Just Another Game - Jogos Vorazes escrita por Brooklyn Baby


Capítulo 14
Parte 2 / Come Away Little Lamb - A Cornucópia


Notas iniciais do capítulo

Só quero me desculpar mais uma vez pelo atraso. De verdade, sinto muito.
Esse capítulo inicia a fase 2, os Jogos, e é bem emocionante!
Espero que gostem ♥ Boa leitura!



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 Estendo o braço para a mulher, que injeta o rastreador. Minha respiração está curta, e cada martelar do meu coração parece ser o último. Estou com muito medo. Um medo congelante e sem controle.

 Depois do desembarque do aerodelizador, sou levada para a sala onde Rose me espera. Estou tremendo visivelmente e, por seus olhos castanhos, Rose também transmitia certo nervosismo com o qual resistia em silêncio. Parecia haver algo além, uma tensão maior a envolvendo. Aquilo tornava tudo ainda mais apavorante.

 A estilista terminou de me preparar. Fez duas tranças que caiam ao lado de meus ombros, e pôs a presilha de concha do lado esquerdo, prendendo parte da minha franja delicadamente. 

— Rose… — Dei um murmuro desesperado e esganiçado, encarando-a diante de mim.

 A mulher não disse nada. O pavor estava estampado, não só em meus olhos e em minhas feições, mas também em cada um de meus músculos. Eu era incapaz de mover qualquer coisa que não fossem as íris dos olhos. De um lado para o outro, varrendo o rosto da mulher. Buscando qualquer tipo de consolo.

— É uma presilha muito bonita — Rose disse, por fim, com os olhos admirados sob o objeto. 

— É a favorita dela.

— Como é mesmo o nome dela?

— Kristy. Ela é linda.

— Aposto que sim — Rose sorri.

 Finalizado o trabalho, minha estilista recuou alguns passos para contemplar o resultado. Baixei a cabeça, reprimindo a vontade de explodir num choro ridículo. Ao meu lado, o lugar aonde desapareceria dali a pouco tempo. Talvez, para sempre. Provavelmente para sempre. 

 Penso em Emmett.

 Ele deve estar em uma daquelas salas. Talvez a dois ou três tributos de distância. Molho os lábios com a língua, tentando resgatar qualquer vestígio da noite anterior. Agora, embalada por aquele temor escravizante, parecia não significar muita coisa. Não acho que tenha sido romântico. Talvez fosse apenas aquele ato de rebeldia, de busca por um meio de liberdade. Não quero acreditar que o que aconteceu foi algo romântico. Porque se foi... Seria mais trágico ainda. 

 Queria ser capaz de salvar a nós dois.

 O aviso para que os tributos estejam em posições é dado. Rose se aproxima repentinamente e me da um abraço terno e reconfortante. Não hesito em abraçá-la de volta, na mesma hora. 

— Você é forte — diz.

 Balanço a cabeça, fazendo que sim. Ela me guia vagarosamente até o tubo de vidro. 

— Você é mais forte que o seu medo — Rose profere, como despedida.

 Faltam dez segundos, quando o vidro se fecha. Sinto-me claustrofóbica e nauseada. Rose continua com os olhos fixos em mim. A base começa a se mover… 

 Sessenta segundos. A base se firma. Meus olhos capturam a luz, desnorteados. Vejo árvores ao meu redor, grama diante de mim. Abaixo os olhos para meus coturnos. 

 Cinquenta segundos. Firmo os pés na plataforma. Vinte e três outros tributos ao meu redor. Me dou conta, e aceito. Estou na Arena. É isso. 

 Quarenta segundos. O primeiro rosto familiar que capturo é o de Stellmaryah, a garota do Distrito 12. Determinada, olhando para frente. Minha parceira e aliada. O casal de Carreiristas do 02, a menina do 03 num pedestal vizinho. 

 Trinta segundos. A pequena Judy olhava fixamente para a Cornucópia. Mais um bolo de rostos irreconhecíveis se fundindo no maremoto que era a minha mente, até que finalmente, meus olhos encontram Emmett. Ele estava esperando pelo meu olhar, e assente rapidamente quando o encontro acontece. Uma onda nova de adrenalina invade meu corpo. Algo como determinação.

