Just Another Game - Jogos Vorazes escrita por Brooklyn Baby


Capítulo 9
Centro de treinamento - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, peço desculpas pelo atraso da postagem do Capítulo. Trabalhos, provas finais e tudo mais. Sei que tenho leitores, ainda que não deixem reviews, e espero que as férias tragam um bom tempo para adiantar a história e entreter todos vocês. Os próximos Capítulos são realmente interessantes e a Arena se aproxima.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/664409/chapter/9

 Acordei uma hora mais cedo do que deveria. Para ser sincera, quase não dormi. Nossa mente pode ser a armadilha mais difícil de se escapar as vezes. Todas as conspirações a cerca do que estava havendo entre mim e Emmett, todas as ideias nascendo uma atrás da outra. 

 Tive um pesadelo. Não me lembrava muito de como tudo havia acontecido. Lembro dos sons. Havia gritos, lâminas se chocando, o familiar barulho da flecha sendo engatada e do som que fazia quando cortava o ar. Uma atrás da outra. Meus braços estavam doendo de tanto atirar. Quase cai para fora da cama quando abri os olhos e suspirei aliviada sabendo que era apenas uma história do meu subconsciente. 

 Não comi muito no café. A mãe de Stellmaryah estava lá num canto da sala de jantar, com mais três Avoxes preenchendo os outros espaços. Odiava o fato de não poder conversar com ela. Só queria fugir da hostilidade que me cercava por trás da parede invisível de proteção que eu havia erguido a minha volta.

 Eram nove e meia quando desci. Foi como tomar um soco no estômago, sair do elevador e perceber que Emmett não só teve a mesma ideia de me evitar e havia chegado ainda mais cedo, como também estava conversando com Maryah. Olhou para mim e deu um breve sorriso forçado. Ele não parava de falar e falar. Eu deveria ir até lá? Não. Fecho minhas mãos sentindo o rosto quente. 

 “Acalme-se, Kaylee. Ora, ela é aliada dele também.” 

 O grande problema era que eu nem mesmo tinha mais certeza se ele era meu aliado para começar. Aquele tipo de pensamento já estava começando a se tornar comum. Droga... Por que ele precisava ter mudado tão drasticamente? Droga, droga Emmett! O que há de errado? Por que eu não tinha coragem para ir até ele e perguntar? Ao invés disso preferia ficar me afundando naqueles pensamentos imbecis e auto destrutivos. Esfreguei as duas mãos no rosto vermelho e respirei fundo. 

 Era aquilo. Segundo dia de treinamento. Durante as três primeiras horas, dediquei o tempo as atividades de escalada, sobrevivência e agilidade - Essa última consistia em ficar junto a outros quatro tributos dentro de um circulo que continha uma barra no centro, com extensões presas a ela que serviam como obstáculos para nós. A barra girava e a velocidade aumentava a cada rodada. Tínhamos de aguentar o máximo de tempo possível desviando do primeiro obstáculo sem sermos pegos pelo próximo. Fiquei em segundo lugar. Pulei para fora do círculo, em cima dos colchonetes que o cercavam, quando larguei a haste na qual havia me agarrado para descansar e me desequilibrei a ponto de não conseguir retomar para fugir da outra barra, que vinha de encontro a minha cabeça. O primeiro a sair foi o garoto do 5. A última foi Grace, a garota do 8. Ela foi simpática quando lhe dei os parabéns. Nós conversamos um pouco no caminho para a mesma ala de Conhecimento, onde li sobre plantas e venenos. 

 Emmett puxou conversa comigo durante o almoço, o que não me comoveu tanto assim. Eu estava brava por descobrir que a regra sobre não se exibir só valia para mim. Estaquei no caminho para o refeitório quando percebi meu parceiro na ala de Arremessos, atirando facas com a precisão de um profissional e com uma velocidade impecável. Vi o casal do dois cochichando e olhando para ele. Quando ele se virou, tive a impressão de que a garota lhe falou algo. Emmett a olhou. Continuei marchando na direção de antes, tentando conter a expressão carrancuda. 

