Premonição Chronicles 3 escrita por PW, VinnieCamargo, Felipe Chemim, MV, superieronic, Jamie PineTree, PornScooby


Capítulo 12
Capítulo 12: Blow Me (One Last Kiss)


Notas iniciais do capítulo

Escrito por João R.C. Melo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/666411/chapter/12

Manhã – Pós-acidente

O grupo se encontrava em um canto na entrada do túnel. Eles apenas encaravam a situação, ninguém dizia uma palavra. Pessoas entravam e saíam do túnel. Gritavam e choravam. Parecia um verdadeiro inferno.

Oh, you meant so much

Have you given up?

Does it feel like a trial?

Does it trouble your mind the way you trouble mine?

 

Erick estava sentado contra a parede do túnel, encarando o chão. Não conseguia processar toda a situação, mas imagens do acidente continuavam se repetindo em sua mente. Os gritos, a parede de fogo... Tudo cravado em sua mente pelo resto de sua vida. Estava perdido em suas lembranças até uma pessoa aparecer distante em seu campo de visão, chamando por alguém.

— AMANDA! – O rapaz de jaleco gritava, correndo em direção ao grupo.

Erick se virou para a garota, analisando sua expressão para saber se conhecia o rapaz. Mia então correu e abraçou o rapaz.

— Gabriel... – Ela disse suspirando aliviada.

Ellen reparou a expressão confusa de Erick e resolveu lhe explicar.

— São irmãos. – Começou. – Gêmeos.

O garoto abriu a boca expressando a surpresa, mas não disse nada mais.

— Eu vim o mais rápido que pude, mas fiquei agarrado com o resto da equipe médica. – O alívio em ver sua irmã segura era claro em sua expressão. - Vocês estavam aqui na hora do acidente?

— Sim... Foi tão surreal. – Disse abraçando o irmão com mais força. – Dona também estava aqui, ela está bem. Já a encontrou?

Gabriel assentiu e Mia sorriu para ele, puxando-o para perto do grupo.

— Erick, esse é meu irmão, Gabriel. – Ela apresentou.

— Prazer... – Ele disse estendendo a mão. – Podiam ser circunstâncias melhores para novas amizades. – Gabriel riu diante da resposta do garoto.

— Erick é um amigo novo.

— É meio que nosso animalzinho novo. – Ellen replicou, sorrindo para Erick. Sabia que o garoto compartilhava o mesmo senso de humor dela. – Resgatamos ele pelas ruas.

O garoto riu de volta. Sabia o que Elle estava fazendo. Queria afastar o clima tenso que se estabelecera, ele apreciava isso.

O silêncio se estabeleceu logo em seguida.

— Então... – Erick começou. – Qual é o plano?

Erick estava sentado no chão ainda, próximo a alguns destroços. Stein a seu lado, suspirou.

— Vamos para casa. – Disse se levantando. – Descobriremos o paradeiro das nossas famílias e vamos reunir todo mundo.

— Gabriel e eu podemos passar em casa e pegar alguns suprimentos e roupas. - Mia e Gabriel estavam encostados contra a parede do túnel, abraçados. – Depois nos reunimos na casa de vocês.

— É melhor ficarmos juntos. – Erick respondeu. – A cidade deve estar uma loucura.

Mia assentiu e já ia se virando para irem para o carro quando percebeu algo.

— Tem também o pequeno detalhe que o carro de vocês foi consumido pela explosão.

Stein fez uma expressão como se fosse falar algo, mas mudou de ideia.

— Eu estou com meu carro. – Gabriel respondeu. – Acho que conseguimos enfiar todo mundo lá.

— Com gel e jeito... – Ellen começava, mas Stein lhe deu um leve soco, fazendo-a parar. – Ah, para. Não é surpresa pra ninguém as merdas que eu falo.

Stein revirou os olhos e eles seguiram Gabriel até o carro.

***

Durante a viagem de carro Erick tentou colocar a cabeça no lugar. Decidir o que precisava fazer. Chegando na casa de Mia todos poderiam usar o telefone fixo para tentar contatar suas famílias, já que as torres de celulares ficavam sendo ativadas e desativadas o tempo todo.

Precisava saber que sua mãe estava bem, porém temia ter de lhe contar sobre Lena. Não sabia o que dizer. A ficha não parecia ter caído pra ele ainda. Percebeu que seus olhos começavam a encher e então sentiu uma mão em seu ombro. Não precisou se virar para saber quem era.

— Obrigado.

***

— Peguem o telefone e avisem suas famílias. – Mia gritou enquanto disparava para dentro do apartamento.

Gabriel correu direto para a cozinha separando alguns alimentos enquanto Mia pegava roupas para os dois.

Enquanto empacotava as coisas a garota correu para um móvel no canto do quarto e arrancou a última gaveta, tirando um revolver do fundo do móvel e o colocando na mala.

Tanto Stein quanto Ellen não tiveram sorte com a mãe nem com o pai, o telefone dos dois parecia estar desligado.

— Mãe? – Erick gaguejou pelo telefone.

— Filho? Você está bem?— Podia ouvir o suspiro de alívio da mãe

— Mãe, você está na cidade? – Seu corpo tremia, estava nervoso, com medo.

Houve uma pequena pausa até que Helena respondeu.

— Não...— Mais silêncio. – Eles não me deixaram entrar. Mas eu vou dar um jeito de tirar vocês dois daí.

Ellen e Stein conseguiam ouvir o que a mulher dizia, as mãos de Erick começaram a tremer quando ouviu o “dois”.

— Você tem notícias da sua irmã?

Silêncio.

— Ela... – Sua voz estava totalmente lhe deixando na mão. - Ela não está comigo.

— Não se preocupe. Ela é forte, tenho certeza que vai ficar bem. Ela vai achar você... Nos vemos em breve, querido.

Erick desligou o telefone e os irmãos se aproximaram e lhe ofereceram suporte. O garoto ainda não tivera a chance de chorar pela morte da irmã, não tinha deixado a ficha de tudo que estava acontecendo cair.

Também não havia dormido. Nenhum deles dormira. E sua cabeça estava começando a doer.

Mia estava no telefone agora, conseguira falar com sua mãe. Ela o desligou e então abraçou Gabriel.

— Os dois estão a salvo, fora da cidade. – Gabriel a segurou firme e então os gêmeos se viraram para o grupo.

— É melhor irmos agora. – Gabriel falou.

Stein concordou com a cabeça e eles juntaram suas coisas.

***

Stein abriu a porta rapidamente enquanto Ellen disparava para dentro de casa. Mia e Gabriel seguiram.

— Mãe? Pai? - Ela gritava, mas não recebia nenhuma resposta.

A rua estava vazia, logo não tiveram dificuldade para entrar. Mas o barulho do carro poderia atrair algumas das criaturas para perto.

Erick entrou logo em seguida, segurando firme o pé de cadeira e Stein trancou a porta.

— Okay. - Erick começou, estava finalmente voltando aos seus sensos. - Precisamos nos proteger. Fazer uma barricada na porta e nas janelas do primeiro andar.

— Também vamos precisar de algumas coisas pra usar como armas. - Ellen acrescentou. - Esse pé de cadeira pode não ajudar muito.

Erick sorriu por um momento, até se lembrar que o pé de cadeira fora um dos últimos esforços de Lena para mantê-lo seguro.

— Acho que vou manter ele por mais um tempo...

A expressão de Ellen mudou ao ouvir sua resposta, parecia que de alguma forma conseguira entender o motivo de Erick.

— Vamos então. - Stein cortou o clima pesado que tentava se instalar novamente. – Elly e Mia, confiram as janelas. Gabriel, você e eu vamos começar a mover alguns móveis para usarmos de barricada. - Stein então se virou para Erick, mudando levemente sua expressão e o tom de voz. - Você pode procurar pela cozinha algumas coisas. É só seguir por esse corredor. - Ele disse, apontando.

Erick sorriu para Stein, que corou em resposta. Ele percebeu o efeito que estava provocando no rapaz e gostava disso.

Ellen passava por cada cômodo, trancando as janelas, fechando as cortinas enquanto Mia procurava por qualquer coisa que pudesse ser útil. Lanternas, velas, isqueiro.