 Vinte segundos. Olho para frente, no que parece ser a primeira vez. A estrutura dourada brilha contra a luz do sol, e há diversos suprimentos em sua boca. Convidando-nos para o banho de sangue. Vejo o arco e em seguida a aljava de flechas. Sei que é a única coisa que me interessa. 

 Dez segundos. Quero correr o quanto antes até o arco, mas sei que se pisar no chão um segundo antes do relógio zerar, eles vão me explodir. Para muitos dos presentes ao meu redor, aquela poderia ser uma melhor opção. Uma morte rápida, melhor do que as mortes terríveis e dolorosas que viriam á acontecer em menos de dez segundos. Talvez, eu esteja entre os tributos assassinados de modo cruel e doloroso no futuro… Mas agora, se tiver de morrer, irei morrer lutando. Por meu pai, por Matt, por Kriss, por Stellmaryah, por Emmett. 

 Nunca se tratou apenas de mim.

Meus pés mergulham com a maior das velocidades na grama da Arena, e a explosão de adrenalina me dá o gás para ser um dentre os primeiros tributos a frente na corrida. Estou satisfeita ao ver Stellmaryah à minha frente. Seu cabelo negro e comprido se agitando contra o vento, preso num rabo de cavalo. 

 Estava quase perto do arco e a aljava. Quase me desespero ao tropeçar em algo. Era uma mochila, cujo a alça ficou presa a meu pé. Eu a peguei e botei nas costas. Sem perder mais tempo, agarrei o arco de aço e joguei a aljava nos ombros, por cima da mochila verde. 

 Não vejo Maryah, mas vejo Emmett. A poucos metros de mim. Ele estava numa luta corporal com um garoto alto e magricela, mas parecia já tê-lo dominado. Meus olhos se arregalam quando num movimento rápido e feroz, meu parceiro torce o pescoço do tributo, soltando-o em seguida. O corpo sem vida despencou no chão. Precisei ignorar o choque e seguir com o plano. Corri para a lateral da Cornucópia e arfei de susto quando me virei e me choquei contra meu parceiro, que havia corrido atrás de mim. 

 Antes que Emmett pudesse ao menos se preparar para me ajudar, porém, o brilho prateado de uma faca de arremesso correu pelo canto dos meus olhos, e eu consegui ouvi-la zunindo para longe de mim. Todavia, havia acertado o rosto do meu parceiro, mesmo que de raspão. O sangue já escorria por metade de seu rosto. Virei-me e me deparei com Ernessa e seu olhar furioso e assassino. Maryah apareceu como um vulto, logo atrás, jogando o peso do corpo em cima da ruiva. 

— VAI!

 O grito de Emmett me acordou. Ele tinha as mãos unidas, prontas para me impulsionar. Pisei ali e me agarrei ao metal da Cornucópia. Logo estava no topo da mesma. Me arrastei por ali, até conseguir equilíbrio para me colocar de pé. Tirei a primeira flecha e a engatando no arco.

 Por cima da entrada da Cornucópia, tenho uma visão extensa de quase todos os tributos. Alguns deles estão desaparecendo na intensa floresta, e outros – Consigo enxergar a dupla unida do 01 – continuavam no banho de sangue, atrás de mais vitimas. 

 Vejo Judy novamente, tentando freneticamente arrancar um punhal de um mostruário. Outra tributo, com um machado em mãos, já começava a se aproximar por trás dela. A menininha se vira, assustada. Reconheço a bela garota do Distrito 6, de nome Lydia. Engato uma flecha e, precisamente, disparo no pescoço da garota mais velha. A flecha acerta em cheio, e ela cai de joelhos no chão, dando a chance de escapatória á Judy. Lydia, no entanto, continuava a se arrastar pela grama. Ela leva a mão trêmula até a flecha, arrancando-a e fazendo um esguicho de sangue sair da ferida. Engulo em seco. Decido que preciso acabar com aquilo. Seu destino seria entre morrer com hemorragia ou pelas mãos de outro tributo, já que não conseguia sequer se por de pé para fugir. Coloco mais uma flecha no arco e sinto que toda precisão é pouca. O vento havia se intensificado de repente. Disparo a flecha rapidamente na primeira brecha que encontro na hesitação do vento. Acerto a cabeça da garota. É o fim para ela. E agora sou uma assassina.

