Just Another Game - Jogos Vorazes escrita por Brooklyn Baby


Capítulo 10
Os idealizadores e a Avaliação Final


Notas iniciais do capítulo

Oi queridos, quanto tempo. Peço perdão pela demora. Finalmente estou de férias, com alguns capítulos já prontos. Esse capítulo de agora já estava pronto a um tempinho, mas devido a alguns compromissos pessoais acabei esquecendo de postar mais cedo. Mais uma vez, peço perdão por isso.

Boa leitura! ♥



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No final do terceiro dia de treinamento, temos a apresentação final para os idealizadores, que darão notas de 0 a 12. A nota mais alta alcançada até os Jogos atuais, segundo Violet, é o 10. Os idealizadores nunca chegam ao 11 e 12, por uma razão que não compreendo.

Minha mentora já tinha estado no posto no ano anterior e comentou que, pelo que parecia, Damien, o idealizador chefe, gostava de tributos devotos a seus Distritos. Aquilo me deu uma ideia. Violet desceu conosco até o último andar, revesou uma hora de treino comigo e outra com Emmett. Para este último, não dirigi nem um mero olhar, quem dirá a palavra. Ele me deu bom dia e eu fingi não escutar. Meus nervos ainda estavam a flor da pele e eu estava convencida de que muito provavelmente desmancharia a aliança se as coisas continuassem daquela forma. Era um pensamento drástico, porém suas palavras pesadas e duras ainda ressoavam em minha mente.

Depois que fui deixada sozinha pela minha mentora, fui analisar todas as flechas disponíveis na ala de tiro ao alvo. A pequena Judy estava lá, e um sorriso largo preencheu-me o rosto quando seus olhos me fitaram. Ela largou a flecha de aço que tinha nas mãos e, aos poucos, o pequeno sorriso tímido deu lugar a algo maior. Começamos a conversar sobre as flechas. A menininha do 10 entendia sobre o que estava falando. Contou que o pai caçava esquilos, contou que a carne era saborosa quando eu fiz uma careta.

— Esquilos? Nunca provei. No 04, é sempre peixe. Em todas as refeições — Contei a ela.

A menina sorriu alegre para mim, encontrando o ponto em comum.

— Gosto de peixe! Quando papai era vivo, também trazia peixes às vezes.

Convidei-a para a ala de sobrevivência, onde treinaria acender uma fogueira com rapidez. Judy, prontamente, tirou dois gravetos de algum lugar e se dispôs a me ajudar com aquilo. Prometi a ela que em troca de seu favor, ensinaria como dar um bom nó de marinheiro.

Enquanto eu tentava fazer a fumaça e as faíscas ascenderem nas folhas secas, trocávamos experiencias. Apesar de muito jovem, com treze anos, Judy tinha a experiencia de alguém que já viveu tanto quanto eu, que era três anos mais velha. Contou que tinha um irmão mais novo, que perdeu para a fome logo após a morte do pai.

— A vaca que dava leite morreu na mesma época — Explicou. — Minha mãe diz que ele ficou doente por causa da fome.

A caça do pai e a vaca da família eram as únicas fontes de alimento. Aparentemente, Judy e a mãe ainda enfrentavam o período de escassez. O irmão, contou ela, tinha morrido não faziam duas semanas quando foi sorteada para os Jogos.

Olhei bem para ela, o rabo de cavalo no topo da cabeça por onde as longas mechas castanhas caiam em cascata. O rosto pequeno e magro, com as maçãs do rosto aparentes demais. Os espessos e pesados cílios escuros que cobriam os olhos atentos as chamas que se iniciavam, e a pele ligeiramente queimada de sol. Era um tom alaranjado, diferente do meu. Um tipo de sol que agride, pensei eu.

“Ela precisa morrer para que você viva.”

O mal estar me atingiu de súbito. O pensamento me golpeou diversas e diversas vezes antes que eu finalmente conseguisse o expulsar. Estava com ele na beira da mente desde que a vi próxima das flechas, mas só naquela momento, só quando consegui pensar sobre as chances da pequena Judy, que foi impossível deter as palavras de Emmett de ricochetearem na minha cabeça.

Com os olhos marejados, sorri de volta para ela. O fogo brilhou muito rapidamente sob as ordens da menininha. Com um tempo de pratica, em seguida, quase consegui ser tão rápida quanto ela. Judy ficou igualmente satisfeita com o nó de pescador. Sabia fazer arapucas e aquilo lhe seria extremamente útil. Tentando me convencer de que, de alguma forma, eu havia aumentado suas chances, nos despedimos no caminho para o refeitório.

