Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 49
Capítulo 49


Notas iniciais do capítulo

Fala pessoal! Tudo bem com vocês?
Mais um capítulo. Espero que gostem. :)



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Precisávamos começar a ver as coisas para o casamento. Decidimos nos casar pela Igreja e pelo cartório. Ele me levou até uma cidadezinha aqui perto. Eu nem sabia que aqui tinha uma cidade. Também, nunca segui naquela direção. É aquelas cidadezinhas bem mesmo do interior que só tem umas biroscas, uma igrejinha e um cemitério. Até o chão ainda é de paralelepípedo, isso quando tem. A maior parte é de terra batida.

O padre da igrejinha era um velho senhor bastante simpático. Pela sua aparência, ele deve beirar já seus 70 e tantos anos. Conversamos um pouco e ele disse que pode sim realizar nosso casamento, se quisermos. Ele ficaria muito feliz, até, já que, segundo ele, há quase um ano ninguém se casa na cidade. Pudera, a cidade quase não tem ninguém. Desconfio que tenha mais bicho que gente aqui. Eu vi mais bois na rua, andando soltos, do que pessoas.

Concordamos com aquelas reuniãozinha de praxe chatinhas para a próxima semana e para arrumar a papelada. Agora ainda temos que ir no Centro para achar um cartório e ver como fazemos para nos casar também por lá.

***

Quando chegamos em casa era bastante tarde já. A visita ao cartório demorou mais que previmos, mas agora já sabemos o que precisamos fazer para arrumar o casamento. Porra, eu vou me casar e estou para ter um filho. Minha ficha ainda não caiu. Na verdade, acho que só vai cair quando eu tiver com o bebê nos braços e, mesmo assim, ainda vou ficar meio abobalhada. Eu nunca me imaginei mãe e agora estou pra ser. Isso pode fazer uma pessoa surtar e eu já não sou lá muito normal. Espero não ficar mais louca ainda.

—Você está viajando de novo. –O Ricardo falou, com um sorriso.

—Desculpa.

—O que te perturba?

—Eu vou ser mãe e nós estamos indo para nos casar.

—Ei, você está roubando as minhas perturbações?

—A minha ficha ainda não caiu.

—Eu ainda acho que bati a cabeça ou ainda estou em coma e sonhando com isso tudo. Quando, em minha miserável vida, eu poderia imaginar que fosse encontrar o amor novamente e ser pai de novo?

—Eu nunca achei que iria ser mãe em primeiro lugar.

—Você vai ser uma mãe incrível.

—Tenho lá minhas dúvidas, mas não tenho dúvidas que você será um bom pai e um bom marido.

—Eu espero não te decepcionar.

—Não vai. –O puxei para um beijo que afastaria suas dúvidas e as minhas.

***

Eu não sei quando dormi que não vi o tempo passar. Eu me caso amanhã, porra! Não sei de nada ainda. Meu pai só voltou a falar comigo ontem e, assim mesmo, porque quer ter a honra de me levar até o altar. Eu sei que ele só vai voltar a ser o que era quando eu estiver casada e com esse kinder ovo fora da minha barriga que já está começando a pular. Se continuar nesse passo, eu vou ficar redonda igual uma bola.

Eu queria as coisas mais simples, mas o Ricardo fez questão de complicar tudo. A minha estufa, que seria uma coisa simples, se transformou em algo elaborado. Ele cismou que quer que nos casemos lá e mandou desmontar a que estava fazendo e pagou uma fortuna para construir uma toda de vidro. Ficou linda, eu não posso negar, mas não vou admitir. Admitir essas coisas para ele é fazer ele gastar mais do que deve e eu não quero isso. Eu sei que ele tem dinheiro, mas nem por isso vai ficar aí jogando fora.

Minha mãe, praticamente, se mudou para cá esses últimos dias. Ela está ajudando com tudo. Não será um casamento grandioso, apenas alguns poucos amigos meus, os empregados da fazenda e a Tina e sua família, amiga do Ricardo. Ela é a única pessoa que ele fez questão de chamar. É a mulher dos gambás e da Titília. Se ela não fosse casada, isso me preocuparia um pouco. Eu acabei ficando um pouco ciumenta esses últimos dias. Devem ser os meus hormônios. Outro dia quase dei na cara de uma periguete que ficou olhando para meu Animal no mercado. Parece que o anel no dedo de homem é isca para piranha. É até bom o Ricardo não ter mesmo carteira de motorista. Saindo acompanhado tem menos chances dele ser abordado por essas “ distintas senhoras”.

