Just Another Game - Jogos Vorazes escrita por Brooklyn Baby


Capítulo 19
O começo do fim


Notas iniciais do capítulo

Bom, para começar, mais uma vez venho me desculpar pelo recorde na demora para um novo capítulo. Mesmo assim, fico muito feliz pela minha própria determinação em continuar com essa história até o fim apesar de qualquer problema que eu venha a ter, o que me faz atrasar tanto às vezes.

No dia dez desse mês a fanfic completou um ano e isso me deixa muito contente. Sei que tenho leitores fiéis apesar da demora nas postagens e apesar de não comentarem. Espero que apareçam uma hora e agradeço imensamente por acompanharem até aqui. Não podia deixar de postar antes do fim do ano e desse mês, e cá estou.

O capítulo a seguir é como o título diz... O começo do fim, infelizmente. Boa leitura!



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 Eu não podia impedir a mim mesma.

 Era claro, óbvio que tudo aquilo poderia e devia ser uma armadilha da Capital. Afinal, eu e Emmett estivemos ótimos durante as últimas horas. Sem confrontos, sem ferimentos, abastecidos de suprimentos para durar muito mais tempo. Era bastante possível que meus pés estivessem me guiando para os braços da morte, um encontro letal com algum tipo de bestante ou de Trent e Amethyst. Todavia, não conseguia parar. Não conseguia frear a corrida nem com o som firme e alto dos gritos de Emmett chamando meu nome as minhas costas. Eu só não conseguia parar.

 Bastou ver o aerodeslizador no céu, há alguns metros de distância. Bastou ver a porta se abrindo, e o compartimento preso a uma corda que estava sendo despejado num ponto da Arena. Aquilo bastou para me fazer saltar e me levantar e correr, correr, correr até sentir os pulmões em brasa e não parar mesmo assim. Eu repeli a dor. Disse a mim mesma que não era minha, expulsei-a do meu corpo. Não me permitia pensar, nem sentir nada. Não ainda. Eu só precisava chegar até minha irmã. E rápido.

O aerodeslizador pairou por um tempo, mas agora havia desaparecido do céu. Estava sendo guiada pelos meus instintos.

 As árvores vão ficando mais escassas, até sumirem de vez. Estou pisando num bocado de grama seca e amarelada, entrando num enorme campo rodeado de rochedos pontiagudos. A curiosidade conduz meus olhos a analisarem brevemente o local, até que encontro as duas figuras. Saco a flecha e coloco no arco, puxando a corda enquanto volto a correr em direção à elas. Kriss é pequena e reconhecível. A outra pessoa é uma mulher mais velha. “Havia outro refém”, eu me lembro rapidamente. “Quem é?”

 Se pudesse pensar normalmente, estaria impressionada com minha frieza. Apesar do olhar ameno e gentil, ligeiramente assustado, eu estava pronta para atirar na mulher sem pensar duas vezes, ainda que Kriss estivesse bem ali. Eu não confiava nela. Nossos olhares se encontraram e a sensação que me percorreu foi como um mal presságio. “Atire. Atire. Atire!”

 De repente, tudo ficou ainda mais estranho. Abaixei a arma involuntariamente após ouvir os gritos.

— Kaylee, não! Por favor, não!

 Era Grace, do 08. Seu rosto estava vermelho, banhado por lágrimas. Ofegava desesperadamente. Provavelmente, correra tanto quanto eu. Sua expressão era coberta por uma emoção que me deixava intrigada, um tanto temerosa por não conseguir decifrá-la. Ela parecia estar com medo, todavia também parecia feliz. Seus passos diminuíram o ritmo brevemente, mas, quando a mulher abriu os braços na direção da menina, Grace se atirou neles. As duas choravam.

— Mãe!  — Grace proferiu entre soluços.

 Um vulto passou por mim tão rápido que me fez pular de susto. Era Emmett. Ele pegou Kriss no colo com rapidez e depois deu meia volta, vindo até onde eu estava. Das duas pessoas mais importantes para mim, meus olhos voltaram para a imagem da mãe e da filha, insistindo em decifrar algo que eu não entendia.

 Por que eu estava sentindo aquilo? Por que era tão estranho?

 Quando as duas cessaram o abraço e correram para longe, voltando na direção da floresta, eu avancei a passos largos até Emmett e Kriss. Guardei a flecha e pendurei o arco nas costas. Minha irmã estava em meus braços agora.

— Kay — Kristy murmura. 

 Meu olhar pesado corre por seu rosto, numa mistura de angustia e amor. Muito amor. Kriss era a pessoa mais valiosa que eu tinha na vida. Eu a abraço.

