Até que ponto é fantasia escrita por Niebla


Capítulo 24
Imprevisível


Notas iniciais do capítulo

Olá fantasmas! Aqui está a metade que dará sentido à confusão intencional do anterior!



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“Alice já tinha fechado os olhos e gritado agarrada ao livro pelo o que pareceu ser minutos, pensando que a queda iria matá-la, mas ela só continuava caindo e caindo por aquele poço sem fundo. Foi aí que algo tocou a testa dela forçando-a a abrir os olhos. Era a rosa que trouxera do jardim da feiticeira saindo do bolso do casaco e se despedaçando até ficar parecendo um botão. Sorte do próximo que chegasse ali, este seria recebido com uma chuva de pétalas! ‘Como eu fui me meter nisso?’, ela bufa. Por um momento, ela sentiu como se tudo estivesse levitando e sendo sugado para cima e não ela caindo. Olhando para baixo, ela não conseguia ver o que a esperava, estava tudo muito escuro… ou de onde ela vinha que tudo era claro demais? Alice suspira, se continuasse assim, ela imagina que chegaria ao centro da Terra e quem sabe até atravessasse para o outro lado”.

— Passado o meio do planeta, estaria caindo ou subindo para o outro lado? — “Ela ri”. — E logo de cara encontraria pessoas andando de cabeça para baixo, ou eu que o tempo todo não ando de cabeça para cima? — “Lembra que costumava pensar em coisas assim quando era mais criança”.

“Aquela queda acabaria nunca? Alice caia, caia e caia, despencando por aquele lugar de profundidade insondável, mas cheio de coisas nas paredes. Ela repara nuns pôsteres e num relógio-cuco que quase lhe acerta o nariz quando passa. Fecha a porta de um dos muitos porta-louças, pensando que aquilo poderia matar alguém desprevenido. Repara que muitas coisas dali até que eram familiares… Alice olha para cima notando que lá estava tão escuro quanto o que não via para baixo. Foi aí que um livro de uma estante que estava com todo seu conteúdo caindo para fora, —ao contrário da maioria das outras presas às paredes— a atingiu, sendo seguido de alguns outros que caiam… ou subiam? A garota não era muito boa em desviar das coisas, quem dirá caindo”.

— Ei! — “Ela resmunga”.

“E então um livro chama a atenção dela, Alice estica o braço bem a tempo agarrar um livro similar ao púrpura que segurava, estranhou o fato dele ser azul e não da cor do outro, mas ignorou, como ela esperava, ele não tinha título e estava todo em branco. Ela os guarda no casaco e suspira entediada, começando a ficar com muito sono por um bom tempo. Então começou a rir questionando se era ela que estava caindo devagar demais ou se aquilo era um buraco de minhoca, porque julgava ser impossível cair tanto assim”.

— Será que Len também entrou nessa história? Porque até onde eu sei, pode ser que só eu tenha entrado nesse livro. — “Ela se pergunta bocejando”. — Será que ele vai sentir minha falta? — “Fala para si, sentindo os olhos pesarem”. — Vai sentir minha falta…? Vou sentir minha falta… — “Murmura como se estivesse começando a sonhar”.

“Então veria quem ela tanto queria encontrar e olharia nos olhos dele perguntando se, no tempo em que este fora, ele sentira falta dela e… Num baque que a faz tomar um susto, a queda termina.

— Que loucura! — “Alice levanta feliz por estar sem sequer um arranhão”.

“Ela se vê num chão molhado cheio de folhas ressecadas e galhos que deixaram seu reflexo mais escurecido. Olhou para cima, mas tudo estava escuro, assim como era o buraco antes dela cair nele. Pensou que se o mundo virasse de cabeça para baixo e ela tornasse a cair, acabaria parando no mesmo lugar. Decide nem questionar a lógica daquilo e olha ao redor percebendo que o coelho seguia por um extenso corredor, agora vestido e olhando em seu relógio de bolso. Ela corre atrás dele o mais rápido que podia, mas quando dobra a esquina do corredor quase agarrando aquelas orelhas, ele some, mas ela pôde jurar ter escutado algo como “Atrasado, atrasado. Está ficando tarde”.

