enterprise, uma das mais famosas e bem-sucedidas companhias mundiais, valorizando-se pelos seus sucessivos avanços tecnológicos que se destacam e popularizam nos quatro cantos da Terra. Uma nuvem de um qualquer e mortífero veneno pairou durante terríveis minutos sobre a atmosfera citadina, lançando o caos e o pânico na população. Algumas testemunhas oculares descrevem o cenário como catastrófico e caótico, declarando ainda que avistaram um individuo trajando um fato de palhaço no epicentro da confusão, talvez tenha sido este bizarro homem a perpetuar o ataque que poderia ter culminado numa catástrofe irremediável. Podemos ainda garantir que não existem vítimas mortais resultantes deste sórdido incidente, como foi noticiado em diversos meios de comunicação, apenas foram transportadas até aos hospitais cinquenta pessoas que ficaram demasiado tempo submetidas às radiações tóxicas do veneno. Graças à rápida e eficaz intervenção do Homem de Ferro, dum membro do Quarteto Fantástico, do Gavião Arqueiro e dum membro dos Vingadores que não conseguimos identificar. O criminoso foi detido e será brevemente presente a um juiz. Contudo ainda existem alguns mistérios à volta deste estranho massacre como os verdadeiros motivos e as reais motivações do suspeito. Anthony Stark, o famoso empresário, foi ilibado de qualquer tipo de acusações, no entanto não se salva da opinião pública”

— Tudo está bem quando acaba bem, e melhor terminaria com uma grade de cervejas! – Comentou Fury sem dar grande importância ao desfecho da situação. – Já estás mais tranquilo?

— Sempre estive. – Mentiu Steve pouco à vontade.

— Sim estiveste tão tranquilo como uma gazela que está a ser perseguida por um leão! – Exclamou Nick sorrindo com malícia, sempre fora um homem perspicaz, o seu olho aguçado era como uma autêntica máquina de Raio X, nada lhe escapava. – O que pensas fazer agora?

— Alguma coisa. – Respondeu Steve de forma vazia, tinha consciência que Fury sabia perfeitamente a resposta que invadia a sua mente.

                O grande relógio badalava a uma da madrugada, ressoando com estridente ruído nos quatro cantos da Mansão dos Heróis mais poderosos da Terra, Diana sentada num dos muitos sofás da vazia sala de estar, debruçava-se a muito custo sobre uma ficha de Matemática, era muito tarde e os seus olhos sonhadores picavam com a chegada eminente do sono, contudo não podia ceder ao encantador chamado dos seus felpudos cobertores, tinha que terminar a tarefa escolar, não tinha outra escolha.

— Vamos lá, não falta muito! – Murmurou a morena, agitando a cabeça numa tentativa desesperada de afastar a fragrância do sono, boa sorte!

                A Vingadora pousou o seu caderno, a ficha de trabalho e a caneta no sofá, levantou-se e dirigiu-se lentamente ao frigorífico, retirou uma garrafa de água e bebeu com satisfação, talvez conseguisse afogar a vontade do impertinente sono.

Alguns passos rápidos batiam suavemente no soalho de madeira captando a distraída atenção da Sereia, esta olhou em redor, quem estaria levantado aquela hora? Porém um pequeno raio de luar incidiu nuns lindos cabelos louros e ela soube exatamente quem a observava das redes das sombras.

— Ainda acordada! – Comentou a voz ensonada de Clint Barton, olhando Diana com surpresa.

— Parece que sim, estou a terminar os trabalhos de Matemática. – Explicou a Vingadora, voltando a sentar-se no sofá. – Porque não estás na cama?

— Estava com sede, vim buscar um copo de água. – Respondeu o louro sorrindo timidamente, que desculpa mais parva! – Aproveita agora para falares com ela, não desperdices esta oportunidade. – Pensou, enquanto sugava um grande trago de água fresca.

— Até amanhã! – Despediu-se a Sereia, notando que o mestre das setas colocara a garrafa de novo no seu lugar, todavia não ergueu os seus olhos cor de água da folha onde floriam infinitos números e símbolos.

— Achas que podemos falar? – Perguntou Clint inseguro, mantendo uma distância de segurança considerável.

— Como é que tens energia para falar a esta hora, depois do dia que tivemos eu só queria estar na minha caminha a dormir. – Comentou Diana num murmúrio preguiçoso.

— Partilho o mesmo desejo que tu! – Exclamou o Gavião, sentando-se junto da morena, inalando o seu adocicado perfume com aroma a framboesa.

