Anjo das Trevas escrita por Elvish Song


Capítulo 37
Casamento


Notas iniciais do capítulo

Olá! Finalmente venho aqui com o casamento de Erik e Annie. Tomara que gostem!



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Erik estava prestes a ter um infarto: seu coração batia tão rápido e com tanta força, que ele podia sentir a pulsação nos ouvidos. Suas mãos estavam frias e suadas, e ele tinha certeza de que, se falasse, acabaria gaguejando. Renard, que era o padrinho de Annika, parecia estar se divertindo com a situação, até que Padre Destler – que oficiaria a cerimônia – se aproximou e falou para o filho adotivo:

— Acalme-se, garoto, ou vai morrer do coração antes mesmo de ver sua noiva.

Praticamente petrificado, o Fantasma apenas anuiu e tentou respirar fundo, pensar em algo, focar a mente... Mas dezenas de músicas pareciam ecoar em sua cabeça ao mesmo tempo, cada uma mais alta e acelerada do que a outra, enquanto a ansiedade e a expectativa aumentavam. Levemente trêmulo, ele olhou em volta: a cerimônia se daria no jardim do sobrado onde ele e sua futura esposa moravam, quando não estavam na Ópera Garnier. Ali, juntavam-se os poucos convidados que, além dos Garotos do Beco e de padre Destler, resumiam-se a quatro amigos de Annie e Gabi, além de Isabelle e seu filho, Demian. Apenas pessoas mais próximas, que conheciam o Fantasma e manteriam segredo. Madame Giry e Meg ainda não haviam se juntado aos demais, pois só entrariam com Annie.

O jardim estava deslumbrante: era final de tarde, naquele momento entre o entardecer e o anoitecer quando o céu tinge-se de lavanda e rosa, e os contornos das coisas começam a se tornar indistintos. Lanternas de vidro com velas estavam penduras nas árvores e arbustos, e globos de vidro com pequenas velinhas em seu interior marcavam o caminho até o altar de casamento. As rosas e os arcos de trepadeiras floridas plantadas por Annika e Gabrielle explodiam de vida e cor naquele verão, tornando desnecessários outros adornos florais. Brincos-de-princesa e jasmins pendiam sobre o caminho que a noiva faria, brilhando à luz das velas. Tudo tão belo, que parecia mais um conto de fadas, fazendo o Fantasma imaginar se não estaria sonhando.

E foi então que Madame Giry apareceu à porta do jardim, fazendo um sinal discreto para Isabelle e Armand – o maestro que treinava Annika e Gabi, no teatro, e que se tornara grande amigo de ambas. A mulher tomou seu violino, e o homem, sua flauta, fazendo uma doce melodia preencher o lugar; todos já ocupavam seus lugares quando, enfim, ela surgiu...

Acompanhada por Madame Giry, Annika estava tão bela que Erik sentiu seu peito apertar e o fôlego lhe faltar: seu longo vestido era de renda negra, arrastando-se pelo chão; o corpete justo marcava as belas formas, e o decote desenhado deixava os ombros à mostra, e a saia sem armação parecia fluir ao redor do corpo da jovem, a cada passo que ela dava. Seus longos cabelos cor de trigo pareciam quase brancos à luz do luar, cascateando pelos ombros, adornados por uma tiara de estrelas prateadas. Brincos de estrelas emolduravam seu rosto angelical e, quando ela chegou mais perto, foi possível ver que o cintilar do vestido devia-se a minúsculos pontos prateados presos à renda, como se a própria noite houvesse emprestado seu manto à jovem que se aproximava do altar com um maravilhoso sorriso no rosto. A rainha da noite...

Annika também se surpreendeu com Erik: nunca o vira usar cores claras, e agora seu terno era de um cinza claro, quase branco! Uma rosa vermelha estava presa à sua lapela, e o sorriso que havia em seu rosto... Ela raramente o via sorrir daquele modo! A felicidade compartilhada por ambos espalhava-se e contagiava também os convidados. Erik olhava para sua noiva, completamente fascinado, e ela retribuía o olhar, fazendo parecer que faíscas explodiriam a qualquer segundo entre ambos!

