Rediscovering a Dream escrita por Loren


Capítulo 5
Capítulo Quatro




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—Terra à vista!- gritou o marinheiro do céu. Apontava para a frente do barco, estando no alto do mastro.

Caspian surgiu ao lado de Drinian, perto da proa. Lúcia e o primo, um pouco mais afastados, sendo que um ignorava tudo ao seu redor e a outra observava a ilha à frente, tendo o estranhamento pelo silêncio excessivo como companhia. Edmundo aproximou-se e pôde ouvir a conversa entre rei e capitão.

—As Ilhas Solitárias. O porto estreito.- anunciou em voz baixa para o rei.

—Que estranho. Nenhuma bandeira de Nárnia à vista.- comentou preocupado e passou a luneta para o capitão até chegar ao rei mais novo.

—Mas as Ilhas Solitárias sempre foram de Nárnia.

—Parece suspeito.

—Acho melhor a gente desembarcar. Drinian?- perguntou Edmundo, esperando uma confirmação.

Entretanto o capitão hesitou por alguns segundos e fitou o outro rei, antes de se desculpar.

—Me perdoe Majestade, mas a cadeia de comando começa pelo rei Caspian neste navio.

—Tudo bem.

Toda a empolgação que Edmundo sentia próximo a uma nova aventura, dissipou-se ao perceber que era rei, mas não exercia o ser rei. Continuava a ser o segundo rei. Aquele que só procuravam quando tinham alguma dúvida. Dúvida, não interesse por sua opinião. Entretanto, estranhamente, não sentiu raiva, nem rancor, nem tanta frustração como sentia com o irmão mais velho. Devia estar acostumado ou conformado. Não pensou muito sobre. Apenas aceitou. Era mais simples.

—Vamos usar os botes, Drinian. Pegue alguns homens e vá até a praia.

O capitão assentiu e gritou as ordens.

—Homens aos botes, baixem à vela e preparem para largar âncora!

A tripulação mexia-se velozmente, cumprindo obedientes as ordens. Os reis se encontraram perto da escada.

—Aonde vai, Caspian?- perguntou o mais novo estranhado.

O mais velho corou um pouco, mas logo retomou a postura e pôs as mãos para trás.

—Ia perguntar para a senhorita Irina se ela irá nos acompanhar.

—Engraçado. Eu ia fazer a mesma coisa.

—Pois não se incomode. Prepare-se enquanto...

—Não é incômodo para mim.- cortou Edmundo.

Caspian pretendia respondê-lo, mas fora interrompido.

—Guardem suas forças para mais tarde. Talvez seja necessário.- a loira subia as escadas. Uma corda atravessava seu peito e segurava a besta em suas costas. Na cintura, duas pequenas aljavas cheias de flechas. Vestia calças, botas de couro e uma blusa verde.- E sim. Irei.

Houve ali uma tensão que era quase capaz de pegá-la no ar. Caspian sentia desejo e tristeza. Edmundo, confusão e frustração. Irina, tudo isso e culpa. Acima de tudo, culpa. Dirigiu-se para um dos botes prontos e subiu sozinha. Logo outros vieram, preencheram os vazios e em seguida estavam todos remando para a maior das Ilhas Solitárias, a grande responsável pelo comércio e tratos políticos. Quanto mais próximos ficavam, mais o peso do silênco os angustiava. Apesar dos nomes recebidos, os habitantes sempre foram muito receptíveis, animados e falantes. Aquela calmaria não era comum.

—À frente, a emoção do desconhecido nos espera!- disse Ripchip, provavelmente o único animado com as perspectivas à frente.

—Não podia ter esperado até de manhã?- perguntou emburrado o intruso, vulgo, primo.

Ripchip, que até então não havia gostado e recebido o rapaz muito bem, virou-se e não importou-se em gastar suas palavras com um menino birrento e mimado, mesmo sabendo que não havia grande diferença. Mas Ripchip era assim: a causa poderia ser perdida, mas este continuava de pé, com o rosto erguido e a espada em punho. Alguns o chamavam de tolo. Outros, apenas de corajoso. Uma pena que este último grupo, tenha rareado, enquanto o primeiro, parece nunca ter fim.

