Darkness Brought Me You escrita por moni


Capítulo 8
Capitulo 8


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas lindassssssssss
Primeiro de tudo. OBRIGADA!!! Especialmente para C BLACK e LIKA TREVAS pelas recomendaçõs. Como eu amo receber recomendação. É um presente que nem imaginam. Me dá ânimo para continuar. O jeito carinhoso como sempre se referem a mim e as minhas histórias me emocionam por demais. MUITO OBRIGADA!!!! Espero que gostem desse capítulo ele é dedicado a vocês. BEIJOSSSSSSSSS



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/665232/chapter/8

Pov – Hannah

Depois de sermos recebidos pelo Tenente Cooper somos acomodados. Como não temos barracas ficamos na casa. Descobrimos logo de cara que são só camas agora, colchões e tecidos estendidos um ao lado do outro. Junto a cada uma dessas camas improvidas, mochilas e objetos pessoais se empilham.

Apenas a cozinha ainda é uma cozinha e um pequeno escritório que parece ser o quartel general do tenente e seus soldados.

Fico feliz de não estar do lado de fora, não poderia dormir numa barraca com Brook sem me sentir completamente desprotegida. Arrumamos um espaço na sala que um dia foi a sala de jantar. Da para ver pela grande mesa de madeira encostada em um canto com suas cadeiras trabalhadas sobre a tampa da mesa.

Adam e Debby se ajeitam do nosso lado. Me sinto bem perto deles, são meu porto seguro, é como não estar mais sozinha. Brook ainda está calada e sem esperança. Confusa com todas aquelas pessoas a nossa volta, com o novo modo de vida dos humanos. Oposto a tudo que aprendeu até agora.

─Já vai se acostumar gatinha. – Adam diz a Brook, ela apenas olha para ele interessada.

─Você tem flechas? – Adam fica um tanto surpreso, olha para mim sem entender muito.

─Não gatinha. Eu não tenho flechas. – Ela afirma já meio triste mais uma vez. Um dia explico a ele.

─Tia Hannah, a gente vai ficar aqui? Tem tanta gente, ele não vai nos achar assim.

─Vai querida. Quando ele chegar ele vai nos achar. – Não sei como dizer que não tem mais nenhum herói a nos proteger, que somos eu e ela e contamos com a bondade de estranhos, que não sei até quando esses estranhos ainda vão ter bondade dentro de si.

Esse mundo parece pronto para roubar tudo de dentro de nós. Tenho medo da escuridão e não sei nada sobre sobreviver.

Temos que entregar a comida e nossas armas. Os vinte soldados controlam tudo e todos. O tenente Cooper leva o lugar com mãos de ferro. Dia após dia o clima vai ficando tenso. Brigas acontecem aqui e ali. Tem um grupo de homens que não parece nada contente com o exército a liderar.

Wade e seus amigos parecem ser o líder dos rebeldes. Às vezes eu os vejo bebendo, provocando e mexendo com as mulheres, sinto que os soldados adorariam dar fim a eles, mas a verdade é que eles ajudam a proteger o lugar e trazer comida.

Os soldados e mais alguns homens fortalecem as cercas em torno da fazenda. Para fazer isso muitos acabam mortos ou feridos. Os zumbis surgem à beira da fazenda e nem sempre os homens conseguem conte-los.

É desse modo que descubro como é a febre, primeiro a mordida, depois vem a febre, ela domina a pessoa, alucina e então no auge a pessoa morre e uns minutos depois está de volta. Gemendo e faminta por carne humana.

Depois de alguns casos a lei é atirar na cabeça de qualquer um que seja mordido, não importa quem, onde ou quando, apenas matar e o grupo adora a nova regra, porque eles têm medo e fariam qualquer coisa por segurança.

Na quarta semana os vinte soldados se resumem a cinco homens e o Tenente. Wade e seu bando começam a ganhar força e espaço. As pessoas agora estão cada vez mais assustadas. A comida diminui e fazemos uma parca refeição por dia. Assisto minha pequena Brook perder peso, seria mais se não desse a metade da minha comida para ela.

─Isso é uma bomba relógio. – Debby comenta. Brook dormindo ao meu lado no nosso pequeno colchão. – Algo vai acontecer Hannah. Sinto tanto medo.

─Esse Wade quer tomar o lugar. – Adam completa. – Se acontecer eu não sei como as coisas vão ser.

─Isso me assusta também, eles não parecem muito preocupados com nada além deles e boa parte dessas pessoas parece disposta a ficar do lado deles.

─O tenente está ficando cada dia mais opressor. Essas mãos de ferro estão tornando as pessoas ansiosas por liberdade.

─Adam o que a gente faz?

