Anjo das Trevas escrita por Elvish Song


Capítulo 36
Quando tudo dá certo


Notas iniciais do capítulo

Olááááá! Estou demorando um pouco para postar, porque estou com um monte de fics em andamento, e ainda por cima fui acampar, então passei uma semana longe da tecnologia. Agora volto a postar, com uma notícia: Anjo das Trevas vai ter segunda temporada. Vou acabar a fic em um ou dois capítulos, e então inicio a segunda temporada, porque voltei do camping realmente inspirada! Então, esperando que tenham gostado da notícia, posto o novo capítulo aqui.



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— Annika, se não parar quieta, vou acabar furando você! – censurou Madame Tremain, ao marcar o decote do vestido, de modo que este se assentasse corretamente no colo da mulher loura.

— Desculpe, Madame – sorriu a moça, parando de alternar o peso entre os pés – passei o dia andando pelo velho conservatório, estou um pouco cansada. A expectativa não ajuda, também.

— Vai adquiri-lo, mesmo? – perguntou a senhora, marcando com um alfinete a pence necessária. – Pensei que seria difícil...

— Consegui, graças à Madame Giry. Ela conseguiu um preço razoável pelo prédio, acessível a minhas... Economias. – melhor não comentar sobre o dinheiro guardado por anos na parede oca de um beco, afinal. Ela tratou de ficar imóvel enquanto a senhora marcava a barra de seu vestido, sorrindo com alívio ao ouvir que podia descer da cadeira. Nesse momento, Gabi entrou no quarto da pianista, que abriu os braços e girou, mostrando o vestido:

— O que acha?

— Diferente de tudo o que já vi, mas certamente é lindo! – aprovou a adolescente – vai ser a noiva mais bonita que Paris já viu. – a garota segurou entre os dedos a fina renda das mangas, apreciando o tecido – Conheço certo Fantasma que vai ficar hipnotizado, quando vir.

— É a ideia – sorriu a mais velha, girando na frente do espelho para ter uma visão melhor do próprio corpo. Aos vinte e três anos, estava mais bonita do que já se lembrava de ter sido, e agora isso não a assustava, mas a deixava profundamente feliz. Nem mesmo as cicatrizes de açoite podiam apagar o brilho de felicidade que a envolvia. E como poderia não ser assim? Estava prestes a se casar com o homem a quem amava, adotara um lindo garotinho, sua irmã estava feliz, iniciando carreira como violinista, enquanto ela própria já começava a ser conhecida fora da França por seu talento como pianista. Seus amigos de adolescência começavam a encontrar seus próprios lugares no mundo, e a isso somava-se o fato de que a escola com a qual tanto sonhava parecia a cada momento mais perto de se tornar real. Nada poderia ser mais perfeito! Estava perdida em sonhos quando, de repente uma voz masculina a tirou do devaneio:

— Posso interromper, senhoritas? – de imediato Madame Tremain ergueu um lençol para cobrir a figura de Annika, enquanto Gabrielle bloqueava a visão do Fantasma, bronqueando:

— Erik! Não é para ver a noiva vestida antes do casamento!

— Pare com isso, Gabrielle; quero falar com sua irmã!

— Espere-me tirar o vestido! – gritou a mulher, de trás do lençol, a silhueta delineada contra o tecido mostrando que despia velozmente a peça e colocava um traje de trabalho por cima. Foi só então que Madame Tremain soltou a cortina improvisada, para revelar uma Annika sorridente – agora podemos falar.

— Você sabe que essa história do vestido é só uma superstição, não sabe?

— Estou pouco preocupada com a superstição. – ela deu de ombros – mas quero que seja surpresa, e você não vai estragar tudo espiando em momentos impróprios!

— Isso explica os panos sobre os espelhos – riu-se Erik – mas vim aqui avisar que está tudo pronto para fechar a compra do conservatório. Você havia dito que gostaria de ter-me consigo, no momento.

Sem nada dizer, a mulher deu um passo na direção de seu noivo e o beijou, para só então sussurrar:

— Eu te adoro. – Vendo a cena, Gabi pigarreou:

— Aham... Lamento interromper, mas estamos no meio de uma prova do vestido de noiva.  – o casal se afastou, levemente ruborizado, e Erik declarou:

— Vou esperar lá fora.

