Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Fala gente!
Mais um capítulo. Espero que gostem.



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E a casa voltou a sua rotina normal. O Ricardo voltou com suas esquisitices e passou a se enfiar na mata, novamente. A casa estava silenciosa demais. Fazia uma semana desde que o Moacir viajara e essa falta de alguém para conversar era desesperadora. Ao menos agora eu tenho o rádio. Posso ouvir música sem tomar esporros, desde que não cante e nem rebole.

Ontem foi minha folga e aproveitei para visitar meus pais. Pela primeira vez posso falar que estou conseguindo me virar bem, desde que sai de casa. Vou poder começar até a juntar uma graninha. Quem sabe, mais para frente, não consiga até financiar um barraquinho para mim?

Hoje voltei para o meu inferno, minha prisão silenciosa. O João tem até um bom papo, mas ele trabalha de um lado e eu do outro. Só conseguimos nos falar no fim do dia quando já estamos muito cansados. A fazenda tem até mais 3 empregados, mas esses poucos se aproximam da casa. Passam o dia consertando as cercas e cuidando das plantações. O único, além do João, que se aproxima da casa é o Jaime, mas com esse não quero papo.

–Sofia, leve essa encomenda e coloque nos correios para mim. Agora! –O Animal apareceu com uma enorme caixa das mãos, embrulhada. Pelo formato deve ser um quadro.

–Eu estou terminando o almoço. Não posso simplesmente largar na metade. –Falei.

–Não me interessa. Apague e vá. Sabe que os correios fecham cedo. –O lado mau da bipolaridade aflorou.

–Depois não reclame se a comida não ficar do seu agrado. Já viu como é ruim parar a comida na metade e depois continuar cozinhando?

–Sou eu quem vai comer porcaria, não é? E outra, um bom cozinheiro salva qualquer coisas. Agora vá que preciso disso no Sedex ainda hoje!

–Como quiser, patrão. –Falei, apagando os bocais do fogão.

Eu troquei de roupa e fui pegar a maldita encomenda. Dessa vez ele não deixou nenhum bilhetinho e me esperou na sala.

–Coloque isso nos correios e volte imediatamente. –Ele falou, autoritário, me entregando a caixa já embalada e endereçada.

–É um quadro? –Perguntei ao ver que era mais leve do que eu esperava.

–O que é não te interessa. O conteúdo disso diz respeito somente a mim e à destinatária. Vá logo!

Preferi não responder para não tacar mais lenha na fogueira. Lembrei na minha promessa para o Moacir de tentar suportar o Animal e não o matar. Era o que me restava, não? Coloquei um sorriso falso na cara e sai.

–Gata, você abusou da beleza hoje. –O Jaime me cantou quando passei.

–Jaime, vai pra merda e me deixa em paz! Hoje não estou para suas gracinhas... –Falei e continuei a andar.

–Ui, a gata é uma leoa hoje.

–O patrão tá em casa. Se fosse você sumia daqui antes que perdesse o emprego.

–Não tenho medo do seu cão de guarda e estou no meu horário de almoço.

–Depois não diga que não avisei.

Entrei no carro e sumi dali. Ultimamente o Jaime tem andado mais insuportável que o Animal. Ele passou a o chamar de “meu cão de guarda”. Por sorte, na maioria das vezes, o Ricardo estava por perto e acabava sempre com as gracinhas do Jaime pra mim. Será que ele andava me vigiando e até, de certa forma, me protegendo? Sei lá, deve ser só impressão. Acho que a única coisa que o Animal preza é ele mesmo. Não seria muito lucrativo dois empregados apaixonados, trabalharíamos menos e se o relacionamento decaísse ficaria um clima ruim. Apesar de tudo, de ser um grosso insensível, o Animal preza pela paz.

***

Fiz tudo o que tinha para fazer e voltei. Como sou mesmo terrível e não me aguentei, li o nome da destinatária. Mariana, acho que é a filha do Moacir. Estava chegando à casa grande quando vi algo que, realmente, não esperava ver hoje. O Animal estava rolando no chão com o Jaime. O pobre do João tentava segurar o Ricardo, mas ele é magrinho e o Animal não chega a ser um bombado, mas é forte. Desci rapidamente do carro e corri até eles.

–Parem! –Eu gritei e gritava, mas não adiantava de nada.

O Ricardo deu um soco no Jaime e o jogou no chão. Ele estava meio desnorteado. O João tentou segurar o Animal pra ele não fazer mais merda, mas acabou ganhando uma cotovelada na cara. O Olhar de ódio do Ricardo é assustador. Ele vai matar o Jaime se alguém não fizer nada.

–Vou me arrepender amargamente de fazer isso, mas...