“Seguindo por aquele tipo estanho de túnel, Alice vai parar num salão amplo com muitas portas espalhadas, estavam todas trancadas. Ela suspira sem se dar ao trabalho de tentar abri-las. Ela passa as mãos nos bolsos do vestido que usava, ele tinha mudado conforme ela caíra pelo túnel, e lá encontra uma chave dourada. Alice olha ao redor percebendo que nenhuma daquelas portas tinha a fechadura do tamanho certo, fazendo com que a chave fosse pequena ou grande demais. Foi aí que viu uma pequena cortina, detrás dela, uma porta tão pequena que ao conseguir destrancá-la, vê, como se olhasse através de uma luneta, um lindo jardim que a deixou maravilhada, mas ela não conseguiria passar, era grande demais, então suspirou sentando no chão”.

— Droga, como fui me meter nisso? Ele pode estar do outro lado ou pior, no outro livro e eu aqui, tudo isso por minha causa… — “Ela morde o lábio, sentia-se tão vulnerável”. — E se mesmo no outro conto eu não o encontrar? E se por causa disso ficarmos presos? E ele daquele jeito todo estranho… — “Frio como se seu coração estivesse virando um caco de gelo”. — Mas eu sei que mesmo sendo um grosso, em momento algum ele mentiu. — “Funga”. — Ele disse que gostava de mim e eu fingi que não ouvi, o tempo todo mentindo para mim mesma… Eu queria ser diferente, mas é sempre a mesma coisa. Eu sou mesmo uma pessoa horrível. — “Abraça os joelhos sem perceber que estava menor”. — Menor?

“Ela enxuga as lágrimas e se levanta, agora estava pequena o bastante para passar pela porta. ‘Será que vou conseguir encontrá-lo? Como vou poder encará-lo?’ Ela diminui um pouco mais, se continuasse assim, pensa que iria desaparecer. Nunca se sentira tão pequena, tanto que a chave que antes ocupava só a palma da mão, agora estava do tamanho de uma espada. Alice respira fundo e com os dois livros nas mãos, que felizmente, assim como as roupas, também tinham diminuído, vai abrir a porta, mas ela estava trancada novamente”.

— Eu vou te encontrar, não importa como! — “Alice grita para ninguém em especial. Ela fecha os olhos tentando se concentrar para sair de onde estava, como se achasse que poderia se teletransportar… Por um instante, foi como se ela tivesse crescido um pouco”.

— Ande logo Polegar! — “O pai cutuca a criança que tinha cochilado novamente”.

— Já estou indo… — “Acorda sem saber se tinha mesmo entrado naquele outro livro ou se fora apenas um sonho muito esquisito… “…certamente vai chegar em algum lugar se caminhar bastante…” ela escuta ecoando como se viesse ainda daquele sonho, assim como vê o sorriso de lua de um gato, algo francamente curioso… A Pequena Polegar sacode a cabeça e se levanta querendo entender o que estava acontecendo”.

***

— Ainda está com frio? — “A Rainha das Neves pergunta beijando a testa do garoto com seus lábios tão frios e macios que apesar da temperatura amena e dureza, não lhe pareciam ser feitos de gelo”.

“Ela era uma dama graciosa, alta e de um lindo rosto clássico, toda branca como a neve mais resplandecente. Por baixo de um casaco de pele coberto de neve fofa usava um vestido que parecia ser formado por flocos brilhantes que só não brilhavam mais do que seus olhos inteligentes que pareciam duas estrelas. Então beijou-o novamente e Kai sentiu como se seu coração tivesse de vez virado gelo, uma sensação terrível que logo foi substituída por um tipo estranho de conforto que o fez parar de tremer”.

— Agora não lhe beijarei novamente porque não quero que morra. — “A Rainha olhava para ele sorrindo”.