Com um sorriso compreensivo, Madame Tremain aguardou que o Fantasma saísse, para então fazer Annie vestir novamente seu traje de casamento, a fim de marcar os últimos ajustes; a velha senhora tinha enorme afeto pela jovem, e estava sendo um prazer enorme ajudar a fazer o vestido daquela moça, que tinha a mesma idade de seus netos. Sem dúvidas, ela seria a mais linda das noivas.

*

Annie tirou um a um os tijolos que cobriam seu esconderijo secreto. Cuidadosa, tateou lá dentro até encontrar o pequeno tesouro que juntara ao longo dos anos; não fora o bastante para comprar a liberdade dela e da irmã, mas era uma pequena fortuna! Erik e Gabi olharam, surpresos, a quantidade de moedas que ela retiro e contou cuidadosamente, certificando-se de estar tudo lá. Tudo, menos o que roubara de Erik, naquela noite em que se haviam conhecido: o danado certamente recuperara o que lhe fora tirado, antes mesmo de comprar Annie e Gabi!

Enquanto pegava aquele dinheiro nas mãos, a mulher via passar diante de seus olhos não apenas a situação que a levara a juntá-lo – seria muito difícil, para não dizer impossível, esquecer-se de todo o sofrimento no bordel – mas também em cada roubo, assassinato, invasão... Na época, não se arrependera de nada, mas agora começava a questionar se não teria havido outros meios, outras formas... Não teria ela, também, destruído famílias com os assassinatos cometidos? Alguns dos homens que matara eram, com certeza, chefes de família... E se, agora, houvesse meninas jogadas na mesma vida que ela abominara, e por sua causa? A culpa e a dúvida vinham assalta-la com força, quando sentiu as mãos pequenas de Gabi na sua, e os dedos firmes e frios de Erik em seus ombros.

— Você fez o melhor que pode, irmãzinha. – declarou a adolescente – não se culpe por coisas sobre as quais não pode ter controle. Não tinha alternativa, na época, e não pode mudar o que houve, agora.

— Eu causei tanto mal a outras pessoas... – ponderou a moça.

— Então, faça com que tudo tenha valido. – declarou Erik, firme – use este dinheiro para algo bom: dele virá a escola que pretende fazer. Faça isso, e estará quite com qualquer justiça que possa haver no mundo.

A mulher sorriu para a irmã e o noivo, e guardou as preciosas moedas; não deixava de haver em si um sentimento de vitória: ela conseguira. Não apenas sobrevivera ao inferno, como saíra dele e se tornara alguém; era hora de retribuir a bondade que a vida tivera para com ela. Assim, antes que o dia findasse, havia assinado o contrato de compra do velho conservatório. Precisava, agora, reforma-lo, encontrar professores e, se possível, vincular a fundação novamente à Ópera Garnier – pediria uma reunião com os administradores, mais para frente. Mas enfim, estava se realizando: o primeiro passo se completara, e agora estavam prontos para seguir adiante com o ambicioso projeto.

Na manhã seguinte, estavam reunidos todos os Garotos do Beco – teriam de mudar o nome, agora que havia Sarah e Marie, uma viciada em jogo de dezenove anos que conhecia todos os truques e trapaças para vencer suas apostas – além de Annie, Gabi, Erik, Meg e Madame Giry. Madame Tremain estava presente, também, assim como Isabelle, que distraía um curioso Alain, cujo desejo era o de mexer em tudo que seus olhinhos pousavam. A pianista se dedicou a mostrar todo o prédio aos amigos, e explicar quais reformas seriam feitas; os Garotos do Beco pretendiam “pôr as mãos na massa” e participar da reforma por conta própria, enquanto as damas já começavam a considerar quais trabalhadores deveriam contratar. Erik, como arquiteto, já tinha em mente o processo de organização e administração das equipes, e não estava otimista em relação ao tempo... Porém, via determinação e vontade nos olhos dos envolvidos, e sabia que o projeto seria finalizado. Ele próprio ajudaria a garanti-lo.

