Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Fala, gente! Mais um capítulo. Era pra ter postado ontem, mas tive uns probleminhas e só consegui acessar agora. Espero que gostem!



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Não sei o quanto minha conversa, quase tentativa de ser mandada embora, surtiu efeito, mas sei que, no dia seguinte, quando cheguei para trabalhar, o Ricardo estava mais calmo e até conversando com o Moacir. Ao menos ele me deu razão e viu que não vale a pena perder o único amigo que eu acho que ele tem. O humor também melhorou um pouco. Já faz uns dias que não grita comigo. Um avanço considerável. Acho que o lado bom de sua bipolaridade aflorou.

–Sofia, se ficar cantarolando assim enquanto limpa o Ricardo vai brigar com você. –O Moacir me alertou.

–Eu não estou cantarolando.

–Está. Você faz isso tão naturalmente que faz sem sentir.

–Se você conversasse mais comigo, eu não cantarolava.

–Não seja por isso. Está faltando algumas coisas na despensa. Que tal se conversássemos sobre a lista de compra?

–Estou falando sério, Moacir!

–Eu também. Tem umas coisas que precisamos comprar. Seria bom se você desse uma parada e fosse lá no mercado.

–Vá você ou peça ao João. Sinceramente, não quero sair hoje...

–Hoje é folga do João, esqueceu?

–Putz, esqueci. Mas não é a sua. Pra falar a verdade, nunca te vi sair de folga.

–É porque quase não saio. Minhas folgas tiro para dormir mais, ler um pouco.

–E as namoradas?

–Namoradas, Sofia?! Olha a minha idade. Já estou velho pra isso.

–Tem forró para quê? Já vi muito coroa, mais velho que você, nesses arrasta pé da vida aí.

–Menos, Sofia. Isso não faz o meu estilo.

–E um encontro pela internet? Faria bem para você. Aqui o sinal é meio ruinzinho, mas costuma pegar de madrugada, quando não chove. Cai, mas pega. Deve dar pra trocar umas mensagens com as velhotas. O patrão também poderia aderir, não é?

–Eu não sei mexer nessas tecnologias, muito mal uso o celular. O Ricardo sabe, mas, se fosse você, nem ousava lançar essa ideia para o pobre coitado. Dessa vez ele te põe na rua.

–Ele é estranho. Fala a verdade, Moacir, ele é gay? Eu não conto pra ninguém.

–Sofia!

–Quê?! Cinquentão, bonito, rico, solteiro e sem mulher por perto. Isso me cheira a algo mais.

O Moacir me olhou e soltou um longo suspiro seguido de um riso fraco.

–Você não aprende mesmo a controlar sua curiosidade, não é?

–Se vocês fossem mais abertos comigo, eu não precisaria perguntar tanto.

–Eu vou fazer é a lista do que precisamos que ganho mais... –Falou, se retirando.

Eu continuei a limpar e, pra falar a verdade, eu não via outra alternativa para a solteirice do Ricardo. Ele é bonito, a sua maneira estúpida de ser, mas é. Nunca vi nenhuma mulher azarando ele e nem ele atrás de nenhuma mulher. Só vejo duas opções: Ou ele é gay ou tem algum complexo muito grande com o sexo oposto, talvez um chifre. É isso, talvez alguma mulher tenha colocado o chapéu de corno dele e, por isso, ele seja tão amargurado e revoltado assim. Será que é esse o passado negro dele?

–Sofia, a lista. –O Moacir voltou e me entregou uma enorme lista de compras. –Pra ontem.

Mesmo não querendo, não tive escolha e fui. Peguei a caminhonete e fui enfrentar aquele trânsito horroroso da cidade.

***

Depois de tudo comprado, na volta, eu senti que a caminhonete estava rateando um pouco, mas preferi ignorar porque não ia parar no acostamento, embaixo de chuva, para abrir o capô e olhar um motor que não entendo o funcionamento. Mas devia ter parado. Quase chegando à fazenda, ela morreu de vez e o maldito celular não pega sinal para eu ligar para o Moacir para pedir uma ajuda. Como também sou uma anta, não tenho nenhum guarda-chuva na bolsa. Também, como poderia imaginar que ia cair esse toró se quando sai o sol estava torrando? Essas coisas só acontecem comigo...

Continuei no carro mesmo, vendo as gotas escorrerem pelos vidros não sei por quanto tempo fiquei ali, morrendo de tédio, mas sei que sai como uma louca, embaixo da chuva, quando vi o louco do Animal passando correndo montado em um dos cavalos.

–Patrão, pa... –Atolei e cai de cara na lama, mas serviu para alguma coisa, ele me viu e veio até onde estava.

