Just Another Game - Jogos Vorazes escrita por Brooklyn Baby


Capítulo 7
Regras


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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 Emmett foi o primeiro a acordar como sempre. Me surpreendeu vê-lo apertando o botão para que o elevador retornasse ao nosso andar. A porta abriu e sua mão em minhas costas me guiou para dentro do cubículo prateado. Ainda estava tão absorta no choque do momento anterior que mal pude protestar ou questionar. 

 Estava olhando fixo para o risco que cortava a porta, até que ele começou a se dividir aos poucos revelando algo que me deixou maravilhada. Árvores, arbustos, montes de flores coloridas banhadas pela luz fraca de pequenos postes brancos. Quando Emmett voltou a me guiar para fora, não havia mais concreto acima de nós. Estávamos no último andar do prédio dos tributos, onde ergueram um jardim. Fechei os olhos por um longo momento, deixando que o ar puro e o perfume das folhas e flores enchesse meus pulmões, então respirei fundo e comecei a andar por ali instintivamente. Andei e andei, calada. Ouvia os passos leves do meu parceiro atrás de mim a me acompanharem. 

 Parei de frente ao parapeito onde apoiei as mãos. Meus olhos brilhando enquanto captavam toda luminosidade da grande cidade. Podia ver a mansão presidencial com as chamas já contidas, e uma densa nuvem de fumaça negra saindo de lá e se espalhando pelo céu. Olhei para Emmett, agora parado ao meu lado, olhando na mesma direção que captara minha atenção anteriormente. Ele sabia. Nós dois sabíamos. Mas nenhum de nós estava pronto para falar em voz alta. Continuamos em silencio. 

 Então, Smith estava morto. Eles cancelariam os Jogos? O que seria de mim, de Emmett... O que seria de Panem? O pensamento súbito sobre minha casa no 04 me fez sentir medo. Medo de verdade. Pela primeira vez desde a Colheita. Nosso Distrito jamais foi totalmente submisso. Nós éramos privilegiados, mas não servíamos a Capital como o 02 sempre fez, mesmo nos Dias Escuros. Haveria revolta lá, depois dessa notícia? Isso envolveria Matt ou meu pai? Kriss ficaria assustada de alguma forma? Percebi que o tremor do meu corpo não era apenas causa exclusiva do vento.  

— O que acha que vai acontecer agora? — Pergunto a Emmett sem olhá-lo. Minha voz falha no meio da frase.

 Posso perceber um leve aceno de cabeça pelo canto dos olhos.

— Vão tentar fazer parecer que não foi um atentado. Que foi um acidente.

 Eu concordava.

 Abracei meus próprios braços, cruzando-os contra o peito e segurando os ombros. Soltei um suspiro longo. Meu olhar vagava por toda cidade, vasta e iluminada. Um pensamento me ocorreu. Nunca estive tão alta, porém também jamais me senti tão pequena e insignificante. 

— É um campo de força  — Emmett me salvou de meus próprios pensamentos, e eu segui seu olhar.  —  Literalmente, não temos direito sob as nossas vidas.

 Fiquei muito tempo tentando enxergar, até que vi a luminosidade excessiva em algum ponto no ar ao longe. Sorri. Tinha ouvido falar sobre os campos de força. Sienna contou, acredito eu. Eles existem na Arena e também estão em volta do Prédio dos Tributos. O que é muito inteligente. Porque com certeza, muitos de nós sentem o desejo de morrer antes da hora quando se deparam com uma possibilidade tentadora dessas - Uma queda tão profunda e mortal, uma morte mais rápida do que engasgado no próprio sangue, após ter o pescoço cortado por alguma lâmina. Lenta e agonizante. O tipo de morte que a Capital gosta de ver.

— Se jogue  — Brinco.  —  Vamos ver se você é arremessado de volta e ainda consegue se sustentar em pé. Como um gato.

 Ouço sua risada, fraca e rouca. Dou um sorriso mínimo enquanto volto a tentar alcançar os limites da cidade. As montanhas que sitiavam a Capital. Que a protegeu mais do que qualquer coisa nos ataques rebeldes dos Dias Escuros.

