Rediscovering a Dream escrita por Loren


Capítulo 9
Capítulo Oito




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Irina acordou com a luz no rosto.

Pela posição do sol já devia passar das dez horas. Esfregou os olhos com um bocejo, sentindo o pescoço doer ao endireitar-se. Dormira na mesma posição em que começara a pensar sobre o que Lúcia lhe havia dito. Suspirou, desapontada consigo mesma em não chegar a uma resposta concisa. Não era óbvio? Ela havia prometido que o esperaria. Eles tiveram algo forte. Forte o suficiente para fazê-la suspirar com o aperto no peito. Ela pensou nele todos os dias dos anos que se passaram. Alguns dias muito, outros um pouco menos. Ela pensava em seus cabelos negros, nos seus olhos penetrantes e em seu cheiro de carvalho e canela. Ela relembrava do conforto que sentia em seus braços e em como todo seu corpo relaxava de qualquer tensão quando ele a beijava na cabeça, segurando-a firmemente. Sentia-se bem. Sentia-se segura.

Então por que quando pensava na óbvia resposta, outra opção lhe vinha na cabeça?

Balançou a cabeça, afastando os pensamentos. O estômago roncou, lembrando-a de comer. Não havia tido uma refeição decente desde o dia que aportaram nas Ilhas Solitárias. Levantou-se decidida em procurar algo nas dispensas e logo procuraria Lúcia para lhe dar sua resposta. Ela já a tinha. Desde três anos atrás. Mas por que não sentia-se segura disso?

Poucos centímetros de sua mão pegar na maçaneta, alguém bateu na porta. Olhou para a madeira, um pouco surpresa, um pouco desconfiada. Abriu a porta.

—Bom dia.

Sua garganta secou e por um momento não disse ou fez nada. Pensou mais tarde que talvez não havia nem respirado.

—O que faz aqui?

—Te trouxe o café.- disse Caspian, indicando a bandeja.

Irina ficou tensa e fitava a bandeja de prata cheia de frutas, queijo e presunto, pondo-se em pé e outro.

—Posso entrar?

Ela o fitou e viu que ele não iria forçá-la. Ele jamais fez isso. Ela não o culpava por toda a confusão mental que tinha. Ele podia ser um dos motivos, mas acreditava que todo o peso deveria ser dela. A verdade é que não havia culpa alguma. Certas coisas acontecem por um motivo ou não. De uma maneira ou outra, não havia uma culpa. Era apenas a vida.

—Claro.- deu passagem para entrar e fechou a porta.

O pensamento passou rápido em sua cabeça. Deveria avisar à Caspian sobre suas últimas conversas entre os Pevensies. Deveriam conversar sobre si, uma última e séria vez. Deveria decidir-se.

—Obrigada.- ela disse, após ele pôr a bandeja na penteadeira.

Ele assentiu e sorriu sem graça. Era curioso e quase cômico ver o rei naquela situação. Tantas aparições e em seu próprio dia a dia, tentava demonstrar um homem seguro, confiante e confiável, além de corajoso. Todo dia buscava ser o rei que seu reino merecia. Ali, à sua frente, no entanto, estava um rapaz que mantinha as mãos junto do corpo, sem saber o que dizer e tão perdido quanto uma ovelha na alcatéia.

Ela sorriu, um pouco triste. Sorriu, pois ali ela podia ver como sempre vira o rei: um homem cru e limpo, apenas tentando todo dia aprender as regras e lições de um soberano. Triste, pois não era uma emergência de estado o motivo para seu nervosismo, se não ela. Não encontrou resposta sobre o que ele buscava aprender sobre ou com ela. Apenas suspirou com a distância estranha que agora possuíam.

—Caspian.- disse seu nome a ele, após tantas vezes evitando.- Não vou mordê-lo.- ela indicou o banco do baú.- Talvez tenhamos que conversar.

 

Edmundo já havia cruzado o barco três vezes.

Drinian se encontrava junto dos marinheiros, a fiscalizar seus serviços. Caspian devia de estar em seu escritório e Lúcia ainda não havia se levantado. Irina... Irina estava em algum lugar. Bufou e apoiou-se na borda do barco. Esperava por Lúcia. Era com a ruiva que queria falar. Não era de seu costume levantar-se tarde, mas não iria atrás. Sabia que se a irmã havia saído de sua rotina deveria haver um bom motivo porém incomodá-la pela manhã não era uma atitude sábia. Lúcia era doce mas sabia ser feroz quando queria.

