Rediscovering a Dream escrita por Loren


Capítulo 8
Capítulo Sete


Notas iniciais do capítulo

hai
Dedico o capítulo às leitoras Duds e Paola.
Agradeço as suas palavras ♥



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Chegando ao porto, Caspian se dirigia a um grupo de senhores bem vestidos, mas com suas vestes rasgadas e seus rostos cheios de arranhões e roxos. Antes de dar qualquer outra ordem ou passo, seu título fora dito em voz alta.

—Meu rei! Meu rei!

Virando-se, encontrou um dos Lordes. Lorde Mer foi o primeiro Lorde a desistir de seguir viagem e também o que explicara para os dois reis o que se passava nas Ilhas Solitárias. Não somente o arquipélago estava dominado por escravistas como uma maldição parecia assombrá-lo. A cada fim de tarde um bote com pessoas é enviado para o meio das águas, a fim de satisfazer a névoa verde. Ninguém nunca soube o porquê de tal névoa existir, e portanto os Sete Fidalgos haviam decidido seguir em viagem com o propósito de descobrir e destrui-la. Lorde Mer, no entanto, ficara para trás, disposto a não pôr sua vida em risco. Contraditório a pensar suas intenções, quando um mês depois após a partida de seus amigos, fora jogado nos calabouços dos escravitas.

Caspian se viu encarregado de uma nova missão. Viajara até ali em busca dos Sete Fidalgos com a intenção de devolver-lhes a vida que tinham, antes de seu tirano tio expulsá-los das terras de Nárnia, a fim de não ser prejudicado em seus planos de dominação. Caspian estendeu suas mãos para a espada que Lorde Mer trazia. Estava encrostada em uma camada de sal, poeira e tempo.

—Recebi esta espada de seu pai. Escondi numa caverna em segurança, todos esses anos.

—É uma espada narniana antiga.- comentou Edmundo, sabendo apenas pelo cabo da espada.

—É da Idade de Ouro de Nárnia, tem sete destas. Presentes de Aslam, para proteger Nárnia. Seu pai as confiou a nós. E que ela proteja o senhor.

Erguendo a espada, o povo bradou em regojizo e aprovação. O rei sorriu e assentiu.

—Obrigada, milorde. Vamos achar seus cidadãos perdidos. Porém, antes de partirmos, preciso falar com o senhor e o Círculo.- disse e apontou para os senhores bem vestidos.- Preciso deixar assuntos resolvidos com os senhores, além de requerir mais alguns estoques. Vamos precisar. Gostaria de sua companhia quanto a isso, visto que o senhor tem mais experiência nesta terra.

O milorde sorriu encantando e agradecido pela atitude de sua majestade. Acreditava não ter mais nenhuma importância desde que seu amigo, o falecido rei, havia partido. No entanto, milorde percebera que sua nova majestade trazia recordações de seu pai, não somente pelo físico. Ele assentiu e tomou à frente, enquanto Caspian ficara para trás com outro intento.

—Edmundo.- chamara o rapaz que andava de cabeça baixa e perdido em pensamentos.

Caspian estendeu a espada para o antigo rei e este a pegou admirado. Fitou Caspian, confuso. Já havia sentimentos demais em si que lhe estavam dando nós em sua cabeça e em seu peito. Somando a atitude lisonjeira de Caspian, parecia que um terremoto havia derrubado qualquer lógica que até então havia conseguido pensar. O rei telmarino tapeou Edmundo no ombro e lhe sorriu amigavelmente. Edmundo assentiu, sorrindo de volta. Querendo ou não, lhe fora oferecido uma das relíquias de Nárnia e ademais, sentia sinceridade no ato de Caspian. Este sabia o quanto Edmundo fora forte em abrir mão da antiga espada de seu irmão, a qual Caspian carregava na cintura. Queria agradecê-lo e recompensá-lo por isso. Somente por isso, não outros coisas.

Ao vê-lo se afastar, Edmundo admirou a espada. Teria muito trabalho para trazê-la de volta à sua glória, mas valeria à pena. Suspirou, todavia confuso com todos os últimos acontecimentos. Nada lhe parecia ter lógica alguma e Edmundo sentia um desespero crescer em si. Detestava quando nada parecia encaixar. Sentia estar entrando em um desses dramáticos romances. Não possuía cabeça para isso. Como sua irmã mais velha estava em falta, teria que recorrer à sua segunda opção: Lúcia.

 

 

 

Os marinheiros carregavam sacos e barris de comidas e bebidas. Não sabiam quanto tempo levaria para chegarem ao seu destino. Poderia levar dias ou meses. De qualquer maneira, era melhor estarem bem preparados. Com o estoque cheio e mais três voluntários à bordo, o navio estava pronto para zarpar. Assim que Lúcia pusera os pés no barco, foi agarrada por duas mãos diferentes em cada um de seus braços.