 Foi quando comecei a cantar. Começou baixo, mas logo minha voz se misturava aos uivos do vento gélido do terraço. Estava sentindo aquela sensação estranha, a angustia pesada no peito. Estranho. Estranho. Era a palavra que se repetia de novo e de novo na minha cabeça. Estranho... Estranho...  Coisas estranhas aconteceram aqui, não mais estranho seria, se nos encontrássemos no meio da noite na árvore forca?

Você vem, você vem
Para a árvore?
Onde eles enforcaram um homem que dizem que matou três
Coisas estranhas aconteceram aqui
Não mais estranho seria
Se nos encontrássemos no meio da noite na árvore forca?

Você vem, você vem
Para a árvore?
Onde o homem morto clamou para seu amor para fugir.
Coisas estranhas aconteceram aqui
Não mais estranho seria
Se nos encontrássemos no meio da noite na árvore forca?

Você vem, você vem
Para a árvore?
Onde eu disse á você para fugir para nós sermos livres.
Coisas estranhas aconteceram aqui
Não mais estranho seria
Se nos encontrássemos no meio da noite na árvore forca?

Você vem, você vem
Para a árvore?
Usar um colar de corda, e ficar lado a lado comigo?
Coisas estranhas aconteceram aqui
Não mais estranho seria
Se nos encontrássemos no meio da noite na árvore forca?

 Sentia meus lábios tremerem, e as lágrimas mornas deslizando sob minha pele gelada enquanto cantava. A voz embargada na metade dos versos. Mas cantei até o final. Emmett me fitava o tempo todo. Ele ficou sem fala por um tempo a mais quando o encarei.

— Você tem uma voz bonita.

— Obrigada  — Fungo.  — Costumo cantar para a minha irmã antes dela dormir. Mas não essa canção...

— Nunca ouvi essa canção.

— É por que é uma canção proibida pela Capital.

 A Árvore Forca estava num livrinho de páginas amarelas muito antigo que minha mãe me deu de presente quando eu estava aprendendo a ler, com meus cinco anos de idade. Havia outras músicas banidas lá. Ela disse que teve de pagar muito dinheiro pelo livro na época em que o adquiriu. Disse que era um tesouro. Era para ter sido destruído nos Dias Escuros, mas foi salvo. Mamãe uma vez disse que palavras eram como alimento e que sempre deveríamos guardá-las e lembrar-se delas quando nossa alma sentisse fome. 

 Costumava cantar aquelas palavras quando estava sozinha. Nunca cantei para Kriss, porque morria de medo que ela as repetisse e fosse punida. Nem mesmo Matt conhecia aquelas minhas canções secretas. Era como um elo, um segredo que eu sempre manteria com minha mãe mesmo sem ela estar aqui. O livro vivia escondido debaixo de uma tábua de madeira solta no assoalho do meu quarto. E a Árvore Forca era minha canção predileta. Porque eu sentia muitas coisas quando me alimentava com as palavras dela. Tristeza, dor, medo, coragem, amor. Tudo de uma vez. O casal citado, de alguma forma, me fazia figurar meus pais. Sentia pena pelo homem que eu sabia ter sido morto por um crime que não cometeu. Quando a canção diz que “dizem” que ele matou três, tenho essa sensação. E eu sempre pensei que a mulher que o amava também acabava morta no fim da canção.

 Sigo Emmett quando ele começa a andar. Ele caminha até um banco de madeira escura que está escondido debaixo de uma árvore, longe de iluminação forte. Subo os pés para o assento e abraço os joelhos me ajeitando. O silencio está prestes a me sufocar quando encontro um assunto. Brilhantes e frias acima de nós. As estrelas.

— Pelo menos temos elas... No meio de tudo isso. 

 Emmett da um sorriso largo, como se estivesse feliz por ter sido eu quem quebrou o silencio dessa vez. Também admirou o céu.

— É, são reais. Sem campos de força.

— Eu costumava dormir com minha irmã  — Conto à ele.  —  Quando fazia calor... O que no 04, você sabe, é quase o ano todo  — Rio fraco.  — Nós dormíamos com a janela aberta porque ela gostava de olhar para as estrelas. 

— Sua irmã, aquela menininha que chorou durante a Colheita?  — Indagou.

— Sim. Kristy. Sinto falta dela.

— Sinto falta da minha irmã, também.

 Olho para ele.

— Você tem uma irmã, também?

