Just Another Game - Jogos Vorazes escrita por Brooklyn Baby


Capítulo 4
A Avox


Notas iniciais do capítulo

Então existe uma modificação em relação ao dia do Desfile, apenas. A explicação pode ser de que, durante a presidência do Smith, era assim que acontecia. Stellmaryah é uma personagem original de uma garota incrivelmente inteligente, doce e gentil que um dia eu tive o prazer de conhecer que se chama Maria Eduarda. Infelizmente perdemos contato, mas sei que ela é uma pessoa linda, tão admirável quanto essa personagem dela é pra mim, uma heroína ♥ Espero que um dia eu a encontre novamente, de verdade. E se eu pudesse dedicar toda essa Fanfic à alguém seria à ela. Boa leitura!



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 Há um mar de pessoas esperando por nós como se fossemos realmente importantes. Estou curiosa e furiosa com essas pessoas ao mesmo tempo. Tenho certeza que para eles sou apenas um brinquedo, mas também estou me perguntando se eles gostam de mim. Não é pessoal, mas preciso desesperadamente que essas pessoas gostem de mim. Sei como os Jogos funcionam e não quero ser o tipo de tributo que é esquecido e não recebe patrocínio. Já estou insegura o suficiente por saber que minha mentora e Emmett são conhecidos. Foi o que deduzi quando escutei Violet perguntar se os pais do garoto foram se despedir. Aquilo me deixava extremamente chateada, como uma criança. Olhar em volta e me sentir assustada, não enxergar vantagens reais ou confiar em mim mesma como Matt confiava.

 Aquilo parecia impossível.

 Tudo é rápido: Sienna nos instrui a sorrir e acenar se possível e as portas são abertas. Os pacificadores nos escoltam novamente até outro carro que está nos esperando. Fico pensando sobre não parecer uma estúpida completa, mas minha boca está aberta enquanto observo os rostos dos excêntricos moradores da Capital. Não sei o que fazer enquanto estão gritando por meu nome. Por nossos nomes. Apenas ergo minha mão suada e aceno, sem ter certeza se o que há em meu rosto é algo parecido com um sorriso.

 Emmett me puxa pela mão de repente e eu penso em puxar de volta bruscamente antes de perceber o que ele está fazendo. Sinto algo como um arrepio, como se não estivesse certo achar aquilo certo. Ele está me guiando até a porta do grande carro para que eu entre primeiro. Agora sei que há um grande sorriso irônico em meu rosto enquanto olho para meu parceiro, mas como sempre seu olhar está perdido em outro lugar que não é minha figura. Pelo menos não minha figura completa. Ele está assistindo o movimento dos meus pés como um lindo cavalheiro. Que príncipe maravilhoso deve parecer diante das câmeras...

 Sienna e Violet entram num banco atrás de nós e a porta bate. Olho para Emmett com o cenho franzido.

— Então, o jogo já começou?

 Ele me olha confuso. Ou cínico.

— O que?

— Você. Sendo o cara legal lá atrás, me ajudando...

 Seus olhos se estreitam por um segundo.

— Aquilo se chama educação.

— Na frente de todas aquelas pessoas? Que conveniente...

 Agora seus olhos se estreitam permanentemente. Percebo Sienna abrir a boca pelo canto do olho, mas Emmett fala primeiro:

— Tudo bem Kaylee, eu vou me lembrar de não ser legal com você.

 Aquilo não parecia uma ameaça, mas foi como soou para mim.

— Perfeito.

— Guardem a porcaria da hostilidade para a Arena  — Violet repreende enfim, meio impaciente.

 A mentora parece querer silencio, no entanto seus planos são arruinados quando a adorável Sienna começa a falar sobre nosso próximo destino. No começo parece desajeitada - como se soubesse que ninguém ali quisesse ouvir sua voz. Logo seu discurso toma o ritmo de sempre, e até mesmo o desinteressado Emmett rola os olhos em algum ponto.

 O carro dobra mais algumas esquinas e segue por outras ruas até que para. E então, logo, lá está ele. Gigantesco e intimidador. Minha casa pela próxima semana. Um prédio, doze andares. O prédio dos tributos. Estou me sentindo tonta e nauseada enquanto estamos subindo no elevador. Nunca andei num elevador antes na vida. É terrível por Sienna ter escolhido um dos elevadores externos, completamente feitos de cristal. Tornando possível a visão da cidade e das pessoas ficando pequenas e deixando-me totalmente petrificada pela sensação de não haver chão sob meus pés. O quarto andar chega finalmente.

 Mais uma dose de tagarelices por parte de Sienna, enquanto nos guia, a mim e Emmett, para nossos respectivos dormitórios. Por alguma razão idiota, me sinto estranha em saber que o quarto dele está naquela porta bem diante do meu. Estaria pronta para desabar finalmente naquele cômodo vazio, e foi o que o fiz. Mas o cômodo não estava tão vazio assim. 