Imersa em pensamentos, era fácil ignorar Emmett. Tão fácil, que não me dei conta de seu olhar constante sobre mim, nem escutei quando ele sussurrou meu nome.

Meus olhos correram para sua mão por cima da minha sob a mesa, retirei-a dali rapidamente por instinto. Olhei para ele.

— Eu sinto muito — Sussurrou. — Por favor… Me desculpe por ontem. Me desculpe.

Vacilei. Meus ombros caíram. Meu coração martelou mais rápido por um instante. Encontrei sinceridade ao fitar seus olhos. No entanto… Eu era tão impressionável… Não é mesmo?

— Deve saber que não é tão fácil — Obriguei-me a enfiar um pedaço de pão na boca e mastigar.

— Eu sei. As palavras que eu usei. As coisas que eu disse, eu…

— Como uma flecha. Depois que você solta, não tem como voltar atras.

Seu maxilar se contraiu. Ele assentiu lentamente.

— Como uma flecha — Repetiu.

Voltei minha concentração ao prato, empurrando mais comida para a boca. Não tinha coisas boas para falar. Não havia nada para falar, de fato. Não sou do tipo de pessoa que se comove com um sinto muito, não perdoo as falhas dos outros com tanta facilidade assim como não espero que perdoem as minhas…

E naquela posição… O que eu deveria fazer ou sentir?

Emmett queria que eu me lembrasse? Pois era o que eu faria. Estávamos nos Jogos Vorazes. Qualquer sombra de sentimentos e afinidades que eu sentisse por ele estavam sendo ignoradas, ainda que aquilo demandasse certo esforço. Ainda que ele fosse o único com quem eu poderia conversar sobre minha Apresentação Final aos Gamemakers, e ainda que eu sentisse uma necessidade enorme em desmanchar todo aquele seu ar cinzento e infeliz, enquanto tinha os cotovelos apoiados nos joelhos, o queixo apoiado nas mãos, e um olhar perdido no largo corredor onde a garota do dois tinha acabado de desaparecer. Alguns minutos antes, Trent já havia sido chamado. Ele me deu um sorriso esquisito quando nossos olhares se encontraram na saída do refeitório. Sabia que era por causa do que tinha acontecido com Emmett.

Senti-me confortável com Trent durante o treinamento, chegando a me esquecer que ele era um Carreirista, como aconteceu com Emmett. Cheguei a cogitar a possibilidade de acrescentá-lo à nossa aliança, e era o que teria sugerido a meu parceiro não fosse toda a cena que ele armou. De todos os outros Carreiristas, ele é de longe o que menos se preocupa em intimidar os outros, talvez o mais humano. Me lembro que havia certa emoção contida em sua voz enquanto falava sobre a família deixada no 02.

Porém, tão logo quanto sua imagem agradável se faz, ela é posta a prova quando me recordo igualmente bem de suas palavras sobre “meu plano”, a suposta proximidade combinada com meu parceiro, e seu ar de interesseiro enquanto falava sobre aquilo.

Mal notei quando Arla desaparecera e a voz já chamava por Emmett. Ele se ergueu completamente num só movimento impulsionando o corpo para frente, e o olhar perdido tomava o cuidado de não vagar nas proximidades da minha figura. Mesmo assim, sabia que ele me captava. Como tinha feito no carro enquanto estávamos no Distrito, como havia feito durante a Colheita.

— Emmett — Ouço minha voz.

Tarde demais para orgulho ou arrependimento. Os olhos verdes com um brilho leve de esperança já estão me fitando.

Sorrio instintivamente, contra minha verdadeira vontade.

— Só… Boa sorte — Digo, já voltando a ser séria.

Emmett sorriu largo e piscou.

— Pra você também, pescadora.

Tomei o cuidado de libertar o sorriso apenas quando ele já estava de costas para mim, sendo engolido pela escuridão do corredor.

Depois de alguns minutos, lá estava eu. Usando o caminhar mais confiante que consegui ensaiar, adentrando o Centro de Treinamento vazio. Os estalidos metálicos e um baque surdo sinalizando o fechar das portas me incentivaram a continuar seguindo e seguindo, até parar diante deles. No andar elevado de onde nos observaram durante os últimos dias, com Avoxes enchendo seus copos e servindo seus pratos abarrotados. Ondas de calor e de frio provocando um choque térmico esquisito atingindo meu corpo conforme cada cabeça se voltava para mim. Concentrei-me em Agnes primeiro, e depois meus olhos se fixaram em seu sanguinário irmão, Damien. Ele tinha um sorriso divertido, como o de uma criança que está prestes a desembrulhar um presente. Eu soube que era um brinquedo divertido para ele.

