Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 66
A Origem dos Apelidos (Bônus 14)


Notas iniciais do capítulo

Fala gente! Espero que estejam bem.
Atendendo a outro pedido da querida Julia, esse capítulo é quando os pequenos descobrem porque são Alien e Marciano.
Espero que gostem. :)



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Eu estava sentado na poltrona da biblioteca, lendo, pelo menos tentando, quando a minha pequena Alien de 12 anos entrou como um furacão e saltou em mim. Eu não posso reclamar dessas interrupções.

—O que aconteceu, minha querida?

—Nada, pai.

—Eu te conheço, Alien. Você nunca me procura não sendo nada. Deixe de rodeios e fale o que você quer. Sabe que não precisa ter medo de me contar nada, não é?

—Eu sei, pai.

—E então?

—Eu sei o que Alien é e eu sei que ninguém sabe se realmente existem alienígenas, mas uma colega da escola falou que viu um filme que tinha um alien horrível como eu.

Eu tive que contar até dez para não gritar e assustar minha filha. Eu sei que crianças podem e são cruéis, mas isso não quer dizer que eu não vá segunda feira na escola para ter uma conversinha com a diretora. Minha filha é a criatura mais linda que eu conheço. Feia deve ser a mãe da desgraça que ofendeu minha Alien.

—Você sabe que isso é mentira, não é? Você é linda, minha filha. Não deixe que ninguém destrua sua autoestima.

—Eu sei disso, pai. –Falou, suspirando. Tem algo que ela ainda não me contou.

—Então qual o problema, Bianca?

—Até hoje vocês não me contaram por que o meu apelido é Alien. Quer dizer, eu sei porque o da Alice é astronauta, é porque ela não desgruda do Zé, mas eu não sei o porquê do meu ou do Zé.

Puta que o pariu mil vezes! Eu sei que um dia teríamos que contar para ela, mas como eu falo para uma garota de 12 anos que só a chamamos de Alien porque ela quase rasgou a mãe dela de dentro para fora? E o pior, como falo isso sem traumatiza-la?

—Pai? O senhor está bem? –Ela perguntou, segurando o meu rosto e alisando meu cabelo.

—Estou, filha.

—É que o senhor ficou com o olhar perdido, como se estivesse no mundo da lua.

—Só estava pensando. Eu prometo te contar o motivo do seu apelido, mas pode ser mais tarde? Lembrei que tinha que fazer algo.

—Pode.

—Eu te amo, Bianca. –Falei, me levantando da cadeira e colocando um beijo no topo da cabeça dela.

—Também te amo, pai.

Eu sai de lá apressado e fui caçar a dona desse apelido infeliz. Eu e a Sofia somos como o bom e o mau policial. Ela é a má e eu o bom que só estraga as crianças. Ela, sendo a má, tem a missão de falar essas coisas para os filhos. A encontrei, como esperava, na estufa com o Zé, a Alice e a Titília. Aquela cachorra me impressiona, ela já está com os pelos todos brancos, velhinha de não conseguir mais nem correr muito, mas não desgruda das crianças. Eu estou vendo que vai ser uma choradeira só quando a hora dela chegar, peço a Deus que leve ainda muito tempo. A morte do Cuzco, no ano passado, abalou todos nós. Eu mesmo chorei durante alguns dias já que ele era a minha última conexão com a minha vida antiga, com o meu primeiro filho adorado. Ele foi um animal feliz. Morreu com 25 anos. Agora arrumamos um outro bode, as crianças o nomearam de Franco, ainda me pergunto de onde elas tiraram esse nome. Ele, se é que isso é possível, é mais abusado que o outro. Ele se apegou mais na Alice, mas também era lógico já que ele não sai mais da casa da Mariana. Parece até que ela que é a dona dele e não eu.

—Amor? Aconteceu algo? –Sofia perguntou, quando percebeu que eu estava parado na porta.

—Não e sim. Posso falar com você? –Perguntei, olhando para as crianças.

—Pode. Zé, Alice, será que vocês poderiam ir brincar um pouquinho em outro lugar, por favor?