—Não há honra para dar as costas para a aventura, rapazinho.

—Escutem...- pediu Lúcia.- Cadê todo mundo?

Os botes atacaram. Caspian desceu primeiro, segundamente Edmundo, em seguida Irina, e por fim Lúcia. Enquanto isso, Ripchip continuava sendo cordial, pois era de seu feitio. Enquanto Eustáquio continuava sendo a mula que era.

—Me dê logo essa mão, rapazinho.

—Eu consigo sair sozinho.

Estupidamente, o garoto pisou em falso e caiu sobre os degraus com um pé perdido na água. Caspian o olhava um pouco surpreso.

—E é parente de sangue de vocês?- perguntou para Lúcia e esta fitou o primo decepcionada.

Os reis e rainha foram tomando a frente, com passos lentos e tendo os ouvidos bem aguçados. O som de um sino ecoou por toda a ilha. Pássaros voaram com o susto e Eustáquio quase voltou para o bote com o susto repentino. Os outros, entretanto, apenas ergueram as armas e esperaram algum movimento. Como o silêncio voltou a reinar, Caspian deu suas ordens antes de subir para o desconhecido.

—Ripchip, fique aqui com os homens de Drinian e proteja o lugar. Nós vamos entrar. Se não voltarmos ao amanhecer, mande nos procurar.

—Sim, majestade.

Eustáquio engoliu em seco com a ideia de não voltar, contudo seguiu junto com os primos, pois seu desprezo pelo rato era muito maior que seu medo.

 

 

 

Eram casas feitos de tijolos, barro e portas de madeira.

As ruas, de terra, estavam completamente vazias. O silêncio era tão intenso que chegva a pesar nos ouvidos dos únicos loucos a se arriscar ali. Entretanto, todos mantinham as posturas e armas firmes. Exceto Eustáquio, claro. Este chegava a tremer de puro nervosismo que corria por suas veias. Afinal, devia ser o comum beirar a loucura após a vida toda viver do quarto para a escola e vice-versa, tudo o que sabe foi lendo os livros, nunca fizera uso da visão e ser mimado constantemente pela mamãe. Ele estava vivendo, realmente, pela primeira vez. E apesar de Nárnia ter seus encantos, continuava sendo um lugar onde espadas eram usadas e disputados ocorriam. O bem contrastava com o mal. O chamado equilíbrio, afinal.

Eustáquio, curioso, observou por entre algumas tábuas pregadas nas janelas. Surpreendeu-se ao ver uma família no canto. Pareciam assustados demais e temorosos. Com o quê, Eustáquio não saberia dizer, mas não pretendia ficar para encontrar a resposta.

—É. Parece tudo abandonado! Já podemos voltar?

Edmundo suspirou e propôs uma alternativa para se livrar do primo por alguns minutos, que fosse.

—Você quer ficar de guarda ou ajudar?- perguntou e apontou para o edifício atrás de si. Era o maior de todos e ficava no centro da pequena praça. Devia de haver algo útil ali dentro.

—Ah sim! Boa ideia, primo. É bem... lógico.- concordou e se aproximou.

Os outros se entreolharam e olharam para o rapaz novamente, perguntando-se se era mesmo uma boa ideia. Caspian retirou um punhal e estendeu para o loiro, trêmulo. Quando o grupo se aproximou da porta, Edmundo virou-se para a loira e a deteve com um braço.

—Deixe que eu entre primeiro, Iri. É arriscado.- ela fechou a cara, mas não teve tempo de responder.

—Não se preocupe, Edmundo. Eu sou o rei. Eu devo tomar a frente.- intrometeu-se Caspian, claramente enciumado, pois ele queria poder dizer tais palavras para a loira. Ele queria tal liberdade para com ela e no fundo queria sobresair-se mais que o outro. Somente Irina entendia tal comportamento.

Edmundo sentiu novamente ser rebaixado e no entanto naquele momento ele não via necessidade disso. Sentiu-se furioso e pegou na maçaneta da grande porta. Para ele, já não era mais somente sobre a loira. Era sobre si. E estava farto de ser tratado como um inferior.