Abaixou a cabeça e levou as mãos aos cabelos. Sentia-se cansado e sentia um desconforto no corpo inteiro. Como se um sentimento desagradável estivesse tomando-o por completo e a única opção para relaxar seria tirando sua alma do corpo. Mas como fazê-lo? Fechou os olhos por um segundo, sentindo o sono lhe atingir. Passara a noite em claro, repetindo todos os últimos acontecimentos dos dias em sua mente. O que era tudo aquilo? O que estava acontecendo? Havia voltado à Nárnia para ajudar ou ter seu coração destroçado? Irina teve algo com Caspian? Que tipo de “algo” teria sido? Sabia que não havia deixado brecha para ela se explicar. No entanto quando ela apenas assentiu à sua pergunta, não teve estômago para querer saber mais.

Levantou a cabeça, suspirando e sentindo-se confuso. Repassou as informações, tentando pensar logicamente e não com a raiva que fez virar o rosto para Caspian na noite passada, antes de irem dormir: voltaram à Nárnia. Irina o havia rechaçado durante os primeiros dias, exceto pelo beijo em seu quarto. Em seguida, no dia da libertação dos escravos, parecia diferente. Parecia leve e mais aberta. No entanto, uma mera desconfiança que tivera, uma ideia boba, foi confirmada pelo aceno da loira e de repente não era mais ela a estranha a se afastar, mas ele. Então era isso? Irina não lhe tinha mais sentimentos. Havia seguido em frente, após todas suas promessas. Entretanto, por que lembrava-se do beijo que compartilharam em seu quarto? Havia o feito como despedida? E o último? Havia sido... verdadeiro.

Apertou os olhos, frustrado em não compreender nada.

—Encontra-se bem, majestade?

Edmundo voltou os olhos para sua direita, encontrando Ripchip, o rato muito bem equilibrado na borda lisa. Suspirou.

—Não dormi muito bem.

—Imagino. Antes mesmo dos marujos se levantarem, o senhor já estava de pé, apagando os lampiões.- o moreno lhe fez a pergunta no olhar.- Vigia noturno.- respondeu, sorrindo.

Edmundo assentiu e não disse mais nada. Ripchip olhou para o mar e respirou fundo.

—Uma bela vista, não? O mar. Como é curioso estando no meio do nada, ainda assim possa lhe acelerar o peito com tantas possibilidades, não crê?- o rei assentiu, outra vez.- Vossa majestade me perdoe o atrevimento, mas o que lhe passa? O senhor sempre fora muito bem animado com aventuras, assim como vosso irmão. Talvez até mais. Perde para sua irmã, talvez.- Edmundo riu baixo, concordando. Ninguém superava Lúcia.- Então, por que o vejo tão cabisbaixo?

O moreno suspirou, não aguentando mais ter suas dúvidas o estrangulando. Olhou para Ripchip e sorriu, sabendo que poderia lhe confiar o que fosse. Era um rato mas muito mais fiel que um grupo de dez homens.

—Não sei o que faço sobre Irina. Tudo está... diferente. Ela está diferente. Estava. Eu não sei dizer.- ergueu as mãos por um segundo, confuso.- Nos primeiros dias, me evitava. Ontem parecia querer se aproximar, atitude que eu realmente não esperava. E...- segurou a língua. Poderia Ripchip saber? Poderia lhe dizer estas intimidades?- Eu não sei. Eu apenas não sei...

O rato respirou fundo, observando o passar do barco nas águas.

—Bem... Não posso lhe dizer que entendo, pois não o entendo completamente. Entendo sua frustração, mas não entendo seu sentimento, pois o não possuo. Três anos se passaram, majestade. E nesse período muitas coisas aconteceram em Nárnia e com Irina.- fitou seu rei.- Compreendo vossa graça, Irina. Três anos se passaram aqui. Me recordo que o tempo passa diferente por aqui e em seu mundo. Imagino que ela tenha tido a preocupação de se passar 1300 anos e o senhor não retornar. O senhor ter voltado tão de repente pode ter a pegado desprevenida.

Ou pode estar apaixonada por outro...

—De qualquer forma, o senhor chegou a conversar com ela?

Edmundo negou.

—Entendo que vossa majestade pode estar desapontado com a primeira recepção, mas não tome a primeira impressão como orientador. É a primeira sensação que vale. O senhor se recorda qual fora?