Emocionado a ponto de precisar reter as lágrimas, o Anjo da Música observava os menores movimentos de sua musa: via toda a própria vida passar em sua mente como uma peça, e percebia agora que cada simples momento, desde seu apadrinhamento por padre Erik até a partida de Christine, passando pela fuga com os ciganos, as arenas persas... Absolutamente tudo o havia conduzido exatamente àquele lugar, àquele momento. Se todo homem tem um destino, então Annika era o seu. E, pela primeira vez na vida, ele não quis mudar qualquer coisa de seu passado, pois fora o que o levara aos braços daquela deusa da noite que caminhava em sua direção. Céus! Como a amava!

O caminho até o altar pareceu a Annika, a um só tempo, muito curto e extremamente longo. Também ela pensava em tudo o que vivera, tudo o que sofrera, todas as suas derrotas e vitórias... Pensou em cada momento que tivera ao lado de Erik, os bons e os maus, as brigas terríveis que, agora, faziam-na querer rir... Revivia com deleite cada momento passado junto dele, deslumbrada com o sorriso de seu noivo, até que uma sorridente Madame Giry pôs sua mão na do Fantasma, e sussurrou para ambos:

— Sejam felizes, meus queridos. – e dando um abraço em Erik e Annie, tomou seu lugar na primeira fila de cadeiras.

A cerimônia teve início, com Padre Destler falando coisas nas quais nem Erik, nem Annika prestaram muita atenção: estavam ambos apaixonados demais para isso, perdidos nos olhos um do outro, fogo e gelo se encontrando, no momento mais feliz de suas vidas. Annika fitava o rosto de seu noivo, e era como se o fizesse pela primeira vez: queria guardar cada detalhe, cada simples cor e movimento do rosto que tanto amava! Seria uma lembrança que guardaria para toda a vida, talvez a mais preciosa de todas elas, o momento em que sua vida se unia irrevogavelmente à de seu grande amor. Foi apenas quando o sacerdote se dirigiu a Annie que, enfim, a hipnose se quebrou:

— Annika Anjou, você aceita Erik Destler como seu esposo, para amar e respeitar na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe?

— Eu aceito. – respondeu a jovem, a voz embargada de emoção, segurando a mão de seu amado.

— E você, Erik Destler? Aceita Annika Anjou como sua esposa, para amar e respeitar na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe.

— A morte não vai nos separar. – respondeu o Fantasma, antes de beijar a mão de sua mulher – pertenço a você pela eternidade.

— Podem trocar seus votos.

Annika pegou a aliança na cestinha segurada por Gabrielle, e a deslizou no dedo de Erik, que percebeu o tremor nas mãos de sua noiva:

— Com esta aliança, eu lhe juro meu eterno amor, minha fidelidade e dedicação. Estarei sempre ao seu lado, e serei sua força nos momentos de fraqueza, sua alegria nos momentos de tristeza, sua luz em meio às trevas. Por amor e nada mais, a você entrego meu coração, minha mente, minha música e minha alma; pertenço a você, de agora para todo o sempre, meu Anjo da Música.

Erik segurou a mão pequena da mulher, e deslizou a aliança em seu dedo, beijando o dorso da mão delicada:

— Com esta aliança, eu me entrego a você, com tudo o que tenho e tudo o que sou. Despertarei ao seu lado em cada manhã, e velarei por seu sono a cada noite; eu a ampararei, se você tropeçar, e a erguerei, se cair. Serei sua chama em meio ao frio, e preencherei sua mente com música, se o silêncio a perturbar. De agora para todo o sempre, pertenço a você, meu anjo da noite.

Padre Destler sorriu, reconhecendo o amor que preenchia o casal. Raras vezes vira duas almas que parecessem se completar daquela forma, e ficava muito feliz em ver que seu afilhado encontrara, enfim, a felicidade que tanto buscara.

— Erik, Annika, vocês agora são um só. O que Deus uniu, nenhum homem pode separar. – e para seu afilhado – já pode beijar sua esposa.

Mas foi Annika quem beijou seu esposo, logo que o sacerdote se calou, apaixonada e intensa, pegando o Fantasma de surpresa. Ele sorriu e correspondeu. Abraçando-a pela cintura, sussurrou:

— Algo me diz que a vida, com você, nunca vai ser tediosa.