“Kai começou a contar-lhe várias coisas que sabia (para não pensar em Gerda, eu diria, mas se pudesse me ouvir, ele negaria) e a Rainha ouvia tudo com muita atenção, tanto que, depois de um tempo, Kai sentiu que deveria ter mais o que dizer. E sobrevoando as terras nevadas, seguiram pela longa noite de inverno”.

***

“Enquanto isso, a Pequena Polegar se esticava ao máximo que podia para pegar um livro púrpura todo em branco que estavam usando como porta-copos em cima da mesa e o abraça notando que os outros dois estavam bem pequenos em seu bolso do casaco".

"Com os pais na frente, os sete seguem pela floresta cada vez mais densa, lá o pai começa a cortar lenha enquanto os demais colhiam galhos e no caso das crianças, também brincavam. As sete crianças eram muito parecidas —umas delas, até gêmeas— com exceção da caçula, que era bem menor e fraca, mas também mais sagaz e observadora do que os irmãos”.

“Logo a Pequena Polegar repara que em seu bolso estava o que sobrara do meio pão que ela tinha reservado para fazer uma trilha, quando viu que a porta estava trancada e não poderia pegar seixos brancos no riacho para marcar o caminho de volta para casa, como fizera antes. Mais uma vez, os pais, temendo ver seus filhos morrendo de fome, decidiram abandoná-los pela própria sorte no meio do mato. Preferiam que fossem devorados por feras longe de seus olhos do que vê-los definhar”.

— O quê!? — “A Pequena polegar arregala ainda mais os olhos e junto aos irmãos se dá conta de que os pais tinham ido embora”. — N-não chorem. — “A caçula olha para os irmãos que se debulhavam em lágrimas”. — Juntos podemos procurar o caminho de volta para casa. — “Tenta passar coragem”. — Por aqui. — “Começa a seguir a trilha de migalhas, mas os pássaros já tinham devorado todo o resto dela”.

“Todos eles se apavoraram e passaram a andar bem juntinhos. A noite vinha caindo e junto a ela, um vento forte e muita chuva. Qualquer ruído, os garotos já pensavam que era um lobo vindo para devorá-los, mas Polegar não se deixou desanimar, ela subiu no alto de uma árvore olhando além da copa das árvores mais baixas, foi aí que viu a luz trêmula da luminária de uma casinha do outro lado da floresta e numa jornada difícil no meio da floresta escura, iluminada apenas pelos raios e relâmpagos, conseguem chegar na casa que era bem maior do que pensavam e batem à porta”.

— Por favor, nos deixe entrar, está tão frio. — “A Pequena polegar se pronuncia já que nenhum dos seus irmãos estava disposto a tomar frente e falar com a mulher que atendera”. — Estamos tão cansados…

— Oh, sete criancinhas tão lindas, inocentes e encharcadas… Não sabe onde estão? Saiam correndo daqui, porque se o meu marido que é um ogro enorme chegar, vocês serão devorados numa bocada só! — “Ela parecia preocupada”.

— Outro gigante canibal não! — “Polegar resmunga para si e os irmãos olham para ela como se ela fosse louca, então ela fecha os olhos querendo muito sumir dali e voltar para outra realidade”.

— Ei, não era para cá que eu queria voltar! — “Alice bufa querendo sair do País das Maravilhas”. — Está mais para Submundo. — “Resmunga pensando no tanto que antes caíra para chegar ali, então fecha os olhos tentando se concentrar, como se assim pudesse sair dali e então se vê sentada à uma mesa”. — Por que não está funcionando? — “Será que ela não queria voltar?” — É claro que eu quero! — “Era algo questionável”. — Oras…Você está abusado, hein? — “Reclama para o nada chamando a atenção dos que estavam sentados à mesa junto a ela. O estranhamento foi tanto que o Caxinguelê até acordou e a Lebre de Março deixara todo o conteúdo da leiteira cair no prato”.

— Quero uma xícara limpa! — “O Chapeleiro agia como se aquilo fosse completamente normal e vai para a cadeira ao lado como já tinham feito há pouco tempo atrás”. — Vamos, avancem”.