Edmundo sorriu. Sentira paz, calor e felicidade. Muita felicidade. Ele assentiu para o rato.

—Então tome essa lembrança como sua estrela norte e deixe que ela o guie. Não se pode enganar a si mesmo, mesmo que queira.

 

 

 

—Contei para Edmundo.

Caspian arregalou os olhos e mexeu-se, apertando o tecido das calças e endireitando os ombros, sentindo-se desconfortável.

—Por quê...

—Ele desconfiou. De alguma maneira. Sei que tu não contaria, mas devo perguntar: disseste algo a ele?- o rei negou com a cabeça no mesmo instante.

—Não. Definitivamente não. Me pediste para manter entre nós e mantenho a promessa.

—Obrigada.- suspirou e desviou o olhar para o mar.- De qualquer forma, ele não sabe tudo. Apenas me perguntou se tínhamos algo e eu disse que sim. Não quis saber dos detalhes.

Voltou a fitar o rei, após tantos segundos em silêncio. Ele a olhava com um olhar esperançoso mas um sorriso melancólico.

—E temos algo?

A loira enrusbeceu e levantou-se, dando as costas para o homem.

—Me desculpe. Eu não quis deixá-la desconfortável...

—Tudo bem.- respondeu, abanando a mão e virando.- Na verdade, é algo que devemos discutir.- ele a fitou, com o cenho franzido.- Eu também contei para Lúcia. Eu fui em busca de seu conselho após decidir que... não posso continuar como estou sendo. Tão... fechada. Introspectiva como nunca. Tão ingrata.- lhe explicou brevemente e Caspian parecia desconcertado.

—Irina, tu não é uma ingrata. Jamais fora. Mas fico feliz em saber de sua decisão.- lhe respondeu, afirmando o que dissera com um sorriso sincero.- Posso perguntar o que a fez mudar de ideia?

—Encontrei alguém que me fez abrir os olhos.- sorriu, recordando-se dos olhos costurados.- Às vezes o que precisamos é de alguém que nos sacuda para enxergar o que é tão óbvio para outros e não para si. Não digo nem um amigo, mas alguém que nos faça cair para nos levantarmos ciente do tropeço.

—Seja quem for, fico feliz por você. De verdade.

—Obrigada. Por isso mesmo, preciso que me ajude.- voltou a sentar-se em seu lado com as mãos em seu colo, apertando os dedos.- Lúcia me aconselhou... a decidir.- o rapaz respirou fundo por um segundo, parecendo analisar cada palavra dita pela loira, porém não lhe respondeu nada.- Eu pensei que seria fácil mas...- o fitou e admirou por alguns segundos os olhos negros.- Não está sendo.- ele arregalou os olhos, surpreso com as palavras.- Parece que anos atrás era mais fácil. Não concorda?- ele baixou a cabeça para as próprias mãos.

—Sim. Era sim.

—Quando começou a ficar assim?

 

Dois anos atrás.

—Você está horrível.

—A ideia foi das crianças.

Ele baixou a cabeça, tentando esconder o riso.

—Somente porque elas pediram, não significa que deve fazer. Já te adoram o suficiente, não iriam se magoar.- ela deu de ombros, ajeitando o enorme ninho de flores e folhas que carregava na cabeça.

—Elas nunca me pediram nada, além de abraços. Não me custa lhes dar um agrado.

—Ainda bem que sua bondade é maior que sua vaidade.- brincou Caspian e Irina lhe mostrou a língua.

Ela levantou o vestido na frente para não tropeçar. O estilo não era de todo feio. Lhe agradava a cor branca e as flores que as crianças pregaram de maneira desconexa no tecido, espalhadas por todo local e na barra. Talvez se tivessem tentado seguir o modelo de uma das moças magras e não a dona Fauna, uma simpática e estressada criatura do mesmo nome na aldeia, o vestido ao menos não lhe ficaria caindo dos ombros e atrapalhando seus passos, a cada dois minutos.

—Por que não pediu para as costureiras arrumarem?

—Mandaram hoje! Não tive tempo! Eu havia prometido que usaria mas não haviam mandado durante a semana. Aparentemente terminaram hoje mesmo.- ele riu outra vez.

—E por que veste? Tecnicamente, foram descuidados demais com o tempo.

—Lhes prometi. E vou cumprir.