–Sofia?! –Ele falou, um pouco surpreso por me ver.

–O carro quebrou. –Falei.

Ele finalmente olhou na direção do carro e de volta para mim.

–Não teria sido mais fácil buzinar ao invés de cair com a cara na lama? –Ele perguntou, descendo do cavalo e indo em direção ao carro.

Tá, fui idiota. Podia ter buzinado. Falha minha. Ele me jogou o cabresto em cima e me mandou segurar o cavalo enquanto dava uma olhada no carro. Eu e o pobre animal ficamos lá por vários minutos , ensopados!

–Você sabe o que tá fazendo, não sabe? –Perguntei.

–Se não soubesse, não estaria aqui. –Respondeu, seco.

Ele ainda fuçou um pouco mais no carro, enfiado quase que dentro do capô, com a bunda pro alto. Por que os homens podem ficar com a bunda pro alto e as mulheres não? Se fosse eu nessa posição já teria ouvido alguma gracinha, na verdade, se ele não fosse meu patrão, já teria falado alguma gracinha. O Desgraçado tem bastante bunda pra um homem, por Deus!

–Não achei nada de anormal. Deve ser alguma falha elétrica. –Ele falou, fechando o capô.

–E o que vamos fazer? Será que conseguimos rebocar com a velha picape?

–Com essa lama, esquece. Ao invés de um carro serão dois parados.

–Mas eu estou com compras.

–Tem algo que estrague?

–Tenho algumas carnes.

–Só?

–E um pouco das compras do mês.

–Pegue as carnes. Voltamos para pegar o resto quando a chuva estiar.

Eu fiz o que ele mandou. Ele pegou as bolsas e as prendeu na sela do cavalo e, logo depois, subiu. Eu ia a pé? Quanto cavalheirismo... Daqui até a casa deve dar mais de 15 minutos de caminhada. Ele tem um terreno bastante extenso...

–Tá esperando o quê?! –Ele perguntou.

–O quê?!

–Vai subir no cavalo ou não? –Perguntou, estendendo a mão.

Eu olhei aquilo meio desconfiada. Não mesmo que eu iria subir naquele animal com ele. Tá bom que eu ia naquele balancinho da cavalgada com ele por trás de mim e as mãos ao meu redor. De tarado já me basta o Jaime!

–Não, pode ir. Eu me viro a pé.

–Pra cair de cara na lama de novo? Sobe logo. Ou tá com medo?

–Não tenho medo. Apenas não acho sensato sobrecarregar o pobre cavalo.

–Sobe logo! Não quero ter que te pagar por possíveis acidentes que pode sofrer no caminho. Não preciso de uma empregada doente.

–Tá, mas vou na garupa. Aí no lombo do bicho.

–E você acha que eu ia te deixar pilotar ou te colocar aqui pra tapar vinha visão?! Vamos logo antes que essa carne estrague.

Bufei com aquele comentário, mas que escolha eu tinha? Ele me estendeu a mão e tirou um dos pés do estribo para que eu pudesse ter apoio. Me puxou com uma violência que eu quase passei direto. Só deu tempo de me agarrar nele e ainda quase o joguei no chão.

–Cacete, Sofia! Nunca subiu em um cavalo? –Perguntou, se ajeitando.

–Não. –Falei.

–Uma empregada de fazenda que nunca andou a cavalo...-Suspirou- Segura bem aí pra não cair. Não me vá dar mais trabalho.

Eu passei os braços em volta dele e me segurei o mais firme que consegui. Não sei se foi só impressão minha, se foi o frio por estarmos encharcados, mas o senti ficar tenso, e bastante tenso, quando fiz isso. Será que ele não gosta do toque de uma mulher? Ah, deve ser gay...

Até que foi gentil e não colocou o bicho pra correr como sempre fazia quando cavalgava. O Cavalo também não estava muito devagar, mas era um ritmo em que eu conseguia me segurar bem e não desequilibrar.

Assim que chegamos, desci, peguei as bolsas e fui para dentro da casa. Ele foi tratar no cavalo e guarda-lo no estábulo.

–Que isso, mulher? Ensopou assim só nesse pedacinho? –O Moacir perguntou, rindo.

–O Carro quebrou um pouco depois da porteira.

–E você veio andando até aqui?

–Não, o patrão me deu uma carona no cavalo.

–O Ricardo?!

–E tem outro patrão?

–Não. Só estranhei.

–E eu mais. Vou tirar essa roupa molhada antes que eu pegue um resfriado e volto pra limpar e guardar essas carnes.

–Tá.

Sai de lá e fui trocar de roupa. Cada vez mais entendo menos aquele homem...

Continua.


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