─Estive pensando Hannah. Se esse lugar está se mantendo pode ser que tenham outros. Talvez mais seguros. O fato é que isso não vai durar. O que estão fazendo é um plano emergencial. Ninguém está pensando em como vai ser daqui uns meses.

─Semanas. – Debby continua a fala do marido. – Podemos pegar o carro Hannah, pedir ao Tenente nossas armas de volta e tentar achar algo.

Não posso, não posso arriscar Brook numa aventura perigosa. Nego, nem posso pensar nisso. Tenho que manter minha menina. Ela é tudo que importa e aqui estamos cercados de pessoas, seja quem for que estiver no comando estou disposta a obedecer e isso é por ela.

─Hannah, se o Wade assumir esse lugar acredite, vai ser muito ruim estar aqui.

─Se Brook acabar morta numa aventura como essa apenas por que não gosto de quem dá as ordens então eu não sei o que faria. Desculpem. Não posso ir com vocês, se decidirem ir eu entendo, na verdade acho mesmo que vai ser melhor para vocês, eu e Brook seriamos um peso e sabem disso.

Debby aperta minha mão. Tem um sorriso carinhoso no rosto abatido.

─Sinto como se fossemos uma família Hannah. Mesmo a Brook sendo tão distante de nós dois, eu sei que além de você somos tudo que ela tem. Essa é uma decisão que vamos tomar juntos.

─Obrigada Debby, a verdade é que já teria enlouquecido sem vocês. – Meus olhos marejam um pouco. Ela me abraça. Não sei se Adam está contente com isso, ele parece muito incomodado com Wade e penso se não é apenas ciúme do modo como aquele cara e seu bando olham para todas as mulheres incluindo Debby.

Chegamos a sexta semana de acampamento com um vento frio soprando. Não sei como enfrentar o inverno com Brook. Ela tem algum agasalho, é o bastante se não tiver que ir lá fora. Se puder se alimentar bem, mas comida agora já começa a ser motivo de briga.

Um soldado é assassinado por um homem no meio das barracas uma manhã, apenas por que ele se recusou a dar ao homem mais comida do que os outros. O homem é executado. Aquilo cria o grande problema, os soldados e os homens de Wade ficam claramente em atrito.

A briga por poder se estende ao longo do dia, ficamos assistindo pequenas brigas e discussões crescentes até a manhã seguinte. Então a briga se torna mais uma vez grande.

No meio da confusão acontece um pequeno incêndio que queima três barracas e mais duas pessoas acabam mortas, uma delas, uma mulher que dormia na barraca e acaba carbonizada.

O tiroteio e a gritaria assustam Brook. Ela treme em meu colo enquanto envolvo seu corpinho assustado e olho para Debby rezando para a confusão acabar. Adam surge correndo.

─Deixem tudo pronto. – Ele nos pede e meus olhos arregalam de medo. – Consegui a chave do nosso carro. Aproveitei a confusão e peguei uma pistola também. Se algo der errado, se as coisas esquentarem ainda mais e tivermos que fugir cheguem ao carro. – Ele sussurra e afirmo.

São gritos de homens, barulho e fumaça lá fora. Sem contar os tiros. Zumbis podem vir e não sei se os homens lá fora vão dar conta. Aqueço Brook com tudo que ela tem. Ajeito Lyn em seu cinto, sua boneca é tudo que importa desde que a ganhou de alguém que jamais vou saber e nem deve mais estar vivo.

Por alguma razão toda vez que olho para ela penso em Daryl. Eu sei que os Dixons não ligam para Brook, mas a boneca me faz lembrar dele por que quando tudo aconteceu eu cheguei a achar que eles tinham estado em minha casa. Mas não. Estavam fora da cidade.

Os ânimos se acalmam um pouco depois, me sinto relaxar. O tenente parece disposto a negociar com Wade. Ele sabe que não pode conter a fúria do grupo com apenas cinco soldados.

─Acho que tudo vai ficar bem. – Quase posso sorrir. Adam e Debby não parecem tão esperançosos e as vezes me sinto tão tola por ser assim indefesa e esperançosa.

─Tia o caçador está demorando muito. – Brook diz aos sussurros, nunca mais voltou a falar de outro modo, nunca mais foi capaz de sorrir. Não conversa muito e não abre espaço para mais ninguém se aproximar. – Nunca devíamos ter deixado nosso castelo.

A essa altura estaríamos mortas, apenas isso, sem comida e água nossa vida teria chegado ao fim semanas atrás. Eu podia ter morrido primeiro e devorado Brook. Sempre penso em todas as crianças que viveram exatamente isso. Me arrepio com a ideia e abraço Brook.

─Querida. O caçador de monstros está lá fora. Enfrentando os perigos, matando os zumbis e em algum momento ele vai nos encontrar.

