Just Another Game - Jogos Vorazes escrita por Brooklyn Baby


Capítulo 18
Kristy Donner


Notas iniciais do capítulo

Ufa! Meus queridos leitores, perdão, perdão por tanta demora. A fanfic faz um ano mês que vem, e eu mal posso acreditar que ainda não terminei. E faltam alguns capítulos pra lá de emocionantes pela frente, o que significa que eu terei de levar mais um tempinho trabalhando neles. Fiquei afastada da internet por um tempo, concentrada em outras coisas pessoais. Mas graças a Deus consegui terminar esse capítulo aqui e espero que vocês gostem.
Atentem-se aos detalhes ;)
Boa leitura!



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 Antes que Emmett me pegasse nos braços, eu o observei se despedir da garota do 03. Ele a abraçou, o que pareceu totalmente fora de lugar junto a todo o resto do cenário. Porém, mais estranho do que a cena, era a sensação de que era como deveria ser.

 Olhei triste para Arla. Balbuciei um “Boa sorte”. Ela me devolveu um aceno de cabeça e desapareceu correndo entre os troncos. Uma onda de tristeza me atingiu. Como se soubesse que ela não duraria muito mais tempo sozinha. Diferente da sensação de já entender que ela precisava morrer para que eu vivesse. Era uma tristeza genuína por saber que era a última vez que a veria com vida. Era muito perturbador, ter a certeza de que alguém morreria.

— Não deveria ter deixado você sair da floresta  — Emmett repreendeu a si mesmo. — Você ficou perto demais, pescadora. Olha só pra você...

 Não entendia o que ele queria dizer. Apenas sentia meu mundo inteiro girar e meu coração pulsar mais lento do que deveria. Os sons ainda me eram estranhos. Demorei até estar no meio da floresta para perceber que meu movimento era obra de Emmett que me carregava no colo. Olhava por cima de seu ombro, A luz da explosão estava distante o suficiente. Paramos.

— Consegue ficar de pé?

 Olhei para Emmett. Pisquei os olhos demoradamente, apertando as pálpebras. Seu rosto estava a centímetros do meu. Nossos narizes quase se tocavam. Ele ofegava baixo. A luz da lua era suficiente para refletir um brilho sutil em seus olhos. “Como ele é lindo”, pensei. Como eu queria beijá-lo de novo. Posso fazer isso? Estamos debaixo da Árvore Forca? São Onze e cinquenta e cinco da noite? Podemos voltar ao passado? Para a Colheita.

 Eu lutaria, mataria, sobreviveria. Teria outro parceiro de Distrito. Não me importaria demais com ele. Voltaria para o 04. E Emmett estaria lá quando isso acontecesse. Nós viveríamos a vida que merecíamos viver. Nós descobriríamos o que era aquilo, aquele sentimento intenso que nos envolvia. Nós viveríamos. Apenas viveríamos para descobrir.

— Não me deixe  — Falei num sussurro arrastado, quase inaudível.

 Emmett parecia compreender. Enquanto eu o encarava em silencio, ele me fitava de volta. Seu olhar era terno, compreensivo. Como se pudesse ler cada um dos meus pensamentos. Enxergar cada imagem dos meus sonhos, os que ele estava presente. Que jamais aconteceriam. 

 Ele sorriu. Tão confiante. Franziu o cenho enquanto balançava sutilmente a cabeça em negação. 

— Não vai acontecer.

 Tão confiante... E aquele olhar. Como se ninguém soubesse de nada, exceto nós. Sorri de volta. “Nós vamos sobreviver. Nós dois vamos.”

 Fiz que sim. Ele me segurou delicadamente pela cintura e suas mãos me sustentaram até conseguir manter os pés firmes no chão. 

— É um bom lugar para ficar.

 Meu parceiro tirou a mochila das costas, puxando a minha também. Começou a tirar as mantas térmicas e sacos de dormir.

 Olhei em volta. A floresta era silenciosa, até demais. Dava para escutar o zumbido das câmeras se movendo. Haveria alguém mais ali? Deveria estar com um pouco de medo, ao menos, mas não estava. Olhei para o topo das árvores. Sentia-me protegida. O ar puro da floresta era tranquilizador. Minha cabeça não girava mais.