—Lúcia, preciso falar com você.- duas vozes em uma mesma frase.

A ruiva direcionou o olhar surpreso tanto para a loira quanto para o irmão. Balançou a cabeça, sentindo-se zonza.

—Meu Aslam, sou somente uma. Acalmem-se. O que houve?

Nem Edmundo e nem Irina a responderam. Encaravam-se intensamente e Lúcia não soube dizer se era algo bom ou ruim. Sentia-se no meio de um fogo cruzado e só pensava em alguma maneira de sair dali. Analisou os olhares de cada um e não soube distinguir o que cada um precia sentir mas definitivamente havia mágoa.

—Bem... isto é estranho.

Por um momento os dois desfizeram contato e a fitaram, sem dizer nada.

—Okay... Talvez eu devesse ir para minha cabine e...

—Eu preciso falar com você.- repetiram.

—Okay, talvez possamos conversar todos juntos agora...

—Não!- os dois encararam-se novamente.

—É... pessoal.- explicou Irina.

—O mesmo.- complementou Edmundo.

Lúcia os fitou confusa e suspirou, sentindo os ombros e todo o resto do corpo dolorido.

—Muito bem, estou à disposição, mas não hoje. Pelo menos não para os dois. Eu não sei vocês mas eu acabei de escapar de ser vendida como escrava e ter minha garganta cortada, então... Tempo para apenas um.-eles se olharam de novo.- E, por favor, soltem meus braços.- ela se desfez do aperto.- Eu já tive muito de ser agarrada por hoje. Enfim... quem será o primeiro?

—Eu!

—Qual é o problema de vocês?

Eles não sabiam. Os dois precisavam desesperadamente por um conselho. Irina sabia que tinha de dar um tempo à Edmundo mas não estava disposta a recolher-se na tristeza e esconder-se no escuro de um luto imaginário outra vez. Sentia-se em si um força que havia desaparecido desde a Batalha do Beruna e não pensava em deixá-la escapar. Porém precisava de uma orientação. Lúcia sempre fora sua melhor ouvinte.

Edmundo, entretanto, já não sentia força nenhuma. Até chegara a pensar em uma solução, mas era radical demais, até mesmo para si, o Justo. Infelizmente, desta vez seu maior dilema não era com sua mente, mas seu coração e seus princípios e ele não tinha a menor ideia do que fazer.

—Vossa Majestade.- o moreno virou-se para encontrar o capitão do barco.

Drinian encarava a cena com uma de suas sobrancelhas arqueadas, claramente curioso com todo aquele alvoroço. Porém como bom servente que era, apenas inclinou a cabeça, como um pedido para falar e pretender que não havia notado nada de estranho ali.

—Diga, Drinian.

—Reunimos algumas curandeiras do povo, afim de curar os ferimentos. O senhor é o próximo.

—Para mais tarde.

—Vossa Majestade, é necessário que vá agora.

Edmundo o fitou com certo fogo nos olhos. Detestava ser mandado. Havia aprendido, há muito tempo atrás, que todo ser é um servente, não importa sua posição. E carregava esse aprendizado consigo a todos os lugares. Porém, raras vezes, com a paciência por um fio, seu orgulho escapava e junto de seu sentimento de inferioridade, resultando em atitudes desagradáveis. Conseguia sempre recuperar-se, antes de cometer qualquer tolice. Mas o olhar de desgosto era difícil de conter.

—Perdão, como disseste, capitão?

Drinian engoliu em seco.

—Vossa Majestade, Caspian, deseja zarpar ainda esta noite, afim de não perder mais tempo para com a missão proposta. No entanto, o barco não há de zarpar até todos a bordo terem sido checados.

Edmundo abriu a boca para responder. Nenhuma palavra saiu de sua boca pois o beliscão que teve no pulso o impedira. Ele virou-se para fitar Lúcia. Ela apenas fez um gesto com os olhos e a boca, pedindo silenciosamente para ele ir, sem questionar.

—Conversaremos amanhã.

Ele apertou os lábios. Respirou fundo e assentiu, a contragosto. Antes de retirar-se olhou rapidamente para a loira. Ela prendeu a respiração, com uma súplica por sua atenção disfarçada em seu olhar. Ele desviou o olhar para o chão e seguiu o capitão. Irina deixou os ombros caírem.

—Irina, sei que não é de minha conta, mas... está tudo bem?- a ruiva perguntou.