— Hey, Elle! - Erick jogava uma caixa de fósforos para Ellen. - Já está anoitecendo e talvez seja uma boa hora pra acender essas velas.

— Valeu! - Ela respondeu rapidamente, jogando a caixa para Mia e voltando ao trabalho.

Erick recolheu facas grandes e outros objetos cortantes que pudessem ser usados. Em seguida procurou por comida, separando algumas coisas na mesa para poder preparar um jantar.

Quando retornaram a sala de estar, Stein e Gabriel haviam colocado estantes, baús e outros móveis em frente a todas saídas da casa. Gabriel fora atrás de Mia para se reunirem de novo.

— Acho que isso deve resolver. – Stein disse empurrando outro baú contra a porta principal.

Ellen respondeu apenas com um aceno. Erick ficou apreciando por um momento o rapaz suado em sua frente, a camisa molhada agora destacava os músculos que não pode reparar antes.

Stein percebeu como Erick estava o encarando e resolveu mudar o foco da situação.

— O que fazemos agora? - Começou. - Já está ficando tarde e acho que...

Nesse momento Ellen e Erick falaram no mesmo instante que Stein, quase o interrompendo.

— Eu posso cozinhar. - Os três acabaram dizendo quase em uni som.

***

O jantar começou com um clima que os fez esquecer a situação por um momento, se entregando a conhecerem melhor uns aos outros.

— Você faz arquitetura não é? - Elly perguntou a Erick.

Non...— Erick respondeu com a boca ainda cheia, terminando de mastigar – Química, acho que eu já te vi por lá. Mas não em nenhuma das minhas aulas? - Ele respondeu enquanto preparava seu prato.

— Eu já estou no segundo período. Você tem aula com algumas amigas minhas, porém. - Ellen considerou contar sobre a foto do aeroporto e como descobriram seu nome. Mas preferiu esperar para envergonhar Stein em outro momento.

— Eu estou no primeiro período de direito. – Foi a vez de Mia falar. – Acho que nosso sistema precisa de muitas mudanças. Ninguém vai sofrer no meu turno.

Stein sorriu para ela, tinha muito orgulho da amiga de sua irmã.

— Gabriel faz medicina e estagia no hospital. – Mia continuou. - É um dos melhores da turma. – Gabriel sorriu e continuou a comer.

— É também a sensação no hospital. As enfermeiras enlouquecem. – Ellen disse rindo e piscando para Gabriel. Ele quase cuspiu sua bebida, não esperando isso da garota.

— E você? - Erick perguntou, encarando Stein. - Faculdade? Trabalho?

— Trabalho. - Ele respondeu tentando terminar de mastigar. Erick riu. - Advogado. Trabalho no escritório de nosso pai.

Elly segurava o riso para cada tentativa de interação do irmão. O rapaz estava claramente nervoso.

— Seguindo o legado da família então? - Erick continuou.

— Quase. - Ellen respondeu. - Mamãe é contadora. Parando pra pensar agora, acho que sou a ovelha negra da família.

Todos riram.

— E quanto aos seus pais? Seguindo algum deles? - Stein indagou.

— Eu na verdade nunca conheci meu Pai e minha mãe não gosta de falar sobre ele. Ela é dona de um restaurante... – O garoto parou, olhando para baixo e encarando as próprias mãos. As lembranças então inundaram sua mente e Erick não conseguiu segurar as lágrimas.

— Me desculpa. Eu não queria... - Stein se arrependera da pergunta e ficara com muito remorso pela reação do garoto.

— Não. Não é culpa sua. Não precisa se desculpar. - Ele respondeu se levantando da mesa.

Stein estava agora parado, de cabeça baixa. Ellen não aguentava ver seu irmão assim.

Mia e Gabriel se entreolharam e a garota se levantou.

— Eu vou falar com ele.

And it's only half past the point of no return

The tip of the iceberg

The walk before the run

 

O garoto estava no corredor, encolhido contra a parede. Mia se aproximou e sentou ao lado dele.

— Não vou dizer que sei que é difícil, nem vou pedir para você ser forte. – Ela começou. – Nós precisamos de momentos assim. Todos nós desabamos uma hora ou outra e guardar tudo pra si mesmo só te afundaria mais.

Erick não se virou para a garota, mas ela sabia que estava escutando.

— Mas eu quero que você saiba que não está sozinho. – Mia agora apoiava a mão no ombro do garoto. – Sei que conheceu a gente faz muito pouco tempo, mas pode confiar em nós.

The breath before the kiss

And the fear before the flames

Have you ever felt this way?

— Olha, dois anos atrás... – O tom de voz da garota mudara totalmente. – Eu estava cursando História, fui drogada durante uma festa da faculdade e... – Erick então ergueu a cabeça, sua expressão mostrava seu choque com o que estava ouvindo.

Mia suspirou e continuou.

— Eu fui abusada e honestamente essa nem foi a pior parte. A polícia não levou o caso a sério, em quase todos os lugares que ia, diziam que a culpa era minha. – A garota não chorava e nem mostrava tristeza enquanto falava. Erick estava surpreso com a força dela. – Eu deixei isso me consumir e me isolei. Minha vida parou por um ano inteiro. Larguei a faculdade e me afundei no medo, revirando o trauma.

O garoto olhava diretamente pra ela, sem evitar olhar para seus olhos.

— Eu demorei pra recuperar minhas forças, mas consegui. – A única coisa que sua voz passava era determinação. – Foi então que resolvi mudar para o curso de direito. Era meu jeito de acertar as coisas. Pretendo fazer diferença nesse mundo, não vou deixar que outras mulheres passem pelo mesmo que eu passei. Elas precisam de alguém que dê atenção à causa e possa ajuda-las, alguém que seja humano o suficiente pra perceber que o erro não foi delas. Eu vou ser esse alguém.

Have you ever wished for an endless night?

Lassoed the moon and the stars and pulled that rope tight

 

— As coisas vão melhorar. Você vai encontrar suas forças e usar isso para fazer a diferença. Agora vá descansar, vai te fazer bem – Com isso, Mia se levantou e voltou para a cozinha.

 

Have you ever held your breath and asked yourself

Will it ever get better than tonight?

***

— Ei, acho que devia ir lá falar com ele. – Mia disse, olhando para Stein.

— Tenho certeza que ele vai apreciar. - Ellen esboçou um leve sorriso enquanto assumia o posto do irmão em frente a pia. - Eu cuido da cozinha.

— Elly...

— E aproveite, vamos estar focadas no barulho da água corrente. - A garota deu uma piscadinha e Stein riu, ficando bastante envergonhado. Elly sabia como evitar o clima pesado.

O rapaz caminhou até a entrada do quarto, abrindo a porta pela metade e entrando no quarto. Erick estava sentado na borda da cama, encarando o chão, porém não mais chorando.

— Ei, como você está? - Perguntou.

O garoto abriu a boca para falar, mas não sabia como responder a pergunta. Stein percebeu a situação e resolveu recuar.

— Foi uma pergunta idiota, desculpe. Melhor deixar voc-

— Não... - Erick finalmente disse algo. - Entra aí...

Um leve sorriso se abriu no rosto de Stein. O rapaz então sentou ao lado de Erick na cama e colocando sua mão nos joelhos dele.

— Eu lamento muito o que aconteceu com sua irmã. Quero que saiba que estamos aqui pra você. - Erick se sentiu bem com isso e ao mesmo tempo se sentia culpado por estar focando tanto na boca de Stein enquanto ele tentava demonstrar compaixão. - Se precisar conversar sobre isso é só me avisar.

Stein olhava para ele com um sorriso que parecia estar convidando ele. Com tudo que estava acontecendo, Stein parecia se a única coisa que parecia certa e o garoto queria se entregar. Erick estava se perdendo nos olhos verdes que o fitavam e não conseguiu aguentar, partindo para cima do rapaz. Stein não demostrou nenhuma resistência, beijando Erick de volta.

Toda timidez que exibira até agora parecia estar indo embora. Stein levantara o garoto e o prensara contra a parede, segurando-o contra seu quadril. Erick passava a mão pelo cabelo de Stein, enquanto sentia os músculos do rapaz o pressionarem contra a parede. Um músculo em especial começava a se destacar.