 Em certo ponto, ele tentou fazer graça. Disse que era um péssimo arqueiro e que a unica utilidade que teria com a arma seria tentar bater nos outros com ela. Falou que era uma vergonha que fosse do 04 e não soubesse fazer um nó de marinheiro descente. Perguntando se eu não iria chamá-lo para sequer uma atividade juntos, e brincando sobre quantas indiretas mais seriam preciso para que eu o fizesse. 

 Larguei o garfo e empurrei o prato. Lancei-lhe um olhar duro.

— Foi você quem sugeriu que ficássemos separados  — Talvez eu tenha dito aquilo alto demais.

— No primeiro dia. Para seguir a estratégia. Analisar os tributos, falar com eles...  — Seu tom é baixo e percebo o vislumbre do nervosismo em seus olhos. Deve estar com medo que eu faça uma cena. Rolo os olhos.

— Bem, você não disse nada sobre “primeiro dia”.

— Pensei que não precisava. É claro que eu quero treinar algo com você, Kay.

 Balanço a cabeça achando inacreditável o modo como ele está agindo. Como se o dia anterior e parte da manhã de hoje não tivessem acontecido.

— Legal. Me procure, então  — Digo aquilo e me levanto, sem olhar para trás, rumando de volta para o Centro de treinamento.

 Emmett veio me procurar um tempo depois. Eu desejava que não tivesse.

 Não sei exatamente como aquilo aconteceu. Posso dizer que me esqueci quem ele era, e de que Distrito vinha. Trent, era o nome do garoto. E o número dois estava estampado dos dois lados de seus braços, nas mangas curtas de seu uniforme. 

 Ele foi gentil, me convidando para treinar com o machado. A princípio, o olhei como se estivesse louco. Ele explicou, tranquilamente, que tinha habilidade com o machado como tinha com a picareta - O que utilizava para ajudar o pai no garimpo. Aquilo era novidade para mim. Nunca pensei muito sobre o 02, além de que era um Distrito privilegiado por sempre servir a Capital. E aquilo me fazia crer que todos eles eram tipos ricos que treinavam suas crianças para os Jogos por diversão, como os do 01. Todavia, os relatos de Trent me fizeram perceber que o 02 era tão oprimido quanto o resto dos onze Distritos. Aparentemente, ele e o pai trabalhavam muito. Além de perceber que ele não agia mais como o casal do 01, com toda aquela pose de superioridade e realeza. 

 Trent partiu algumas toras de madeira, enquanto eu observava. Nós rimos um pouco quando eu tentei. Apesar da força para erguer o machado e golpear a madeira, não era tão certeira assim, e quando era, não conseguia uma profundidade significante na madeira. Nós tentamos, e tentamos, até que eu cheguei perto de partir a tora ao meio. 

— Gosto do seu plano  — Disse, quando terminamos com o machado e paramos para descansar um pouco.

— Que plano?  — Virei-me para ele. 

— A tentativa de ganhar o público...  — Deixou no ar.

— Do que está falando, Trent?  — Minha voz saiu abafada, enquanto esfregava uma toalha no rosto.

— Você... Com seu parceiro... Toda essa união.

 Fitei-o.

— Não estamos atuando.

— Então vocês dois...?

 Aquela falta de direção ao ponto começou a me irritar. Mas ele não precisava terminar para que eu soubesse o que estava insinuando.

— Não  — Suspirei, e desviei os olhos por algum motivo.

— Nem se conheciam antes daqui?

— Não. Nunca havia visto Emmett na vida antes da Colheita.

 Trent assentiu silenciosamente. Meu coração dera uma cambalhota no peito quando o ouvi e percebi que Emmett já estava próximo o bastante para perguntar:

— Ei, como vai?

 Percebi que ele estava me olhando, mas a pergunta era mais direcionada ao outro do que para mim. Havia um tom neutro que beirava a hostilidade em seu tom de voz. 