— Kriss…

 Fecho os olhos, descanso meu rosto em seus cabelos castanhos e macios. Por um segundo me esqueço que estamos na Arena. Olho para Emmett. Ele tem um sorriso doce, cheio de admiração. Eu já havia visto aquele sorriso antes. Era lindo. Por mais incrível que pudesse parecer, eu estava feliz. Foi breve. Logo tive medo. Apertei Kristy com mais força. Senti os soluços, o choro baixinho de minha irmã.

— Ei — Digo me afastando, afago seu rosto úmido. — Não chore, princesa. Eu estou aqui. Não está feliz em me ver? — Tento meu melhor sorriso, esperando que tivesse dado certo.

 Kriss assente e me devolve um sorriso pequeno.

— Sim. 

— Nada de ruim vai acontecer com você. Eu estou aqui. 

 Me abaixei junto com ela, ergui os olhos para Emmett. Ele sorriu de lado uma última vez, antes de colocar a expressão analítica no rosto e olhar ao redor.

 — Onde acha que estamos? — Pergunto a ele. 

— Não sei, mas parece exposto demais.

— Devemos voltar para a floresta.

 Emmett assentiu e então se abaixou para ficar da altura de Kriss e da minha também.

— Devemos. Daqui a pouco.

 Meu parceiro olha para minha irmã e recebe um olhar curioso de volta. Ela não está falando muito, nem perguntando, o que é estranho para Kristy, mas imagino como deve estar com medo. 

— Sou Emmett Ryver  — Ele estende a mão.

— Kristy Donner — Minha irmã também estende, e Emmett agita sua mão de um jeito divertido, arrancando-lhe uma risada breve e um sorriso meu. 

— Gostei de você.

— Também gostei de você — Kriss replica, timidamente. — Gosta da minha irmã? — Finalmente, um vislumbre da minha curiosa Kriss.

 Emmett faz que sim, e responde:

— Mais do que é seguro para o meu bem estar.

 Ele me olha, para garantir que eu soubesse que aquilo fora uma coisa boa.

— O que? — As sobrancelhas escuras de Kriss se contraem.

— Morreria por ela.

 Eu gelo. Encaro Emmett demoradamente, e seu olhar é o mais intenso possível, de Kristy para mim. Não queria ouvir falar sobre morte. Não naquele momento. Não enquanto Kriss estivesse ali. Por 24 horas, teria de mantê-la segura. 

 Vejo minha irmã abaixar-se mais e tocar a grama, como se analisasse o terreno. Sorrio. Definitivamente ela se parecia mais com minha mãe do que eu. A coragem e a serenidade, principalmente esta última, que eu nunca conseguia alcançar por completo. Ela tinha alguma noção de onde estava? Sei que sim. Lembro de suas palavras na despedida. Lembro e sinto vontade de chorar. 

“Eu sei pra onde você vai. Sei que vão te levar para os Jogos Vorazes. Ninguém nunca volta…”

 Uma lágrima desliza sob meu rosto seco. Limpo rapidamente com a manga da jaqueta. O braço de Emmett envolve meus ombros e ele me puxa para perto, um abraço desajeitado. 

 Imagino a estada de Kriss na Capital. Suas roupas, os coturnos, a jaqueta parecida com a minha… Ela tivera um tratamento de tributo? Teve treinamento, algum tipo de entrevista? Não sei. Me lembro vagamente da Capital agora. Como se a Arena tivesse engolido o mundo real. E ele desaparecia mais e mais a cada segundo. Nem conseguia pensar sobre meu pai. Minha mente se embolava numa confusão intensa que fazia minha cabeça doer com o absurdo de toda situação. Mas, afinal, eram Damien e Agnes Ripper. Eles queriam uma edição inesquecível. A melhor de todos os tempos.

 Ainda assim... Kriss só tem seis anos. Como permitiram que isso acontecesse?

 Minha irmã olha para mim e para Emmett, um punhado de grama seca nas mãos. Seu olhar é inocente e ao mesmo tempo profundo. Novamente, lembro da minha mãe. Seus pais, ou os avós que nunca conheci, esqueceram que tinham uma filha. Logo, nunca souberam de mim ou de Kristy. Pelo menos até o dia da minha Colheita. Provavelmente ainda se lembram do sobrenome do homem que lhes roubou a filha. E com essa informação, não é muito difícil reconhecer os traços que herdei de minha mãe. E ainda agora, com os olhos azuis de Kriss e sua pele pálida como porcelana, duvido que possa lhes restar alguma duvida. 

 Eles sempre planejaram o ingresso de minha mãe nos Jogos, até o dia de sua revolta. Agora, eles podem assistir á suas duas netas que sequer conheciam tomando seu lugar. Tenho certeza que minha mãe venceria. Não tenho tanta certeza, quanto a mim…

… Ainda mais agora, que teria de arriscar minha vida para manter a de Kriss intacta.

 Aquilo não importava de fato. Se mil vidas eu tivesse, mil vidas daria para manter a de Kristy. Eu a amava incondicionalmente e seria assim para sempre. Perto da perspectiva de sua perda, morrer era a menor das minhas preocupações nos Jogos Vorazes. 