—Continuo sendo o Justo. E, por ser mesmo o atual rei, deixe que eu vá na frente. Seu pescoço deve ser muito valioso.- respondeu com um tom de sarcasmo.

—Sendo assim- respondeu Caspian, vendo uma oportunidade-, Irina entrará próxima a mim. É uma ótima guerreira.

—Não. Quando eu disse que entraria primeiro, pensava que Irina fosse comigo. É meu dever protegê-la...

—Calem-se!- sua voz ecoou por todas as ruas. Eles a fitaram surpresos. Ela estava furiosa. As bochechas, coradas e as narinas ofegantes delatavam isso.- Não sou coisa ou assunto para ser de responsabilidade de alguém. Posso muito bem cuidar de mim mesma e pedir por conta própria ajuda, caso eu queira. No momento, entretanto, eu dispenso.- virou-se e pôs a besta em riste.- Entrem vocês. Eu ficarei de guarda juntamente com o novo convidado.

—Mas por quê?- perguntou Edmundo.

—Primeiramente, porque eu quero. E segundamente, é visível que deixá-lo aqui sozinho é como jogar a presa aos lobos.

Eustáquio quis demonstrar ofensa, porém as mãos trêmulas diziam o contrário. Pela primeira vez, manteve-se em silêncio. Estava apavorado com os últimos contecimentos: um lugar novo, criaturas estranhas e um arma em sua mão. O suficiente para que sua pequena mente travasse. Irina continuou com a posição ereta e os olhos atentos. Os rapazes estavam desconfortáveis. Perceptível pelos seus silêncios e falta de ação. Lúcia, mais preocupada em seguir a missão e, secretamente, um pouco irritada com o mesmo assunto de sempre, passou por trás dos reis e abriu a porta. Os reis a seguiram. Outra vez, secretamente, irritou-se por nenhum se dispôr a tomar sua frente.

Quando estes adentraram, tudo aconteceu muito rápido, apesar da descrição ser um pouco longa.

Irina suspirou agradecida. Não aguentava estar tão perto dos dois ao mesmo tempo. As sensações e os sentimentos de sempre a invadiam e a atormentavam. Balançou a cabeça, tentando espantar os pensamentos. Concentrou-se na guarda. Concentrou-se tão verdadeiramente que até esquecera do rapaz ao seu lado. Nem sequer se apresentara, coisa que até então não tinham feito oficialmente. Nem pensou em tentar recebê-lo ou ser gentil. Não fora por falta de educação. Ela simplesmente esquecera. Às vezes o interior está tão cheio que o exterior não faz mais sentido. Correu os olhos pelas casas fechadas e ruas desertas quando um vulto chamara sua atenção.

—Viste?

—O quê? O quê? O quê?- ela continuou e ele espantou-se.

—Está louca?!- ela o fitou, carrancuda.

—Já vejo que não se arrisca a averiguar. Não há problema. Eu irei, mas consegue manter a guarda sozinho?

O orgulho de sempre voltaram com a pergunta desafiadora. Inflou um pouco o peito e controlou o tremor das mãos e olhos.

—Claro que sim. Já fui elogiado inúmeras vezes na sala de aula pela minha incrível capacidade de concentração.

Irina apenas arqueou as sobrancelhas.

—Certo. Já volto. Fique atento.

Quando chegara mais perto percebeu uma escada entre duas das casas. Provavelmente o vulto passara por ali. Segurou firme a besta e subiu com cuidado. Aguçava a audição, a fim de não eprder o que seus olhos deixassem escapar. O final das escadas acabava em um corredor aberto de onde podia-se ver a praça de um lado e do outro, o resto da rua. À frente erguiam-se quatro paredes com um teto. Não era uma casa, lembrava um posto de observação. Mas Irina não ficou a se questionar sobre isso. A porta estava aberta e, por conta das janelas fechadas, o recinto estava às escuras. Porém conseguia discernir uma forma ao fundo. Não sabia nem dizer se era mulher ou homem. Aproximava-se com passo lento e antes que pudesse falar com a suposta criatura, um grito fino e curto quebrou o silêncio.