— Não pises o risco Clint, não sabes do que eu sou capaz quando estou com sono! – Ameaçou a Sereia irritada, estava sem paciência para aqueles avanços medíocres.

— Estava a brincar, tem calma contigo miúda! – Defendeu-se o Arqueiro, não estava pronto para enfrentar a fúria das ondas que desaguava nos olhos azuis da Sereia.

— O que queres afinal, despacha-te antes que a tua amiga ruiva apareça! – Disse a morena em tom cortante como as rochas do mar.

— Acho que naquele dia as coisas não ficaram claras entre nós, eu não quero saber do que a Natacha pensa ou deixa de pensar, eu mantenho tudo o que disse naquela noite. – Declarou o Gavião rapidamente, como se temesse que o olhar aguçado da morena dilacerasse as suas palavras.

— Para mim as coisas estão mais claras do que a água, está tudo esclarecido, não te preocupes, fica na tua que eu fico na minha. – Retorquiu Diana sem olhar Clint nos olhos, a boca dizia o que o coração não sentia, no entanto aquelas duras palavas eram o único escudo que possuía na luta inglória contra aquela catadupa de sentimentos ritmados e flutuantes.

— Tu não me podes ter esquecido de um dia para o outro, não é verdade. – Afirmou Clint convicto das suas ideias, observando o movimento arfante que salientava o peito da morena.

— Não insistas é melhor para os dois. – Retaliou a Vingadora em tom distante.

— Então quer dizer que tudo o que me disseste era uma grande mentira, olha para mim e diz-me que era mentira. – Pediu o Arqueiro, colocando uma mão no queixo da morena, fazendo com que ela o olhasse directamente nos olhos.

                Um feixe de luz marinha invadiu o pequeno coral de prata que os unia naquele lindo universo de flores e palpitações coloridas, os seus lábios uniam-se na perfeita linha azul com aroma a tulipas campestres, um beijo abençoado pelo infinito e semeado pelas cintilantes ondas celestiais, juntos mergulharam nas profundezas protetoras de uma concha de amor, cumplicidade e paixão, embalados pelos flamejantes ventos do desejo, impulsionados pelo suave cantar das dunas de ternura e carinho, abraçando com os fios do coração aquela difícil relação.

— Eu sabia que tu me amavas. – Disse Clint em voz doce, separando-se dos lábios de cereja da morena.

— Claro que te amo seu estúpido, nunca duvides disso. – Confessou Diana em voz tranquila, como se o longínquo oceano invadisse a sua alma apaixonada, num gesto rápido e não pensado puxou o Arqueiro para junto de si abraçando-o com a força das marés.

— Isso quer dizer que me dás uma oportunidade? – Perguntou o louro esperançado, afagando a cabeleira de chocolate.

— Não sei, tenho que pensar! – Exclamou Diana sorrindo, Clint olhou-a com tristeza. – Estou a brincar! Claro que te dou uma oportunidade.

— Juro que não a vou desperdiçar! – Prometeu o mestre das setas, sentindo um enorme balão de alegria brotar nas raízes do seu coração.

— Mas tens consciência de que a nossa relação não irá ter grande aprovação? – Questionou a morena, batendo tragicamente com os pés em terra firme.

— Não me interessa do que os outros pensam. – Disse o Gavião sorrindo. – Se irritar certas pessoas ainda melhor!

— Não sejas parvo, eu não quero problemas! – Censurou a Vingadora, dando-lhe uma palmada no braço. – Talvez seja melhor namorarmos por enquanto às escondidas, talvez pareça um pouco infantil, contudo acho que é a melhor forma de evitarmos problemas, com o avançar do tempo depois logo se vê, o que achas? – Propôs.

— Pronto está bem, será tudo feito como vossa alteza desejar! – Brincou Clint sorridente, fazendo-lhe uma amorosa carícia no rosto cansado, beijando-a de seguida nos lábios, valeu a pena esperar.

                Nesse delicioso momento vermelho cor de cereja, o ar latejou com os passos apressados de alguém, os dois amantes sentiram um arrepio percorrer-lhes os espíritos sonhadores, enfeitiçados pela varinha mágica do amor. Steve Rogers estava parado, imóvel sobre o pavimento de madeira, olhando com uma estranha expressão aquela insólita cena.

— Clint, quero falar contigo na sala de reuniões. – Ordenou o Capitão em voz audível, começando a caminhar, arrastando consigo um mau presságio.

                Conseguirão os dois apaixonados a aprovação do bravo herói? Como reagirá Steve a esta inesperada notícia? Como correrá a conversa?