— Costumava ter. Mais velha. Faye...  — Seu olhar se desvia brevemente de meu rosto.  — Ela morreu nos Jogos, faz cinco anos. 

 Engulo em seco.

— Sinto muito.

 O silencio retorna pesado. Estou meio desnorteada com a informação. Sinto que agora encontrei o motivo de Emmett. Ou um dos. Podia sentir no timbre de sua voz ligeiramente emocionada. Os olhos com o brilho triste de quem conhece a perda. Ele foi voluntário pela memória da irmã. Para honrá-la ou vingá-la, ou os dois.

— Ei, já parou para pensar se tivéssemos nos conhecido? Antes dos jogos  — Digo aquilo alto, logo depois de pensar eu mesma.

 Emmett ri, sua aura já era nova.

— Se eu tivesse te encontrado antes, acho que ia ficar te encarando por um bom tempo. Igual você fez comigo no caminho para a estação de trem, lá no 04. Só que não acho que teria tido coragem para falar com você.

 Não conseguia acreditar que ele pôde me dizer aquilo tão naturalmente assim. Que ele tinha consciência do meu olhar sobre ele o tempo todo. Senti minhas bochechas corarem por aquele motivo que raramente acontecia. Durante toda minha vida, podia contar nos dedos de uma única mão os momentos em que senti aquele tipo de constrangimento. Uma memória antiga do começo de minha amizade com Matt. Quando me peguei de braços dados com ele na escola e percebi as garotas cochichando sobre. 

— Nunca olharia pra mim  — rebato com um riso sem graça na voz.

— Olhei quando você estava de pé ao meu lado, junto com sua irmã e seu amigo na entrada para a praça. Até olhou para mim, mas percebi que não me enxergou, acho que estava nervosa. Achei seus olhos bonitos e pensei que se eu os visse de novo me lembraria deles. Quando você foi chamada, pensei “Quais são as chances?!”.

 Não acreditaria nele se não tivesse citado Matt. Estou boquiaberta. 

— Gostaria de ter te enxergado.

— Você enxerga agora.

— Na pior situação imaginável.

 Ele dá de ombros.

— Há poucas coisas no nosso mundo que podemos controlar. Mas, voltando ao assunto... Acho que seríamos amigos. 

— Poderíamos ir a praia juntos...  — Sonho.

— Eu nunca ia a praia. Da última vez que fui era muito novo. Uns doze anos.

 Arregalei os olhos. Ele riu.

— Como você pode ser do 04 e não gostar de praia?

— Não disse que não gostava... Só passei minha vida toda ocupado com outras coisas. 

— O treinamento e tudo mais...

— Basicamente.

— Acho que poderia te ensinar a pescar.

 Emmett balança a cabeça e solta uma risada nasal.

— Sei me virar com lanças, mas não sou tão paciente. 

— Meu sobrenome também não é paciência, Emmett, mas eu certamente faria você adorar a pesca tanto quanto eu  — Disse toda convencida. Ele ergueu as sobrancelhas.

— Você manda, senhorita Donner.

 Nós dois rimos.

 Quando ficamos quietos novamente, o silencio não incomodou. Me sentia dividida. Era parte adrenalina e animação, uma agitação interna que fazia meu peito esquentar. Estar ali naquele lugar lindo ao lado de Emmett, depois do nosso plano ter dado certo. E Smith estava morto! O tirano e cruel Smith havia queimado junto com aquela parte da mansão. Era um bocado de nada agora e Deus, por mais horrível que fosse aquele sentimento, a esperança de um governo mais justo e menos severo fazia a morte do canalha valer a pena. Maryah, ela estava bem ali no décimo segundo andar com sua mãe. Como a ideia de ter feito aquela mulher feliz me fazia querer dar pulinhos de alegria... E abraçar Emmett durante o resto da noite, tamanha gratidão por sua compreensão e ajuda.

 Por outro lado...

 O medo ainda tentava penetrar meu coração. A incerteza do futuro. O receio recente das manifestações no 04 e no resto dos Distritos depois da morte de Smith. Ainda que estivesse mais segura do que nunca ao lado de meu parceiro, a vozinha em minha cabeça continuava a objetivar: “Ele é seu inimigo. Não esqueça disso. Ele é seu inimigo. Ele terá de morrer para que você possa viver. Ele terá de morrer para que você possa viver.”