O rapaz não riu, mas sorriu. Poucas coisas havia notado na loira desde que se conheceram um ano atrás e lhes foi dado o dever de reger o reino, mas nada como sua determinação em cumprir as palavras. Tais atitudes eram admiráveis e ele se sentia grato por ter alguém tão fácil de se lidar e boa de acompanhar em suas aparições, recepções, jantares ou almoços.

—Estamos chegando.- disse, avistando os portões abertos do castelo e há alguns metros um palanque de madeira.

À frente, toda a aldeia aguardava pelo rei. Há poucos dias haviam fechado tratos com o país vizinho, a Arquelândia, a qual havia se afastado desde o desaparecimento dos Grandes Reis e Rainhas, temorosos de que os pensamentos e tirania dos novos residentes, telmarinos, começasse a influenciar seu povo. Políticas para outra hora, os dois países estavam retornando com seus antigos laços. Tal motivo era mais do que suficiente para uma grande celebração nas ruas de Nárnia. Seus residentes aprenderam nos últimos tempos, que se houvesse algum motivo para celebrar, que o fizessem, pois jamais poderia saber o dia de amanhã.

Irina tinha a obrigação de ir, mas desde que Aslam havia lhe dado a tarefa de rainha-regente, com grande base e foco em aparições e conselhos, ela esforçava-se para fazer seu melhor. Como Caspian precisava melhorar os laços externos de Nárnia, Irina tomou para si a responsabilidade de checar os plebeus, seus problemas e pedidos, além de verificar as condições em que viviam. Gostava da tarefa. Sentia-se à vontade. Quando sua mãe lhe acompanhava, pareciam estar na antiga aldeia, porém era muito mais confortável pelo fato das pessoas não lhe direcionarem olhares tortos. Com o tempo tornou-se amiga das crianças e senhoras.

Subiram o palanque e o rei acenou. Irina tomou o posto mais atrás.

—Agradeço a todos pela presença. Como já sabem, os tratados tiveram um bom retorno!- a multidão vibrou.- Com a baixa de nossos impostos e a boa troca de seus minerais por nossos frutos, esperamos que nossos países cresçam em harmonia e prosperidade.

As palavras de Caspian eram simples e diretas. Não lhe caía bem a ideia de grandes discursos com nada para se dizer. Além do mais, o povo queria celebrar.

—E antes que comecemos nossa festa, queria agradecer a todos que ajudaram a preparar o banquete e as decorações, em especial a nossa rainha-regente, a qual fiscalizou e tomou conta de tudo!- disse e apontou para a loira, em seguida batendo palmas.

Ela deu um passo para frente e reverenciou, agradecida pelo carinho e atenção. Balançou a saia do vestido levemente, para mostrá-lo as crianças que se esgueiravam bem aos pés do palanque. Sorriam satisfeitos. O rei estendeu a mão e ela a tomou, os dois com o aperto no alto para representar força. No entanto, o ato foi interpretado de maneira equívoca.

—Que comece...

—Beija!- uma guriazinha gritou.

—Isso! Beija!- outra reforçou a ideia.

—Beija! Beija!- dois gurizinhos começaram um coro, que se espalhou entre as crianças e logo entra os adultos mais divertidos (ou debochados).

Caspian e Irina ficaram boquiabertos por um momento, totalmente pegos pela surpresa. Sorriram sem jeito. Sabiam que o fato da presença e posto da loira, poderia desencadear ideias erradas, porém sempre deixaram claro que sua posição era sua até o rei encontrar a rainha para seu povo e seu coração. Como não desejavam repetir a explicação usual, Caspian virou-se e pediu permissão com um olhar. A loira deu de ombros e lhe ofereceu a bochecha. Ele estalou os lábios em um rápido e simples encostar.

—Não! Um beijo de verdade!- uma das crianças gritou.

Irina riu e ia virar-se com o intuito de ela beijar a bochecha do rei. Não contava que ele pretendia fazer o mesmo. O encostar dos lábios não passou mais do que dois segundos, porém fora o suficiente para a multidão aplaudir e divertir-se com a cena. Separaram-se sem muito estardalhaço, mas os olhos arregalados fitavam um ao outro totalmente atônitos. Para o povo poderia ser o início de um belo romance de contos de fadas, como liam para as crianças, e tudo seria presenciado. Como um belo sonho. Entretanto quando viraram-se, com a mesma posição de antes, a segurarem as mãos e o rei dar início à festa, para Irina começava um pesadelo incerto.