Eles assentiram com a cabeça e saíram em seguida. A Sofia me olhava com uma cara de preocupação. Odeio quando ela faz essa cara.

—Qual o problema, Ricardo? –Perguntou, preocupada.

—A Alien quer saber sobre o apelido dela.

Ela me olhou e começou a rir como uma louca. Isso não tem graça!

—Sofia?

—É essa sua preocupação?

—Claro que é! Como eu vou falar pra ela que o apelido dela é Alien porque ela quase te rasgou por dentro?

—Isso é fácil. Deixe que ela assista ao filme.

—Mas ela tem apenas doze anos! Não é muito violento?

—Até parece que não conhece sua filha. Ela vai adorar. Só com o Zé que temos que ser mais cautelosos. Ele ainda é muito pequeno e acho que poderia ficar um pouco assustado.

—Tem certeza?

—Absoluta. Agora vá lá mostrar a nossa pequena Alien o motivo do seu apelido. –Falou, me virando e dando um tapa da minha bunda para me conduzir para fora.

—Esse tapa não vai ficar assim. –Falei.

—Eu sei que não. Mais tarde resolvemos isso. –Falou, com um sorriso malicioso no rosto. Ah se eu não tivesse que sair agora...

Eu voltei para a casa e encontrei a Alien na fofoca com o irmão. Isso não pode ser boa coisa. Aqueles dois quando se juntam sempre me dão dor de cabeça.

—Pai, a Alien falou que o senhor vai contar por que o apelido dela é Alien. Posso saber por que o meu é Marciano? –O Zé perguntou e eu queria enterrar a minha cabeça na terra. Deus me ajude!

—Pode quando você for mais velho. Você ainda é muito novo para entender essas coisas, filhão.

—Mas ela vai saber?

—Ela vai.

—Mas isso não é justo! –Ele começou a fazer birra.

—O que não é justo? –O Moacir apareceu da cozinha e perguntou.

—O papai vai falar para a Alien porque o apelido dela é esse, mas eu não posso saber por que o meu é Marciano!

—Primeiro porque apelidar os dois de Aliens causaria confusão e depois porque vocês quase rasgaram a mãe de vocês quando nasceram. –O Moacir falou e as duas crianças me olharam com olhos arregalados.

—Moacir! –Reclamei.

—Quê? Não foi isso mesmo? Eles merecem saber o motivo dos apelidos.

—Mas ainda são só crianças. Não acho que entenderão o conceito de rasgar agora.

—Entenderão. Os desenhos que eles assistem são mais violentos que aquele filme velho. Pode falar sem medo.

Os dois continuaram me olhando, agora com mais curiosidade que medo, e eu queria simplesmente sumir.

***

Resultado de nossa pequena conversa de tarde: Eu tive que baixar o filme do alien e colocar para eles verem. O Zé tapou os olhos nas piores partes e acabou no meu colo, mas a Alien, aquela pequena sanguinária, assistia a tudo com um sorriso na cara. Eu acho que estou criando um mostro.

—E então, o que acharam? –Sofia perguntou, quando o filme terminou e ela desligou a televisão.

—Muito maneiro, mãe. Eu rasguei a senhora como aquele alien na barriga da mulher? –A Alien perguntou, com mais entusiasmo que o necessário para ser normal.

—Nem tanto assim, mas doeu bastante filhinha. A primeira coisa que eu pensei, quando você estava saindo da minha barriga, foi nesse filme.

—Agora que sei porque me chamam de Alien, eu gosto ainda mais do meu apelido. –Ela falou e saiu saltitando pela casa.

O Zé ainda continuava com o rosto escondido no meu peito. Eu tive que puxá-lo do meu colo, para ver se estava bem.

—E você, Zé? Entendeu agora o porquê do seu apelido? –Perguntei, delicadamente.

—Entendi. Eu não te machuquei assim, machuquei, mãe? –Perguntou, olhando para a Sofia.

—Claro que não, meu filhote. Ter você não doeu nem a metade que na primeira vez. Com você eu já sabia o que esperar. Eu só te apelidei de Marciano para combinar com o apelido da Alien.