 Stellmaryah. Estava fazendo a coisa “certa”? Quais foram suas razões? Ela viria até mim, até Emmett depois do que nós presenciamos...? Ela machucaria a própria mãe com aquele punhal? Um punhal com o desenho de um lobo no cabo. Uma ligeira lembrança me vem a cabeça.

 Paro. Olho em volta. O jardim, as flores e suas cores vivas e vibrantes mesmo no escuro. Eram lindas e eu não sabia o nome da maioria. Todos os cheiros... Do vento, dos perfumes naturais que nos cercavam e aquele perfume familiar que seguia Emmett, certamente preso a sua pele. “Sândalo”, eu finalmente reconheci. Meu pai tinha cheiro de sândalo pelas manhãs, antes de minha mãe partir.

 Fecho meus olhos. Concentro-me no escuro. No vazio infinito detrás das minhas pálpebras. Monto os rostos pouco a pouco. Mamãe é o mais difícil. Seu retrato não se move. É um rosto resplandescente e belo contornado por cabelos negros dentro de uma moldura dourada. Aquele quadro está próximo a cabeceira da cama no quarto de papai. Em seguida, é ele quem vejo. As expressões de cansaço são as características das quais mais me recordo. Matt e aquele sorriso, impossível de não olhar duas vezes. Kriss... Todos aqueles trejeitos já decorados. O franzir de cenho exagerado e engraçado causado pela curiosidade. O sorriso gigantesco acompanhado dos olhos fechados quando achava graça em algo. O encher de ar nas bochechas coradas quando se irritava. 

 E finalmente Emmett.

 Seu rosto se materializa rapidamente, o que me surpreende. Talvez se deve ao fato de que é esse o rosto em que venho buscando qualquer tipo de alívio e conforto nos últimos dias loucos. Tento reproduzir momentos pequenos e significativos. O brilho nos olhos durante nossa conversa no trem. A maneira como aquele brilho lhe fugiu depois da discussão no carro. O sorriso de confiança na outra noite em seu quarto, como se dissesse que eu não era insana de maneira nenhuma, e insanidade seria achar que era. O olhar doce, o sorriso largo, tudo o que me passou confiança durante o desfile. E agora. Posso sentir seus olhos sobre mim. Apenas tento imaginar que tipo de olhar ele está me lançando e me pergunto se o olhar está acompanhado de um sorriso por mais minúsculo que seja. Não consigo montar a imagem do jeito que gostaria. Também não quero olhar de volta ainda. Faço todos os rostos se diluírem na escuridão, voltando para o vazio inicial.

— É estranho pensar que tudo isso pode desaparecer em pouco tempo.

 Quando termino a frase, volto para as cores do mundo. Emmett estava mesmo a me observar e nossos olhares colidem. A sensação é de uma batida de carro, uma explosão intensa. Algo me diz para desviar, mas não posso. Por alguma razão, não posso. A intensidade no verde escuro que me encara de volta da a impressão de que ele sente a mesma coisa. 

 Pensar sobre minha morte... Sobre a morte iminente dele, para que eu pudesse viver. Aquilo poderia causar muito estrago antes da hora. Tudo o que eu conhecia e tudo o que eu era estava prestes a mudar e eu tinha consciência disso. No entanto, estava numa guerra interna para manter o que restava de mim. De quem eu realmente era. Só por mais algumas horas... Só até a Arena...

— Fala sobre a morte?  — Sua voz é um sussurro.

 Faço que sim.

— Não pense. Não agora.

— É difícil.

— Entendo.

 Uma onda de serenidade me atinge quando o sinto. Emmett está tocando meu rosto. Parte de seus dedos afastam meu cabelo, enquanto o polegar afaga levemente minha pele fria. Por aquele breve momento me permito esquecer. Da grande cidade a nossa volta. Dos inimigos abaixo de nós. Do mundo cruel que havia nos tomado a chance de habitá-lo ao mesmo tempo.

 Nós giramos em torno de regras.

— Você pode ganhar. Sabe disso, não sabe?

“Não. Não Emmett. Não estrague tudo. Não quero falar sobre isso.”

— Sei  — Minha voz sai rouca.  

— Você tem uma chance grande de voltar para o 04, para sua irmã, para...

— Você está desistindo?  — Interrompo. Pergunto com riso na voz, ainda que meus olhos já estejam úmidos. 