Debby me olha e sinto que não aprova minha maneira de iludir Brook. Que outro modo eu teria para convencer minha menina a continuar lutando?

Um grito ecoa pelo acampamento, depois vem outros, aperto a mão de Brook quando fico de pé e vejo uma grande correria. Fumaça sobe em rolos escuros, gente se atropela e tiros começam a ser disparados. Fico imóvel ouvindo o choro de Brook sem saber o que afinal está acontecendo.

Até que no meio dos homens e mulheres que correm eu vejo zumbis. É um ataque. A confirmação vem com gritos de aviso sobre a cerca ter caído e uma horda estar invadindo.

─Temos que chegar no carro. – Adam avisa olhando da esposa para mim. Os dois saem na frente. Aperto a mão de Brook. Ergo nossa mochila e corro sem solta-la.

─Não me solta Brook. – Grito assustada e desviando de pessoas, correndo e tropeçando. – Fica comigo querida.

─Monstro tia! – Ela grita e um zumbi surge pela nossa lateral, sua mão envolve o braço de Brook. Grito junto com ela e então o cérebro do infeliz explode sujando a mim e a minha menina. Ergo meus olhos e Wade sorri. Calmo como se estivesse num domingo de sol, os olhos frios. Quase me assusta tanto quanto os mortos.

─Vamos. – Ergo Brook nos braços e continuo a correr. Tenho que chegar ao carro, já não vejo mais Debby ou Adam e tenho medo que dessa vez eles não me esperem.

Quando vejo o carro Adam lutava com um homem, Debby gritava enquanto um zumbi caminhava para os dois. Paraliso em dúvida sobre o que fazer, mas tem todo tipo de confusão a minha volta. Gente sendo devorada. Correndo ensanguentada. Fugindo para longe.

Adam consegue empurrar o homem sobre o zumbi, corro para junto deles e estamos todos no carro. As portas fechadas e cercados de todo tipo de guerra.

─Tira a gente daqui! – Debby grita descontrolada. – Atropela se for preciso! – Meu coração bate rápido e forte. Atropelar pessoas? Gente que como nós só quer sobreviver? Tem lugar no carro para tirar mais gente. Por que não querem fazer isso? – Trava as portas Adam. Acelera!

─Por aqui! – Um carro emparelha com o nosso. É Wade ao volante, uma caminhonete cheia de homens armados atirando pelas janelas e carroceria. Ele vai na frente, assisto chocada ele atropelar pessoas e zumbis, e Adam simplesmente confirmar passando por cima logo depois. Os dois carros vão ganhando distância do caos, perdemos.

Acho que mais do que teto e segurança hoje perdemos o resto da dignidade. Passamos por cima de tudo para apenas continuar respirando. Olho para Brook. Os olhos da minha menina estão perdidos. Assombrados com o mundo que herdou. Sinto tanta angustia que mal consigo respirar, nem em mil anos poderei esquecer esse dia.

Depois de alguns quilômetros percorridos no mais completo silencio o carro da frente para e Adam faz o mesmo. Não quero permanecer com esses homens, eles me dão tanto medo quanto os mortos.

─Aquela merda estava com os dias contados. – Wade diz ainda tranquilo.

─O que pretende fazer Wade? – Um dos seus homens pergunta.

─Achar um lugar. – Ele me olha. – De nada docinho. – Me encolho um pouco ainda dentro do carro. – Salvei sua menininha e mereço ao menos um obrigado não acha?

─Obrigada. – Desvio meus olhos e acaricio os cabelos de Brook.

─Vamos. – Wade encara Adam. – É bem-vindo. Foi mais esperto que aquele bando de inúteis. Vamos achar abrigo.

─O que estamos fazendo? Vamos seguir esses caras? – Debby questiona quando Adam apenas põe o carro em movimento seguindo os homens de Wade.

─Amor eu sei que pareceu um convite, mas não foi. Ele nos mataria, ficaria com o carro e seguiria em frente sem qualquer culpa. É hora de fazer o jogo deles, quando acharmos oportunidade deixamos esses caras.

Paramos numa casa de beira de estrada. Dois dos homens de Wade entram para varrer o lugar, depois entramos todos. Passamos a noite ali. Não consigo pregar os olhos, mesmo a guarda sendo trocada a noite toda não relaxo. Sinto os olhos daqueles homens sobre nós o tempo todo. Debby sente o mesmo, posso ver por sua angustia.

As coisas só ficam piores. Todos os dias a mesma coisa. Invadir casas, caçar comida, tremer de medo. A neve começa a cair. Não tem mais lugar seguro. Não tem mais abrigo e comunidades, só a morte a nos perseguir, sempre mais perto do que deveria.