“Então o Caxinguelê que quase voltava a cochilar o acompanhou seguido pela Lebre e então por uma Alice muito confusa que bufou ao ver a meleca que a Lebre fizera, só o Chapeleiro que saíra com a vantagem de louças limpas. Então o Chapeleiro belisca o Caxinguelê para que ele continuasse a contar a história”.

— E tiravam do poço todo tipo de coisa… — “Os olhos pesavam e os bocejos contagiavam Alice”. — tipo de coisa que começa com M…

— Legal, um coelho, um esquilo e um chapeleiro maluco… — “Sussurra. Alice olha para eles ainda bastante confusa e levanta da mesa saindo depressa. Não achava que continuando ali naquela conversa maluca conseguiria grande coisa, chega a olhar para trás para ver se algo acontecia, mas vê que eles nem notaram a ausência dela e que o Caxinguelê estava dormindo de novo”.

 — Eu não quero ficar avançando nessa linha de tempo!

“Alice resmunga quando se vê no meio de um jardim onde cartas de baralho finas como folhas de papel, mas com pés e mãos nas pontas, pintavam com seus pincéis carregados com tinta vermelha, rosas brancas. Por um momento Alice pensa em ficar por ali para entender o que estava acontecendo, mas a ideia lhe parece péssima, então ela se afasta para que não a vissem e fecha os olhos sentindo o sol forte do verão em seu rosto”.

— Poxa Len, eu preciso tanto te encontrar para lhe dizer… — “Morde o lábio antes de abrir os olhos vendo o céu tão azul no meio daquela natureza insana”. — o que eu sinto, mas assim não está dando muito certo… — “Ela ri consigo, mas estava toda vermelha”. — Dizer que tudo bem você gostar de mim, porque eu sinto a mesma coisa… Isso se você não me odiar… — “Suspira e quando abre os olhos, Alice se vê numa arquibancada que era muitíssimo pequena para que ela se sentasse confortavelmente”.

— Primeiro a sentença, depois o veredito! — “A Rainha de Copas ergue a voz”.

— Que absurdo! — Alice não entendia o que estava acontecendo, mas não deixaria de se posicionar. Como havia crescido nos últimos minutos…”.

— Cale a boca! — “A Rainha vai ficando tão vermelha quanto o próprio vestido”.

— Não! — “Alice se levanta sem se importar com quem derrubava”.

— Cortem-lhe a cabeça! — “A Rainha de Copas berra até ficar sem fôlego, mas ninguém acata a ordem. Perturava um quase total silencio interrompidoapenas pelo som do pessoal anotando e isso faz a garota rir deixando a Rainha, como se fosse possível, ainda mais vermelha. Alice vê uma borboleta cruzando o céu”.

— Oras… Vocês não passam de um baralho… Quem se importa? — “Alice revira os olhos e todo o baralho enfurecido voa para cima dela. No começo ela fica com medo de que batessem em seu rosto e irritada tenta repeli-los. Não demorou muito para cair no riso por causa do absurdo daquela situação e viu-se cochilando debaixo de um arbusto de bagas vermelhas”.

— Por que raios eu estou sem sapatos? — “Gerda resmunga tremendo muito e sentindo que se continuasse ali parada, literalmente, iria congelar. Ela coloca as mãos debaixo dos braços, porque também estava sem luvas, sentido os livros quentes dentro do casaco. O frio de Finamarca era tanto que o calor frágil da respiração dela logo virava vapor e sumia no ar gelado”.

“Ela segue em frente como por instinto e logo se vê dentro de um palácio imenso todo feito de neve e de pouquíssimas paredes sólidas de gelo, sendo assim, a maioria delas se desordenava e reordenava de acordo com o vento. As portas e janelas eram, em sua maioria, caminhos que o vento cortara. Bem no centro, em cima de um grande lago congelado, ficava a maior sala, ela era quilométrica e mais fortemente iluminada pela magnífica aurora boreal azulada do que as outras. Tudo era enorme, frio, grande e vazio, mas cintilante dentro do palácio da Rainha da Neve”.