O garoto já tinha perdido noção de quanto tempo ficara ali quando Stein o levou de volta pra cama. Erick resolveu então mostrar um pouco de controle, girou com o rapaz na cama e sentou em seu colo, puxando a camisa de Stein e alisando seu corpo lentamente.

Os sons que o rapaz fazia deixavam Erick ainda mais excitado, se é que isso era possível. O garoto se abaixou então e começou a beijar o pescoço de Stein, dando leves mordidas enquanto descia lentamente. Quando se aproximou da calça que Stein vestia, o rapaz soltou um gemido alto enquanto um calafrio percorria seu corpo.

Stein o puxou para outro beijo e então girou o rapaz, colocando todo seu peso sobre ele. Quando interrompeu o beijo, tirou a calça rapidamente - sem perder contato visual com o garoto. As mãos de Erick subiam lentamente pelas pernas do rapaz, até atingirem o cós de sua cueca. Stein acelerou o processo, ajudando-o a tirar a própria vestimenta.

Erick ficou apenas apreciando por alguns segundos antes de começar. Stein era maravilhoso. Colocava o membro lentamente em sua boca e Stein já o segurava pelo cabelo, se inclinando levemente na direção de Erick.

O rapaz já se movimentava enquanto abaixava a cabeça de Erick, empurrando-a contra o colchão. O garoto deixou com que Stein agisse, apenas passando a mão pelo peitoral dele novamente.

I bet I could fix your mistakes

I could find and erase all your heartache

I bet that I'm naive

I bet after this they'll be giving me the third degrees

 

***

Ellen estava organizando mochilas de emergência caso precisassem partir inesperadamente. Estava surpresa em como estava conseguindo manter um raciocínio prático. Talvez estivesse evitando seus pensamentos sombrios ou simplesmente sentia-se segura com seu irmão.

Help me close my eyes

I'm scared to see what my dreams will be like

Todos na casa já se encontravam dormindo, mas Ellen não conseguia afastar a preocupação com seus pais. Precisava saber se estavam bem.

Andou pela casa por mais alguns minutos, pensativa.

“Quanto tempo ficariam trancados na cidade?”

“Será que vão conseguir controlar o vírus?”

Revirou seus pensamentos por mais algum tempo até que finalmente cedeu e se deitou no sofá. Estava acordada desde a manhã do dia anterior então logo adormeceu com a exaustão.

***

Manhã – Dois dias depois do acidente, um dia para véspera natal.

Os dois estavam em silêncio agora. Erick estava envolvido pelos braços de Stein, enquanto deitava sua cabeça no peitoral do rapaz. Stein brincava com o cabelo do garoto, com todo seu foco em apenas deixar Erick confortável e seguro. Por algum tempo, estavam podendo esquecer todos os problemas e preocupações que os rondavam.

Morning comes

In waves of sorrow

Somber as the day that follows

Still morning comes

— Uma pergunta... - Erick quebrou o silêncio enfim.

Stein o encarou, indicando para que fizesse a pergunta.

— Quando vocês me encontraram no beco... Como você sabia meu nome?

Stein corou imediatamente e riu em seguida.

Antes que pudesse se defender, ouviu o barulho de vidro se quebrando seguido de um grito abafado vindo do lado de fora do quarto.

Levantou em um pulo, vestindo rapidamente alguma coisa e correu para a sala. Erick o seguiu imediatamente. Os dois encontraram Ellen encarando a porta de entrada da casa. Móveis impediam que a porta fosse derrubada, mas os vidros da porta haviam sido quebrados e uma mão se estendia pela pequena passagem, na tentativa de agarrar alguma coisa.

— Pai? - A garota perguntou surpresa.

Gabriel e Mia chegaram à sala e encararam a cena com surpresa.

— Ellen, é você? Vocês estão bem?

— Pai! Você está bem! - Ellen correu para empurrar o móvel e Stein a ajudou.

Henrique Fernandes e Juliana Torres entraram pela porta logo em seguida. Os dois estavam com as roubas levemente rasgadas e com um pouco de sangue.

— Filha que bom ver você. - Juliana disse enquanto a abraçava e acenava para o garoto desconhecido em sua sala.

— O que aconteceu com vocês? Tentamos ligar para vocês o dia todo, ontem. - Stein interveio.

— Quando eu soube da quarentena eu fui atrás de seu pai, queria conseguir juntar todos para sairmos da cidade, mas... – Juliana fez uma pausa.

— Tivemos alguns problemas no caminho. – Henrique disse, apontando para as próprias roupas. - O acidente aconteceu pouco depois de nos encontrarmos.

— Nós estávamos lá, pai. – Stein disse apreensivo.

O rosto dos dois fechou no mesmo instante e eles abraçaram os filhos. Estavam bem agora, tudo ficaria bem.

— Esse é o Erick, por sinal. - Stein apresentou. - Nossos pais, Juliana e Henrique.

Juliana estendeu a mão para cumprimentar o garoto e Henrique acenou. Logo depois cumprimentaram Mia e Gabriel.

O resto do dia se arrastou com eles contando todos os acontecidos dos últimos dias. Gabriel contou sobre o número de infectados aumentando. Mia e Ellen comentaram dos casos que foram para a internet. Eles então contaram sobre seu dia.

Juliana disse que ao sair de seu serviço as coisas ainda não estavam tão caóticas. A notícia da quarentena tinha acabado de sair e a maior parte das pessoas se dirigia para casa, para arrumar as malas.

Mas quando a mulher chegou ao prédio de Henrique a situação já havia mudado. Três de seus companheiros de trabalho estavam infectados e haviam chegado ao estado de loucura. Foram atacados durante a escapada, mas Juliana conseguira matar dois deles, facilitando a passagem até o carro.

Todos ficaram surpresos com as habilidades de Juliana quando Henrique detalhou a cena.

O último infectado não teve muita chance contra o carro.

O resto da história foi como ficaram agarrados no trânsito a procura de Stein e Ellen. Tentaram vir para casa, mas não os encontraram, então passaram a noite procurando pelos dois até ouvirem do acidente. Depois disso passaram o dia no hospital, na esperança de encontra-los.

Erick então falou sobre os ataques que sofreram no dia e finalmente Stein detalhou o acidente. Juliana e Henrique se entreolharam quando ouviram sobre alguém gritando sobre o acidente antes do mesmo acontecer. Quando terminaram de ouvir, Juliana se levantou e foi até o banheiro, pegando seu celular. Estava com sinal por enquanto. Procurou em sua agenda e pressionou o botão de “ligar” sobre um nome.

“Marcela Araújo”

***

Tarde – Véspera de Natal

O grupo estava reunido na sala de estar novamente, pensando no que deveriam fazer a seguir, quando ouviram um grito vindo da casa ao lado. Todos levantaram em um salto.

— Veio da casa da senhora Cardoso. – Ellen disse.

— Precisamos ajudar. – Stein replicou, virando-se para seu pai. Henrique concordou com a cabeça e os dois seguiram até a porta.

Gabriel e Erick puxaram o móvel que a barrava e os dois saíram, seguidos de Juliana. A rua estava vazia, nenhum infectado a vista. Isso era um bom sinal.

Eles arrombaram a porta da vizinha com facilidade e seguiram pelo corredor de entrada da casa. Estava silenciosa e parecia vazia agora. Juliana fez um sinal para que Stein subisse as escadas e apontou a cozinha para Henrique, seguindo então para a sala de estar.

Analisou o local e pegou uma estatueta que se encontrava próxima se seguiu a busca. Não parecia haver ninguém por perto.

Henrique apanhou uma das facas da cozinha e seguiu até um quarto que deveria ser a dispensa. Aproximou-se a porta e ouviu alguma coisa dentro. Rapidamente se afastou e empunhou a faca com mais firmeza. Segurou a maçaneta da porta e a abriu num movimento veloz.

A senhora Cardoso estava encolhida dentro do pequeno quarto, abraçando seu filho.