— Kaylee?

 Tornei minha atenção para Emmett.

— Está com fome?

 Balancei a cabeça para os lados.

— Sede?

 Neguei outra vez.

— Frio?

 Concordei, por fim.

 Percebi que ele havia preparado apenas um espaço para deitarmos. Minha tranquilidade triplicou. Me ajeitei ao lado dele, deitando a cabeça em seu ombro, envolvendo seu corpo com um dos braços. Emmett puxou a manta térmica. Mas era o calor de seu corpo o que mais me aquecia de fato. Eu tinha sorte por tê-lo comigo.

***

 Passamos os dois dias seguintes seguros na floresta, rumando aos poucos na direção do rochedo e acampando ao fim das tardes. A floresta não era exatamente um lugar confiável para ambos os tributos do 04, como era de se esperar, e eu havia dito a Emmett que não havia pressa. A água havia durado até então. O canhão soara três vezes. Duas no dia anterior, e uma nesta manhã. 

 Ontem, quando o hino da Capital soou, a garota do 05 e o garoto do 07 apareceram. Mas suas imagens não estavam acompanhadas de nenhum outro tributo brilhante. Eu e Emmett chegamos a conclusão de que suas mortes se deviam a alguma obra da Capital. Desde bestantes, doenças ou envenenamentos... Tudo era possível. 

 Teríamos de esperar até o fim daquele dia para descobrir o dono do novo canhão. Era difícil descobrir se a noite estava próxima. O céu estava nublado de maneira intensa, nenhum sinal de onde o sol poderia estar. Eu e meu parceiro nos sentamos um pouco escondidos próximos a um arbusto alto. Achava estranho não termos encontrado nenhum outro tributo pelo caminho, apesar de ser uma coisa boa. Trent e Amethyst eram quem mais me preocupavam, mas, como Emmett já havia dito, não deveríamos subestimar as outras possíveis alianças. De qualquer forma, cedo ou tarde, um novo confronto chegaria. Afinal, o entretenimento era valioso.

 Fosse impressão minha ou não, sempre parecia que eu e Emmett éramos importantes. Como se fossemos os protagonistas do programa. Não sei se aquilo acontecia com todos ou era algo muito necessário. Mas os ruídos de câmeras quase imperceptíveis sempre estavam ali, acompanhando nossa caminhada e nossas conversas baixas sobre nossa situação atual ou qualquer assunto aleatório. É claro que nenhum de nós podia falar abertamente sobre tudo - tínhamos segredos dos quais a Capital não se agradaria nem um pouco -, porém, mantínhamos uma boa distração do perigo a nossa volta.

 Lembrávamos do prédio dos tributos, da cobertura e do jardim. Até fazíamos piada sobre Sienna e Violet, nossas equipes de transformação. Falávamos sobre casa. Emmett me fazia perguntas sobre minha cor favorita, o que eu mais gostava de comer, o quão a vontade eu me sentia na praia. Ele havia se convencido de que meu habitat era o mar. Então me inventou outro apelido. 

— Peixinho, estamos perto. Podemos descansar um pouco e continuar durante uma parte da noite, com os óculos. O que acha?

 Minhas pernas cederam a tentação da oferta. Sentei-me numa rocha ao lado da que Emmett já havia se acomodado. Ambos olhando para o mesmo objetivo. Em torno do topo do rochedo, uma intensa neblina se espalhava por cima das árvores, e em regiões distintas da floresta.

— Preciso de água.

 Tateei o cantil ao lado da mochila de Emmett que, por sua vez, soltou um suspiro de frustração.

— Precisamos chegar lá.

 Apenas respirei fundo e deitei a cabeça no ombro do meu parceiro. Fechei os olhos. Até ser despertada novamente por um farfalhar de folhas. Emmett permanecia imóvel. Ergui os olhos rapidamente para seu rosto, para checar se também estava olhando na mesma direção que eu. 