Wade tenta o tempo todo se aproximar, não é gentil, mas não passa de um certo limite. Me atira na cara o tempo todo que me mantem viva. A mim e a Brook, nos alimentando e matando zumbis por nós e no fim é mesmo isso.

Adam não parece dar sinais de querer deixá-los. Debby parece cada dia mais abatida. Silenciosa como Brook. Olho para ela e é como se estivesse desistindo. Nem o marido parece ser mais importante para ela. Debby se apagou.

Nos piores dias, quando parece que vamos congelar de frio ela se senta ao meu lado e assim como eu tenta aquecer Brook. Minha garotinha não cansa de me lembrar que esses homens não têm flecha.

─Debby você precisa aguentar. – Peço a ela que me olha sem qualquer vida no olhar. Ela vasculha a pequena casa, encontra Adam jogando cartas com dois dos homens de Wade fumando e bebendo para se aquecer.

─Porque continuar? Não vê que acabou? Nem meu marido tenho mais.

─Debby...

─Procuro sentir qualquer coisa, mas não sinto nada. Só quero abraçar a morte e deixar essa vida. Pensamos que demos sorte por continuar, não é verdade. Eles. – Ela aponta a porta. – Os mortos lá fora. Eles sim têm sorte. Eles não têm mais com que se preocupar. Acabou para eles e os invejo.

─Não diz isso. – Brook está abraçada a boneca, encolhida em meu colo, mas não parece nem mesmo estar entre nós. – Ela vale a pena. Por ela vale qualquer esforço.

─Eu sei que sim. Tenho visto isso. Tenho visto tantas coisas e tenho tanto medo do que vem a seguir. Você corre tanto perigo, eu corro. Olhe para eles Hannah. Até quando vamos estar seguras?

Me sinto enfraquecer. Aperto Brook que me olha assustada.

─Tudo bem anjo. – Ela volta a olhar para a boneca. – Acha...

─Já se passaram meses Hannah. Quando acha que foi a última vez para esses homens? Adam não vê isso. Não entende, está fascinado por eles, pelo que ele chama de força e coragem. São os durões e ele acha que é com eles que vamos sobreviver, mas são esses homens e não os zumbis que vão nos matar. De um jeito ou de outro.

Sua lucides me assusta. Ela está certa, eu temia sem saber bem o que, ela traz a luz meus piores pesadelos. Engulo em seco. Olho para a porta e queria ser forte para apenas abrir e tentar. Não sou. Eu não sou nada.

O inverno acaba. Achamos uma pequena cidade. Uma vila com algumas poucas casas. Tem poucos zumbis e ficamos num pequeno prédio comercial de dois andares. Ele tem porta de aço, jardim e grades em torno dele.

Wade é o líder mais esperto que conheço. Seus homens o seguem porque ele os deixa livres, dá espaço para beberem, saírem, ri com eles, faz parecer que são amigos de faculdade, mas quando é preciso ele impõe a força e usa isso em qualquer um que decida invadir seu espaço.

São oito homens. Além de nós. Adam, Debby, eu e Brook. Apenas um deles morreu desde que deixamos aquela fazenda em caos.

Dois homens ficam fazendo a segurança enquanto os outros vão buscar suprimentos. É só invadir casas, lojas e trazer o que for útil. Estão cada vez mais acostumados a matar os zumbis. Novas armas surgem. Machados, martelos, facões. Eu tenho apenas uma faca e uma pistola.

Adam convenceu Wade que eu e Debby precisávamos estar prontas também e ele permitiu. Acho que no fundo não se importa muito com nada disso. Os homens chegam todos felizes.

Algo deu muito certo e descubro que encontraram muitos suprimentos no prédio da prefeitura.

─Isso vai nos manter vivos por meses. – Wade avisa.

Junto com a comida vem algumas garrafas de uísque. Me dá medo quando eles começam a perder a linha. Sigo para um canto com Brook no colo. Tento distraí-la do riso e das piadas sujas.

Debby sai do outro lado da sala e vem em minha direção. Jeff segura seu braço. Está bêbado. Envolve sua cintura.

─Me solta! – Ela tenta empurra-lo.

─Qual é? Vamos dançar. O Adam não liga!

─Larga ela! – Adam exige. Se aproxima meio bêbado também. Jeff o empurra, os dois começam uma briga. Wade ri enquanto eu e Brook nos encolhemos. Debby tenta separa-los. Leva um tapa e quase cai.

─Debby! – Eu grito seu nome, ela continua ali, no meio da confusão.

─Desgraçado. Egoísta, essa droga que está bebendo fui eu que achei. – Jeff acerta Adam. – Acha que pode uma mulher só para você? Que merda pensa que é?