 Suguei o ar bruscamente pelo susto. Havia uma mulher congelada num canto do grande quarto, como se fizesse parte da mobília. Esfreguei os olhos lacrimosos violentamente para olhá-la melhor. Tinha uma pele pálida como leite e mesmo olhando para baixo, podia ver o brilho de seus olhos azuis. Os cabelos negros estavam puxados para trás num coque. 

— Quem é você?  — Perguntei eu, a voz embargada. 

 Seus olhos foram a única coisa a se mexerem a princípio. Ela me olhou hesitante, mas logo seu rosto inteiro estava completamente voltado para mim. Foi quando me dei conta, de súbito. Era uma Avox. Uma Avox é um tipo de escravo da Capital. Alguém que cometeu algum crime, um ato de rebeldia contra a Capital ou outra falha qualquer. Eles cortam suas línguas e os fazem trabalhar para o resto de suas vidas, servindo-os. 

 Acho que se passaram uns três minutos e alguns longos segundos, enquanto a mulher me olhava complacente e meus soluços iam ficando cada vez mais baixos até desaparecerem. Tive a impressão de que, se ela pudesse, ela me abraçaria. E minha empatia por ela foi instantânea. 

 Eu apenas me levantei, sentindo as lágrimas já secas no rosto.

— Você pode se retirar, eu não preciso de nada.

 Nós nos olhamos por mais alguns segundos. Então ela se foi.

 Eu me deitei na grande cama e me permiti continuar a chorar. Mas era um choro silencioso e sem soluços. Um choro para aliviar a tensão. Um choro com um pouco de insegurança e saudades. Mas era estranho perceber que as palavras ditas mais cedo à Emmett no vagão do trem eram reais. “Eu não estou assutada”. Eu não estava com medo. 

 Cochilei por alguns minutos. Uma batida barulhenta na porta me despertou e eu pensei por um breve momento de alucinação pós sono de que seria arremessada na Arena naquele mesmo momento. Mas era só Sienna dizendo que estavam passando uma entrevista com os Gamemakers. Eu disse que já ia descer. Por mais inteligente que fosse conhecer meus inimigos, eu não estava no humor. Mas Sienna insistia: 

— Venha! Venha ver, Kaylee! Os Gamemakers desse ano!

 Aperto a almofada contra as orelhas antes de arremessá-la para longe. Sienna não iria me deixar em paz até que eu desça até lá e assista a essa maldita entrevista.

— Kaylee!

— EU ESTOU INDO!  — Berro. 

 Não tive a chance de trocar de roupas desde a Colheita. Decido que cinco minutos não matarão Sienna, e me preparo para um banho rápido. Enquanto estou separando uma roupa - um vestido laranja muito bonito que parece ser perfeito para o meu tamanho - me pego um pouco assustada com como eu pareço ainda mais pequena sozinha dentro daquele quarto. Não consigo nem imaginar em como parecerei insignificante na Arena. 

 Pensei que o banho seria uma tarefa fácil. Mas levei os cinco minutos calculados apenas para descobrir que botões faziam o que. Era curioso poder escolher aromas. Depois de uns quinze minutos e depois de deixar Sienna rouca de tanto chamar e chamar por mim, deslizo pelas escadas me sentindo revigorada pelo menos um pouco. Sinto que a tensão me deu uma folga quando vejo as feições menos carrancudas e preocupadas num dos espelhos espalhados ao meu lado. A mulher da Capital solta um suspiro nervoso ao finalmente me ver. Violet Harper não move um músculo na minha direção. Emmett coloca seu olhar vago sob a minha figura e volta como se tivesse feito uma descoberta. Fico envergonhada de repente, porque tenho a impressão de que ele está me admirando. A ideia é logo descartada e eu me sento ao lado dele com uma pose fria e inanimada. Ele inspira. Expira. 

— Cheiro de lavanda  — murmura, quase para si mesmo.

 Achei impossível conter o sorriso divertido que disfarcei coçando o rosto. 

 Olhei para a televisão. O conhecido Caesar Flickerman está sentado diante de duas pessoas com trajes negros. Uma delas, um homem de aparentes trinta e poucos anos. Barba rala, um bigode com um corte meio “artístico” a lá Capital. Cabelos louros perfeitamente divididos e rentes a cabeça. Damien Ripper, o idealizador das quatro edições anteriores que estava de volta para criar nosso pesadelo. Ah sim, aquele rosto conhecido. Mas a outra figura, a mais rígida, franzina e de olhar “perigoso” ao lado de Damien era novidade para mim. 

 Agnes Ripper tinha um cabelo louro tão liso que parecia escorrer como água em volta de seu rosto. As pontas eram retas. Seu rosto era inexpressivo, mas se você olhasse bem, podia ver que as linhas de sua boca estavam congeladas no que era o quase começo de um sorriso. O que, juntando a seu olhar sádico, causava arrepios. Eles eram bonitos, apesar de tudo isso. Uma boa figura para a Capital. Ao longo da entrevista, percebo que eles “trabalharão juntos como se fossem um”. Essas foram as exatas palavras do entrevistador para descrever. Sinto meu estômago se revirar.