— Simone, sou eu, Henri-

Henrique foi empurrado por alguém, indo de encontro ao chão enquanto Simone gritava. A faca não estava mais em sua mão e nem em seu campo de visão. O homem segurou seu agressor e percebeu que era o marido de Simone, Carlos. Bastou olhar seus olhos para saber que estava infectado.

Juliana então apareceu e chutou Carlos, tirando-o de cima do seu marido. A mulher ajudou Henrique a se levantar e logo o infectado já estava investindo em outro ataque. Ele jogou Juliana contra a parede, fazendo-a bater com a cabeça. A mulher ficou no chão, tentando se recuperar.

Henrique proferiu um soco certeiro no rosto do infectado. Carlos caiu de cara na arquibancada da cozinha e foi ao chão em seguida, não se mexendo mais. O homem ameaçou ir na direção de Juliana, mas a mulher gritou que estava bem e que ele deveria checar Simone.

Stein finalmente chegou a cena e ajudou a mulher e a criança. Henrique estava para se virar e ajudar Juliana quando sentiu algo gelado em suas costas. Ele olhou para trás e viu Carlos de pé, retirando a faca de suas costas.

— NÃO! – Stein gritou, mas já era tarde. Henrique caíra de joelhos e o infectado partira para outro ataque

Mia então entrou na cozinha, se deparando com a situação e processando tudo rapidamente. A garota sacou seu revolver e disparou duas vezes, derrubando o infectado que se remexeu no chão por alguns segundos antes de morrer.

I know it hurts to watch me bleeding

Can't tell you what I'm needing

We can't stop the river rising

 

Ellen, Erick e Gabriel chegaram logo em seguida. Stein e Gabriel correram até Henrique enquanto Erick segurava Ellen, que estava em choque na entrada da cozinha.

Uma linha vermelha se revelava no pescoço de Henrique, ele estava perdendo muito sangue. Stein pegou um pano de prato e segurou sobre o pescoço do pai, tentando impedir a perda de sangue. O rapaz olhou para Gabriel e pelo rosto do garoto percebeu que seu pai não sobreviveria. Lágrimas já caíam de seu rosto.

— Pai...

Juliana se aproximou do marido e segurou sua mão. Henrique acenou para a mulher e ela retribuiu o gesto, se mantendo firme. O homem tossia e continuava engasgando com o sangue.

Ellen estava abraçada com Erick, desabando e se recusando a assistir o seu pai se afogar no próprio sangue. Aquilo não podia estar acontecendo. Não podia ser real.

Logo, Henrique parou de se mexer. Ellen pode ouvir um “Não” saindo da boca de Stein, abafado por seus soluços e sentiu as mãos de Mia lhe segurando enquanto se arrastava na parede até o chão.

 

I got a heavy heart

Too much for you to hold

We always come apart

And I treat you so cold

***

Ellen se encontrava sentada no telhado de sua casa, observando de longe a cidade. As coisas estavam acontecendo muito depressa e parecia que tudo estava desmoronando ao seu redor. A garota então ouviu um barulho e se virou.

Era Erick.

— Hey, Elle... - O garoto estava subindo pela janela e saindo para o telhado.

— Não preciso que fiquem checando se estou bem de cinco em cinco minutos... – Ela disse limpando suas lágrimas. – E já tive a conversa emocional com o Stein.

— Não precisa se preocupar, não estou aqui pra isso... – O garoto respondeu, sentando-se ao lado dela. – Só achei companhia pudesse ajudar. – Ele disse, com um sorriso sincero.

Um céu negro, sem estrelas a mostra pairava sobre eles.

Oh oh DJ, ease my mind, will you

Play that song again?

‘Cause we were in love

— Por que isso está acontecendo? – A garota perguntou, não esperando uma resposta.

Erick estendeu o braço se apoiando no ombro da garota e a puxando para mais perto dele. Ellen deitou sua cabeça no ombro do garoto e deixou suas lágrimas caírem novamente. Logo fogos de artifício se mostraram no céu, o resto da cidade aparentemente estava bem.

Before... Before the rain began

And if I cry I cover my ears

***

Lena vagava pela cidade. Usava roupas novas, dadas por uma senhora de alma boa. A garota vagava em busca de algo, não sabia o que, mas parecia estar sendo atraída.

Estava passando perto de um restaurante quando um grito chegou a seus ouvidos. Viu então que vinha de uma moça feliz na rua, bêbada aparentemente. Ainda assim, algo incomodava Lena. Um sentimento ruim estava impregnado ao lugar.

A garota logo se apressou em sair de lá, trombando com um homem logo que se virou. Ele trajava uma camisa azul e branca de algum time de beisebol e um boné. Lena se desculpou rapidamente e seguiu seu caminho.

***

Do alto de um pequeno apartamento a mulher observava os destroços de algum edifício. O resto da cidade estava sendo consumido pelo caos novamente.

A sanidade da população desmoronava junto com os restos da ponte. Não parecia haver muita esperança para eles...

Hikari saltou do prédio, aterrissando em um beco com graciosidade. A mulher fechou sua jaqueta de couro e seguiu seu percurso com a mão sobre a bainha de sua arma, uma espada.

***

Manhã – Natal

I’ve been walking through the ruins

Of my life in times

Seems like everything is sinking right before my eyes

Stein estava sentado ao lado da árvore de natal, encostado no sofá e olhando para os enfeites. Acabara de amanhecer e era o único acordado na casa, não havia dormido depois de ouvir da horda de infectados que atacara o centro da cidade. Estavam todos chegando a seus limites. Correria, ataques, mortes, insônia... Era tudo demais.

O rapaz sentia a obrigação de manter todos de pé, seguros... Mas estava fracassando miseravelmente. Não sabia como podia impedir todos de caírem, quando não conseguia se manter também.

Ouviu então o barulho de uma porta se fechando e virou-se para o corredor. Erick vinha andando, tropeçando, em sua direção. Sua cara estava amassada e seu cabelo mais bagunçado do que Stein achava que era possível.

— Bom dia, princesa. – Stein tentou, querendo disfarçar seu estado. E falhando.

— No que está pensando? – O garoto perguntou, se jogando ao lado de Stein no chão. – Você não consegue disfarçar e eu percebi que você nem chegou a ir pro quarto. Precisa dormir.

Stein apenas fez uma cara de quem não queria falar sobre.

— Você não pode se responsabilizar por tudo que está acontecendo. – O garoto continuou.

— É que... – Stein começou, sem saber onde iria com o que dizia. – Eu só queria manter minha família a salvo, queria ser capaz de proteger eles.

— Não dá pra carregar todo esse peso nas suas costas. – Erick pegou firme na mão de Stein e se aproximou. – Você tem que pensar no efeito que isso tem em você também.

— Eu nunca vi a Elly tão abalada antes. – Foi o que respondeu. – E a minha mãe... – Stein suspirou e ergueu a cabeça, encarando o teto. – Ela está passando por tudo isso de novo.

Erick encarou, confuso e Stein continuou.

— Henrique é meu padrasto. Wenzel Holtzer era meu pai, ele era alemão, daí o meu nome.

Essa era a primeira vez que conversava diretamente com Stein sobre a vida dele. Erick queria conhecer mais o rapaz. Queria saber de todos seus medos e inseguranças e ajuda-lo a se superar. Queria saber seus sonhos e fazer parte deles.

— Mamãe conheceu ele durante um intercâmbio. Ele morreu alguns meses antes de eu nascer em um acidente de avião e ela voltou pro Brasil. – Erick segurou a mão de Stein com mais firmeza.

O garoto não tinha ideia de que Juliana já havia passado por tanto.

— Conheceu Henrique uns três anos depois e se casaram. Elly veio logo em seguida. – Stein finalmente mostrou um sorriso sincero. Gostava muito da irmã e se importava muito com ela. Logo voltou a situação atual e seu sorriso desapareceu. – Mamãe não merece passar por isso outra vez. Eu sei que ela é forte, mas não sei... E a Elly, ela não aguentaria se a mamãe...

Erick cortou o rapaz com um beijo, Stein resistiu por um segundo e então se entregou.

— Não vou deixar você se afundar assim. – O garoto disse a milímetros da boca de Stein. Ele podia sentir a respiração de Erick sobre a sua e todo o calor que trazia.

