Vizinhos... escrita por Senhorita Pato


Capítulo 4
"Chama o Conselho Tutelar"




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Você está tentando dormir mais uma vez em uma nova casa. Não aguentava mais o maldito vizinho que tocava música alta a noite inteira e resolveu se mudar para um apartamento. Teoricamente, segundo você mesmo, vai ser mais silencioso, porque... sei lá. Condomínios são silenciosos, certo? Errado.

Ah, mas eu esqueci de mencionar uma coisa: o barulho te persegue. Sim, isso mesmo, porque nesse exato momento a mulher do andar de cima está tentando fazer o filho tomar banho e ele não quer, e berra tentando chamar a atenção de toda a vizinhança, na esperança de que os vizinhos o livrem do tão temido chuveiro.

E ele faz isso toda santa noite, exatamente das 22h00 até 22h30. Você sabe disso porque nos primeiros dias cronometrou e o tempo foi sempre o mesmo. Infelizmente, esse era seu horário de dormir. Você já tentou dormir mais cedo, mas não dá, você fica acordado se revirando na cama até o sono vir, o que ocorria mais ou menos as 22h15. Mas é neste exato momento em que os berros da maldita criança e da mãe são mais altos, e você não sabe com quem briga, se é com a mãe ou o filho. Falando nisso, onde está o pai, que você nunca o ouve gritando?

Ah, já chega. Por que diabos você ainda não foi reclamar? Vá agora! Pare de ser trouxa! O que você acha que vai acontecer? Que a criança vai se transformar em lobisomem e te morder? Que a mão vai sacar uma pistola e te matar? Que na verdade é tudo uma gravação de gente doida que só quer incomodar os outros?

Você respira fundo, sai da cama, põe os chinelos e sobe até o andar de cima. Você nem precisa perguntar o apartamento, o barulho é tão alto que até um surdo saberia. Como essa criança não fica rouca nunca? Como a mãe ainda não a entregou para a adoção?

Mas, como dizia a sua mãe, “quando você tiver filhos, vai entender”. E como dizia seu amigo que tinha uma irmã mais nova, “nunca subestime a garganta de uma criança”.

Você toca a campainha, mas acha que eles nem vão ouvir. Para sua surpresa, a gritaria para imediatamente. Você ouve a mão dizendo algo como “Viu?! Você faz tanto escândalo que chamaram a polícia achando que eu tava batendo em você!”. A porta é destrancada, e você percebe que não planejou muito bem o que vai dizer. Então, quando a mãe atende, você diz como um jato:

–Senhora, me desculpe mas dá pra fazer o seu filho ficar quieto ou dar banho mais cedo nele é que eu durmo exatamente nesse horário e ele grita muito será que dá pra fazer isso por favor?

Ela pede desculpas e está muito envergonhada. Enquanto o elevador abre, você a ouve gritando com a criança:

–TÁ VENDO? VOCÊ ME FAZ PASSAR A MAIOR VERGONHA! PARA COM ESSE BICO E VAI TOMAR BANHO LOGO ANTES QUE EU TE DÊ UMA CHINELADA!

Como dizia a sua avó, tal pai, tal filho.


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Notas finais do capítulo

Sacaram que o protagonista dessa crônica é o mesmo do primeiro capítulo? Hã? Hã?



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