 Percebo Garnet numa luta de espadas com Emmett, enquanto Amethyst tem problemas com Max, do 10, e Trent parte estupidamente numa perseguição floresta adentro. Preciso abater pelo menos um deles e decido que será Garnet. Minha mira está quase precisa, quando percebo o som de passos pesados e me jogo para o lado no momento exato em que um machado fora arremessado em direção a minhas costas.

 Tonta, vejo a bolsa de flechas esmigalhada ao meu redor sob a estrutura de metal. Mal tenho tempo de reconhecer meu agressor. Ao vislumbrar o machado erguido para me atingir pela segunda vez, jogo meu arco para frente e as duas armas colidem. Minha força é mínima diante da força do outro tributo, e logo estou com o arco rente ao meu pescoço, sufocando-me. A lâmina de seu machado a centímetros do meu rosto. Resisto com todas as forças que tenho dentro de mim, os punhos agarrados ao metal que me sufocava, empurrando para frente sem dar chance ao cansaço que já fazia os músculos dos meus braços arderem. 

 O garoto se cansa do jogo, deixe o machado de lado. Agora, seus dedos ásperos e pesados estão envolvendo meu pescoço. Abro a boca, desesperada, sentindo os pulmões queimarem sem ar. Ergo os olhos para o rosto do meu futuro assassino. Só então o reconheço. É Luke, o outro tributo do 12. 

 Sempre ofuscado por Stellmaryah, descontente com a situação. Me lembro de um comentário feito por minha aliada. Ele era rude, não queria saber de alianças. Não confiava em ninguém além de si mesmo. Era brutal e não hesitaria um segundo em acabar comigo. Com as próprias mãos. 

 Ele usa toda força de seu corpo duas vezes maior que o meu para erguer-me pelo pescoço e bater minha cabeça contra o metal da Cornucópia. A dor é imensa. Sinto-me mais indefesa do que nunca e a única coisa que me vem à cabeça é usar o arco que ainda estava preso firmemente entre meus dedos. Dou um golpe forte e violento com o objeto em sua testa. Funciona. O tributo do 12 não esperava por aquilo. Seus dedos afrouxam e ele larga meu pescoço para levar a mão até a testa. Estou desesperada por uma flecha. 

 Rolo para o lado. Vejo uma, inteira. Meus dedos estão quase sobre ela quando sinto Luke me agarrar pelas pernas. Sou arrastada para o combate uma vez mais. 

É o fim.

 O garoto do 12 estava com o machado em mãos uma vez mais e meus olhos estavam fixos na arma, esperando pelo golpe fatal. 

 Kriss. Só consigo pensar em Kriss. 

Apenas um milagre salvaria minha vida agora. 

E o milagre chega…

 Luke me da um chute nas costelas e se afasta. Dou um grunhido, a dor do golpe se espalhando pelo meu corpo. Ouço o barulho do machado cortando o ar, uma lâmina se chocando contra a outra. Com os olhos entreabertos, vejo Stellmaryah. Luke a ataca furiosamente, mas minha aliada neutraliza todos os golpes com facilidade. Eles caminham cada vez mais para perto do abismo, a borda da entrada da Cornucópia. Percebo que é o plano de Luke: Ele quer deixar Maryah sem saída. 

 Mesmo com toda dor, volto a agarrar o arco e a flecha boa que estava próxima a mim. A corda do arco faz barulho e Luke consegue desviar. Ainda assim, é o suficiente. Nas frações de segundo que se seguiram enquanto sua atenção era voltada para o meu ataque, Maryah consegue encontrar uma brecha, faz um corte na perna de seu parceiro que range os dentes. 