Por três dias, Annika e Erik explicaram as plantas desenhadas a cada um dos presentes; ao cabo do terceiro dia, todos já sabiam o que fazer. Havia paredes a serem derrubadas, e outras a serem construídas, um jardim a ser plantado, teto e chão a serem reparados. Graças à ajuda de Isabelle, Annika e Erik conseguiram contratar uns poucos homens, bem como arranjar material para a reforma. Teriam de fazer tudo aos poucos, mas não era impossível.

Com o casamento se aproximando, o sucesso de Annika como pianista, a felicidade de Gabrielle e Renard, a presença de Alain... Parecia que, de algum modo, tudo estava dando certo! Havia um enorme sorriso estampado no rosto da pianista e, para a surpresa de todos, também do Fantasma. Sim, ele estava feliz. Não... Não estava... Pela primeira vez na vida, ele era feliz!

*

— Annika, pelo amor de Deus, acalme-se! – censurou Isabelle, tentando fechar o espartilho da amiga – você está tremendo!

— Não consigo evitar! Estou até suando frio! – replicou a moça loira, ficando tão imóvel quanto podia. Gabrielle, que arrumava em cachos os cabelos da irmã, riu:

— Mas vocês dois já vivem como marido e mulher! Por que tanto drama?!

— Não é drama! – protestou a noiva – estou realmente nervosa! Ora, Gabrielle, eu vou me casar!

— Era para estar feliz! – zombou a pequena, já pronta com suas vestes de dama de honra: um vestido longo e armado, branco, com pequenas flores róseas na sobressaia e nas mangas longas. Uma tiara de renda branca se perdia entre os caracóis da jovem, que parecia mais uma fada, com aquelas roupas.

— E estou! – Annie se debruçou na penteadeira – na verdade, tão feliz que parece um sonho. Tenho medo de acordar, e estar de volta àquele bordel, sem Erik, sem Alain, sem todos os nossos amigos...

— Mas isso não vai acontecer – interrompeu Isabelle, erguendo a cabeça da amiga para que a adolescente pudesse terminar seu trabalho – você está livre, feliz, e vai se casar. Isso se nos deixar terminar de arrumá-la, é claro!

A noiva riu, e ficou imóvel em seu banco, deixando-se pentear e maquiar pela irmã e pela amiga. Sarah entrou no quarto com um grande embrulho nos braços, praticamente oculta por trás do que carregava:

— E agora – disse ela – o vestido da noiva!

Maquiada e penteada, Annie se levantou afobada, um sorriso enorme em seu rosto quando abriu o embrulho que escondia o vestido: estava perfeito! Exatamente como imaginara! Só Madame Tremain conseguiria finalizar aqueles pequenos detalhes tão delicados!

— Uau, Annika! – exclamou a cigana – é lindo! Mas a cor é... Bem pouco convencional...

— No Egito, era a cor da fertilidade, da abundância e da vida. – respondeu a mulher loira – além disso... Essa cor tem um significado especial, para Erik e eu.

— Não ia esperar outra coisa de você, Annie – brincou Gabrielle – a noiva do Fantasma tem de estar vestida de acordo!

Em meio a gracejos e brincadeiras, as mulheres terminaram de arrumar a noiva. Extremamente feliz, ela mal podia descrever o que sentia: seu coração parecia prestes a saltar do peito, e a expectativa era tão grande que chegava a lhe dar vertigem! Quando olhou no espelho, e viu-se pronta, afinal tudo assumiu um ar de realidade: ela ia, realmente, casar-se com o homem a quem amava mais do que a própria vida. Finalmente a felicidade era sua, e não deixaria que lhe fosse tirada, outra vez.

Com o coração palpitante e a respiração acelerada, acompanhou as amigas para fora; Madame Giry a esperava fora do quarto, usando um vestido verde-escuro bem mais vistoso do que suas sóbrias e elegantes vestes negras do dia a dia; seria a senhora quem levaria Annika ao altar, fazendo as vezes do pai que a jovem não possuía, e da mãe já falecida. Seus dedos gentis se fecharam sobre os da moça, e a voz da senhora pareceu vir de muito longe, para a noiva, quando falou:

— Venha, menina. É hora de ir ao encontro de seu amor.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, o casamento de Erik e Annika, e só lá vou descrever o vestido dela (e mostrar a foto). Alguém imagina a cor, que surpreendeu as moças? hahahaha.
Espero ansiosamente pelas reviews, minhas flores!
beijinhos!



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