Darkness Brought Me You escrita por moni


Capítulo 7
Capitulo 7


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoassssssssssss
Desculpem se demorei. Foi o Natal. Espero que todos tenham tido uma ótima noite de natal.
Bom gente. Eu prometi que o encontro deles seria no capitulo 8, para isso acontecer eu dei uma corrida com a história, contando o que cada um passou até o encontro. Esse é sobre Daryl. É apenas para vermos quem ele foi se tornando. Espero que gostem.



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Pov – Daryl

Saio para caçar enquanto um grupo segue para Atlanta. Merle segue com eles. Para ele é ainda mais difícil ficar com essas pessoas. O tempo todo Merle faz questão de deixar sua raiva e preconceito em evidencia. T-Dog por ser negro é quem mais sofre. Isso me envergonha mais que qualquer coisa. Não sei se antes tinha tanta clareza sobre isso.

Shane que o tempo todo tenta agir como o líder decide ficar. Definitivamente prova que sua liderança não passa de uma cômoda necessidade de se dar bem sobre os outros. Um líder de verdade assumiria os riscos e iria com o grupo.

Pelo que andei ouvindo e percebendo, ele cuida de Lori e Carl por que são esposa e filho do seu parceiro que morreu. Para mim ele dorme com ela. Acho que todo mundo sabe. Não acho que isso seja coisa de amigo. Não se dorme com a mulher do melhor amigo, estando ele, vivo ou morto, mas isso pode ser só machismo da minha parte e não costumo olhar o rabo dos outros. Mal cuido do meu.

Sei que Merle está muito perto de fazer uma grande besteira. Desde que nos juntamos nesse lugar ele está enlouquecendo a todos. São dias e dias de provocação. Pior que ele só mesmo Ed, o marido de Carol é o típico agressor de mulheres, ela é submissa e se humilha dia e noite diante dele. Me dá pena de Sophia. A menininha vive agarrada a uma bonequinha com cara de assustada e só me faz pensar em Brooklyn. Olhar para ela me machuca e machuca mais ainda ver como Merle não sente nada. Não pensa em nada além do seu bem-estar hoje. Apenas hoje. Se ofende a cada vez que chego da mata com comida para o grupo. Parece a ele uma ofensa pessoal, como se eu estivesse me humilhando por ser útil e manter gente comum viva.

Não me lembro de me sentir tão bem fazendo qualquer outra coisa. Não me misturo com eles, nem sei fazer isso, fico no meu canto, eles também não se aproximam, mas entendo, do jeito que sou grosso é natural que mantenham distância.

Um cervo surge em meu caminho e acerto uma flecha. O animal consegue escapar. Fui apressado, quero tanto levar comida que nem me posicionei direito com medo de perde-lo. Os bichos andam tão assustados quanto as pessoas, eles sabem que o mundo está em desordem e estão atentos.

Ele vai acabar caindo em algum momento e só sigo suas marcas. Rastrear é meu talento. Cresci nas matas, caçando para comer. Já me perdi na infância, conheço esse lugar e posso sobreviver dele toda uma vida. A floresta é minha verdadeira casa. Um caçador é o que sou. Agora parece que minha sina talvez seja caçar monstros. Vamos ver. Não acho que isso vá acabar logo.

Passo a noite caçando o cervo. Ele já deve estar fraco. Segue em direção ao acampamento. Tanto melhor, assim quanto mais perto, menos tempo tenho que carrega-lo nas costas.

É manhã quando o encontro quase no nosso acampamento. Assim que surjo metade do grupo me encara armado. O cervo caído com metade do corpo devorado e minhas flechas ainda cravadas nele, ao lado um zumbi caído ao chão.

─Que merda. Persegui o bicho a noite toda! – Chuto furioso o corpo do zumbi caído. Minhas reações sempre assustando a todos. Fingem um equilíbrio que não tem. Aposto que é isso que todos queria fazer. Olho o zumbi abrindo e fechando a boca. – Qual é pessoal, ainda não entenderam que tem que acertar a cabeça?

Destruo o cérebro do zumbi sob os olhos atentos de todos. Depois vou em busca de Merle. Pelo menos trouxe alguns esquilos.

A tensão fica crescente, algo vai mal, um cara que não conheço se juntou ao grupo e parece querer me dizer algo e pelo modo como se comporta eu não vou querer ouvir. Merle não está com eles e isso me assusta. Errado ou certo ele é minha família. Tudo que tenho e sempre foi mesmo antes do apocalipse.