Corri e me coloquei na frente do Jaime, que estava caído e tentava se levantar. O Ricardo vinha com o punho fechado, mas parou.

–Saia da frente! –Ele ordenou.

–Não!

–Saia daí, Sofia. Eu não quero te machucar.

–Não vou sair, patrão. Não vale a pena estragar sua vida por um merda como esse.

Ele me olhou com ódio e depois, com mais ódio ainda, olhou para o Jaime.

–Tirem esse lixo daqui. –Ele falou se virando e indo em direção ao estábulo.

–Eu vou te processar! –O Jaime gritou.

–Jaime, cala a boca. Se ele voltar, não sei se poderei segurá-lo novamente. –Falei.

–Isso, defende mesmo o seu cão de guarda. Olha o estado que ele me deixou. Vocês vão me pagar.

–Se apanhou, foi porque mereceu. Agora some daqui antes que eu também te dê uma surra.

–Vamos, Jaime. –O João, com o nariz sangrando pela cotovelada que levou, levantou o Jaime e começou a arrasta-lo pra fora.

Eu fui procurar pelo Ricardo. Ele também está todo ensanguentado, se bem que eu acho que é sangue do Jaime, mas mesmo assim... O encontrei abraçado ao bode. Ele acabou de beijar o bode?! Que merda está acontecendo aqui?!

–Você beijou esse bode? –Perguntei, ainda incrédula com a demonstração de afeto dele com o bicho.

–Eu prefiro beijar alguns animais a certas pessoas. –Ele respondeu, seco.

Comecei a olhar e reparei que ele estava passando uma espécie de pomada em uma marca vermelha no pelo do bichinho; Como ele tem o pelo preto, quase não dá pra notar o pequeno corte. Abaixei-me próximo a eles.

–O que aconteceu com ele? –Perguntei.

–Aquele maldito acertou o meu pobre Kusco com um pedaço de madeira. –Ele falou, abraçando mais ainda ao bode.

–Por isso bateu nele?

–Foi. Ninguém bate em meus animais. Eles são as coisas mais importantes que tenho.

–Ele está bem? –Perguntei olhando para o bode.

–Vai ficar. O corte não foi fundo. –Ele deu um último beijo no animal e o soltou. O bode saiu todo feliz.

Eu continuava olhando descrente para aquela cena. Como o Ricardo poderia ser um grosso com pessoas e um amor com animais? Quanto mais vejo, menos entendo.

–Já jogaram aquele lixo pra fora? –Ele perguntou.

–O João estava providenciando isso.

–Ótimo! Não quero que ele ponha mais os pés nas minhas terras. E você também não tem um almoço por terminar? –Ele falou, se levantou e foi pra fora.

Eu preferi não rebater e também sai. Encontrei com o João na entrada da casa. Ele segurava o nariz com um pano.

–Tem um pouco de gelo, Sofia? –Ele pediu.

–Tenho. Entra.

Entramos. Dei um pouco de gelo enrolado em um pano pro pobre coitado enquanto eu terminava o almoço.

–Como começou a briga? –Perguntei.

–O Kuzco roubou um pedaço da maçã do Jaime e ele tacou um pedaço de pau no bicho. Por azar, o patrão estava passando na hora. Só vi ele voar no pescoço do Jaime. O resto você já sabe.

–Que estupidez também do Jaime! Aqui tem frutas à vontade. Custava dar um pedaço de maçã pro bode? Quase todo dia eu divido uma fruta com eles. Ele e a Dulci sempre me esperam no fim da tarde. Foi uma surra bem merecida.

–Foi sim. No fundo fiquei feliz, não suportava mais esse cara. Folgado...

–Eu também. Ele não parava de me cantar.

Nesse instante o Ricardo apareceu na cozinha e o João, pedindo licença, correu para trabalhar.

–Você está bem? –Perguntei.

–Estou. –Ele respondeu, indiferente.

–Não sabia que você gostava tanto assim do Kuzco. –Comentei.

–Eu gosto de todos os meus animais. Eles são uma parte do que eu já fui.

–Uma parte do que já foi?

–Coisa minha. Obrigado por hoje, se não fosse você, teria matado aquele desgraçado.

–Não tem o que agradecer. Acho que faria o mesmo que você se fosse com alguns dos meus.

–Conseguiu colocar o pacote no correio?

–Coloquei.

–Bom... Vou estar no meu quarto. Me chame quando o almoço estiver pronto.

Ele saiu de lá e vi que ficou um pouco sem jeito de agradecer. Até tentou ser gentil, mas a arrogância já está em seu sangue. Ah, Ricardo, ainda vou descobrir quem é você realmente. Não pode ser uma pessoa tão má se ama assim seus bichinhos.

Continua.


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