— Aposte o que quiser nisso. – devolveu ela, enquanto uma salva de palmas saudava o novo casal.

*

A festa após a cerimônia foi leve e descontraída; todos riam, conversavam e congratulavam os recém-casados. Em dado momento, Renard, Claude, Tarim e Miguel ergueram Annika nos ombros, brincando:

— Até que enfim, ratinha! – ela não sabia dizer qual deles falou - Finalmente achou alguém que sobrevive a você!

— Parem com isso, seus trolls! – zangou ela, tentando descer, às gargalhadas.

— Seu pedido é uma ordem – dissera Miguel, jogando a amiga nos braços de seu marido, que a amparou, ralhando com os jovens, mas a própria moça ria tanto, que ele logo relaxou. Até mesmo a sóbria e séria Madame Giry parecia estar se divertindo, conversando animadamente com todos; e foi ela quem, no momento certo, ergueu um brinde aos recém-casados:

— Aos nossos recém-casados! Que este seja o primeiro de infinitos dias de alegria, para ambos!

— Obrigada, Madame Giry – agradeceram ambos, e Annie prosseguiu – e obrigada a todos vocês, que estiveram conosco nos últimos anos, participando de nossas vidas.

— E impedindo que vocês se matassem! – provocou Gabrielle, rindo, o que lhe rendeu uma pisada no pé, da parte de Meg.

Annie não conseguia deixar de se admirar com o modo como seu esposo se esforçava por agir espontaneamente, mesmo em meio a tantas pessoas. Mesmo se tratando de amigos, não era fácil para Erik ver-se cercado de tantas pessoas, e ainda assim ele se esforçava para agir naturalmente, apenas para vê-la feliz. Após uma dança com Renard, ela retornou aos braços de seu amado e, feliz como nunca antes, sussurrou:

— Obrigada, meu amor.

— Não, Annika, eu é que agradeço – respondeu o músico – por toda a alegria que trouxe para minha vida. Só se tornou uma vida, mesmo, depois que a conheci. – girando-a lentamente, ele a segurou pela cintura e a inclinou para trás, beijando-a com todo o seu amor.

Pouco depois, Gabrielle, mais feliz do que uma borboleta, veio trazer Alain – que estivera brincando com a tia - para os pais, antes de ir desfrutar da companhia de Renard. Ao contrário do breve flerte entre Jean e Meg – que começara a namorar o Primeiro Bailarino da Ópera Garnier – o romance do Príncipe das Ruas e da violinista só fizera se aprofundar, e o que tinham poderia ser chamado mesmo de namoro. Enquanto Annie pegava o filho no colo, a mais moça passou o outro braço por seu pescoço e, com a voz embargada de alegria, murmurou:

— Estou tão feliz por você, querida!

Annie sorriu e beijou o rosto de sua abelhinha:

— Obrigada, meu amor. Obrigada por tudo... Por ter sido minha força, por ser minha alegria de cada dia.

A mais moça retribuiu o beijo, e tratou de ir atrás de seu companheiro, arrancando das mãos dele uma taça de vinho, dizendo que ele já bebera o suficiente.

A celebração seguiu noite adentro, até que, por volta da uma da manhã, Madame Giry e Madame Tremain disseram ao casal para sair de fininho, que elas cuidariam de Alain e encerrariam a festa. Receberam aquelas palavras com alegria, e esgueiraram-se juntos para fora, onde Jean – atendendo ao pedido de Madame Giry – aguardava com César encilhado e pronto. Com um agradecimento ao rapaz, Erik ajudou sua esposa a subir no cavalo, montando logo em seguida.

— Pronta para ir para casa, Madame Destler? – perguntou ele, ao ouvido da mulher, que se virou para trás e o beijou apaixonadamente antes de dizer:

— Com você, estou pronta para ir a qualquer lugar – e provocou – meu senhor.

Ele a beijou outra vez, saboreando nos lábios dela o doce gosto de saber que, agora, aquela magnífica mulher era sua! Segurando-a pela cintura com um braço, e tomando na outra mão as rédeas de César, incitou a montaria a seguir adiante, em direção à Ópera Garnier, com sua Casa do Lago, o lugar que, para ambos, era seu verdadeiro lar.