— Eu sei que tudo está muito confuso agora. – Ele continuou. – Sei que é difícil tentar processar tudo que está acontecendo. A infestação, o acidente, nós... – Erick parou por um minuto e riu. – Eu nem sei o que nós temos. – Ele disse finalmente.

— Ei, - Stein disse virando o rosto do rapaz e encontrando os olhos dele novamente. – Nós temos um ao outro. – E então o beijou. Dessa vez com mais intensidade.

O rapaz agarrou o cabelo de Erick enquanto ele subia em seu colo. O garoto cravou suas mãos na camisa de Stein, sobre o peitoral do rapaz.

Erick então se afastou e sorriu para Stein.

Maybe the moon is just a whole in the sky

One day at time, my world is shattering

Maybe the answer is to never ask why

As I watch my life unraveling...

Unraveling!

Juliana estava no corredor, vendo a cena e sorrindo. Estava feliz por Stein encontrar alguém.

***

Mariano acordara em uma cama diferente, confortável, quente. Sol batia de leve sobre seu rosto e um clima sereno pairava sobre o local. A seu lado uma mulher coçava os olhos, acabando de acordar.

— Já está sentindo a culpa por dormir com um paciente? – Perguntou.

— Bobo... – Foi tudo que Amélia respondeu e então rolou na cama se espreguiçando. Pronta para se levantar.

Mariano a puxou e se beijaram por mais um tempo.

— Vamos... Temos que ir. – Ela disse, rompendo o beijo. - Tenho que te levar de volta.

O rapaz gemeu em resposta.

— Não quero voltar. – Disse secamente.

— Mariano, você sabe que não posso deixar você fugir.

— Você deveria é vir comigo, Amélia. – Ele riu. – Olhe a nossa volta. A cidade está passando pelo apocalipse... Não deveríamos tentar aproveitar nosso tempo?

A mulher considerou por alguns segundos, mas logo espantou seus pensamentos e olhou nos olhos do homem com sua cara mais séria.

— Mariano, eu não posso fazer isso. – Amélia então se levantou e foi se arrumar.

***

Depois dos primeiros dias a população estava menos tensa com o isolamento. Algumas pessoas voltavam ao serviço, ainda com medo, mas tocando a vida. A cidade estava bem mais vazia que o normal, mas continuava funcionando.

Gabriel e Mia voltaram a seus serviços, mas nunca indo sozinhos. Stein e Erick revezavam para levar e buscá-los. Ellen passava a maior parte do seu tempo com a mãe, Juliana parecia estar normal, se segurando, mas Ellen sabia que estava a ponto de desabar por dentro.

***

Tarde - 29 de Dezembro

Helena mentiu para Erick, estava na cidade, mas não podia deixar o filho se preocupar com ela agora. Tinha outros assuntos que a preocupavam bastante e sabia que o filho conseguiria se cuidar.

E estava correndo contra o tempo. Iria se encontrar com uma amiga e descobrir o máximo que podia.

***

Helena não estava pronta para o que Marcela estava lhe contando. A mulher já sabia um pouco sobre a lista da morte, não demonstrava porque Marcela com certeza teria muitos detalhes que lhe eram desconhecidos e não podia levantar suspeitas com seu interesse.

Mas agora...

Seu filho estava na lista. E faria de tudo para salvar a vida dele.

Fazia notas mentais para tudo que lhe era dito e trabalhava para descobrir seu próximo passo. Precisava encontrar o visionário e tentar decifrar o padrão, os outros métodos estavam totalmente fora de questão. E mais importante ainda, precisava encontrar Erick.

E Lena. Lena seria a chave para manter Erick vivo.

***

Quando Mia chegou na casa, não sabia por onde começar.

— Eu preciso que vocês se sentem. Não vão acreditar no que ouvi. – Ela começou. Estava nervosa.

Elly e Juliana pegaram o sofá enquanto Stein e Erick estavam sentados no tapete ao lado. Todos olhavam atentamente para Amanda.

— No bar, eu ouvi duas mulheres conversando sobre o acidente. Vocês lembram que alguém estava alertando sobre o acidente? Antes de ele acontecer?

Eles concordaram e Juliana mudou de expressão. Tensão correndo por seu corpo.

— Disseram que isso não era pra acontecer. Que foi uma falha nos planos da morte.

Stein e Elly olhavam confusos e Erick começava a se lembrar de algo.

— De acordo com o que ouvi, deveríamos ter morrido no túnel. E agora corremos perigo.

Esse foi o click final na mente de Erick.

— Minha irmã. – Ele se levantou. – Ela me falou sobre isso. Aquele acidente em uma ilha ano passado... Ela disse que foi a mesma coisa. – Erick começou a andar em círculos e passar a mão pelo cabelo. – Ela disse que a própria morte seguiu essas pessoas que se salvaram e matou cada uma delas.

Mia concordou.

Elly estava totalmente aterrorizada e Stein mais confuso do que nunca.

— Isso está acontecendo mesmo? – Elly perguntou.

— As pessoas que foram salvas... Estamos aparentemente em uma lista, a lista da morte. Existe um padrão que só a pessoa que teve a visão deve conhecer. Precisamos achar ele.

O fim da noite seguiu com Erick e Mia dando todos detalhes que podiam, mesmo sabendo tão pouco. Estavam todos aterrorizados, tentando se lembrar do dia do acidente e das pessoas que encontraram.

Juliana estava quieta, claramente preocupada. Sua mente revirava mil memórias de seu passado, tudo em busca da história que uma vez ouvira.

***

Alisson estava em uma floresta. Árvores enormes se erguiam de forma organizada, cobrindo o céu quase que por total. Não sabia como chegara ali e não conseguia enxergar muita coisa.

Continuou caminhando, esperando encontrar a saída, quando tropeçou em algo e caiu. O chão estava frio e uma sensação de temor tomava seu corpo.

Quando se virou viu no que havia tropeçado. Era um corpo. O corpo de alfa. Sangue escorria de seus olhos e boca e seu corpo estava totalmente torcido, quebrado de formas que não poderia imaginar.

A garota gritou e se virou para o outro lado. Viu o corpo de Natasha, cortada ao meio.

Alisson se levantou e pode ver que mais de uma dúzia de corpos estavam jogados ao seu redor. Não teve tempo de processar os outros rostos, uma voz a chamava pelas costas.

Uma mulher loira, provavelmente da sua idade, estava a encarando. Suas roupas todas rasgadas e seu corpo sujo de sangue.

— Eles vão todos morrer. – Ela disse. – Eles vão todos morrer e você não pode fazer nada.

Antes que pudesse responder ou perguntar qualquer coisa para ela, a loira gritou. Alisson tapou os ouvidos e acordou em um susto. Desesperada.

***

Anoitecer – 30 de Dezembro

O ano novo se aproximava e a falta de notícias oficiais sobre a situação da cidade começava a preocupar os moradores novamente. Stein, Elly, Erick e Mia estavam no centro, resolveram que poderia ser uma boa hora para comprar suprimentos, antes que a loucura se espalhasse novamente.

O supermercado não estava nem perto de cheio, em termos de estoque e de clientes. O grupo estava espalhado pelo mercado, divididos em duplas, pegando tudo que achavam necessário.

Stein e Erick ficaram encarregados dos itens básicos para alimentação. Passavam por todas seções de comida, quase enchendo o carrinho.

— Você acha que a situação do vírus pode piorar? – Erick perguntou, quebrando qualquer que fosse a linha de pensamento que antes fluía com a conversa.

— O número de ataques não parece ter aumentado de forma perigosa. – Stein respondeu sem parar o carrinho. – Estamos tendo apenas alguns casos isolados e que estão sendo, em grande parte, controlados.

— Mas você não acha estranho que em uma semana não tenha havido nenhuma notícia nem nada?

Stein parou o carrinho enfim e se virou para o garoto. Erick estava com as mãos erguidas, como se quisesse gesticular algo. Stein percebera que esse era um dos sinais de ansiedade do garoto.