 Um pássaro de penas negras havia pousado no arbusto, muito próximo a nós. Ele tinha um ar imponente, apesar de tão pequeno e aparentemente frágil. Era um pouco engraçado. Não fazia ideia de que espécie era, não quis perguntar a Emmett, pois tinha medo que minha voz o assustasse. De repente, algum outro pássaro voou por cima das árvores, emitindo seu canto. O animalzinho inclinou a cabeça, os olhos voltados para a direção onde seu amigo pairou. Então, inflando o peito repentinamente, emitiu um som idêntico ao do outro. O canto se reproduziu por outros locais na floresta, revelando que ele não estava sozinho. Depois de alguns minutos e sessada a cantoria, voou. 

— Viu que curioso?  — Me afastei para olhar Emmett.  — Ele imitou o canto do outro.

— É o que os tordos fazem — Emmett sorriu.

— Tordo?

 Fez quem sim.

— Nunca havia visto um, mas já ouvi falar. 

 Voltei a recostar a cabeça no ombro de Emmett, com um sorriso ameno. Afinal, nem tudo era falso naquela Arena. Nem todos os animais serviam para nos matar. Aquele tordo era um tipo de inspiração. O modo como emanava confiança mesmo sem parecer ter direito de tê-la. Como tinha um canto bonito, despreocupado e calmo, num vale de morte como aquele. 

 Quando meus olhos se abriram novamente, estávamos imersos na escuridão. As nuvens davam brecha para uma fraca luz de lua. Os óculos de visão noturna ofereciam mais confiança. 

 Então, mais rápido do que eu poderia esperar, paramos há alguns passos da grande parede de pedra.

 Ouvimos um barulho de água corrente e cochichamos sobre empolgados. Levamos um tempo a espreita nos arbustos. Quando tivemos certeza de que não havia mais ninguém por perto, nos aproximamos da enorme rocha.

 A largura era extensa e circular. A água corrente brotava de algum lugar entre as rochas menores e fendas da parede. Ambos sacamos nossos cantis vazios e nos pusemos a enche-los. O processo era lento, mas não importava nem um pouco. O brilho da água limpa sob a luz do luar me fez engolir, literalmente em seco. O cantil estava pela metade quando me cansei de esperar e levei a água até os lábios. Bebi tudo num gole só. Pelo canto dos olhos, percebi Emmett me imitar. Em seguida, voltei a missão de reabastecimento.

— Conseguimos — Falei num sussurro alto.

Emmett se restringiu a um aceno de cabeça.

 Passeamos pelos arredores, cautelosamente. Percebi com curiosidade uma pequena entrada onde a água que brotava das pedras era direcionada. Extremamente escondida, posicionada diante de uma descida íngreme. Para quem olhasse sem atenção, parecia apenas uma pequena poça d'água. No entanto, com o auxílio dos óculos de visão noturna, notei profundidade. Talvez fosse a entrada para algum tipo de gruta.

 Quase demos a volta no rochedo, mas Emmett se deteve e eu também, ao escutarmos as vozes dos outros tributos que ali estavam. Uma voz feminina e outra masculina. A voz da garota me parecia familiar. Não dava para ouvir perfeitamente sobre o que falavam, era muito baixo. 

 Emmett, que estava na minha frente, virou-se para me olhar e eu o olhei nos olhos de volta. A pergunta muda estava implícita ali. Deveríamos atacar?

 Balancei levemente a cabeça para os lados, mesmo sabendo que se tivéssemos uma boa chance era melhor atacar. Talvez me arrependesse daquilo mais tarde, só que agora tudo me era motivo de desconfiança e eu só queria me afastar dali. Já havíamos cumprido o propósito de encher os cantis. O ataque poderia ser adiado até a manhã seguinte.

 Emmett e eu andamos um pouco para longe novamente, em busca do lugar propício para o acampamento. Apesar de ser uma clareira, algumas árvores mais próximas e arbustos altos nos protegiam da exposição. Emmett decidiu pegar o primeiro turno da vigia. Eu me encolhi a seu lado, agarrada a manta térmica. Dei um sorriso pequena ao observar as flores de Arla a centímetros do meu rosto, espalhadas entre as folhas do arbusto. As flores roxas que ela havia usado para adornar o coque do cabelo. Apesar de estarem fechadas durante a noite, dava para saber que eram as mesmas.