 

 

 

—Nos deixamos levar pela multidão?

Ele deu de ombros.

—Pode ser que sim. Faz muito tempo que já é difícil saber o que eu pensava na época.- ele a fitou, de maneira carinhosa.- O sentir permanece.

Ela sorriu, um pouco melancólica.

—Era mais fácil, não?- ele assentiu, concordando de verdade. Em seguida suspirou.

—Sinto sua falta.- ela o fitou, um pouco desconfiada.- Não somente... de tal jeito. Mas de nossa amizade.- ela relaxou os ombros.- Éramos amigos, não?

Ela assentiu.

—Sim. Eu também.- suspirou.- E por isso mesmo preciso de sua ajuda. Pois não quero mais deixá-lo a esperar. Tenho sido injusta com muitos, como percebi há pouco. Eu sei que não era como tu pretendia, mas... eu preciso saber o que tu sentes por mim.- ele arregalou os olhos, um pouco surpreso, mas logo recuperou as postura e respirou fundo, ciente de sua chance.

—Irina... eu a admiro muito.- começou, olhando para o chão.- Eu a respeito e sempre apreciei sua amizade e comprometimento com sua posição. Tu tomaste um dever para si que nem lhe era obrigatório. Fizeste já muito por mim e meu reino.- ele subiu olhar para os olhos verdes.- Me divirto com sua companhia. E... me encanta teu jeito. De ser, com crianças e situações delicadas. Tu me faz feliz. Me faz sentir bem e me dá confiança em todas as tarefas que tenho que encarar.- ele arriscou a pegar sua mão e ela não o deteve.- Eu quero lhe dar o mesmo. Quero lhe dar a mesma paz que me traz e quero lhe dar todo carinho que merece. Quero poder acordar todos os dias e encontrar teus olhos ao meu lado.- ela enrusbeceu levemente e ele aproximou-se, acariciando a mão pequea que envolvia.- Quero tê-la em meu lado. Em todos os momentos. Em todos os lugares.- declarou e a fitou, com o maxilar travado, ansioso por uma resposta.

Estavam com os rostos a centímetros, porém ele não se atreveu a tentar algo. Prendia a respiração e nem percebia. Ela sorriu com um canto da boca. Levou a mão dele aos lábios e depositou um leve beijo.

—Obrigada, Caspian. Pela sinceridade.

Ele assentiu e levantou-se.

—Vou deixá-la a pensar.

Dirigiu-se a porta.

—Não se esqueça de comer. Por favor.- pediu, indicando a bandeja com um aceno da cabeça.

—Não se preocupe. Estou voltando.- lhe respondeu e ele soube o que ela quis dizer.

Sorriu, aliviado com a informação. Saiu e fechou a porta delicadamente. Ela olhou mais uma vez para o mar, pensando em seu próximo passo. Decidiu por alimentar-se e logo trocar a roupa suja. Teria que procurar outro rei mais tarde e desta vez não poderia adiar a conversa.

Encostado na porta do lado de fora, o rei respirava fundo, sentindo-se tranquilo por fim ter lhe dito tudo que lhe estrangulava e temoroso pelo futuro incerto. Abriu os olhos, tentando não pensar se havia dito algo errado ou se esquecera de algo. Havia sido sincero e não poderia forçá-la a nada. Não era seu direito ou até mesmo certo fazê-lo. Ninguém poderia possuir autoridade máxima em outra. Suspirou, perdido em sentimentos que jamais havia sentido antes. Um homem e um rei, confuso com sensações primárias. Lembrou-se de um ditado que uma vez ouvira quando pequeno. Um rei pode ter previlégios incontestáveis por conta de seus deveres, mas por isso mesmo não possui direitos. Com esse pensamento, balançou a cabeça para afastar pensamentos bobos e voltou para o timão, com o objetivo de ao menos focar-se em seu trabalho e fazer valer à pena a graça que lhe havia sido dado.

 

 


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Notas finais do capítulo

Entendo que já se foram dois capítulos com ação nenhuma, no entanto eu precisava trabalhar nas emoções de alguns personagens. Próximo capítulo continuarei a trabalhar em outros, mas a princípio haverá algo a mais.
Erros gramaticais, por favor, avisem. Críticas são bem vindas.
Espero que tenham gostado.
Beijos e abraços apertados da Loren.