— Não mesmo. Só que um de nós vai vencer. Isso eu posso garantir.

 As lagrimas despencam. Queria poder concordar. A vontade de lutar estava sendo oprimida pela minha consciência. Quero fugir. Quero fugir

— Não sei se quero vencer  — Minha voz está embargada.

— Quer sobreviver  — A contraposição vem rápida.  — Disso eu sei.

 Caio dentro de seu abraço quando ele me puxa. Soluço abafado. Todos os sentimentos do mundo me atingindo de uma só vez. Emmett espera paciente meu desabafo silencioso amenizar para voltar a falar.

— Tem de haver algo depois que morremos. Ou eu ficarei extremamente chateado.

 Algo em seu tom me arranca uma risada fraca. Aquilo já me faz melhor.

— Sei. Também quero voltar a encontrar minha mãe...

— E eu minha irmã...

 Ergo o rosto para ele, vislumbrando um sorriso ameno que logo vira algo mais divertido.

— Sabe de uma coisa, Kaylee? Gostaria de tentar imaginar como teria sido essa tal vida pré Jogos Vorazes com nós dois sendo amigos. Porque não me conta um pouco sobre sua história? Algo que eu não tenha visto na TV. Nada sobre seu pai, dono de peixaria. Da sua cor favorita, azul. Quero ouvir sua história. A verdadeira história de Kaylee Donner.

 Rolo os olhos e gargalho.

— Está mesmo pronto? Sabe onde está se metendo? Tenho fama de falar demais. 

— Depois de todo frenesi da noite, nada seria mais agradável do que uma boa história para dormir.

— Bem...  — Inclino mais o corpo para seu lado, meu parceiro ainda tem os braços em torno de mim. Tento me aconchegar e consigo.  — Vamos começar por onde sempre se começa. Pelo começo...

 Conto a ele sobre minha mãe. Sobre meus avós, que costumavam passar metade do ano no 04 e metade na Capital. O desejo de liberdade que levou minha mãe a escapar dos treinamentos e tomar uma praia deserta escondida entre os rochedos para si. E o dia em que quase se afogou quando caiu dos rochedos, arrastada pelas ondas violentas que batiam ali. Meu pai estava lá e a salvou. Depois daquele dia, minha mãe encontrou a liberdade que tanto buscava, porém meus avós esqueceram que um dia tiveram uma filha. Então contei da minha infância e sobre como fui amada. Do arco e flecha que ela escondia no porão, e do ensinamento que ela prometeu e cumpriu sobre o uso da arma. Costumávamos treinar numa campina, no alto de uma montanha. Havia algumas árvores lá. Dava para se ver todas as costas e toda vastidão do oceano que cercava aquela parte do Distrito dali de cima. O rochedo do farol, os portos que recebiam as embarcações... Depois, eu e Matt íamos até lá. Ele gosta de me ver treinar com o arco. E já consegui levar Kriss nas costas algumas vezes. A caminhada é ingrime e cansativa em certos pontos, mas estou certa de que não existe vista mais bonita em todos os doze Distritos. 

 A pesca, as tardes tediosas na peixaria, a natação, a escola, o pôr-do-sol com Matt e nossas histórias...

 Em algum ponto parei de falar.

 Emmett me levou nos braços até o elevador e em seguida para o nosso andar. Não parecia ser muito esforço para ele e, antes que meu eu sonolento pudesse protestar, meu parceiro já estava andando. Me lembro de ser colocada delicadamente na cama, e das mechas de cabelo sendo afastadas do meu rosto. O mínimo barulho da porta batendo. 

 Quando os raios de sol tímidos brilharam sob mim na manhã seguinte, não fiquei assustada com a figura da Avox de pé próxima a cama. Sorri para ela. Seu braço se estendeu e um pequeno papel foi depositado no lençol de seda. Ela desapareceu depressa enquanto meus dedos corriam até o papel e o desembrulhavam. Era de Stellmaryah.

K.

Eu realmente sinto muito pelo que aconteceu naquele elevador, e te devo um pedido de desculpas por isso. Acho que suas reais intenções ficaram muito óbvias, e esse é mais um motivo pelo qual eu lhe devo um perdão. E muito obrigada Kaylee, por me proporcionar um momento indescritível.

S.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima ♥



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