— São... Dois? É meio injusto.

 Emmett ri. Talvez havia algo em minha voz.

— Os terríveis irmãos Ripper.

— A mulher... Ela parece uma Carreirista do 1. Ela é assustadora.

 Não sei quem temo mais. Se Damien, pelos olhos brilhantes diante do ideal da melhor edição dos Jogos já feita, ou de Agnes, com aquele sorrisinho discreto de quem não vê a hora da boa e velha carnificina começar. 

— Nós estamos prontos para fazermos essa edição ser uma das mais memoráveis de todos os tempos  — Conclui Damien em suas considerações finais.

 Agnes olha o irmão com um sorriso mais visível agora, e volta a mirar Caesar.

— Panem jamais será a mesma. 

 E com isso a entrevista tem seu fim. 

 Violet nos disse que o melhor concelho para o dia era dormir e descansar. Amanhã os preparativos para o Desfile teriam início bem cedo e precisaríamos estar confiantes e apresentáveis. Sienna repetiu a mesma coisa durante o jantar, dando ênfase no “apresentáveis”. Eu concordava com elas e sabia que deveria descansar, mas havia um maremoto de pensamentos perturbando meu sono. Não sabia exatamente que horas eram quando desci até a sala e liguei a televisão. Havia uma no meu quarto, é óbvio, mas de alguma maneira eu me sentia mais confortável ali. As cores ao meu redor eram mais vibrantes e havia a presença, mesmo que silenciosa, das Avoxes. Bem, pelo menos uma.

 A Avox que outrora me vira chorar encolhida no quarto mais cedo apareceu como que por mágica num canto da sala quando as luzes se ascenderão. Eu sorri para ela. Ela não retribuiu com os lábios, mas o fez com os olhos. Pedi para que ela me trouxesse um copo d’água.

 Havia uma reprise da Colheita sendo exibida e eu apenas mirei a tela sem realmente assistir. Já estavam no final da Colheita do Distrito 11 quando liguei a televisão, e agora a tributo do 12 está subindo ao palco. Olho para a tela brilhando diante de mim onde estão anunciando a garota, Stellmaryah Dayes, e então sou atingida por aquele choque de percepção. Eu reconheço a semelhança absurda.

 O barulho dos estilhaços me faz desviar da tela. A Avox desequilibrou a bandeja com o jarro e o copo, produzindo um barulhento som de vidro se quebrando. Seu rosto pálido está vermelho como um tomate. Eu salto do sofá para ajudá-la, mas ela parece atordoada demais e empurra minhas mãos levemente quando tento estendê-las até os cacos. Ela os recolhe com tanta pressa que acaba se cortando. Aquilo não parece incomodá-la e sua aura parece mais nervosa a cada segundo. Fico olhando meio desconcertada para ela e depois espio a grande TV pela última vez enquanto ainda posso captar o rosto de Stellmaryah, agora ao lado do parceiro de Distrito. Pele branca, grandes olhos azuis, cabelos negros. 

 Me viro para a Avox. Ela já havia colocado todos os pedaços de vidro quebrado maiores na bandeja de prata. Percebo que está tremendo.

— Ei... Ei!  — Consigo segurar seu braço. A mulher parece a beira das lágrimas, com os olhos úmidos.  — Você está ferida.  — Seguro seu ombro gentilmente.  — Não vou dizer a ninguém — prometo eu. —  Não vou dizer a ninguém.

 Ela está me encarando corajosamente agora. As lágrimas finalmente começam a rolar de seus olhos e eu as enxugo com as costas dos dedos. 

— Ela é sua filha, não é?

 Seus olhos azuis continuam a me encarar. Ela não precisa assentir para que eu saiba que a resposta é sim. Eu começo a imaginar a história, os porquês, os talvezes. Começo a sentir a indignação crescer enquanto encaro de volta os olhos daquela pobre mulher muda, escrava da Capital, vendo sua pobre filha do 12 sendo trazida para esse destino cruel. Para um semelhante destino cruel. Sinto tanto por aquela mulher. Uma compaixão enorme. Depois de um tempo apenas abaixada ali, olhando para ela em silêncio, algo me atinge no peito e meu coração começa a martelar mais rápido. De fato, os olhos eram azuis e também parecidos. É como se eu estivesse olhando para minha própria mãe. 

 A Avox se levanta rapidamente, levando a bandeja, e desaparece num piscar de olhos. Ela percebeu a movimentação nas escadas que eu não havia percebido. Olho para trás e ali está Emmett, me olhando cheio de estranheza. 

— Kaylee...?! Tem algo errado?


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Notas finais do capítulo

Até a próxima!



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