─Daryl. Eu sou Rick Grimes. – Por que isso deveria me interessar? Não gosto nada disso. – Merle se descontrolou lá fora.

─Ele está morto? – Meu coração salta. Custa dizer de uma vez?

Descubro que Merle perdeu o limite e foi deixado algemado num telhado qualquer de Atlanta, que atirou feito um louco, chamou zumbis que os cercaram, tiveram uma briga e o policial Rick Grimes o algemou. Que T-Dog deixou a chave cair e saiu largando meu irmão num telhado algemado para morrer.

Isso me tira do sério. Fico um momento alucinado, eles me dominam. Me controlo por que resgatar Merle é mais importante que vencer essa pequena briga.

Um grupo se propõe a me ajudar. Glenn, T-Dog por que se sente responsável e Rick. O cara parece ter princípios, alguma dignidade. Lori não gosta que ele vá, ela sempre odiou Merle por ele não fingir que não sabia do caso dela com o policial Shane.

Quero só ver onde a história deles vai parar agora que o homem voltou dos mortos. Tudo que encontro no telhado é a mão de Merle. Ele cortou a própria mão e fugiu. Isso é a cara dele. Merle está vivo e ferido nessa droga de apocalipse e não sei onde e nem como.

Tentamos encontra-lo. Glenn acaba sequestrado, decidimos busca-lo, eu não tenho mais nada a perder. Minha vida acabou. Não cumpri minha promessa. Hannah e Brooklyn estão perdidas e talvez mortas. Merle também. Tudo que um dia eu dei valor escapou de mim, então que se dane se vou morrer ajudando aquele chinês corajoso e meio maluco.

Recolhemos as armas que Rick tinha e vamos em busca de Glenn. No fim de tudo era só um grupo de mexicanos protegendo um asilo. Temos medo de Merle ter voltado ao acampamento em busca de vingança quando nosso caminhão desaparece.

Voltamos às pressas para o acampamento, felizmente temos armas, no fim é pior que Merle ter ido se vingar, é um grupo de zumbis que atacou e chegamos a tempo de salvar boa parte do grupo.

Andrea perde a irmã. Me irrita o modo como eles se entregam a dor. Também perdi, eles nem sabem o quanto, mas estou aqui. Cavando buracos quando acho que no fim devíamos atirar todas essas coisas numa droga de pilha e tacar fogo.

Glenn tem um tipo de bom coração que não permite isso. Depois pegamos a estrada. Eu não sei onde vamos, mas não posso seguir sozinho e apenas uma família deixa o grupo. Carol está agora sozinha com a filha. Ed morreu. Tanto melhor, o cara não valia nada, bateu em Carol na frente de todos e pela primeira vez na vida Shane fez algo que preste e deu uma lição nele, depois com os zumbis ele acabou devorado. Sinto pena das duas, agora mais do que nunca elas me lembram Hannah e Brooklyn. Será que nunca vou conseguir esquecer? Parar de me culpar e pensar nelas?

Descobrimos no caminho para o centro de controle de doenças que o mundo está morto, se quando chegamos a pedreira ele estava agonizando agora está definitivamente morto. Não tem como voltar atrás sobre isso.

Acabou e penso se por alguma piada de Deus não somos apenas nós nessa grande esfera morta. O centro de controle não nos traz respostas, apenas um cientista maluco que não tem nada a nos oferecer se não uma boa refeição, banho quente e quase a morte.

Ficamos trancados, com o prédio prestes a explodir por que ele acha que é o melhor jeito de morrermos. Ninguém nunca vai me ver dobrar e desistir. Seja por pura teimosia eu vou continuar de pé até não ter outra opção. Se a morte me quiser, vai ter que lutar.

Saímos no último segundo para terminarmos perdidos e sem direção no meio de uma estrada cheia de carros. A moto de Merle termina comigo. É um símbolo da presença dele e eu a uso como se assim ele estivesse ainda vivo. Minha besta e a moto são tudo que me restou do passado e tudo que quero manter.

Para meu desespero quando um grupo de zumbis toma a estrada e nos escondemos Sophia se perde na mata. Podia ser Brooklyn, podia ser a Hannah chorando como Carol, não as protegi como devia e não protegi Sophia também.

Caçar a garotinha vira minha missão nos dias que se seguem, trazer Sophia para a mãe é de algum modo como salvar Brooklyn. Acabamos em uma fazenda, ali o apocalipse não parece ter chegado. Hershel o velho dono de tudo, mantem sua família vivendo como se não tivessem perdido nada.