A Mariana também se instalou muito bem aqui. Ela fez o tio dela como uma espécie de cozinheiro particular. O Ricardo está cozinhando toda noite o que ela pede. Resultado: Eu fiquei sem fazer nada. Minha única obrigação nessa casa foi o de preparar a festa, mas nem isso eu tomei muita importância. Minha mãe tem tudo planejado já. Ela sabe o que faz melhor que eu.

—Sofia, você está ocupada? –O Ricardo perguntou, um pouco incerto.

—Não. O que foi, amor?

—Uma vez, há um tempo atrás, você me perguntou sobre o sótão e eu falei que eram lembranças. Há coisas dolorosas lá que eu não quero mais, Sofia. Eu quero começar o mais limpo possível com você amanhã. Me ajuda em uma arrumação?

Depois de todo esse tempo com ele e com suas atenções (que me resultaram nessa barriga), eu acabei perdendo meu interesse pelo sótão. Eu nunca entrei lá. É o único lugar dessa casa e desse terreno que eu nunca coloquei o pé, mas se o Ricardo quer que eu o acompanhe, eu irei com o maior prazer.

—Quando começamos? –Perguntei.

—Pode ser agora? Eu já coloquei umas caixas vazias lá e o João vai se encarregar do que retirarmos ainda hoje.

Eu o acompanhei e, pela primeira vez, entrei no sótão. Era empoeirado e repleto de caixas de papelão. O Ricardo ficou tenso no mesmo momento que entramos. Eu ainda não sei o que esta nessas caixas, mas imagino que seja algo relacionado a sua família.

—Se você não quiser, amor, por mim está tudo bem, não precisamos. –Eu falei.

—Eu preciso.

Ele começou a mexer nas caixas e estavam cheias de brinquedos e roupas de criança. Algumas também continham algumas roupas de mulher. Ele olhou para tudo com uma saudade que eu posso entender.

—Você tem certeza? –Eu perguntei enquanto o abraçava por trás.

Ele segurou em meus braços e falou com uma voz que parecia que estava segurando o choro.

—Se quero ter uma vida com você, com o nosso bebê, preciso deixar eles irem. Eu já os prendi comigo por muito tempo.

E assim o ajudei a recolher tudo. Eram brinquedos, roupas, livros. Tinha de tudo um pouco. Arrumamos tudo em caixas e organizamos o que iria embora e o que ficava. Mesmo velhos enfeites de natal ele descartou. Ele disse que, assim que chegasse essa época, ele faria questão de comprar tudo novo, no zero. Novas vidas e novas lembranças. Teve um objeto em particular que o fez chorar como uma criança. Era um carrinho de madeira que pertenceu ao seu pai, a ele e ao seu filho. Eu apenas o abracei e deixei ele chorar suas lágrimas em meu ombro.

—Fique com esse. –Sussurrei em seu ouvido.

—Mas ele me trás lembranças e eu não quero isso. Você não merece isso, Sofia.

—Quando eu aceitei me casar com você eu sabia que você tinha um passado. Eu não estou pedindo para você começar sua vida do zero comigo, Ricardo. Eu quero você como você é, com seu passado e suas lembranças. Essas coisas é que fazem você e, se há algo que queira manter, eu vou te apoiar. Você não precisa apagar seu passado para ter um futuro comigo.

—Você não se importaria se eu mantivesse algumas coisas?

—Claro que não! Eu te amo por ser quem você é e você só é assim pela sua história.

Ele me deu um beijo um pouco molhado pelas suas lágrimas, mas foi um beijo que transmitiu todo o amor que ele tinha por mim.

No final das contas ele decidiu manter o carrinho, um livro infantil que, segundo ele, foi o primeiro que ele tinha comprado para seu filho e um cachorrinho de pelúcia que seria para sua filha que ele não chegou a conhecer. Eu também fiz ele manter os quadros que ele pintou e as fotografias que ele tinha deles. Todo o resto o João levou para doar para um orfanato da cidade. Com o tanto de coisas, imagino que as crianças serão muito felizes.

O Carrinho de madeira ganhou um lugar na estante da sala, junto com uma foto de seu falecido filho. Era um garoto lindo, muito parecido com o pai. Eu senti uma dor no coração por ver o garoto que não chegou a crescer. Hoje ele teria sido um homem formado.

Aquela noite não foi o Ricardo que me segurou para dormir, mas sim eu que o segurei. Foi um dia difícil para nós, mas amanhã tudo vai mudar. Amanhã vamos nos casar e iniciar uma nova fase em nossas vidas.

Continua.


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Notas finais do capítulo

Acho que mais uns 3 ou 4 capítulos para chegar ao final. Mas, ainda não fiquem tristes, como prometido, farei alguns capítulos bônus depois do epílogo.
Se desejarem, deixem vossa opinião.
Obrigada por lerem.
Um forte abraço e até mais!



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