—Que bom que eu não te machuquei. Eu não quero te machucar, mãe.

—Você nunca vai me machucar, filho. Agora vem cá. O que me diz se eu te contar uma história para dormir? –Ela perguntou, pegando o pequeno no colo que logo se animou com a ideia.

—Pode ser qualquer história?

—A que você quiser.

—Eu quero a do nascimento do Cornélio.

—Será essa.

Ela saiu com ele e eu sorri. Apesar de ter 9 anos, o Zé ainda adora as histórias que eu criei. Cornélio é o filhote da Mimosa com o Café e o preferido do Zé. Eu também criei uma filha para a Carla e o Marciano, Luna, porque nasceu em uma lua. É divertido escrever essas loucuras.

—Pai? –A Alien saltou sobre mim, no sofá.

—Que foi, filha?

—Será que podemos assistir esse filme de novo? É o meu preferido. –Ela perguntou, com um enorme sorriso.

—Agora?

—Eu ainda estou sem sono e amanhã é domingo, não tenho aula.

Olhei para o relógio e eram quase 10 horas. Acho que não fará mal se ela dormir um pouco mais tarde hoje.

—Tá bom. Liga a T.V.

Ela saiu num salto e colocou o filme para tocar, de novo, antes de voltar para o sofá e se esparramar, metade em cima de mim e metade no outro lugar. Eu passei um braço sobre ela e ela se aconchegou mais em mim. Eu preciso admitir que adoro momentos como esse quando ela ainda procura conforto comigo. Ela está crescendo tão rápido. Parece que foi ontem que eu segurava um bebê em meus braços e agora eu seguro quase uma adolescente. Como o tempo voa.

Eu já esperava ela não aguentar ver o filme todo, dormiu na metade. Eu a levei para o quarto e a coloquei na cama. Depois fui para o meu e a Sofia estava deitada, lendo um livro, mas logo o fechou e abriu os braços para mim. Eu nem precisei pensar duas vezes antes de descansar a cabeça na barriga dela e a deixar alisar o meu cabelo com as mãos.

—Acho que traumatizamos a nossa filha muito. –Falei.

—Isso eu tenho certeza, mas não se preocupe que ninguém é normal nessa vida. –Falou com um riso.

—Ela adorou saber que foi comparado com o alien. Isso não é normal.

—E ela, por acaso, tem pais normais? Eu também era assim na idade dela. Adorava os vilões, os monstros. Enquanto minhas amigas queriam ser princesas, fadinhas, eu queria ser o lobisomem, o dragão.

Dessa vez eu não aguentei e olhei para a cara dela para ver se ela estava falando sério. O que mais me assusta é que ela estava.

—Você nunca me contou isso.

—Para quê? Você já me acha maluca sem saber disso, agora sei que vai piorar.

—Essas coisas precisam ser ditas antes do casamento e não depois. –Reclamei.

—Se você soubesse antes, teria casado comigo mesmo assim?

—Você ainda tem dúvidas? Eu aprendi a gostar de lambisgoias loucas que queriam ser os monstros dos filmes. –Falei, mordendo o pescoço dela.

Eu ganhei uma cotovelada nas costelas, mas o sorriso na cara dela desmentia o seu aborrecimento.

—Já te falei para não me chamar de lambisgoia.

—Prefere o que então? Coelhinha do mal que ataca pobres homens pernetas e inocentes?

—Eu ataco homens pernetas, mas de inocente você não tem nada. –Falou, me mordendo também no pescoço.

Realmente, eu não sou inocente e o que pretendo fazer com a minha coelhinha do mal essa noite será uma prova disso.

Fim.


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Notas finais do capítulo

Se desejarem, deixem um comentário.

Aproveito também para divulgar o meu mais novo projeto, chama-se "Um Anjo Inconveniente". Se tiverem curiosidade, peço que deem uma olhada, por favor:
https://fanfiction.com.br/historia/711414/Um_Anjo_Inconveniente/

Agradeço por lerem. :)
Um forte abraço e até o próximo capítulo!



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