 Abaixo a cabeça e imagino se era pelo menos um pouco daquilo que Emmett sentia por mim, em relação a me manter viva. Meus braços o envolvem e se fecham em volta de seu corpo. Seus músculos relaxam no mesmo instante. Era engraçado, o pensamento. Agora, nós dois havíamos ganhado uma pessoa em comum para defender. Acreditava que Emmett protegeria Kristy por mim. Não tinha dúvidas quanto a isso. 

 E, ainda que tivesse alguma sombra de dúvida, seria provada dali a poucas horas. Era como se eu soubesse que o perigo estivesse vindo. 

 Emmett havia decidido que havia algo a ser vasculhado naquele campo, e que voltaríamos para explorar o local depois de comermos e descansarmos. Quando nos estabelecemos, eu acariciei o cabelo de Kristy e a observei num sono profundo. Depois me virei para meu parceiro. Nós nos olhamos. Aquela troca de olhares particular que não precisava de palavras. Eu o abracei e chorei. Baixo no começo, mas meus soluços começaram a soarem altos quando senti sua mão deslizar por minhas costas levemente. Me lembrei da noite depois das entrevistas, no topo do prédio dos tributos, quando ele me beijou e eu o beijei. Enterrei minha cabeça em seu peito, tentando conter o som. Não queria acordar Kriss. Meu parceiro nada disse. Como poderia encontrar palavras? Ele sabia. Sabia tanto quanto eu sabia. Nosso tempo estava acabando.

— Cuide dela, Emmett  — Murmurei. — Escolha ela quando eles vierem atrás de mim. Me desculpe por isso. Só... Cuide dela, se eu não for capaz.

— Você é capaz, Kaylee. Você fará isso, pescadora. Durante muito tempo. 

 Ele segurou-me pelos ombros e me afastou. Olhou para mim, sério.

— Isso vai passar. Como tudo sempre passou e sempre passará. Menos aquilo — Senti um ligeiro aperto de seus dedos. — Aquele sentimento. Aquilo não se pode mudar, nem deixar para trás, uma vez que você sente... Nem quando morre. Segue com as pessoas que ficam. E continua...

— Eu jamais vou me esquecer daquilo — Olho para algo além de Emmett. Olho para tudo o que ele representa, tudo o que ele é. Uma parte considerável de mim. Alguém que despertou os meus sentidos para a vida, para o mundo. Que me fez sentir honrada por estar viva. Ainda que eu morra daqui há algumas horas, minutos, agora mesmo... Minha vida significava algo. Eu sorri em meio as lágrimas. Um sorriso largo, cheio de esperança e gratidão. — Obrigada por me mostrar aquilo, Emmett. Obrigada por me despertar.

— Você fez o mesmo comigo, pescadora.

 Quando ele se aproxima, fecho os olhos, pensando que o toque dos seus lábios será nos meus. Mas ele os pressiona em minha testa. Coloca a mão suavemente em minha nuca, e depois deita o rosto sob minha cabeça. 

 O brilho alaranjado do céu ia desaparecendo aos poucos. A névoa o invadia como na tarde anterior. Eu, Emmett e minha amada Kriss já havíamos rodado por boa parte do terreno. Haviam frestas muito minusculas pelas rochas. Algumas pareciam fáceis de serem escaladas. Quando Emmett olhou através de uma fenda, viu algo distante que se parecia com uma cabana no campo do outro lado. 

— Deveríamos escalar  — Emmett sugeriu.

— Amanhã, de tarde  — Falei, sinalizando levemente para Kriss pendurada em minhas costas.

 Emmett fez que sim.

— O que será que tem lá?

— Abrigo ou perigo.

 Eu ri. Neste ponto, Kriss quis andar sozinha e desprendeu os braços que antes se fechavam em torno do meu pescoço. 

— Kay, olha!

 Ela correu um pouco para algo adiante. Abaixou-se e colheu a flor. Sorri para a imagem. Era um dente de leão.

 Kristy tomou fôlego, estava prestes a assoprar... Quando dois novos tributos se fizeram visíveis ao saírem de um esconderijo entre as rochas. 

Saquei o arco e a flecha. Emmett, a espada. Tentei não me desesperar, não fazer nada estúpido. Ainda que meus dedos estivessem quase conscientes, quase incontroláveis no desejo de soltar a haste e acertar a cabeça de Amethyst com a flecha.

Porém, não podia arriscar, não podia ser tão burra. Suas mãos agarravam os ombros de Kristy. Podia ver as lanças prateadas detrás de seu ombro, o punhal preso a cintura. E, a seu lado, Trent possuía um machado.


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Notas finais do capítulo

E então? Me deixe saber se gostou. Até a próxima! s2



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