Erik carregou Annie pelas passagens até a gôndola, e depois desta até chão firme, na primeira sala da casa. Pousando-a no chão ao lado do órgão, abraçou-a pela cintura e sussurrou:

— Bem vinda ao lar, meu amor. – ele acariciou as ondas douradas do cabelo dela, levando uma mecha ao rosto e sentindo o perfume de rosas que ela emanava – minha rainha da noite.

— Meu Anjo da Música – devolveu ela, tocando a fronte dele com a própria, suas mãos começando a acariciar o rosto e o peito do homem. Estavam sozinhos, enfim, em sua primeira noite de casados. O Fantasma apertou um botão na lateral do órgão, que começou a tocar sozinho uma suave melodia, enquanto os lábios de ambos se tocavam, tomando-se mutuamente, sôfregos, famintos, em beijos úmidos e cheios de avassaladora paixão.

Com todos os sentidos acentuados pela escuridão quebrada apenas por umas poucas velas, a pianista empurrou Erik delicadamente, de modo que ele se sentasse no banco de ébano, puxando-a consigo. Sem resistir, ela se sentou no colo de seu marido e, acariciando o rosto que tanto amava, começou a cantar:

Wise men say only fools rush in (homens sábios dizem que só os tolos têm pressa)

but I can’t help falling in love with you (mas não posso me impeder de amar você)

Shall I stay (Eu ficarei)

would it be a sin (seria um pecado)

If I can’t help falling in love with you (se eu não puder me impeder de amá-lo)

Erik desceu beijos pelo pescoço de sua amada, seguindo pelo colo e explorando os ombros, deixados à mostra pelo vestido. Suas mãos subiram pelas pernas da moça, erguendo lentamente a saia do vestido, revelando que ela não usava peça alguma por baixo deste. Um olhar malicioso foi trocado por ambos, antes que se perdessem em outro beijo acalorado. Então, foi a vez da voz de Erik se erguer:

— Like a river flows surely to the sea (assim como um rio corre para o mar)

Darling so it goes (querida, assim também)

some things are meant to be (algumas coisas estão destinadas a ser)

Ele se levantou, sem soltá-la de seu abraço, e segurou-lhe uma das mãos com gentileza, beijando-a. Começou então a caminhar para o quarto, levando-a consigo com um olhar sedutor:

take my hand, take my whole life too (pegue minha mão, tome minha vida inteira, também)

for I can’t help falling in love with you (pois eu não posso me impeder de amá-la)

Annie sorriu quando se viram juntos, ao lado do leito, e enquanto suas mãos deslizavam pelo corpo de seu homem, livrando-o dos trajes formais do casamento, ela ecoou o canto de seu amado, observando o rosto cujos olhos se fechavam em calma e deleite:

— Like a river flows surely to the sea

Darling so it goes

some things are meant to be

take my hand, take my whole life too

for I can’t help falling in love with you

for I can’t help falling in love with you

Abrindo os olhos, o Fantasma a silenciou, enfim, com mais um beijo terno e caloroso; suas mãos grandes retiraram a tiara, para então encontrarem o fecho do vestido, que logo caiu aos pés da pianista, revelando-a completamente aos olhos do artista. O músico deu um passo atrás para poder admirar a perfeição que era sua esposa: fascinado pela linda criatura diante de si, deixou que ela o empurrasse para o leito, sentando-se na cama larga e puxando-a para seu colo. Explorava cada curva da mulher com as mãos e os lábios, ouvindo os gemidos de prazer que ela não se preocupava em conter, enquanto a jovem retribuía com toques leves, suaves arranhões e beijos fogosos que acendiam uma intensa chama na alma e no corpo do homem.

Envoltos no manto da noite, circundados pelo imaterial veludo negro, suas almas preenchidas de chamas e música, os corações batendo no mesmo compasso da melodia que ecoava pela caverna... Apenas eles, e a música da noite... Mais uma vez uniram-se não apenas em corpo, mas em mente e alma, alcançando aquela plenitude de dois seres que se tornam um só, de uma criatura que encontra na outra a parte que faltava de si mesma. Eram um só, no amor, na música, na vida, e ninguém jamais os separaria.

penteado Annika

(vestido Annika)


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Notas finais do capítulo

Deixem suas reviews, minhas flores!
kisses



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