Eustáquio estava com a própria faca na garganta, rendido nos braços de um enorme homem que lhe tapava a boca e deixava a lâmina rente a pele exposta. Irina rapidamente abateu o desconhecido com uma flecha na cabeça.

—Corra!- gritou a loira quando percebeu que o rapaz estava estático.

Quando este se moveu, ela virou-se para voltar às escadas mas um outro homem barrava a entrada. Era tão grande quanto o outro. Era careca e suas vestes lembravam um marinheiro. Ela pegou outra flecha e disparou rapidamente, atingindo o ombro. Ele não pareceu se importar e partiu para cima. Ela bateu em seu rosto com a arma, porém em seguida ele pegou seu braço, impedindo-a de repetir o ato. O nariz estava torto e sangrava juntamente com o corte da bochecha. O homem pegou a besta e a jogou para a praça.

Apertou e torceu o pulso da loira. Esta, gritou e caiu de joelhos. O homem sorriu, convencido de sua força e domínio. Ele apenas não esperava que a loira se erguesse, criando uma dor aguda em seu abdômen. Apesar do seu teatro de sofrimento ter sido bem sucedido, Irina não sorria. Se concentrava em terminar o que havia começado. Retirou a adaga, a qual ela levava escondida na cintura da calça, e a levou para o pescoço do homem. Este, caiu no chão, sem mais sorrir.

Na praça havia um novo grupo de homens. Eustáquio estava rendido outra vez e Irina irritou-se com a incompetência do rapaz. Desta vez, um homem magro e com roupas pomposas, usando um pequeno turbante. O sino tocou de dentro do grande prédio e o som de gritos e espada contra espada começaram. Ela olhou mais uma vez para aquele estranho homem e pôde ouvi-lo dizer:

—Peguem-na!

O barulho de porta se abrindo chamou sua atenção para aquele estranho recinto e do outro lado o vulto corria por outro corredor. Ela o seguiu, a fim de cumprir o que queria e escapar. Descobriu que havia outros recintos parecidos e inpumeros corredor interligados que passavam por cima das ruas, sendo na verdade pontes. Ouvia os gritos dos homens se aproximarem e tentava concentrar-se em não perder o vulto. Entretanto, em certo momento, dobrou em uma esquina fechada e a porta estava trancada. Ali, ao seu redor, já não eram recintos e sim casas de dois andares.

O vulto havia desaparecido e ouvia seu coração bater nos ouvidos. Respirava ofegante e os cabelos grudavam na pele suada. Tentou inutilmente arromar a porta. Os gritos e passos se aproximavam. Ela olhou ao redor, tentando encontrar um escape. Havia, junto a parede, dois barris. Ela subiu e em seguida pulou para o telhado. Ali conseguia ter uma visão ampla de toda a ilha e do outro lado de onde veio, havia dois navios de onde pessoas subiam em filas indianas e presas umas às outras. Homens responsáveis ficavam ao lado da entrada, vez ou outra fazendo o uso do chicote. O coração de Irina falhou por um segundo.

—Mercadores de escravos...

—Lá está ela!

Ela nem sequer virou-se para certificar-se da distância. Disparou a pular por entre os telhados que eram mais próximos uns dos outros. Já havia pulado cinco quando sentiu um baque contra o ombro. Tropeçou com a distração e caiu. Sorte ou coincidência, haviam fios para pendurar as roupas de um prédio para o outro. Apesar de terem se arrebentado com o peso, diminuíram o intenso baque que teria sido.

O corpo doía e demorou um pouco para a respiração voltar ao normal. Levantou-se e o ombro ardeu em pontadas na carne. Sentiu a visão embaçar e o corpo cambalear. Olhou por cima e encontrou a flecha enterrada na carne. A blusa manchava-se em sangue. Não pensou ou agiu. Nem sequer tivera tempo. Duas mãos a pegaram pelos tornozelos, a puxaram para o chão novamente e logo a arrastou para abaixo do prédio.


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