 Ainda que Maryah fosse rápida e ágil, o machado de Luke era mais eficaz que sua espada. Mesmo mancando, obstinado, o garoto permanece avançando, com a arma apoiada no ombro, acuando Maryah que, lentamente, se encaminhava mais e mais para a queda. Eu tateio o chão. Encontro outra flecha boa. Me levanto e estou prestes a engatilhar a flecha, quando algo me paralisa. 

 Luke estava com o machado no ar, mas hesitou com igual surpresa. Maryah havia se virado na direção oposta, onde agora uma lança arremessada lá de baixo havia perfurado sua barriga. Deu alguns passos para trás, com o corpo colado ao de seu parceiro que parecia atordoado demais para fazer qualquer coisa. Tudo foi muito rápido. Gritei que não, quando a vi segurar o cabo da lança. Num movimento brilhante, mas letal, a garota do 12 forçou o resto da arma por dentro de sua carne, perfurando e a atravessando. Atingindo também Luke, próximo o bastante. Ferido e meio tonto, ele recuou alguns passos. 

 Stellmaryah ajoelhou ali, tateou o chão a sua direita em busca de algo. Era sua espada. Ela a jogou para trás, fazendo-a deslizar até meus pés. Em seguida, seu corpo se inclina para frente, e a garota do 12 despenca Cornucópia abaixo.

 Acordo do choque, olho para Luke. Ele tem uma das mãos sob a barriga, seus olhos estão sob o ferimento sangrento que a lança de Maryah provocara. Peguei a espada e tão rápido quanto pude, fiz um corte em seu braço. Seus olhos se arregalaram por um instante, parecendo se lembrar da minha presença ali. Tentou um golpe desengonçado com o machado em minha direção, ao qual eu consegui me desviar com facilidade. Cortei-o na outra perna. Ele ajoelhou e depois caiu pesado no chão. 

 Agora o corpulento tributo parecia mais frágil do que eu, mas continuo cautelosa, pois ele tenta, de todas as formas, lançar o machado em minhas pernas. Todas as suas tentativas são frustradas, de modo que, quando ele finalmente se cansa e seus movimentos ficam mais vagarosos, me aproximo o suficiente, erguendo o gládio e perfurando seu pescoço. Ele da um último doloroso suspiro. O sangue jorra de seu ferimento. 

 Luke me queria morta. Não teria um pingo de piedade ao enfiar seu machado em mim. Porém, ainda não me sinto justificada. 

 Com o gládio ensanguentado nas mãos, avanço um pouco para visualizar a frente da Cornucópia.

O garoto do 01 estava acabado. Próximo á ele, Maryah. Sinto o frio desespero tomando meu corpo, ao perceber a poça de sangue debaixo de seu corpo, e a inércia de sua figura. No fundo, ainda tinha a esperança de que ela pudesse ser salva.

 Meu olhar encontra Emmett, salvando-me do desespero total. Está ferido, mas vivo. Ele parece cansado, mas resiste aos golpes de Amethyst que tem uma lança. 

 Trent estava voltando da floresta, com um machado ensanguentado em mãos. Imediatamente larguei o gládio, voltando para o arco e para a outra flecha não tão danificada que tinha encontrado. Voltei para a boca da Cornucópia e mirei Amethyst. Não fosse um golpe de Emmett que a afastara bruscamente, eu teria pelo menos lhe acertado superficialmente. 

 Os olhos azuis da garota do 01 me captaram e ela logo desistiu da briga, fugindo na direção onde Trent estava. Suspirei aliviada por ter funcionado. Eles achavam que eu tinha mais flechas. Levei as mãos até as costas, sustentado a farsa. Trent me deu uma olhada rápida, porém, logo puxou Amethyst pelo braço e os dois sumiram entre as árvores.

 Durante mais alguns instantes de pé ali no topo, observo todos os corpos espalhados ao redor do local. Eu e Emmett somos os únicos com vida. Olho para meu parceiro mais uma vez, percebendo que ele havia se ajoelhado na grama. Apresso-me na direção da lateral da Cornucópia, por onde deslizo. 

 Pousei no chão da Arena novamente.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima! s2



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