— Por onde eu devo ir… — “Ela morde o lábio olhando para aquela imensidão de brancura à sua volta”. — Se portas e janelas são ventos cortantes, talvez eu deva me arriscar e atravessar algumas paredes…

“Kai estava azul de tão gelado, tanto que mesmo enquanto ele passava as mãos em alguns blocos lisos e irregulares de gelo, como aqueles que formavam a superfície do lago, eles não derretiam. Ele estava concentrado tentando jogar o Grande Jogo Frio da Inteligência que era como um quebra-cabeças, mas, por ter um caco de vidro preso no coração e outro no olho —tornado tanto a mente quanto o coração frios— não conseguia ganhar, criava formas incríveis que por si formavam palavras, mas nenhuma delas era a que tinha que encontrar: Eternidade. Se conseguisse formá-la, como havia prometido a Rainha, que agora estava do outro lado do mundo fazendo gear no cume dos vulcões de terras mais quentes, ele seria livre e ela lhe daria tudo o que ele quisesse. Kai suspira tentando bolar uma nova estratégia, já tinha tentado de tudo e ainda assim não conseguia”.

— Len! — “Gerda grita com o coração batendo acelerado e os olhos cheios d´água ao ver Kai mergulhado em pensamentos como uma estátua de gelo, então corre para ele o mais depressa que podia e abraça o pescoço dele”. — Finalmente eu te encontre! Eu estava tão preocupada e com medo de que minha burrada tivesse sido tão grande que nem conseguir te encontrar eu conseguiria, eu atravessei mundos para chegar até aqui… — “Então ela repara que ele continuava tão rígido e frio como antes, então ela olha bem para os olhos de Kai antes de abraçá-lo com mais força ainda e chorar colada ao peito dele. Ele não a reconhecia”. — Por favor, fale comigo…

“Foi aí que o calor do gesto penetrou todo aquele frio do garoto, tocando o coração dele e derretendo o gelo, com isso o pedaço do espelho se desprendeu e foi levado pelo gelo derretido antes de se desfazer. Kai ergueu a cabeça e levou as mãos ao rosto dela. A pele tão quente e macia debaixo de seus dedos frios e das lágrimas…”.

— Estranha… — “Os sentimentos todos voltaram de uma vez só causando uma dor terrível, mas ao mesmo tempo revigorante e lágrimas escaparam de seus olhos enquanto Gerda soluçava, foi assim que o segundo caco, levado pelas lágrimas, foi desfeito. Agora, eles não refletiriam o lado sombrio de Kai. Uma distorção que não sentia nem via as coisas como um todo, só alcancavam os defeitos”.

— Idiota… — “Gerda estava entre rir e chorar de alegria, uma sensação muito confusa, enquanto Kai se apertava com força contra ela, nunca estiveram tão próximos”. — Eu tenho que te dizer algo muito importante.

— Eu paro de te chamar de estranha se for ess… — “Começa a dizer, mas Gerda cobre os lábios dele com os dedos”.

— Eu cansei de fingir que eu não ouvi, vi ou que não senti o que eu estou sentindo agora… — “Ela sorri de leve”. — Eu sei que você gosta de mim daquele jeito mais intenso e… — “Ela enxuga o rosto”.

— E… — “Ele deixa escapar. Tentava não criar expectativas enquanto se esforçava para conseguir decifrá-la ignorando até mesmo o frio que sentia. Gerda sorri com isso”.

