Coleção de Drabbles escrita por Teffyhart


Capítulo 7
Sentimentos




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Era curioso, de fato.

Ela que não se assustava por nada. Que encarava qualquer tipo de coisa, afinal não tinha monstro que fosse forte o suficiente para enfrentá-la, não tinha um inimigo que ousasse encará-la ou sequer algum outro membro que conseguira ganhar dela em seus melhores dias. Ela era forte, independente, rápida, graciosa e, até mesmo, imune a fogo!

No entanto, o simples considerar dessa ideia a deixava tão escandalizada e assustada que, muitas vezes, ela não se sentia pertencer. Estava se apaixonando por alguém. E não era um alguém qualquer, não era uma pessoa decente, não era um civil. Não era ninguém que ela poderia usar a desculpa de proteger para se afastar.

Não. Era Sieghart, o imortal que, ao contrário do que normalmente acontecia, era o culpado por intervir em sua proteção. Era ela quem era fraca quando posta contra ele. Era ela quem se escondia atrás dos escudos que erguia e das paredes altas que construíra para a proteção de todos.

E esse tipo de pensamento a deixava abalada. Elesis não gostava de ser vista como fraca, ou sequer dependente de alguém. Ainda assim, lá estava ela, acovardando-se atrás dos ombros largos do imortal, usando como pretexto uma emoção que não compreendia, não desejava e nem aturava. Uma emoção que nunca antes tivera.

Amara seu pai. Loucamente. Ainda ama. Mas o que sente por Elscud é um sentimento completamente diferente.

O que sentia agora era um sentimento que a deixava frágil, exposta, vulgar - sim, vulgar. Talvez não quando relacionado à outras pessoas, mas quando o moreno estava envolvido em seus pensamentos, ela mesma não acreditava em tudo que era capaz de imaginar. Era difícil acreditar que muitas vezes percebia que não estava mais prestando atenção em qualquer coisa que fazia porque seus pensamentos estavam longe no moreno.

Até mesmo se pegara, por vezes, o analisando distante. Observando seus movimentos, seus sorrisos e a maneira com que ele se mexia. E isso a deixava frustrada, pela falta de palavra melhor.

Sieghart era um bruto, não havia discussão nesse ponto. Ele era alto e cheio de músculos, um exímio guerreiro que treinou sua vida inteira para ser o que era naquele instante. Ele podia facilmente fechar a passagem por um corredor ou porta simplesmente estando parado ali. E qualquer pessoa com esse tipo de físico não pode ser muito gentil, delicado ou gracioso em seus atos. Ele era desnecessariamente forte, muitas das vezes, ou simplesmente desatento, então seus membros longos acabavam se chocando com móveis e derrubando objetos. E ela nem ia começar a análise do quão traumatizante era enfiar o moreno e mais três membros da grande caçada dentro de uma carruagem.

Mas ao mesmo tempo existia algo que a encantava. Provavelmente era a maneira que ele tinha de tentar ser delicado ou atencioso com as coisas. Como ele se punha na frente de qualquer dano para proteger as outras pessoas. Como, as vezes, por motivo nenhum, o imortal gostava de fazer pequenos favores à pessoas qual ele era atencioso. Até mesmo a maneira como ele se preocupava com os outros era curiosa - possessiva, carinhosa, passional. Ele era o extremo do extremo e é por isso que, quieta, ela passou a observá-lo melhor.

Como agora, olhando-o treinar da janela do segundo andar. A maneira com que ria do rosto empoeirado de seu parceiro de treino quando ele o derrubara com um movimento brusco e preciso, mas ao mesmo tempo estendia a mão para ajudá-lo a se erguer. Sim, ele sempre tinha um comentário sarcástico ou alguma piada de mal-gosto na ponta da língua, mas parecia estar genuinamente feliz em estar na companhia de todos ali.

Mas existia sim uma única coisa que era a que mais a encantava. Que era a responsável por fazê-la arfar e corar, escondendo-se dos olhos pratas e de todos ao redor. Era a única coisa que a fazia encarar aquele sentimento estranho que crescia dentro de si, se contorcendo a cada momento.

Era a maneira com qual ele olhava pra si, o amor tão óbvio estampado em suas íris. A maneira discreta que ele tinha de dizer o quanto se importava com ela, e que apenas ela conseguia ler. A maneira única qual ele confiava tão cegamente na ruiva, deixando-a ver através de si. Como agora, através do vidro da janela.

Ela o fitou de volta, depois bufou, virando-se e saindo de perto do vidro. Seu coração palpitava, como sempre palpitaria. Não queria estar apaixonada. Não entendia o conceito desse sentimento. Não deveria estar apaixonada por um gigante que a única coisa que sabe fazer bem é lutar. Mas escondeu, até mesmo de si, o sorriso pequeno que surgiu em seu rosto.

Ele também sempre olhava ao redor procurando por ela.


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