— Olha, eu realmente não sei como estamos e não posso afirmar nada com certeza. – Ele se aproximou do garoto e segurou as mãos dele. – Mas eu sei que estamos com pessoas que se importam, e que farão de tudo para nos proteger. E nós faremos o mesmo. Ficaremos bem assim.

Erick sorriu e o beijou.

Uma das frases mais famosas de Winston Churchill dizia: “Se estiver passando pelo inferno, continue andando.” E Erick tinha quem lhe motivar a continuar, pessoas por quem estava disposto a lutar.

Do outro lado do supermercado, as garotas buscavam por quaisquer outros itens que pudessem ajudar, de lanternas a walkie-talkies e ferramentas que pudessem ser usadas como armas.

— Você está pensando no lance da lista não está? – Elly perguntou. Preocupação se mostrava claramente em sua voz.

— Tão óbvio? – Mia respondeu.

— Não posso te culpar. É algo de revirar a cabeça mesmo. – Ela admitiu. – Mas vamos dar um jeito nisso. Vamos conseguir contornar a situação. – Ellen disse determinada.

— Elly... – Mia não conseguiu evitar o sorriso. Mas logo voltou a seu estado de preocupação. – Não sei se devemos...

— Do que você tá falando, Mia?

— Se aquela mulher estiver certa, talvez tenhamos que matar alguém... – Mia então se lembrou do vizinho e Elly, quando Henrique estava sendo atacado. A sensação de tirar a vida de alguém, mesmo quando aparentava já ter se perdido. Era algo que nunca esqueceria.

— Tem de haver outro jeito, Mia. Nós temos qu-

Um zumbido seguido de gritos a cortou antes que pudesse continuar. E um estrondo enorme ecoou pelo local. Em meio a fumaça e estantes caindo, Ellen e Mia tentavam entender a situação. Até que a fumaça diminuiu e puderam ver que um helicóptero havia caído no supermercado.

— Meninas! – Puderam ouvir Stein gritar.

Mas quando tentaram se aproximar, o motor das hélices explodiu, e uma trilha de fogo se formou no local. E então três infectados saíram do helicóptero, indo na direção de Stein e Erick.

— Saiam daqui, antes que isso exploda. – Ele gritou.

— EU NÃO VOU LARGAR VOCÊ! – Ellen berrou de volta.

— ELLY VAI! – Stein gritou e agarrou o braço de Erick, puxando-o para longe. Estavam desarmados, precisavam sair dali. O fogo que se espalhava dificultava a tarefa.

Mia agarrou uma pequena mochila, colocando alguns itens dentro e arrastou Ellen para longe.

— Precisamos ir! – Exclamou.

Relutante, Ellen seguiu a amiga e as duas vazaram do local.

Stein e Erick estavam sendo encurralados pelas chamas e os infectados não estavam muito longe. Erick rapidamente pegou um galão d’água e o abriu. Stein empurrou o carrinho velozmente para longe, fazendo-o passar pelas chamas. Os dois se molharam o máximo que conseguiram e foram logo em seguida.

Seguiram para os fundos e se trancaram no escritório da gerência. Stein achou uma pequena e velha mala e guardou tudo que pode, até ouvirem a explosão do helicóptero. O edifício inteiro estremeceu e eles sabiam que precisavam se apressar para saírem vivos dessa.

— Se ficarmos aqui dentro o fogo vai nos alcançar. – Erick disse, sabendo que Stein também estava em dúvida sobre o que fazer.

— Precisamos de alguma coisa pra poder lidar com os infectados. – Ele respondeu, olhos analisando tudo que havia no escritório. Era apenas uma pequena sala com uma mesinha e muitos papéis e arquivos.

— O alarme de incêndio! – O garoto gritou socando o ombro de Stein e apontando para o alarme.

O rapaz correu até o pequeno quadrado vermelho na parede e puxou a pequena alavanca, jatos d’água começaram a cair por toda sala e pelo mercado.

— Com a destruição que o helicóptero causou isso não vai resolver o problema todo, mas deve ser o suficiente pra sairmos daqui. – Stein disse e tentou abrir a porta. Os três infectados estavam bem ali à espera. O rapaz fechou a porta rapidamente e se virou para Erick. – Precisamos de armas.

Do lado de fora, Mia e Elly já estavam longe. Não conheciam tão bem esse lado da cidade, já não estavam mais no centro. A noite vinha rápida e consigo trazia o medo. Estavam se aproximando de uma área menos populosa e sem prédios, árvores começavam a surgir em quantidade.

— Mia, acho que estamos perto da floresta.

— Se seguirmos por ela vamos eventualmente checar a costa da ilha. Pode ser o melhor jeito de nos guiarmos.

***

Não era bem uma despedida, mas toda vez que Mario planejava fugir, encarava o cômodo de uma maneira diferente, como se aquela fosse a última vez.

Era um cômodo pequeno, dividido por Mariano e Marco. Os dois homens tinham problemas similares, porém se entendiam bem. Juntar dois loucos era de fato perigoso, porém dois loucos que se entendem é uma história completamente diferente.

Marco era um homem grande e musculoso, moreno e de feições fortes, tão charmoso quanto Mariano. Marco havia perdido a filha pequena num acidente de carro, e as fobias e seus desequilíbrios mentais - até aquele momento do acidente, sutilmente escondidos nos fundos de seu DNA - finalmente vieram à tona.

Mariano saiu no corredor e andou com passos lentos em direção aos quartos opostos.

— Você sabe que não pode ir no dormitório feminino. - Tico advertiu. Teco olhou de Tico para Mariano e concordou com o parceiro. Teco era um homem branco com olhos azuis apagados, os traços da calvície já surgindo nos cantos das feições ainda jovens, e Tico era um homem negro, traços delicados cercados por uma barba surpreendente, ambos no início dos 30 anos. Os dois eram seguranças e técnicos de enfermagem, responsáveis por vários dos pacientes da ala que Mario ficava.

— Só vou dar um oi pra Janis. - Mario piscou para os dois e sequer diminuiu o passo. A questão era continuar firme em seu plano.

Entrou no dormitório de Janisce, encontrando a jovem deitada na própria cama, parecendo no mundo da lua. Uma tristeza súbita envolveu Mario, ele conhecia aquela viagem que Janisce estava fazendo.

Provavelmente a mulher estava naqueles dias de violência (que Mariano tinha também as vezes), e parecia ter sido parcialmente sedada. Mario abaixou-se diante da cama da amiga e suspirou.

Ela tinha o rosto doce, desenhado com muita paciência. Olhos castanho-claros, contudo, tão distantes. O cabelo castanho com uma tinta loira desbotada na ponta, ainda, era perfeito nela.

— Janis? - Mario sussurrou. - Terra chamando, mulher!

— Oi Mario. - Ela sussurrou de volta. - Não quero mais brincar.

— Brincar de que, sua doida?

— Não quero mais brincar de adoleta. - A jovem abriu os olhos bem grande e encarou Mariano na alma. Ela estava lentamente voltando para a terra, ainda embriagada.

— Jesus, Janisce. O que eles fizeram contigo?

— Não sei, Mario. - Ela o encarou com dificuldade. - Onde você vai?

Ele olhou ao redor e aproximou-se dela.

— Vou sair, Janis. Talvez eu não volte... por alguns dias...

Ela abriu a boca, meio sonolenta, meio surpresa. Quis dizer algo, mas ficou apenas o encarando.

— Aproveite por mim, então. - Ela sorriu de orelha a orelha.

— Não desista dos seus sonhos, Janis. - Mariano sorriu de volta. - Saia daqui e vá direto procurar as pessoas certas. Eu sei que um dia vou te ver na TV.

— Vai logo, Mario. E é, na TV, você vai ver. - Ela apoiou os pulsos no colchão e sentou-se na cama. Mariano a ajudou a encostar-se contra a cabeceira com um travesseiro, então aproximou-se e beijou a testa da jovem, carinhosamente.

Mariano virou-se e saiu em direção a porta.

Janisce acompanhou o homem saindo com o olhar, e ainda grogue, sentiu lágrimas escorrendo de seus olhos. Olhou para o lado e viu Kelly, encarando confusa.

