Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 44
Capítulo 44


Notas iniciais do capítulo

Fala, pessoal!
Esse capítulo é do ponto de vista do
Ricardo. Espero que gostem. :)



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Porra, acho que faz anos desde a última vez que fiquei ansioso assim. Eu amo a Sofia, mas o pai dela é casca grossa. Da última vez o velho disse a palavra “capar” a cada cinco palavras que ele falou. Não sei como ainda saí inteiro daquele encontro.

A Sofia é complicada, casca grossa. Não poderia esperar nada menos de sua família. O velho me interrogou pior que um detetive. Ele estava achando estranho eu, nessa idade, ser solteiro e sem filhos, por isso, quando meu cunhado insinuou que eu pudesse ser gay contei parte da história, não podia esconder dos meus sogros que já fui casado e com filhos, mas sem entrar nos detalhes. Minha sogra suspirou e pude ver lágrimas nos olhos dela. Pelo menos sei que a Sofia puxou o sentimentalismo da mãe dela e não a rabugice do pai. Eu mesmo me mantive forte para não começar a chorar. Pode ter sido anos, mas ainda me dói, acho que sempre doerá. Essa é uma ferida que sei que não tem cura.

Hoje eu tenho que almoçar com meus sogros. Nunca passei por isso antes. Isso é uma novidade que eu achei que não passaria. Merda, eu já tenho quase 50 anos e nunca achei que precisaria passar por uma aprovação de meus sogros para namorar. Eu não passei por isso com a Márcia. Ela não se dava com os pais e eu nem cheguei a conhecê-los.

Eu me sinto como um adolescente, no mínimo, um velho com crise de meia idade. Eu não sei nem o que vestir e não quero passar pela vergonha de perguntar para a Sofia. Será que um terno é muito formal? Tenho alguns guardados da minha época de designer. Acho que posso pegar um e, se não for tão formal, eu tiro a gravata e abro uns dois botões da camisa para ficar mais casual.

Foda-se! Eu vesti um terno preto com uma camisa bege e uma gravata verde. A Sofia vai com um vestido verde que ela comprou. Acho que ficará harmônico combinar. Espero não estar errado.

—Finalmente! Achei que fossem as mulheres que demoravam a se vestir. –A Sofia reclamou, quando eu desci.

—Desculpa. Não sabia o que vestir. –Admiti.

—Ei, você poderia ir vestindo chinelo, bermuda e camiseta que estaria bom para mim.

—Mas não para o seu pai. Ficaria mais fácil para ele me capar. Acho até que seria interessante comprar um protetor genital, só para garantir.

—Ele não vai te capar. Eu te protejo.

—Espero que sim.

Fomos para a casa dela. Ela dirigiu, já que não tenho carteira. Espero que isso não seja outra coisa para o velho usar contra mim. Bom, isso será o de menos quando ele descobrir que sou perneta.

Era uma casinha simples de dois andares. Aconchegante, se não fosse pelo velho quase me matando com o olhar. Graças a Deus o irmão dela não pôde vir. Nos sentamos para almoçar num silêncio estranho. A Sofia ainda conversava um pouco com a mãe dela, mas o pai dela apenas me encarava com um olhar de “vou te capar”. Agradeci pela comida, estava boa, mas isso foi a última coisa que me preocupou. No meu nervosismo, comeria até pedra.

—Será que podemos conversar um pouco, Ricardo? –O meu sogro pediu, quase num tom de ameaça.

—Claro, senhor.

Ele me arrastou para uma varanda. Se não fosse pelo velho carrancudo, o lugar seria muito bonito.

—Espero que a semana tenha sido tranquilo e eu não precise te capar. –Ele ameaçou.

—A semana foi ótima, senhor.

—Espero que sim. Ainda não sei o que minha filha viu em você.

—Eu também não sei, senhor, mas pretendo fazê-la feliz enquanto ela me quiser.

—Isso é bom. Odeio admitir, mas ela está mais feliz do que antes. Não vejo essa felicidade nela desde que era uma criança.

—Eu também estou feliz.

—Essa coisa da estufa que a Sofia comentou é sério?

—É, senhor. Ela comentou comigo e eu estou começando a comprar o material para construir uma.

—Você gosta mesmo dela?