Enquanto o grupo vai se evolvendo com os moradores do lugar eu me concentro no que nos trouxe até ali. Achar Sophia. Hershel acha que os mortos são apenas doentes. Espero que tome uma boa mordida no rabo para entender que são mortos e apenas isso.

Deixo a fazenda mais uma vez em busca da garotinha. Levo um cavalo de Hershel. Um dia esses animais vão acabar virando comida, de humanos ou zumbis, tanto faz, aos poucos as diferenças entre um e outro parecem diminuir.

Caio de um penhasco no meio da busca porque o imbecil do cavalo se assusta com a porra de uma cobra. Acabo com uma flecha na barriga atravessada e quase morto, com a sensação de ser Merle a falar suas bobagens quando na verdade são apenas zumbis tentando me devorar. Acerto os dois. Mesmo ferido eu luto por que no meio da confusão achei a boneca de Sophia e tudo fica mais possível agora.

Vamos acha-la. É só uma garotinha. Está sozinha. Com medo, fome e não se desiste de uma criança, não se pode desistir nunca. Merle fez isso, não quis a filha e nunca vou saber como ou onde está.

Volto para a fazenda sujo, molhado, ferido, esgotado e como recepção sou confundido com um zumbi. Andrea atira, a bala para minha sorte, pega de raspão na minha testa. É uma porra de um susto, mas fico bem, ou quase. Hershel trata minhas feridas e Carol grata pela ajuda me alimenta. Me recupero na barraca, deitado e solitário, irritado por todos estarem desistindo.

Eu não posso desistir, cada dia as chances de Sophia diminuem e quero continuar. Carol me pede para não ir. Sinto ódio disso. Ela é mãe, Hannah não desistiria. Eu sei, eu sinto o amor que ela tem por Brooklyn, tudo que fez pela menina e Carol decide que tenho que desistir, ela perdeu as esperanças, todos perderam as esperanças.

A minha se despedaça quando abrimos o celeiro do velho Hershel, onde ele escondia zumbis acreditando serem pessoas doentes que um dia iriam se curar.

Atiramos, derrubamos um por um todos os corpos que saem daquele buraco escuro com sua fome cega e sua irracionalidade. Até que ela vem, caminha devagar, faminta como todos os mortos. Era só uma garotinha. Estava sozinha, passou por tudo sozinha. A morte a alcançou sem o abraço da mãe, na solidão do seu medo teve febre, chorou, pediu socorro e acabou como todos, perambulando morta até acabar ali, caminhando em nossa direção.

Sophia nos tira tudo. É o fim da inocência, da esperança, é o apocalipse finalmente nos estrangulando a alma. Não salvei Brooklyn, não salvei Hannah e não salvei Sophia. O grito de dor de Carol e meu desespero em forma de som, eu a impeço de correr para aquele corpo cego que vai devorar a própria mãe sem piedade. Rick que agora não é mais apenas um sobrevivente, mas o líder da uns passos em sua direção. Ergue a pistola e sinto pena do que ele tem que fazer.

O disparo atinge Sophia, mas também atinge todos nós. Tínhamos uma missão, encontrar Sophia. Agora não nos resta definitivamente mais nada.

Hershel e sua família finalmente despertam para a verdade. Cada um deles reage de um modo diferente. Maggie que agora namora Glenn se coloca determinada e corajosa, Hershel deposita sua vida e de suas duas filhas sobre os ombros de Rick, como se ele não tivesse já tanto peso. A mais nova, Beth, frágil como sempre achei que Hannah era cai doente. Tenta cortar os pulsos, assisto de longe, tem uma fúria crescendo dentro de mim, uma angustia me silenciando.

Tantas coisas acontecem que quando a fazenda cai atacada pela maior horda de zumbis que já vi eu nem me importo muito. Eu não sei se me importo com qualquer coisa.

Acabamos na estrada. Matar zumbis e caçar comida é o que se resume meus dias, e sobreviver e ajudar aqueles ainda estranhos a fazer o mesmo. Quando Dale foi atacado e tive que apertar o gatinho fiz por Rick, ele não precisa fazer tudo, é forte, assume os riscos e cuida de todos, eu posso fazer minha parte.

Andrea se foi, desapareceu no ataque a fazenda. Pode estar morta ou não, assim como Merle talvez a gente nunca saiba. Lori está esperando um bebê que ninguém diz, mas todos acham ser de Shane. Rick assume a criança e acho isso tão corajoso e digno. As vezes gostaria que Merle tivesse sido como ele, eu teria aprendido mais.