— Mario vai me assistir na TV, quando eu ficar famosa. - Janisce comentou com a paciente ao lado dela. - É ou não é pra chorar

Do lado de fora, Mariano passou direto por Tico e Teco com um sorriso no rosto, e os dois seguranças se entreolharam.

Voltou para o próprio quarto. Marco já estava em posição, prestes a atacar. Mariano colocou a pequena mochila improvisada por baixo da camiseta e suspirou.

— O que eu não faço por você, hein Mariano? - Marco riu, já se arrependendo do plano. Esticou as pernas na cama rapidamente, aproximou-se de Mario e deu tapas com ambas as mãos nas bochechas rosadas do futuro fugitivo. - Boa sorte, meu amigo.

Marco rapidamente beijou o rosto de Mariano e recuou no cômodo, fazendo sinal para Mariano abrir caminho. Então Marco arrancou os próprios shorts de elástico e disparou correndo pelado pelo corredor, balançando os braços ao redor da cabeça, cantando alguma música esquisita e fazendo todos os outros pacientes vibrarem e correrem atrás.

Mariano riu com a cena por alguns instantes, e observou Tico, Teco e mais dois seguranças saírem correndo atrás do homem e dos outros pacientes, em direção as alas do outro lado. Mario, agora quase um fugitivo, deu de ombros e correu em direção a saída.

Tirou a pequena mochila de baixo da camiseta e atravessou o portão do CAPS. Ninguém estava o observando e a rua estava vazia.

O mundo era um animal feroz, prestes a arranhar a cara de quem o encarasse de frente, porém Mario estava cansado de esconder-se dele. Agora era hora de enjaular o bicho. Hora de tomar o controle.

Talvez Mariano não fosse tão louco quanto achavam. Talvez ele só fosse uma pessoa ruim, que usava sua “doença” como uma licença para tratar as outras pessoas como porcaria. Mas ele estava mudando...

Os doutores haviam colocado questões em sua mente, e ele tinha divagado sobre as respostas. As visões tinham feito um sentido, se fossem vistas com uma boa intenção e um ponto de vista anticético. Marco e Janisce haviam o mudado. Amélia havia virado seu pequeno mundo de ponta-cabeça.

Os doutores podiam discordar, mas uma única certeza flutuava sobre a aura de Mariano.

Ele estava pronto.

***

Madrugada – 31 de Dezembro

Diana estava de volta ao seu apartamento. O corpo havia sido retirado, mas parecia que a garota ainda sentia a presença do falecido namorado. Lembranças martelavam em sua cabeça, se afogando na memória dos últimos momentos.

E desapareceu

Se foi sem avisar

O que havia entre nós dois não vai voltar

Ela estava jogada contra parede do banheiro, encarando o tapete manchado de sangue no chão. Seu namorado estava morto, Tina estava incapacitada e havia brigado com seu melhor amigo. Tudo estava dando errado nos últimos dias.

Como que havia chegado a esse ponto?

Estava arrependida da briga com Gustavo. A bicicleta significava muito para ela, mas nem sabia o que havia acontecido. Gustavo poderia ter sido atacado e ela nem lhe dera a chance de se defender.

Foi então que recebeu uma ligação. O número era desconhecido, porém resolveu atender mesmo assim.

Era a mãe de Gustavo, estava em prantos, não conseguindo se expressar. Quando pode entender a mensagem, Diana se levantou, sem conseguir acreditar no que ouvia. Dona Lyra continua chorando na linha, estava destruída. Gustavo não podia estar morto. Isso não podia estar acontecendo.

E desapareceu

Não foi visto mais

É tão estranho como nada mudou

Mas o amor não está

Agarrou a pia do banheiro, encarou seu reflexo no espelho e gritou.

Por que tudo isso estava acontecendo com ela? Já estava cansada de tudo dando errado. Quando que isso acabaria?

Gritou mais uma vez e socou o espelho. Cacos de vidro voaram pelo banheiro. Sua mão agora estava cortada e sangrando, mas não se importava.

Saiu às pressas do apartamento e foi andar pela cidade. Precisava de ar. Precisava se afastar um pouco de tudo isso. Já sabia qual era seu destino.

***

Stein e Erick estavam sentados no chão ao lado da porta. Os infectados continuavam batendo na porta e eles continuavam desarmados. No máximo poderiam causar vários cortes de papel com todos os arquivos do escritório.

Haviam empurrado a mesa contra a porta e até agora a barricada se mostrava eficiente.

— Até quando acha que vamos ficar aqui? – Erick perguntou.

— Não sei... O fogo já não é mais um perigo e enfrentar eles três desarmados seria burrice. Estamos mais seguros aqui.

— Os bombeiros já não deveriam ter chegado?

— Eu acho que é seguro dizer que eles não virão. Talvez passemos a noite aqui.

Erick bufou em resposta e em seguida de aproximou mais, deitando a cabeça nos ombros de Stein.

— Você acredita no lance da lista? – Perguntou.

— Com tudo que está acontecendo... – Stein começou. – Não sei mais no que acreditar.

O garoto ficou em silêncio e Stein percebeu que estava realmente preocupado.

— Olha, se for verdade, nós vamos dar um jeito, okay? – Ele disse, encarando Erick nos olhos.

— Nós nem sabemos com funciona. Eu poderia ser o próximo...

— Eu não vou deixar que nada aconteça com você. Agora deite um pouco, precisamos descansar um pouco.

— Tudo bem, vamos revezar, assim vamos poder saber quando eles forem embora. Não podemos perder tempo, temos que encontrar as meninas.

O rapaz concordou e Erick deitou a cabeça em suas pernas. Stein ficou brincando com seu cabelo até que adormecesse.

***

As garotas já estavam andando há algum tempo e ainda não haviam conseguido sair da floresta. Na tentativa de fugir de um infectado acabaram se perdendo e não sabiam a direção certa a tomar.

Andavam debaixo de árvores altas e próximas, fazendo com que não tivessem muita visão além da floresta para se guiarem. Podiam ver a lua brilhando forte no céu e ouviam sons indistintos à distância. Vagalumes passavam de um lado para o outro, era uma paisagem bonita, mas o momento não deixava que elas apreciassem.

Sentaram-se embaixo de uma das árvores para descansar a perna, mantendo-se atentas a qualquer coisa. Estavam cansadas e com fome.

Elly pegou uma barra de chocolate e rachou com Mia.

Depois de dez minutos elas se levantaram e seguiram percurso.

***

Já passa de uma da manhã quando começaram a ouvir o som galhos e folhas se quebrando.

— Está vindo alguém. – Elly sussurrou.

As duas correram, mas sem noção de onde estavam. Quando Mia percebeu o que lhes aguardava tentou puxar Elly, mas conseguiu apenas derrubar sua amiga.

A garota rolou até se prender na borda da costa, dez metros de queda terminados em pedras pontiagudas lhe aguardavam. Elly gritou.

Mia correu até ela e agarrou seu braço.

— SEGURA FIRME!

— POR QUE VOCÊ ACHA QUE EU SOLTARIA? – A garota replicou, se debatendo e tentando subir.

Mia grunhia enquanto tentava puxar a amiga.

— Se disser que eu sou pesada demais eu juro que te bato. – Ela disse. Mia não precisou se esforçar para não rir.

— Essa não é a melhora hora pro sua defensiva sarcástica. – Respondeu.

Com um pouco mais de forçar conseguiu puxá-la o suficiente para ela terminar o percurso sozinha.

— Os passos estão mais perto. – Elly disse enquanto se levantava.

As garotas se prepararam para um ataque quando surgiu uma garota em meio às árvores. Ela se assustou com Elly e Mia e gritou.

— O que diabos vocês pensam que estão fazendo?

— Achamos que poderia ser um infectado. – Mia respondeu.

— Nós estamos meio que perdidas. – Elly completou.

Diana encarou-as por algum momento e resolveu que confiaria nelas.

— Venham comigo, vou tirar vocês daqui.

Quando se virou, um infectado veio com tudo pra cima dela. Todas gritaram e Diana foi ao chão com ele.

A garota desferiu uma joelhada no estômago da criatura, que saiu rolando pelo chão. Mia ajudou Diana a se levantar e Elly partia para cima do infectado com um pé de cabra.