— E isso é maravilhoso! Eu não queria acreditar na hora, porque achei que fosse loucura, mas ninguém em toda a minha vida me fez sentir desse jeito e nossa, foi tão rápido, mesmo que tenhamos precisado de vários mundos para descobrir isso, eu mal me acostumei com essa ideia… — “Gerda olha para os olhos de oceano de Kai que mantinha o olhar distante, mas com o mesmo brilho que o dela”. — Eu nunca pensei que iria gostar de alguém outra vez tão cedo e saber que esse alguém é você, faz algo explodir dentro de mim, é de tirar o fôlego e há dias você não sai da minha cabeça. Eu poderia até tentar negar, mas eu não vou mais fingir nem esconder isso de você, então, por favor, não tenha mudado de ideia… 

— Eu não poderia estar mais de acordo… — “Kai alarga o sorriso. Não imaginava que ouviria algo assim tão cedo”. — Obrigado por aceitar o que eu sinto e saiba que se algo mudou desde então, foi para melhor…

“Então os dois se aproximam e Gerda coloca a mão de Kai na cintura dela antes de se apoiar no chão para se esticar até ficar na altura dele, mas com o gesto acaba escorregando na pequena poça fazendo Kai rir com os lábios grudados nos delas, então os dois se beijam com carinho e a cor começa a voltar com mais força para o corpo de Kai. Foi com o gesto atrapalhado de Gerda que as peças do jogo, batendo na mão dele formaram a palavra eternidade tornando-o livre, porque é só através do amor que o ser humano chega mais próximo da eternidade”.

— Ele está filosófico hoje, hein… — “Gerda implica sem motivo”.

— Eu até implicaria, mas senti falta da voz dele ecoando por aqui… — “Kai reconhece e Gerda ri”.

— Vamos! — “Ela levanta e estende a mão que, sem se atrapalhar muito, Kai agarra e juntos eles fazem o caminho que Gerda fizera encontrando, próxima ao arbusto das bagas vermelhas, a rena de pescoço levemente lascado que os levaria para casa”.

“Conforme foram chegando mais perto da própria terra natal, o sol surgiu e o vento passou a soprar ternamente. A primavera desabrochava trazendo consigo um doce perfume. Na frente de casa, viram as rosas abertas passando até mesmo para dentro das janelas. Atravessaram a porta notando que tinham se tornado adultos. O relógio da parede tiquetaqueava e os ponteiros rodavam sem pressa, tudo no mesmo lugar, mas ao mesmo tempo tão diferente… Tinham crescido, mas continuavam a ser crianças em seus corações. Era como se fosse verão outra vez…”.

E a mesma força de antes nos lança para fora do livro, estávamos quase na mesma posição, só que um tanto mais próximos. Len solta um grande suspiro e eu sorrio para ele. Era estranho estarmos num ambiente que quase preservava o clima da briga que tivemos há o que seriam segundos ali, mas nossos corpos estavam com um misto de frio e calor, nossos corações acelerados, eu podia sentir… Eu o abraço e ele devolve o gesto afundando o nariz nos meus cabelos e eu começo a contar o que aconteceu comigo dentro das partes em que ele não estava nas histórias.

— Isso foi completamente insano. — Ele conclui com o mesmo riso zombeteiro que tinha soltado em alguns momentos da minha narração.

— Eu que o diga!  — Eu recolho o livro sem tocá-lo, com medo dele abrir sozinho ou sei lá o que…

— Hm… Você pode repetir o que me disse?

— O que eu disse? Quando? — Tento olhar para ele, mas ele não deixava.

— Pouco antes de dizer que eu não saia da sua cabeça. — Ele brincava com um dos meus cachos ao dizer isso.

— Eu prefiro repetir o que fiz logo depois… — Eu brinco surpreendendo-o um pouco, por isso consigo me afastar e ver que ele estava bem enrubescido, assim como eu, eu apostava.

— Cair em cima de mim? — Ele sobe e desce as sobrancelhas.

— Melhor… — Eu mordo o lábio contendo o riso.

— Lun? Você não estava com pressa? — Era Gabriel chegando.

— Ai, droga. — Eu me afasto tropeçando na caixa de novo e Len ri disso.

— Depois falamos sobre isso. — Eu não sabia se era sobre as caixas ou sobre o nosso quase outro beijo.


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Notas finais do capítulo

Seria maravilhoso saber o que pensam dos meu capítulos ♥



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