— Te vejo por aí, Kaylee  — Trent se levantou e saiu de lá.

 Joguei a toalha longe. Me levantei para Emmett.

— O que foi?

— Você está bem?

— Por que não estaria? 

 — Tive a impressão de que parecia intimidada.

 Emmett ainda estava olhando na direção em que Trent partira e, portanto, foi incapaz de capturar meu olhar de “Me poupe”.

— Ele é um garoto legal.

 Meu parceiro me fitou agora. Os olhos estreitos. Como se eu estivesse louca. Depois balançou a cabeça, e soltou uma risada nasal.

—  Você é tão impressionável...

 Estreitei os olhos também. 

— O que quer dizer?

— Você é inocente, Kaylee  — Atacou ele.  — Parece não ter notado ainda onde é que estamos.

 Me senti ofendida. Totalmente ofendida com aquilo.

— Sei perfeitamente onde estamos. Isso não significa que vá ignorar quem eu sou.

 Por um segundo, seu olhar duro vacilou. Porém, não demorou para que encontrasse algo que sustentasse sua tese.

 Ele apontou para algo atrás de mim. Virei-me para encontrar Judy, tão pequena, com um punhal nas mãos. Seus longos cabelos presos em um rabo de cavalo, agitando-se a cada golpe. Ela agredia um boneco alvo freneticamente. 

— Vê aquela garotinha? Entende que ela precisa morrer para que você viva?

 Volto a fitá-lo. Desde que o conheci, nunca achei ser possível me sentir dessa forma em relação a Emmett. Suas palavras eram as mais ásperas que já ouvira na vida. Conseguia sentir a agressão física delas. Os músculos rígidos, o bolo de nós na garganta. 

— Entendo isso  — Minha voz sai arranhada.  —  Não sou uma estúpida...

— Então não haja como tal  — Ele me cortou.  — Para matar pessoas, Kaylee... A primeira pessoa que terá de matar se quiser sobreviver, é você mesma. Para matar pessoas... Primeiro terá de matar quem você é.

Pensei que não houvesse mais maneiras de piorar, todavia ali estava eu, quase despencando no piso frio de linóleo abaixo de mim depois daquela surra da palavras. Emmett saiu de lá, inexpressivo, como se nada tivesse acontecido. 

 Quis ir atrás e gritar com ele a primeiro momento. Depois considerei a hipótese de jamais lhe dirigir a palavra novamente. Num segundo quis explodir num choro de criança. No outro eu estava cheia de raiva e rancor. 

 Eu realmente era impressionável. Confiei nesse garoto praticamente desde o começo, e é isso que recebo em troca. E se ele for um traidor? E se ELE estivesse tramando essa coisa... Essa proximidade  da qual Trent falara? Desde o começo... Só para ganhar a simpatia desses tolos da Capital.

 Imagens de sua ajuda para entrar no carro na estação se mesclam com suas atitudes durante o Desfile. O modo como segurou minha mão durante cada minuto. Como me fez rir, até o modo como olhava para mim. Seria tudo um cálculo?

 Não quis me juntar ao resto da equipe e principalmente a Emmett durante o jantar. Comi qualquer coisa no quarto mesmo. Estava tão brava com aquela situação que chorei. Chorei sem vergonha nenhuma. É a coisa boa sobre estar furiosa... Você não encara o choro como uma fraqueza, mas como um alívio que o impede de fazer qualquer outra bobagem. Algo como abrir a porta.

 Já era tarde da noite. Enterrei meu rosto no travesseiro para conter os soluços, e espiei com um olho a sombra do outro lado. Era Emmett. Ouvi sua voz me chamar alto por duas vezes. Depois sussurrar por mais três. A sombra ficou ali por mais alguns minutos longos. Então ele se foi.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews são sempre bem-vindos!
Até a próxima! ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Just Another Game - Jogos Vorazes" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.