Mais socos, um deles atordoa Adam. Meu coração dispara. O homem pula no pescoço dele e começa a bater.

─A garota vai ser do mais forte seu merda!

─Chega! – O grito de Debby é tão profundo que ganha atenção de todos que assistiam a briga. Quando olhamos para ela está com a arma apontada para a própria cabeça. Não há tempo nem mesmo para fechar os olhos, o disparo vem com a explosão e o sangue se espalha pela sala.

Brook não grita, não faz nada além de manter os olhos presos a cena assim como eu. Adam não se move. Está no chão com o rosto coberto de sangue. Machucado, os olhos paralisados.

─Jeff! – Wade grita e Jeff se afasta. – Fez a merda. Agora limpa a sujeira! – Ele diz apontando o corpo de Debby.

Adam fica de pé. Mal consegue respirar, mas se atira sobre o corpo de Debby, abraça a mulher e chora. Depois tenta ergue-la, está ferido demais, eu me aproximo e o ajudo a leva-la para o jardim. Brook me segue. Cobrimos o corpo com um lençol, abrimos os dois uma cova e a enterramos. Apenas choramos os dois, sem palavras de consolo, só lágrimas, apenas elas. É a primeira pessoa que o apocalipse me tira. Nem sei como sentir essa dor.

Adam termina de enterra-la. Depois olha para mim. O rosto cheio de sangue.

─Sinto muito Hannah. – Ele diz antes de abrir o portão e seguir para a rua.

─Adam o que está fazendo? Adam não, os zumbis... – Alguns deles andavam em torno da casa. Ele desvia de um e segue caminhando, todos os zumbis parecem senti-lo e um grupo começa a segui-lo. – Wade! – Chamo pela primeira vez aquele ser que tanto desprezo, ele podia ter parado aquilo, não fez, como não vai fazer agora me dou conta quando olho para a porta e ele está ali junto com seus homens assistindo Adam caminhar para longe.

─Se é assim que ele quer. Entra Hannah, daqui a pouco está cheio de cabeças ocas na porta.

Aperto a mão de Brook. Ela está gelada. Faço o que ele diz, não quero que minha garotinha veja o que vai acontecer.

Quando entramos meu corpo gela. As palavras de Debby ficam vivas em minha mente e não me sinto mais que um pedaço de carne. Nenhum deles fala comigo. Me deito com Brook no canto da sala, abraço seu corpinho frágil e fico ali com ela e sua pequena Lyn.

─Tia Hannah. Morreu todo mundo que a gente conhece? – Ela me pergunta na tarde seguinte. Encaro seus olhos cansados, nenhuma das duas dormiu desde a morte de Debby. – Você não vai morrer né?

─Não. – Nego com os olhos cheios de lágrimas. – Prometo.

─Eu vou?

─Não querida. Vai vencer isso. Prometo. Você vai viver querida e ainda vai sorrir de novo. Vai ser forte e muito feliz. Eu juro que vai. Vou fazer o que for preciso. – Ela me abraça. Depois vai se sentar num cantinho com sua boneca. Ignora tudo e todos. Me volto para a janela. Sinto alguém se aproximar.

─Fez uma promessa complicada. – Wade para muito perto de mim, não olho para ele. Não respondo. – Depois do que aconteceu com sua amiga os caras começaram a pensar um pouco como o Jeff.

Tremo com suas palavras. Me encolho um pouco.

─Sou o chefe deles Hannah. Estaria segura se aceitasse me pertencer.

─Não.

─Sabe mulher, esse mundo é mesmo uma merda e lá fora as coisas são bem ruins, não vou ficar lá arriscando meu pescoço por vocês duas em troca de um reles obrigado.

─Está me mandando embora? – Pergunto entrando em pânico.

─Não. Avisando apenas. Sabe, sou bem mais forte, podia te arrastar agora mesmo e esses caras não diriam uma palavra sobre isso, mas eu não gosto muito disso. Usar a força física eu digo, mas pode ser boazinha.

─Nunca!

─Hannah! Quanta inocência. – Ele toca meu rosto, começa suave, mas depois me aperta com força. As bochechas ardem enquanto ele me força a encara-lo. – Você não come, nem sua menina, não bebê água, nada que tem aqui dentro até me dizer sim.

Wade libera a comida antes racionada, os homens comemoram, a noite vira um banquete, Brook me olha confusa quando não sirvo nada para ela. Adormece abatida e faminta. Pela manhã pede água, tento pegar, Wade segura meu braço.

─Não é para mim. É para ela.

─Já disse. Sabe como conseguir comida e água, além de proteção.