Lúcia não se sentia muito à vontade. Sentia algo muito pesado entre aqueles dois. Não era como quando chegaram, quando havia algo estranho, mas era uma distância. Até mesmo ela sentira com a loira. Mas ali parecia algo mais sério. No entanto tinha medo de insistir o assunto. Não sentia-se mais próxima de Irina. Não sentia-se mais bem- vinda ou confortável em qualquer assunto junto dela, especialmente a falar sobre seu irmão. Irina dirigiu-se a ela e sorriu levemente.

—Ficará. Lúcia- disse, pegando na mão da rainha-, eu preciso do seu conselho.

Lúcia arregalou os olhos com o dizer, porém não pôde evitar o sorriso. Irina a estava chamando. Era um bom sinal e não queria perder a oportunidade de reunir-se a amiga como uma vez fora.

Foram para o quarto da loira e sentaram-se no baú de tampo reto, abaixo da janela. Irina acendeu uma lanterna que estava ali aos pés. Pôs entre as duas e colocou as pernas para cima, cruzando-as. Lúcia quase riu com aquele ato. Uma ação tão boba, tão infantil mas que lhe trazia à mente algo parecido como ingenuidade. Isso lhe remetia a uma antiga Irina.

—Muito bem. O que houve?

Irina suspirou e sorriu por um instante. Sentia-se diferente. As palavras daquela velha não lhe saíam de sua mente. Pensar que Helena, sua adorada e já falecida irmã, havia feito algo pensando na loira futuramente, lhe dava mais incentivo com sua nova meta. A velha estava certa. Não poderia deixar que sua vida fosse em vão. Ela estava bem. Vivia bem. Sua mãe morrera em paz e Lúcia estava de volta. Ele estava de volta. Apesar de ter certas dúvidas em si, precisava convencê-lo a ouvi-la primeiramente. Lúcia poderia ajudá-la. Além disso, devia a verdade para a ruiva. Havia a destratado sem motivos racionais, apenas emocionais e isso não era justificativa suficiente.

—Eu preciso de sua ajuda. Para... me reaproximar de Edmundo.- Lúcia sorriu e bateu palminhas, animada com a frase.

—Isso é sério, Irina? Meu bom leão! Eu fico tão feliz em saber! Mas o que mudou?

Irina sorriu de canto.

—Uma velha... amiga, me acordou. Acho que eu estive adormecida por muito tempo. Era o que eu precisava.- balançou a cabeça.- Enfim... Eu lhe devo desculpas. Eu... fui rude e insensível. Eu não tenho como me defender e não quero.- Irina fitou os olhos bondosos da ruiva.- Eu sinto muito. De verdade.- suspirou.- Eu quero fazer certo. E... eu confio em você para isso.

Lúcia pegou as mãos de Irina e as apertou firmemente.

—Vamos tentar o que pudermos, okay?- a loira assentiu.

—Okay. Bem... eu devo uma explicação à Edmundo mas ele não quer me ouvir. Eu não o culpo. Ele não me deixa me aproximar e pensei que...

—Explicação sobre o quê?- indagou Lúcia, sem maldade, apenas curiosa, como sempre foi.

Irina prendeu a respiração por um segundo. Suspirou, tomando uma decisão. Se fosse pedir a ajuda da ruiva, teria que ser sincera. Não poderia esconder nada mais dela e nem queria. Estava cansada de carregar tantos segredos em si. Todas as relações que tinha já estavam por um fio e se esse era o preço da verdade, que assim fosse.

—Lúcia... eu... fiz algo. Nesses três anos sem vocês, aconteceram algumas coisas.- a ruiva franziu o cenho.- Eu beijei Caspian, Lúcia. Nos beijamos... mais de uma vez.

Lúcia ficou boquiaberta. Abaixou o olhar e soltou as mãos da loira. Os olhos corriam por várias partes do chão, mas não fixavam-se em ponto algum.

—Lúcia, você está bem?- os papéis haviam trocado naquele momento.- Lúcia, eu sinto muito. Eu realmente sinto. Eu sei que o que fiz foi errado e... eu me arrependo. Eu não posso dizer que foi ruim, seria uma mentira.- engoliu em seco.- Mas eu não quis machucar ninguém. Eu...

—Tu gosta dele?

—Perdão?- perguntou Irina, piscando.

—Tu gosta de Caspian?

—Lúcia, que tipo de pergunta..

—Vocês se beijaram. Houve algo. Tudo bem. Não precisa me mentir.- explicou a ruiva, rude de uma maneira não vista antes.- Gostas de Caspian?

A ruiva havia tocado no exato ponto. Exatamente na dúvida que Irina não se permitia pensar, pois sabia que outras perguntas iriam surgir e poderiam complicar mais ainda.