A pessoa mais próxima que tenho é Carol, ela tem gratidão por tudo que fiz por Sophia. Isso é o que nos liga, a garotinha que de algum modo nós dois perdemos.

Quando o inverno chega eu não sei mais o que é pior. A fome nos deixa fracos, mas o frio nos deixa imóveis, é só sobreviver, passar os dias correndo com um garotinho, um velho e uma gravida.

Estranhamente o que devia nos separar e criar intrigas nos une. Nunca na vida me senti tão próximo de pessoas como agora. Olho para eles e o que vejo é família.

Essa é minha família. Hershel e suas duas filhas, Maggie e Beth. Rick e sua esposa Lori, seu filho Carl, T-dog, Glenn e Carol. Quando olho para eles eu sei que morreria por qualquer um deles sem remorso ou arrependimento.

Não sei dizer isso a eles, mas mostro quando deixo de comer para alimentá-los, quando me coloco na linha de frente para matar essas coisas com minhas flechas e dar a eles alguma chance. Quando escolho passar frio para aquece-los.

O inverno chega ao fim e graças a nossa união todos estamos bem. A barriga de Lori é agora de algum modo um problema a mais, ela não tem mais tanta agilidade. Precisa de alimento, mas a comida é escassa. Estamos quase sempre por um triz, com zumbis gemendo em nosso encalço, dia e noite e o esgotamento físico e mental nos torna silenciosos, não aguentamos mais muito tempo.

Estamos prestes a sucumbis quando uma manhã enquanto o grupo pega agua e descansa eu e Rick damos de cara com uma prisão. Pode haver algum lugar mais seguro que esse?

Os olhos de Rick me dizem que ele quer tentar. Não tenho ideia de quantos zumbis tem lá dentro, todos os presos esquecidos ali e entregues a esse vírus mortal que não deixa ninguém imune.

─Podemos fazer. Limpamos aquele primeiro pátio. Usamos as torres para isso. Depois vamos ganhando espaço aos poucos, isolando as partes limpas e um dia esse lugar vai ser nossa casa.

Posso arriscar. Não tenho nada a perder então aceito, assim como os outros.

Não é fácil, enfrentamos no processo mortos e uns pequeno grupo de cinco sobreviventes, mas encontramos comida, abrigo e esperança, dois presos ficam conosco, um deles foge e os outros acabam mortos.

Hershel perde uma perna depois de uma mordida. Foi alucinante ver Rick num momento de completo desespero cortar a perna do velho com um machado, mas isso não deixou o vírus se espalhar e depois de dias de espera. Hershel se recuperou.

Não temos direito a felicidade, nem mesmo esperança, e quando tudo parece começar a se acalmar somos atacados por zumbis, não se pode mais deixar os vivos para trás, o preso que conseguiu fugir arma uma emboscada e libera uma das grades.

T-Dog acaba morto, Maggie faz o parto de Lori que não resiste. O bebê, uma garotinha que vem para mais uma vez me lembrar Brooklyn nasce cheia de saúde. Saio em busca de leite para ela. De novo tudo que me importa é manter aquela coisinha viva. Nunca mais vou deixar de tentar, de fazer o que é certo só para não me expor.

Nem chegamos a descansar, a assimilar as novas perdas e lá estamos nós no meio de outro problema. Glenn e Maggie acabam sequestrados. Que merda de mundo é esse? Uma mulher enigmática que chega até nós ferida e trazendo com sigo uma espada samurai nos avisa.

Resgatar os dois é nossa nova missão, ela nos leva até uma cidade. O grupo tem uma cidade. Comida, água, energia. Vivem como se o apocalipse tivesse acabado, mas ainda assim sequestram duas pessoas. Não entendo o porque. Não até resgatar Glenn e Maggie e compreender tudo.

Merle está vivo. Meu irmão. Ele fez isso. Nem mesmo me sinto feliz de saber sobre sua existência. Não quando ele faz algo tão nojento. Passou por cima de tudo, não quis me ver, esqueceu que sou seu irmão por uma reles vingança. Espancou Glenn deixou Maggie nas mãos daquele crápula.

Acabamos descobrindo da pior forma que o líder deles, um tal de Governador é na verdade um lunático.

Merle volta conosco, não é fácil para ninguém, eles o veem como um monstro e ele se comportou como um. Até deixamos o grupo, mas quando penso que podem acabar mortos por esse Governador e que tem Carl e o bebê eu não posso ignorar.