Volto para perto dela. No fim da tarde Brook está deitada. Os olhos nem abrem mais de tanta fraqueza. Quando os homens começam a jantar Wade vem até mim com um prato vazio e um copo.

─Ela vai morrer. Já está fraca. Pode sair e enfrentar a rua, mas com ela assim tendo que ser carregada nem matar zumbis vai poder, calculando que fosse capaz de fazer isso, o que não é o caso. – Ele deixa o prato e o copo no meu colo. – Sabe como enche-lo e acabar com isso.

Ele nos deixa. Meu coração dói ao olhar para ela. Se eu tinha algum sonho de reconstruir ele se desfaz, sinto raiva de quem eu sou, de como sempre fui uma tola inútil. Eu devia ter morrido, não Charlotte, ela daria um belo chute na bunda desses caras e seguiria sozinha com Brook, salvaria a filha.

Merle e Daryl também salvariam, mas coube a mim a responsabilidade de manter Brook viva, fiz a ela uma promessa. As lagrimas rolam sem parar.

─Estou com sede tia, com fome. – Olho para Brook assistindo aqueles monstros comerem e beberem diante dela. – Por que a gente não pode comer também?

Minhas lagrimas escorrem sem parar quando fico de pé, é o último passo de degradação, não sou mais um ser humano. O mundo é só noite, o apocalipse é minha alma. Estendo o prato e o copo para Wade. Ele sorri vitorioso. Serve comida e agua. Me devolve.

─Não come demais. – Alerta me embrulhando o estômago. Sirvo Brook, ela bebe meio copo de água e só então começa a comer. Devora o prato como nunca a vi fazer antes. Um dia apenas foi o que precisou para ele conseguir me vencer.

─Eu te amo Brook. – Ela me olha. – Amo tanto que nunca vai nem mesmo poder entender. Eu respiro porque existe.

Ela não sabe o que dizer e me abraça. Não tem ideia do que se passa. Logo adormece. Fico a seu lado acariciando os cabelos dourados.

─Vem Hannah. – Wade me chama. Olho para Brook, não posso deixa-la. – Ninguém vai chegar perto dela, a menina está segura.

Seu tom é uma ordem que eu sei vai ser respeitada. Fico de pé e o sigo até o segundo andar. Ele abre uma porta e me aponta uma mesa.

Enquanto ele faz o que quer sem que eu lute como gostaria eu penso nos zumbis, nas inúmeras vezes que vi pessoas sendo devoradas e agora sei como é. As lagrimas vão correndo enquanto sinto dor física e mais ainda na alma. A escuridão se fecha sobre mim e não existo mais. Debby tinha razão, de um jeito ou de outro, esses homens iriam nos matar e foi isso que aconteceu.

Não demora para acabar, logo ele está vestindo as roupas e me mandando fazer o mesmo. Depois desce na frente e vou me encontrar com Brook que dormia sem saber o que acabo de fazer por sua vida.

Se Brook deixou de falar de algum modo eu também deixei. Somos quase como bichinhos encolhidos. O tempo todo eu penso no que vou fazer para me livrar daquele inferno silencioso.

Me submeter aquele monstro vira uma rotina, o tempo segue lento, dia a dia as coisas vão piorando. Deteriorando. Deixamos o prédio duas semanas depois com a aproximação de uma horda que com certeza mataria a todos.

Mais estrada. Durante esse tempo em que ficamos aqui e ali Wade não me toca mais. Os homens não se aproximam de mim. Apenas matam zumbis e caçam comida.

Observo cada um de seus movimentos, presto atenção, um dia e não vai demorar eu vou pegar Brook e sumir. Por duas vezes assisti o grupo roubar pessoas, dois homens foram mortos por eles sem qualquer remorso, apenas para levarem suas armas e suprimentos.

O primeiro zumbi que mato é quase no susto. Entramos em uma pequena casa, depois da vistoria sigo para o banheiro com Brook e de traz da cortina do box um deles surge e o acerto com minha faca.

Depois de todo esse tempo eles são cada dia mais frágeis. Sinto alguma coisa crescer em mim. Talvez eu não seja um lixo. Wade grita com seus homens. A cada semana ele se torna mais irracional, violento e furioso, não me toca mais, o que só me causa alivio, mas sei que logo outro vai querer tomar seu lugar e talvez ele nem se importe.

O combustível acaba, agora são apenas Wade e mais quatro homens, assisti todos os outros morrer sem nenhum pesar, passamos a caminhar por estradas, ficar em casas até que zumbis surjam e a gente fuja. Brook aperta sua boneca agora suja e um pouco rasgada, nem sei se sobreviveria se algo acontecesse com ela.