—Eu... não sei.- respondeu sincera.

Ficaram em silêncio.

—Edmundo sabe?

A loira assentiu.

—Sim, mas não sabe os detalhes. Eu tentei lhe explicar, mas... ele não quis ouvir.

Lúcia assentiu, apertando os lábios.

—Sabe que... de certa forma, ele não tem culpa em agir assim.

—Claro, claro... Eu sei disso. Eu não o culpo. Mas... não quero deixá-lo no escuro com pensamentos errados. Digo... tão mais errados quanto possíveis.- suspirou.- Ele não vai me escutar. Porém... talvez ele lhe dê ouvidos, Lúcia.

A ruiva ergueu olhar e viu as sobrancelhas da loira franzidas, junto com um olhar suplicante. Ela engoliu em seco. Algo lhe doía. No peito. Uma dor que não havia sentido antes. Algo como se uma agulha estivesse sendo enfiada em seu coração e não havia como tirá-la dali. A cada segundo, ela afundava mais.

—Eu não posso ajudá-la se tu não sabes o que queres.- respondeu Lúcia.- Eu... pensarei em algo sobre Edmundo. Mas não posso fazer muita coisa se não tem uma decisão pronta. Além do mais, não é justo com meu irmão.

Lúcia levantou-se e passou as mãos nas calças.

—Pense sobre isso. Amanhã falamos mais.

—Mas tu já vais?- a loira levantou-se em um pulo.- Eu sei que é tarde e lhe tratei mal no início mas...

—Não, Iri.- a ruiva sorriu, amenizando a má impressão.- Está tudo bem. Não se preocupe. Eu só estou... cansada de hoje. Foi um dia longo.

Irina concordou em silêncio.

—Obrigada por me ouvir.

—Tudo bem. Apenas... pense no que eu disse.

E ela saiu do quarto, sem abraçar a loira ou dizer mais nada. Irina sentiu a garganta fechar. Era um comportamento frio vindo da rainha. Não que Irina pudesse culpá-la, após o que tinha feito. Porém acreditava ter outro motivo para isso. Não pelo fato de que havia sido, de certa maneira, infiel ao seu irmão, mas algo a mais. Algo que a loira não pôde decifrar no momento. Ao mesmo tempo que tentava encontrar a resposta, a outra pergunta lhe martelava na cabeça. Havia beijado Caspian mais de duas vezes. Todas em circunstâncias... específicas. Irina sabia o que sentia por cada um três anos atrás. Todavia o tempo havia passado, novas informações e acontecimentos ocorreram. Irina voltou a sentar-se no baú e fitou o mar calmo. Olhou para o céu, em busca de alguma estrela a iluminar-se.

Era uma noite escura.

 

 

 

Lúcia fechou a porta com um estrondo.

Ao escorar as costas na madeira, pôde soltar a respiração e os soluços. Nenhuma lágrima caiu, mas os ofegos eram a única maneira que ela encontrara a fim de aliviar as dores do peito. Por que doía tanto? Aproximou-se do baú. Caspian havia cedido sua cabine à Lúcia, para que ela não tivesse constrangimentos ou que tivesse que dormir abaixo do convés, junto dos marinheiros. Ele tomara esse lugar. Um verdadeiro cavalheiro.

Talvez não para tanto...

Retirou as roupas rasgadas e sujas, estendendo-as sobre o encosto da cadeira. Jogou por cima de si uma das camisas que Caspian havia lhe emprestado. Irina tinha sim lhe dado uma de suas camisolas, mas ela descartou tal opção. Deitou-se na cama, abaixo dos lençóis e suspirou. Por algum não tão estranho motivo, o cheiro ao redor concentrava-se em maresia e laranjas. A ruiva encostou o nariz no tecido da camisa e respirou fundo, sentindo mais profundamente o notável cheiro da fruta. Seu coração apertou-se.

Por que estou triste? Não estou brava com Irina. Não estou triste por Ed. Estou triste com... Caspian. E comigo. Por quê? E por que dói? Por que dói quando penso Caspian beijando Irina? Por que isso me incomoda tanto?

Pensou por um momento, aceitando a verdade que fugia há alguns dias.

Porque eu queria que fosse eu a beijá-lo.

Apertou os olhos em dor. Uma lágrima escorreu, passou por seu nariz e caiu na almofada. Não abriu os olhos até o amanhecer. Adormeceu com a mistura de sentimentos ardendo em si.

 

 


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Notas finais do capítulo

Peço desculpas a demora (outra vez). Tentei o mais rápido que pude.
Espero que tenham gostado.
Beijos e abraços apertados da Loren.