—Mais do que de mim mesmo. Sua filha me fez querer voltar a viver.

—E quando pretende propor?

—Como?

—Vocês pretendem ficar, como os jovens dizem, na pegação eternamente ou vão se casar logo? Você não é nenhum garotão e não vai ficar mais novo. Pretende esperar estar de bengala para casar com ela?

Eu uso bengala, mas ele não precisa saber agora. Acho que seria um pouco chocante ele descobrir que sua filha se apaixonou por um perneta.

—E então, não vai responder? –Ele perguntou, me tirando dos meus pensamentos. Acho que viajei nos meus devaneios.

—Pretendo sim, senhor.

—Quando?

—O mais breve possível.

—Acho bom que se casem antes dela ficar com um barrigão. Você não é o santo da minha devoção, mas te tolero pela Sofia, mas, mesmo assim, juro que te capo se embuchar a minha filha antes do casamento.

Eu também não pretendo ter mais filhos, não poderia ter mais. Foi muito doloroso perder meu menino e minha menina que nem conheci. Não sei se estaria pronto para ser pai novamente. Isso seria como uma traição com meus filhos que se foram. Como eu poderia ser feliz com uma nova criança? Como poderia ser pai novamente se não pude proteger meus filhos? Quem me garantiria que eu poderia proteger uma nova criança? Não, eu não posso arriscar uma nova criança inocente sendo o amuleto de má sorte que sou.

—Garanto ao senhor que não engravidarei sua filha.

—Assim espero. Eu já até mandei amolar o meu facão, só por precaução.

Eu não sei como responder a isso. Não posso agradecê-lo por essa ameaça explícita de me capar, mas também não posso reclamar. Fiquei em silêncio. Ele, vendo que o assunto terminou, entrou para a casa e me mandou ficar na varanda. Eu, achando que me livrei, me dei mal quando a minha sogra apareceu.

—Espero que meu Wagner não tenha te torturado muito.

—Somente o necessário, dona Júlia.

—Certo. Acho que isso é uma mentira, visto a carranca do meu marido, mas fingirei que acredito.

Ela se sentou no banco e fez sinal para que eu me sentasse ao seu lado. Pelo visto, outro interrogatório e intimidação, mas só que mais suave. Eles jogam o policial bom e ruim?

—Você sabe que a minha filha gosta mesmo de você, não é? –Ela perguntou.

—Sei. Eu também gosto muito dela.

—Eu sei que você já sofreu muito, meu filho. A Sofia me contou sua história com um pouco mais de detalhes. Sei que você é um bom homem e agora eu sei porque minha filha se apaixonou por você.

—Eu também me apaixonei por ela.

—A Sofia também já sofreu bastante. Eu sei que o que ela já passou não se compara em nada com o que você passou, mas eu vou te pedir uma coisa: não a faça sofrer e não brinque com ela.

—Nunca, dona Júlia. Eu cortaria minha outra perna fora antes de causar algum sofrimento na Sofia.

—Não duvido disso, mesmo porque, se o fizer, não será o meu marido que vai te capar, mas sim eu. Eu posso ser bem pior que ele.

Agora estou sendo ameaçado também pela minha sogra?

—Se a Sofia puxou a senhora, sei que pode ser bem ruim para mim.

Ela soltou uma gargalhada e me puxou para um abraço desajeitado.

—Ela puxou, mas ela é um doce perto de mim, acredite.

Se for verdade, agora sei porque o seu Wagner é tão rabugento. Não posso falar nada, eu também seria rabugento se tivesse uma filha bonita com a Sofia e tivesse um velho como genro.

Ela me puxou para dentro e me indicou o sofá, ao lado da Sofia, enquanto ela foi para a cozinha. Eu, feliz, sentei ao seu lado e passei um braço sobre os ombros dela.

—Meus pais te ameaçaram muito? –Ela sussurrou.

—O normal. Só querem o seu bem.

—Não os leve assim tão a sério. Eles só ficaram um pouco escaldados depois do meu noivado fracassado.

—Se depender de mim, eles nunca mais terão essa preocupação. Não pretendo te largar tão cedo.

—Nem eu a você.