Chegamos a um casarão na beira da estrada numa noite chuvosa que me lava o corpo e refresca, mas ainda me sinto suja. Não sei mais quanto tempo se passou. Na casa tudo que encontramos é uma lata de frutas secas. Os homens começam uma briga por ela. Wade tenta para-los, pela primeira vez é ignorado, sem pestanejar ele dispara sua arma e derruba Tim com um tiro na testa.

Tudo é silencio. Brook corre para meu colo.

─Mais alguém? –Ele questiona e os homens fazem silencio. As frutas a essa altura estão espalhadas pelo chão e um deles se abaixa para come-las. Wade chuta o homem. – Repita isso e vai seguir Tim para o inferno. Vamos embora daqui.

Pegamos uma estrada e no caminho vejo um cartaz. É um convite para um lugar. Terminus, aqueles que chegam sobrevivem. O pequeno grupo se olha.

─Isso deve estar aí desde o começo. Essa merda não é nada. – Wade rasga o cartaz, tinha junto um mapa. Penso que pode existir e pode ser nossa chance. Todos os trilhos levavam a ele.

Continuamos a caminhar. Brook se cansa e a carrego, está tão abatida e fraca que não é tão pesada assim, sempre foi pequena e isso vem do modo como foi gerada. Sua saúde parece fraca. Ficamos em um posto policial na beira da estrada quando a noite cai. Comemos um coelho que Jerry caçou com armadilhas. Pela manhã voltamos para a floresta.

No meio do dia os homens se juntam enquanto Wade faz uma fogueira. Me sento com Brook para descansar. Depois de ajeitar seus cabelos e conferir suas botas. Escuto os gruídos de zumbis, não parece ser mais que dois ou três, Wade segue para eles, agora não parece mais tão feliz em mata-los.

Depois de derrubar três zumbis ele se vira para os homens que agora o cercam.

─Que merda é essa de ficarem assistindo sem fazer porra nenhuma? – Ele reclama e no instante seguinte uma faca empunhada por um deles atravessa seu estomago, uma, duas, três vezes até que ele caia.

─Seu reinado acabou bastardo! – Jerry diz salivando de ódio. – Anda! – Ele grita comigo. – As coisas mudaram madame. Não é mais a primeira dama.

─Vão! – Eu peço juntando coragem. – Tenho uma faca e uma pistola. Vão.

─Cala a boca piranha. Deitou com ele para se manter viva e agora faz doce? – Eles me arrastam e aperto o braço de Brook para não deixa-la para trás.

Caminhamos pela floresta até a beira de uma estrada, não sou mais puxada, aceito segui-los, um nada covarde que fica à mercê do que é preciso para Brook sobreviver. Encontramos um carro. Funciona para meu desespero e tenho medo de sair muito dos trilhos, eu vou com Brook para Terminus, se for para morrer eu aceito, mas pode ser nossa chance.

Antes de nos afastarmos muito dos trilhos com o carro uma casa na floresta surge e entramos. Tem umas latas de sopa vencidas há meses, comemos mesmo assim. Nosso organismo não se importa mais.

Jerry me pega pelo braço. Brook arregala os olhos e me segura.

─Fica aí mesmo pequena. – Ele diz furioso, ela se encolhe. – Essa noite é minha, amanhã é de outro. Vamos dividir agora que o Wade está morto. – Os outros riem animados com a ideia.

Sou arrastada para o quarto, ele tampa minha boca e sei que se gritar só vou conseguir assustar mais ainda Brook encolhida na sala com a boneca. Ele tira minha roupa, não é diferente do outro monstro e odeio estar viva. Me visto enquanto ele ronca no meio da noite, pego sua pistola, a minha, sua faca e a minha, vou vagarosa até ele e enfio a faca em sua têmpora. Não tenho nenhum sentimento se não nojo. Ele nem se debate. Morre dormindo e satisfeito e sinto pena que nunca vai saber que fui eu.

Os dois restantes dormiam. Brook tremia numa crise de pânico encolhida com Lyn. Faço sinal e ela corre para mim, junto coragem para abrir a porta dos fundos e seguir até o carro. As chaves no contato porque ninguém mais se importa.

Nos acomodamos e acelero. Quando o carro ganhava distancia tiros acertam a lataria.

─Abaixa Brook – Eu grito e só piso mais no acelerador. Atropelo um zumbi no caminho, ganho distância e dirijo pela estrada ao lado dos trilhos por horas. Até que o carro simplesmente para.

Olho para Brook. Depois de tudo que vivemos, tudo que me submeti por ela não vou parar agora.

─Vamos caminhar queria. Eu e você, não posso te levar no colo, tem que segurar minha mão e me obedecer. Não pode gritar se aparecer um zumbi. Brook eu quero chegar a um lugar onde dizem ser seguro. Me ajuda.