 Quando o hino da Capital tocou, uma pedra de gelo se formou em meu estômago. Era quase um presságio. Meus olhos se desviaram para o céu acima de nós, onde a imagem de Arla em seu tom azul escuro e sem vida se desenhou. A seu lado, Amethyst com seus cabelos loiros e olhos felinos brilhava. Emmett não disse nada. Sua expressão era ilegível no escuro. Ainda assim, podia sentir sua tristeza. Engoli em seco e esperei o hino acabar. Já havia desviado meu olhar da imagem. Ainda pensava sobre a perda quando o cansaço me venceu. Adormeci.

***

— Kaylee?!  — Era um sussurro, porém, seu tom era de urgência.

 Puxei o arco e o agarrei entre os dedos no mesmo instante. Emmett já estava de pé. Os olhos voltados para a região do rochedo. Enquanto minhas mãos apoiavam-se na grama para tomar impulso, franzi o cenho ao perceber que a grama já não era mais apenas verde. Também havia branco. Quando segui a direção do olhar de Emmett, me senti a um passo do estado de choque completo. O pico do rochedo brilhava, queimava, explodia. As faíscas de fogo se espalhavam pelo ar, queimando no vento. Quando chegavam até nós, já estavam a ponto de se apagar. Então, o que restava, eram aquelas cinzas que aos poucos preenchiam o chão da clareira.

— Não inale!  — Emmett alertou, colocando uma das mãos em concha sob o nariz. Eu o imitei.  — Pode ser venenoso. Vamos! Vamos correr para longe daqui!

 Aquilo não precisava ser repetido. Joguei a mochila nas costas e, a toda velocidade, rumando para qualquer lugar desconhecido. Emmett vinha logo atrás, a espada em punho como se me guardasse. 

 Olhei por cima do ombro, a visão era surreal. Havia lava. Lava se derramando pelo local onde antes fora a única fonte de água potável de toda Arena. Lava.

 Despenquei na grama assim que senti as juntas das pernas arderem. 

— Kaylee?!

— Eu estou bem  — Falei com meu resto de fôlego.  — Estamos longe?

— Sim. Estamos. Mas ainda dá pra ver daqui. 

— Isso é muito louco.

— É.

 Fechei os olhos. Conseguia ouvir Emmett ofegar.

— Não existe mais água  — Murmurei.

— Talvez.

 Virei-me de barriga para cima, tirei os cabelos do rosto. Emmett se sentou ao meu lado. Ambos tentamos nos recompor e, quando finalmente aconteceu, era minha vez de fazer a vigia. Não houvera canhão nenhum. Talvez existisse pessoas feridas, mas, até ali, nenhum morto. Aquilo me fazia acreditar que o único propósito real fora realmente destruir o local onde havia-se esperança de obter água. Eles já estavam começando a cortar os recursos. 

 Hipnotizada pelas chamas e explosões ao longe, mal percebi o tempo passando. Emmett acordou para sua segunda vigia. Deitei na grama e voltei a cair no sono em segundos. Era o fim da madrugada.

 Pela manhã, uma voz que parecia envolver toda a Arena me despertou. Me sentei rapidamente, olhando ao redor. O auto falante parecia estar posicionado no céu. 

— Atenção! Atenção, tributos!

 Olhei brevemente para Emmett. Ele parecia tão confuso quanto eu. Voltei a olhar para cima.

— Serão colocados dois… reféns na arena, respectivos a dois tributos — Continuou a voz. —  Esses reféns, ficaram 24 horas na Arena. Após o respectivo período, se sobreviverem, serão retirados sem nenhum problema. Os dois sorteados são Tracie Stanner, respectiva a Grace Stanner, e Kristy Donner, respectiva a Kaylee Donner. Ambas são tributos agora. Que a sorte esteja sempre a seu favor.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima ! s2



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