Rick tenta um acordo com o Governador, mas ele quer a Samurai. A garota que tem uma espada, que nos ajudou a resgatar Glenn e Maggie, sabemos que não é certo, eu não sei entregar alguém a morte em troca de segurança, Rick até quer tentar, mas desiste. Nós não somos assim.

Tarde demais. Merle, meu irmão, a única família que tenho decide cumprir o acordo. Persigo Merle. Michonne, esse é o nome da samurai, está na estrada. Voltando para casa. Merle teve um lampejo de lucidez e dignidade e a libertou.

Foi sozinho enfrentar o governador e seus homens. Não posso permitir. Ele não pode querer consertar o passado sacrificando a própria vida para me salvar. Eu não quero isso. Quero ele comigo, eu o encontrei, ainda posso quem sabe um dia dar de cara com sua garotinha. Tenho todo direito de sonhar com isso. Corro, apenas isso. Corro para o local de encontro. Para tentar salva-lo ou morrer a seu lado como irmãos fariam.

É tarde. Tarde para ele, tarde para mim. Não tem mais nada. Só corpos, seja o que for ele acertou muitos, talvez os melhores homens do Governador e isso deve nos dar alguma chance.

Por um segundo meu coração para de bater. Nada mais importa. A vida me derrubou, é ele, meu irmão, o cara que me despertou todo tipo de sentimento, carinho, vergonha, revolta, o único que tem meu sangue, que me conhece de verdade, que viu minha história. Merle agora se alimenta de carne humana, debruçado sobre um corpo com olhos mortos.

Agora eu não sou nada. Apenas um pedaço de carne, ele caminha para mim. Não quero fazer isso, não quero ter que fazer eu o que é preciso.

─Sai daqui! – Grito empurrando aquele corpo, ele não me vê. É só fome. – Sai!

Tudo que está dentro de mim se vira no avesso. Perdi meu irmão duas vezes. A única vez que Merle Dixon pensa em mais alguém que não ele mesmo acaba assim. Uma máquina assassina presa a uma semivida, devorando entranhas. Nem sei se não foi isso que fez toda a vida. Merle sempre teve fome e apenas isso. Mas antes devorava almas, tempo, drogas, agora entranhas. Largo a besta no chão, ela não vai carregar essa marca. Pego minha faca e avanço sobre ele, acerto Merle na cabeça, a primeira vez para danificar seu cérebro e acabar com sua agonia, todas as outras vezes e são muitas eu faço por todo meu passado. Por tudo que perdi, por toda a revolta e solidão, pelas agressões da infância que ele fingiu não ver. Pelas dores que carrego, as culpas, a vergonha. Depois esgotado eu me deixo cair a seu lado e chorar. Não me lembro de ter me entregado as lágrimas como agora.

Não posso me entregar. Eu não sei fazer algo covarde assim, e fico de pé para lutar ao lado dos meus irmãos do apocalipse contra o governador. Faço isso por mim e por ele para que sua morte não tenha sido por nada, mesmo com toda dor que sinto me corroer.

Vencemos. O governador acaba perdido e sozinho, ninguém sabe seu fim. A prisão acaba cheia de velhos e crianças de sua cidade abandonada. Agora temos muitas vidas para cuidar e manter. Se a vida de Merle foi vazia e sem sentido sua morte foi cheia de gloria. Isso deve me consolar.

Assisto a gentileza de Beth a receber as pessoas, junto com o pai e Carol. Vejo a gratidão de todos por terem um teto e um novo líder a seguir. Eles precisam de mim. O apocalipse me salvou. Eu sou importante. Eu posso matar os zumbis, eu posso alimentar pessoas, eu não sou mais um lixo sem serventia que assiste o tempo correr. Agora eu escrevo o destino meu e de todos a minha volta. Isso me enche de algum orgulho. Um orgulho silencioso e distante. Não sei lidar com carinho, atenção e respeito. Ainda salto para trás surpreso quando alguém me toca ou me agradece. Mas estou bem.

O tempo segue e temos horta. Segurança, civilidade, penso tanto em Hannah e Brooklyn, no quanto eu as queria por perto. Não consigo pensar nelas mortas, preciso acreditar que estão vivas. Que vou acha-las e traze-las para esse lugar e por isso eu busco pessoas. Todas que posso. Eu caço as duas e encontro outros no caminho, não importa. Um dia serão elas.


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Notas finais do capítulo

Então gente. No próximo eles finalmente se encontram, no fim, mas para chegar lá o capitulo vai ficar BEM grande. Depois a história se acomoda e começo a contar realmente como quero, sem pressa.
BEIJOSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS