Just Another Game - Jogos Vorazes escrita por Brooklyn Baby


Capítulo 6
Black Flames - A garota do 12


Notas iniciais do capítulo

Diga Olá para Stellmaryah ♥ todos os créditos da personagem para Maria Eduarda, de quem eu falei sobre nas notas do capítulo 4.

Também quero dedicar o capítulo a primeira leitora assumida da fic, que me deixou hiper animada obviamente ♥ *pausa para ler o nome no comentário em que ela diz* Vitória! haha :p te dedico esse capítulo e espero que goste tanto quanto os outros! Agradeço muito pelos seus incentivos e opiniões.

Boa leitura!



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 O desfile correu sem nenhum contratempo. Normal nas medidas cabíveis. No começo sentia meus músculos meio congelados, mas me senti obrigada a reagir quando o primeiro aperto da mão de Emmett me arrancou do transe momentâneo. Fiquei contente, na verdade, em perceber a empolgação dos moradores da Capital quanto a nossa carruagem, de como eles vibravam com meus acenos, piscadelas e jogadas de beijo. Até achava algumas reações engraçadas. As pessoas se derretiam, chamavam por nossos nomes em um coro alternado. 

 Emmett apertava os dedos em tornos dos meus de vez em quando. Eu passei a fazer o mesmo, mas forte. Talvez eu até o tenha machucado numa dessas vezes com minhas unhas exageradamente grandes. No entanto, se o fiz, ele não se importou. Continuava com aquele sorriso pequeno, sem mostrar os dentes. Sutil, mas confiante. 

 Imaginei se estávamos em harmônia - Se o que as pessoas viam era algo tão bonito como deveria ser. E tive minha pergunta secreta respondida quando nossa imagem se fixou aos vários telões altos que se espalhavam aos nossos lados. Entendi a empolgação daqueles loucos a nossa volta. Não sabia como descrever em palavras. Só sabia que era incrível. Eu e Emmett, nós estávamos incríveis. 

 Um sorriso largo se espalhou pelas minhas feições e eu pensei em minha casa, no 04, em meu pai, em Matt e em Kriss. Olhava para aquele telão como se estivesse olhando para eles. Então acenei e desviei os olhos novamente para a platéia antes que nossa imagem desaparecesse. Meus olhos umedeciam de súbito, e eu senti uma fraqueza estranha nas pernas. Lembrei que aquela não era eu. Que Kriss provavelmente estava sorrindo para minha imagem, porém, do outro lado, Matt e meu pai assistiam aflitos. O medo me ameaçou e meu sorriso vacilou. Me sentia cansada da máscara, apesar de não tê-la desmanchado por completo. Imitava um sorriso mais como o de Emmett agora. 

 Não sei como, mas ele foi capaz de perceber a mudança no meu humor. Eu soube disso quando observei sua aproximação pelo canto dos olhos. Olhei para os pés, enquanto ele falou no meu ouvido:

— Os cantos da sua boca estão doendo também?  — Aquele sussurro esfriou minha barriga mas aqueceu meu peito. 

 Eu ri. Uma risada genuína e divertida. Emmett sorriu largo pela primeira vez. Nossa imagem voltou aos telões quando aquele momento aconteceu.

 Nenhuma das outras duplas me chamara atenção, nada que eu estivesse observando na realidade. Fiquei atenta apenas a carruagem a nossa frente. Com a garota de cabelos lisos e loiros e o garoto desengonçado. Meus olhos não conseguiam alcançar a dupla do 2 ou do 1 e não olhei para trás em momento algum. Mirava o telão rapidamente vez ou outra, por pura curiosidade. Fiquei um pouco chocada ao perceber só agora o quanto Judy, a garotinha do 10, era apenas só uma garotinha mesmo. Pequena e esguia com longos e cheios cabelos castanhos, vestida de fazendeira ao lado de seu bem mais alto parceiro de Distrito.

 Lá pelo final do Desfile, algo aconteceu. A garota de vestes pretas brilhou. Ela literalmente brilhou. Eu, Emmett e a platéia assistimos maravilhados enquanto Stellmaryah olhava determinada para o caminho a sua frente. Os olhos azuis parecendo mais densos e escuros, os cabelos negros contornando o rosto pálido e havia essa surpresa. As chamas negras que se desprendiam de sua fantasia e brilhavam no vento atrás de si até desaparecerem. Uma figura etérea, quase divina. Para mim, aquele foi o ponto alto do Desfile. 

 Eu me sentia tão conectada a aquela garota... Talvez fosse apenas pela Avox, pelo nosso plano. Não fazia ideia. 

 Já havia anoitecido no final de tudo. Meu parceiro e eu tínhamos rosas vermelhas nas mãos quando nossos cavalos pararam e estacionaram a carruagem diante da mansão presidencial. O presidente Smith, um homem velho e um pouco acima do peso dentro de um terno branco e dourado fez-se visível na varanda, para saldar nossa coragem e sacrifício. Finalmente, declarou aberta a Quadragésima nona edição dos Jogos Vorazes. 

 As câmeras finalmente foram desligadas e eu suspirei aliviada. Do lado de dentro, eles davam a festa de abertura. Me lembro que, naquela manhã antes de partirmos para o Centro de Transformação, Violet nos dissera que não iríamos ficar muito tempo ali. Era uma coisa cronometrada que durava uma hora e só servia para que os mentores trocassem uma pequena palavra com os potenciais patrocinadores, as pessoas mais importantes e ricas da Capital. Não era algo para os tributos, no entanto, os patrocinadores ricos podiam nos analisar de perto e era isso que estavam fazendo agora. Rondando nossas carruagens e derramando olhares analíticos sobre nossas figuras. Durou uns dez minutos até que fossemos dispensados por uma voz em um alto falante.

 No entanto, antes que qualquer uma das carruagens fizesse menção de retroceder, algo estranho aconteceu. As luzes do jardim e da mansão se apagaram completamente. Houve um alvoroço, uma mistura de vozes pesando no ar a nossa volta. O blackout durou cerca de dois minutos, e uma onda de suspiros aliviados veio depois disso. Era estranho, depois de todos os acontecimentos anteriores terem sido tão perfeitamente orquestrados. Todavia, naquele momento, eu só concluí que a fuga dos planos pode acontecer até mesmo na Capital.

 Falando sobre planos...

 Nossa equipe encontrou a equipe do doze e do seis no saguão enquanto esperávamos o elevador principal. Um calafrio atingiu minha espinha quando percebi Stellmaryah há um metro de distância. Por um instante, olhei tão fixo para ela, sem me importar em disfarçar. Ela percebeu meu olhar em algum ponto e sua expressão ao fitar minha figura era de desinteresse. Por um segundo, percebi seus olhos se arregalarem brevemente.

 Quando ela levou as mãos aos cabelos puxando-os para mais perto do rosto, pude perceber a linha vermelha sutil, porém comprida, que ela tentava esconder. Uma estranha cicatriz que começava na base da orelha e se estendia até o pescoço. Desviei os olhos depressa, intrigada. Decidi ficar calada sobre aquilo, e permaneci naquele estado silencioso durante muito tempo. Até Emmett invadir meu quarto, lá pelas onze e meia da noite. Sem dizer nada, ele se sentou ao meu lado na cama e pegou o controle prateado na cômoda. A imensa televisão se ascendeu na parede, e o quarto pareceu se incendiar com a imagem das labaredas intensas. Sentei na cama, recostando-me no travesseiro. O cenho franzido. Até que a percepção chegou. E eu suguei o ar com força, emitindo um som de surpresa. Logo minha mão estava sobre meus lábios. A imagem se abria mais, dando a certeza de que eu não estava ficando louca. Era a mansão presidencial. Um dos aposentos da mansão presidencial estava tomada por chamas. 

 Um repórter aparece na tela agora. Mesmo ele não consegue se conter. Seu olhar é atônito enquanto começa a explicar que não havia muitas informações. Não sabiam como o incêndio havia começado, mas já sabiam que havia duas vitimas fatais… Entre elas…

 … O Presidente Smith.

 Aquela informação fica pairando sob minha mente, incapaz de tragá-la. Uma visão borrada e mal feita do homem de branco e dourado é alcançada, e depois a morbidez dos meus pensamentos me faz começar a imaginá-lo se desmanchando em um bocado de cinzas. 

—  Violet estava frenética. Ela saiu com Sienna. Estamos sozinhos  — Emmett me olha.  — Vamos colocar o plano em prática daqui a pouco. Prepare-se. 

 Ele parece sereno e um pouco empolgado, como se os acontecimentos noticiados não significassem absolutamente nada. Fico olhando embasbacada enquanto Emmett volta a desaparecer, saindo do quarto.

 Salto da cama e me obrigo a deixar a informação sobre Smith ainda sem ser absorvida. Talvez fosse o que meu parceiro estivesse fazendo afinal. Demoro cerca de dez minutos até ouvir as batidas leves na porta. Emmett me diz para procurar a Avox. É estranho não saber o nome dela. Não demoro a encontrá-la num canto da sala de jantar. Não há mais Avoxes ali além dela. Me aproximo e seguro suas mãos. 

— Acho que nada a faria mais feliz — Começo, referindo-me a Stellmaryah. — Perdi minha mãe quando tinha dez anos. Me lembro que era um dia de chuva, o mar estava agitado quando ela foi velada. Ela era jovem, linda… Mas teve uma vida plena, feliz, sem arrependimentos. Parecia um anjo dormindo, na ultima vez que a vi — Sinto a palma da mulher sobre o meu rosto, tentando conter as lágrimas que nem havia notado deslizarem pelas minhas bochechas. — Meu pai não queria que eu a visse… Mas ele sabia que eu precisava daquilo. Eu tive a chance de dizer o adeus definitivo — A fito nos olhos agora. Os olhos que diziam tanto. Eu não precisava realmente saber como era seu nome. Estava conectada a aquela mulher como ser humano. Nós não damos nome a nossa alma. Era só isso que importava. — Penso na sua filha… Na angustia que ela deve sentir por todo esse tempo, sem saber como você está. Talvez acreditando que perdeu a chance de dizer adeus. Mas isso vai mudar essa noite, está bem? Falta pouco. 

 A mulher me abraça desajeitada, agradecida. Também estou nervosa, mas preciso acreditar que tudo dará certo. Precisa dar certo. 

— Está na hora — A voz de Emmett anuncia a minhas costas.   

 Sorrio confiante para ela, antes de agarrar sua mão e rumar as pressas para a saída principal. Minha cabeça está a mil e meu coração está disparado. Posso senti-lo martelar em meus ouvidos, enquanto saio do apartamento com a Avox e com Emmett servindo como guarda atrás de nós duas. Dirijo-me até um elevador de serviços, de metal e completamente fechado, diferente do elevador principal de cristal que tanto me assombrou no outro dia. 

 Seguro na mão da mulher e corro, deixando Emmett para trás. Diante do elevador, aperto diversas vezes o botão, com a adrenalina queimando em minhas veias. Olho para a mulher e percebo que estou deixando-a ainda mais apavorada. Ela está mais pálida do que deveria.

 “Certo, Kaylee. Acalme-se. Você precisa se acalmar.”

— Ela está te esperando — Falo, com um leve tremor na voz. — Ela está lá em cima, te esperando. Está tudo bem… Você vai vê-la e… 

 Congelo. Um barulho brusco indica que o elevador está chegando ao quarto andar. Estou começando a entrar em desespero, encurralada. Enxergo o vislumbre de uma figura, um alguém ali dentro. O elevador não estava vazio. As portas se separam. O choque só piora ao reconhecer a figura: Stellmaryah Dayes. A garota que se incendiara no desfile há horas atrás realmente tinha cheiro de fogo agora. Um cheiro forte que me atingira, parecendo se impregnar em mim com uma velocidade absurda, me deixando nauseada. A tributo do 12 estava completamente suja de algo como fuligem misturada com terra vermelha, folhas nos cabelos negros desgranhados. 

 Todavia, meus olhos se prendem ao vermelho vivo e intenso que escorria em forma de sangue pelo seu rosto. Ela tinha uma ferida ali. Seus olhos azuis se chocam contra os meus, e uma lâmina ensanguentada brilha diante de mim. Não consigo dizer nenhuma palavra. Estou terrificada. 

  Sinto o aperto da mão da Avox na minha. É quando recobro os sentidos. A mãe de Stellmaryah. A tributo que estava diante de mim, apontando-me um punhal nesse exato momento, sem nem sequer termos chegado à Arena. 

 Lentamente, vejo a arma desaparecer da altura do meu rosto. Ela está olhando para a Avox agora, com espanto total. Percebo Emmett se aproximar pelo canto dos olhos, mas ergo o braço livre fazendo um sinal com a mão para que ele pare e meu parceiro me dá o voto de confiança.

 Dou uma última olhada no estado de Stellmaryah. Engulo em seco ao perceber que a terra em suas vestes apertadas não era vermelha. De fato, o que estava misturado a terra era o que a deixava vermelha. E aquilo parecia sangue. 

 Não busco entender o que está havendo, não tenho tempo para isso. Guio a mulher gentilmente para dentro do elevador, junto a Stellmaryah. Passo metade do corpo para dentro do cubículo sufocante e assisto meus dedos trêmulos procurarem pelo botão do décimo segundo andar. Após apertá-lo, me afasto e assisto enquanto as portas de metal geladas se fecham diante dos meus olhos ligeiramente amedrontados.

 Não conseguia deter o maremoto de pensamentos. Meu parceiro nada falou. Eu e Emmett permanecemos estáticos em nossos lugares por alguns minutos, absortos em um silencio barulhento. 


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Notas finais do capítulo

Até a próxima! ♥



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