— Kaylee Donner, Distrito 04.

Minha voz preenche a sala. Dei um sorriso com o canto dos lábios, satisfeita por ter soado firme - Apesar de ter a impressão de que até mesmo minhas cordas vocais estavam meio trêmulas. Me obrigo a esquecer dos olhares sobre mim, e começo.

Levo cerca de um minuto para fazer o fogo queimar. Separo as flechas com setas de madeira e seguro o arco de aço com confiança enquanto caminho até a outra extremidade do local, rezando para que eles não se opusessem a nada.

Me lembrava que havia um pequeno local de atendimento de primeiros socorros ali, onde encontrei o frasco de álcool. Quando voltei e comecei a mergulhar as pontas das flechas nele, calculei que devia ter menos de um minuto e meio.

“Por favor, por favor, funcione…”

Fechei os olhos por um instante, antes de fazer a junção da primeira flecha à fogueira, e não consegui evitar o largo e satisfeito sorriso quando a labareda brotou, resistente e bonita. Meus tiros precisavam ser rápidos e as chamas precisavam resistir ao ar enquanto o cortavam e seguiam de encontro a parede de tiros do outro lado.

Uma, duas, três, quatro, oito, dez…

Aos poucos, o desenho de flechas flamejantes ia criando forma. Quando baixei o arco, lá estava. Do lado esquerdo, metade de uma forma parecida com o número “8″ deitado, e do lado direito, completando a forma, um triangulo perfeitamente acentuado. Era um peixe de fogo.

Levei os últimos segundos da apresentação contemplando o trabalho final. Estava orgulhosa de mim mesma.

— Obrigada, Kaylee — A voz de Agnes Ripper me despertou.

Damien pulava os olhos do desenho para mim, e pelo sorriso ainda intacto em seu rosto, percebi que não o havia desapontado. Acenei levemente com a cabeça, coloquei o arco no lugar e então deixei o salão para trás.

— Acha que consegue metade de um oito, Donner? — Violet me provocava, depois de eu ter explicado a eles o que havia feito.

Estavam todos diante da TV, onde dali a pouco tempo as notas seriam anunciadas. Junto com Sienna, Rose e a estilista de Emmett, e o próprio Emmett numa poltrona solitária, com cara de nada e um olhar vazio. Depois que toda nossa equipe vaporizasse, sairíamos escondidos para encontrar Stellmaryah na cobertura. Era o combinado de dois dias atrás. Pensando sobre aquilo naquele momento, eu já não tinha mais certeza.

Quando Violet cobrou uma boa nota à Emmett - Que em suas palavras, havia destroçado alguns bonecos alvo incansavelmente durante todos os seus minutos -, ele a olhou disperso como se não a reconhecesse, depois deu um sorriso sem graça. Seus olhos passaram por mim e se desviaram de novo para a tela de televisão. Pensei que talvez ele estivesse pensando o mesmo que eu. Aquilo era uma droga.

Emmett tinha me magoado profundamente e mesmo diante do visível arrependimento, ainda era difícil cogitar voltar ao normal com ele.

A transmissão finalmente teve início. Duas notas “10″ de Garnet e Trent. Ernessa foi o degrau mais baixo na escada de notas dos Carreiristas. A garota tinha ficado com o meu 8.

Era de se esperar que Emmett retomasse com os dois dígitos. Meus ombros caíram um pouco quando o número 9 girou ao lado da minha imagem. A mesma nota que Amethyst, do 01. Eu deveria reclamar?

Era uma nota alta entre os padrões. Mais um 8 do garoto do 10, Max. Um número 7 para os dois tributos do 7. A pequena Judy tinha um 5.

No fundo, esperava ser tão boa quanto Emmett. Ou mesmo Maryah.

Foi a vez do meu queixo, junto com o de todo o resto dos presentes na sala cair quando foi revelado que a garota do 12 fora a quarta entre os outros três primeiros garotos que conseguira uma nota 10 na Avaliação Final. Troquei um olha com Emmett assim que sua imagem desaparecera. Eu sorri e ele retribuiu. Podíamos não concordar em tudo naquele momento, mas ambos estávamos cientes de uma coisa. Nós tínhamos a melhor das aliadas.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima! s2



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