Eu olhei e, não vendo os sogros, a puxei para um beijo. Foi bom até ouvir uma falsa tossida e os olhos do meu sogro sobre nós. O pior foi ele se sentar no meio de nós, no sofá. Eu não passei por muitos namoros adolescentes, mas creio que se pareça a isso.

—Você não vai se sentar na sua poltrona, pai? –A Sofia perguntou, divertida.

—Não, não enquanto os dois pretenderem continuar agarrados assim na minha frente.

O Resto da tarde passou com minha sogra nos entupindo de sorvete e meu sogro servindo de segurança para a filha e nos mantendo o mais longe possível e, de dez em dez minutos, uma ameaça de me capar. “Adorável” tarde!

***

Eu a Sofia nos despedimos para irmos embora com a promessa de voltar na semana que vem para mais um almoço. Assim que entrei no carro, tirei a gravata e o paletó. Estava ensopado de suor. Não está tanto calor assim para isso, mas transpiro muito quando estou nervoso.

—Achei que você fosse enfartar lá. –Ela brincou.

—Faltou pouco. Você também estava nervosa, não é? Nunca te vi rejeitar um sorvete.

—No meu caso não é nervosismo, mas sim dor de dente.

—Você está com dor de dente? Por que não falou nada?

—Não é nada, vez ou outra me dá, mas daqui a uns dias passa.

—Isso não é normal, Sofia. Você já foi procurar um dentista?

—Tem anos que eu não vou a um dentista.

—Então nós vamos agora. Não quero te ver com dor.

—E como vamos achar um dentista agora?

—Vamos procurar um. Não deve ser tão difícil de achar algum bom.

—Amanhã.

—Não, hoje. Amanhã você vai me enrolar que está melhor e não vai. Te conheço, mulher.

Passamos o resto da tarde no centro e encontramos um dentista que tinha um tempo vago em uma de suas consultas. Custou um pouquinho a mais, mas consegui fazer com que ela fosse atendida. Ele deu uma revisão geral e mandou ela para fazer algumas radiografias da boca inteira. O dente que incomodava, como ele viu, estava careado, inflamado e necessitando canal. Ele fez o que pôde para aliviar um pouco e receitou alguns comprimidos para a inflamação e para a dor.

—Satisfeito? –Ela perguntou, assim que entramos no carro com os comprimidos já comprados.

—Ficarei quando o dentista disser que está tudo bem com os seus dentes.

—Agora ele está doendo mais do que antes.

—Isso é porque mexeu, mas assim que ele desinflamar e ele fizer o canal, você não sentirá mais nada. Agora seja uma boa garota e tome os remedinhos.

Ela reclamou um pouco, mas tomou os remédios e nós fomos para casa. Subimos para o quarto para trocar de roupa e descansar um pouco.

—Como está seu dente? –Perguntei, enquanto tirava minha camisa.

—Mesma merda. Doendo pra cacete. –Respondeu, mal humorada.

—Ei, me desculpe, mas eu não quero te ver com dor. Você já tomou o remédio e daqui a pouco vai passar. Depois que fizer o tratamento ele não vai doer mais. –Tentei consolar, a abraçando por trás e colocando alguns beijos pelo pescoço dela. Como eu adoro esse pescoço! Só tenho que me policiar e não morder. Não posso deixar mais marcas aqui enquanto não casar com ela, o velho me capa se ver um chupão no pescoço da filha.

—Não é sua culpa, sei que só quer ver o meu bem.

—Eu quero que esteja bem, Sofia. Deixe-me cuidar de você. O que você quer? Me peça e eu farei. Só quero que se sinta bem.

—Eu sempre me sinto bem contigo, amor.

Eu desisti do meu controle e deixei um chupão no pescoço dela. Espero essa marca sumir antes que encontremos com os velhos. Eu tinha pretendido ver como o João e o Moacir estavam fazendo com construção da estufa, mas acho que pode esperar até amanhã. Tudo pode esperar quando a Sofia esta se desmanchando de prazer em meus braços. Não posso negar prazer para a mulher que pretendo fazer como minha esposa.

Continua.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Há uma importante peça nesse capítulo para o andar da história. Não posso revelar agora para não perder a graça, mas o próximo capítulo será mais claro e com uma forte emoção.
Espero que tenham gostado.
Obrigada por lerem.
Um forte abraço e até mais! :)



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