Acertou apenas um golpe na cabeça dele, mas foi o suficiente. As garotas juntaram suas coisas e se mandaram.

***

Mariano encontrar uma residência aparentemente abandonada, não estava em suas melhores condições mais serviria para passar uma noite. Pela manhã poderia procurar um lugar melhor.

O rapaz andou até a garagem que estava aberta e adentrou a casa. A garagem era grande e pelos equipamentos parecia ter sido uma oficina um dia. Agora tudo empoeirado e caindo aos pedaços.

Passara por uma porta que dava em uma pequena sala com uma bancada que dava acesso a oficina, provavelmente o local de atendimento, deixando sua mala ali. Encaminhava-se para a saída quando foi interrompido pelo som de uma explosão.

***

O trio andava por uma parte bem quieta da cidade. Mia e Elly não faziam a mínima ideia de onde estavam. A garota, porém – Diana, como havia se apresentado – parecia bem confiante com seus passos.

Estavam se aproximando de uma casa abandonada quando o transformador de um poste explodiu repentinamente. Uma parte do poste caía na dita casa abandonada enquanto os fios chicoteavam no ar, vindo a encontro de Diana.

***

O homem não teve tempo para reagir. Alguma coisa atravessara o telhado e abalado grande parte da estrutura da casa.

Mariano se jogou no chão tentando desviar de alguns destroços quando uma das vigas de madeira presas ao teto caiu sobre suas pernas. O som de seus ossos quebrando foi abafado por seus gritos.

A dor era insuportável e não tinha nem condições de se mover. Já estava urrando com a dor quando sentiu algo molhar seu corpo, o cheiro lhe invadiu logo em seguida. Vários barris de gasolina estavam caídos, vazando litros e mais litros pelo local.

***

Diana foi rápida o suficiente para desviar dos fios, mas ainda estava em perigo.

— VENHAM COMIGO! – Gritou para as garotas enquanto corria para a casa abandonada.

As duas acompanharam Diana sem questionar.

Se aproximando puderam ouvir gritos de socorro. Elly e Mia trocaram olhares preocuparam, mas seguiram em frente.

A garagem estava coberta de gasolina e totalmente destruída. Vigas caídas, estantes derrubadas e um buraco enorme no teto.

— ALGUÉM ME TIRA DAQUI! – Ouviram de mais afundo na garagem.

Passaram rápida mas cuidadosamente pelo local até se aproximarem de uma bancada. Vigas bloqueavam a porta e a bancada, não conseguiam passar. Do outro lado estava um homem caído no chão, com uma viga sobre as pernas.

— FAÇAM ALGUMA COISA! – Mariano berrou.

As garotas se juntaram sobre a viga que prendia a porta e tentaram empurra-la, mas sem sucesso.

— As vigas são muito pesadas, não vamos conseguir mover elas! – Mia gritou de volta.

Antes que pudessem fazer mais alguma coisa, um dos fios elétricos chegou a entrada da garagem, batendo no chão e criando uma pequena linha de fogo na entrada do local.

— Ai, meu deus... – Elly disse agarrando o braço de Mia.

— Temos que sair daqui. – Diana falou olhando seriamente para as duas.

— Nós não podemos deixar ele aqui! – Mia exclamou.

— Não há nada que possamos fazer por ele! – A garota retrucou. – Não vou deixar vocês queimarem junto com ele.

Elly conseguiu arrastar Mia até a porta da garagem, mas Mia não podia deixar o pobre rapaz sozinho. Ela se soltou da amiga e correu de volta para a bancada.

— MIA! – Elly gritou, Diana segurava a garota para não se aproximar mais.

Mia tentava empurrar a viga novamente, sozinha. Mariano podia ver sua determinação, mas também podia sentir o cheiro da fumaça e o calor aumentando. Não deixaria a garota morrer em vão.

— EI! – Gritou. – Pare com isso, você só vai conseguir se matar também.

— Eu não posso deixar você aqui assim. – Mia respondeu com lágrimas em seus olhos. Já haviam tido mortes o suficiente com o acidente e todos os ataques.

— SAI LOGO DAQUI, GAROTA! Não seja idiota! – Estava com lágrimas em seus olhos também. Não queria morrer, não estava pronto. Mas o mínimo que podia fazer era salvar uma vida. – Não tem salvação pra mim.

Mia o encarou por mais alguns segundos e então, indo contra todos seus instintos, saiu de lá.

Forget the horror here

Forget the horror here

Leave it all down here

It's future rust and it's future dust

O fogo se aproximava de seu corpo e Mariano começava a se tornar consciente de muitas coisas. Primeiro de quanto a temperatura estava aumentando e de que já estava difícil respirar. Isso, somado a dor estava quase o fazendo desmaiar. Depois começou a pensar nós últimos anos de sua vida, de como se sentia um fracassado agora. Nunca conseguiria recuperar a fortuna da família, não importava o quão inteligente fosse. No final era apenas um louco. Uma bomba-relógio era o que diziam.

As chamas finalmente alcançaram seu corpo e o homem estava berrando novamente. Do lado de fora Elly e Mia se abraçavam e Diana tentava desviar seu olhar da casa e ignorar os gritos.

Mariano se contorcia enquanto o fogo queimava sua carne, em um último lapso de consciência pode ver uma botija de gás próxima a saída do balcão. Sabia o que lhe esperava. Seu último pensamento voltou-se para Amélia, ele gostava da mulher e esperava conseguir conquista-la. Achava que não terminaria sozinho nesse mundo, que finalmente teria alguém que o amasse.

Mas agora tudo que podia pensar era na dor, queria que acabasse de uma vez. Encarou enquanto o fogo se aproximava da botija, apenas pensando me exploda logo...

E foi o que ocorreu no instante seguinte. A explosão foi forte o suficiente para derrubar o resto da garagem e espalhar as chamas.

Mia gritou e Diana agarrou as duas garotas, levando-as ao chão e as protegendo dos destroços. Elas permaneceram ali no chão, observando a cena e encarando o que restava da garagem.

***

Stein e Erick finalmente tiveram sua chance. Não ouviam mais o som dos infectados vagando por perto ou socando a porta. Os dois moveram a mesa que bloqueava a porta e saíram com pressa.

As criaturas estavam perto, porém e logo se viraram para eles. Stein olhou a seu redor e não viu nada que pudesse usar para se defender. Erick pegou em seu braço e logo se puseram a correr.

Derrubavam tudo que podiam em seu caminho, na tentativa de atrasar os infectados. Saíram pela primeira porta que encontraram, mas terminaram em um beco. As três criaturas cercando eles.

— Stein, o que vamos fazer? – Erick perguntou, na esperança de que o parceiro tivesse alguma ideia.

O rapaz olhou para o lado e agarrou a tampa de uma lata de lixo.

— Acho que consigo distrair eles tempo o suficiente pra você fugir.

— Eu não vou deixar você fazer isso.

Um dos infectados então investiu em um ataque. Stein usou a tampa como escudo e contra-atacou, empurrando o infectado pra cima dos outros dois.

Estes já se preparavam para atacar quando algo chamou a atenção deles.

— EI! – Uma voz feminina gritava.

Vinha de uma mulher em cima de escadas de emergência que estava no prédio ao lado do mercado.

Ela vestia uma roupa preta, calças e jaqueta de couro, e empunhava uma espada. Seus cabelos longos estavam soltos e se mexiam junto com o vento. Os garotos olhavam intrigados.

I'm the fury in your head

I'm the fury in your bed

I'm the ghost in the back of your head

'Cause I am

Hikari saltou do pequeno muro onde estava e os dois infectados mais próximos partiram para um ataque.

Com sua espada em mãos a mulher decapitou os dois sem demonstrar muita dificuldade. Desferiu então um chute na última criatura, derrubando-a e cravando sua espada no crânio dela logo em seguida.

Erick e Stein encaravam a cena incrédulos, mas havia algo a mais no olhar de Erick além da perplexidade.

— Mãe? – Ele indagou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não esqueçam de comentar. Os comentários são muito importantes para a continuidade do projeto. Vemos vocês nas reviews, pessoal!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Premonição Chronicles 3" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.