─O caçador vai nos buscar lá Tia? Ele ainda está vivo não é, com suas flechas?

─Sim. – Tenho uma crise de choro quando ela me abraça e mais uma vez não consigo dizer que esse ser especial não existe.

─Te amo tia. – Ela me lembra e isso me dá força para afasta-la e descer do carro. A faca está na cintura a pistola na mão. Mesmo sabendo que não é boa ideia atirar eu não tenho escolha estando sozinha com ela, não posso deixar que nada chegue perto demais.

Corremos. Eu e minha menina. Vejo zumbis pelo caminho, não paro de correr, sei que eles vão estar a nos perseguir em breve, mas continuo, chegamos aos trilhos e só corro e corro. Quando não tenho mais como respirar nem Brook paramos.

Estamos muito perto agora. As placas deixam claro que é quase a entrada de Terminus. O carro venceu uma boa distância. Um zumbi surge nos trilhos.

─Tia! – Ela aperta meu braço.

─Vamos caminhar pequena. Podemos vence-los.

─Tenho medo! – Ela se desespera. Aperto sua mão e a pistola e apresso meu passo. O zumbi fica para trás, passamos por restos de corpos na estrada. Gente que tentou chegar e não conseguiu. Não vai ser assim comigo.

Mal posso respirar pela tensão, mas então eu vejo os portões, girassóis enfeitando a entrada, portões destrancados, caminho de mãos dadas com Brook, vejo pessoas e meus olhos brilham. Sorrio quando um homem se aproxima.

─Bem-vindas! – Ele diz amistoso. Olho para Brook cheia de esperança. – Sou Garett. – Ele me oferece a mão que aperto. Olha para Brook. – Como se chama?

Ela não responde. Brook não fala mais com ninguém.

─Ela está assustada. Seu nome é Brook. Sou Hannah. – Dois rapazes e uma mulher surgem, parecem calmos, sinto cheiro de carne assando.

─Sabe garotas. Vocês são muito bem-vindas. Mary o que acha? – Ele pergunta a mulher, algo nela me assusta. Ela sorri.

─Acho que elas não precisam de armas aqui. – Mary responde e ele estende a mão.

─Ela tem razão. Ao menos por um tempo. – Ele pede e olho em volta. Vejo gente indo e vindo e todos parecem bem. Entrego as armas, não carregamos mais nada. – Ótimo. Acho que vai ser fácil. Vagão A – Ele diz a um dos homens. – Esse vai ser o que posso chamar de lar das duas até que seja hora.

─Vamos. – A gentileza e os sorrisos somem quando os homens pegam meu braço e o de Brook.

Somos arrastadas em direção ao tal vagão, uma porta se abre. Eles nos atiram para o lado de dentro.

─O que vai acontecer conosco? Esperem – Seguro a porta quando um dos homens tenta empurrar. Eles se olham. – Por favor. Nos deixem ir. É uma criança.

─Você vê uma criança. Eu vejo o jantar. Pode até ser que demore uns dias, enquanto isso aproveite a estadia. – Ele empurra a porta e tudo fica escuro. Brook grita sem conseguir parar até que eu envolvo seu corpo depois de tatear em busca dela.

─Estou aqui querida. – Abraço Brook e me encolho com ela no fundo do vagão.

Foi isso que consegui. Foi para isso que sofremos e nos humilhamos em troca de proteção e comida. Para acabarmos mortas. Envolvo meu bebê nos braços, ela é só dor assim como eu e medo, me sinto um lixo, quando a morte está mais perto eu me dou conta do mundo que vivemos, do bicho que nos tornamos, de como as pessoas são piores que os mortos.

O vagão se abre, um grupo é obrigado a entrar. Não quero saber quem são. Vejo homens e mulheres, mas só me encolho mais com Brook e sua boneca.

─Fica calma moça, não queremos e não vamos fazer mal a vocês. – Um rapaz diz e posso ver que é asiático. Não querem e não vão porque alguém vai ser mais rápido, mas eles fariam, sabe lá o que já fizeram. É assim agora, alguém sempre está disposto a te engolir e nada mais importa se não a sobrevivência. Eu e Brook não somos nada.

Não presto atenção no que falam, Brook nem mesmo abre os olhos. Não até horas depois quando de novo o vagão se abre depois de alguma confusão lá fora. Alguém tentou resistir. Eu os vejo entrar, um a um, até meus olhos assistirem incrédulos Daryl Dixon entrar no vagão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ficou enorme né? Mas era o jeito para chegarmos ao encontro. Queria contar a tragetória da Hannah, por que precisava mostrar onde ela se encontra nesse momento. (emocionalmente) para a história se desenvolver como quero.
BEIJOSSSSSSSSSSSSSSSSS