Rediscovering a Dream escrita por Loren


Capítulo 4
Capítulo Três




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—Lúcia?- a ruiva virou-se instantaneamente. Seu sorriso apareceu tão rapidamente que chegou a assustar Irina. Ela continuava a surpreender-se com as pessoas fazendo isso. Surpreendia-se ainda mais com a facilidade que tinham.

—Iri! Que bom que está aqui! Queria mesmo conversar com você.

—Caspian me avisou.- informou, retomando a inexpressividade, o sorriso vazio e os olhos mais calmos.

Lúcia, entretanto, franziu as sobrancelhas e o nariz.

—Mas eu não disse nada à Caspian.

—Não?

—Não. Eu desci da proa faz pouco. Na realidade, eu recém sentei aqui.- explicou e esticou o braço, indicando a borda.

Irina fitou uma linha qualquer da madeira. O Peregrino da Alvorada havia sido feito pelas melhores mãos e mentes do reino. Tão bem lixado, pintado e polido que quase mal podia se ver as linhas que a madeira possui e que dizem tanto sobre si. Irina gostava de quando a madeira era mais clara. Era mais fácil de vê-las. Pegava uma qualquer e seguia seu rastro. Entristecia-se quando chegava ao fim. Não só porque confirmava sua crença de que tudo existenten acaba, assim como também obrigava-a a voltar a pensar e viver. Por ela, seguiria linhas por tempo indeterminado.

Mentira. Foi a palavra que fez Irina voltar para as coisas sérias e chatas. Quem diria, rei Caspian? Mentira? Ela pensou no porquê e não tardou em encontrar a resposta.

Suspirou. Flaria com ele mais tarde.

—Está tudo bem?- perguntou Lúcia, desviando a loira dos pensamentos.

—Claro. Sobre o que gostaria de falar?

Lúcia voltou a se sentar e se ajeitou uma ou duas vezes antes de falar, parecendo desconfortável. Olhou para o chão, molhou os lábios e por fim fitou Irina.

—Eu fiquei sabendo, Iri. Sobre sua mãe e a guerra contra os Calormanos.

A loira não evitou o espanto e arregalou os olhos outra vez. Acompanhou a rainha e sentou-se igualmente, apesar de começar a sentir ânsias. Não esperava que as notícias corressem tão rápido assim.

—Ripchip provavelmente lhe contara.

Lúcia assentiu.

—Sinto muito, Iri. Mas está tudo bem.- disse e voltou a sorrir, pegando na mão da loira. Esta, a olhou estranhada.

—Como?- perguntou, fingindo confusão.

—Está tudo bem, Irina. Eu e Ed estamos de volta. Vamos te ajudar. Vai ficar tudo bem. Já passou tudo mesmo.

Talvez o sorriso doce e sincero de Lúcia devesse tranquilizar e amenizar a frieza de Irina. Mas não foi o que aconteceu. Pelo contrário, ela sentiu nojo. Logo em seguida, raiva. E por fim, remorso. Nojo por conta do sorriso. Eram tantos sorrisos despejados facilmente que Irina sentiu-se ofendida, como se fosse uma afronta, um lembrete de que ela não era capaz da proeza mais básica do mundo. Raiva por conta das palavras. Como a rainha podia fazer tal discurso? Como ela omava coragem para se intrometer em tais assuntos? Como ela podia dizer o que o futuro lhe reservava, quando o que sentia era apenas um vazio tão grande como se fosse engoli-la de dentro para fora? Sentiu raiva pela ignorância da ruiva. Remorso por conta dos sentimentos anteriores. Apesar de continuar a julgar Lúcia como tola, lembrava-se o quanto havia lhe ajudado em outrora. Sentiu-se mal pelo seu egoísmo e ingratidão. Sentiu-se mal por criar sentimentos tão negativos e mesquinhos para com Lúcia. Justamente Lúcia. O rosto ardeu em vergonha. Controlou os mal dizeres da língua e sorriu amarelo.

—Obrigada, Lúcia.

Esta sorriu, sentindo-se melhor e realmente satisfeita. Bebeu do copo e dedicou a atenção à nova atração do momento: um duelo de espadas. Os dois reis pareciam determinados demais para uma pequena demonstração. Mas era o ego inchado e medíocre masculino sendo posto à prova. Obviamente, haveria algo do tipo. Os marinheiros gritavam exultantes e as mulheres batiam palmas. Os olhares dos homens eram de admiração. Os das duas mulheres se diviviam no mesmo dos outros e em malícia. Entretanto, Irina dedicava-se aos dois, enquanto Lúcia apenas um.

O duelo acabou sem nenhum vencedor, mas com as dúvidas quitada sobre a força e habilidade dos reis. Após, cada rei tomou um lado. Edmundo aproximou-se de onde as raparigas estavam e colocou-se ao lado de Lúcia. Acreditava que era o melhor a se fazer. Bebeu agradecido do copo que um dos marinheiros lhe oferecera e sorriu em seguida. Virou-se para elas, escorou-se com um cotovelo na borda, pernas cruzadas e peito estufado, tomando uma postura um tanto quanto galanteadora. Imagem reforçada pelo sorriso de canto.

A respiração de Irina falhou um pouco e por um momento voltou a se sentir aquela menina de três anos atrás, preocupada em apenas encontrar a irmã desaparecida e entender porquê seu coração palpitava mais forte quando o via. Vendo aquele sorriso outra vez, quis beijá-lo, abraçá-lo e mordê-lo. Jogar-se em seus braços, rodopiar e rirem aleatoriamente como faziam naqueles últimas dias juntos em Nárnia. Quis gravar a imagem em sua cabeça e, de repente, outras passadas começaram a surgir em sua mente. Como se ela não as tivesse perdido. Estavam ali. Somente esperando a coragem dela de revê-las.

—Então, minhas queridas, o que acharam?

—Lamento, Ed, mas Caspian está melhor que você.- o rei franziu as sobrancelhas.

—Estou um pouco enferrujado, apenas. Logo estarei muito melhor. Não concorda, Iri?

Ela engoliu em seco e apertou as mãos suadas contra o tecido do vestido. Ele queria que ela risse e em seguida corasse. Nunca havia visto sua pele tão pálida como nesse dia. Queria que ela lhe mostrasse a língua, ele a provocaria e ela concordaria por fim sorrindo docemente. No entanto, não foi o que ela fez. Ela sorriu de forma simplória. Tão simplória que lembrava aquele sorriso que você dá para a pessoa que não gosta, mas sua mãe lhe deu educação e você sabe que não é elegante mandar a pessoa para o Inferno. Edmundo interpretou dessa forma. E isso lhe partiu o coração.

—Claro, Edmundo.- Foi muito bem. Irá melhorar, sem dpuvidas. Com licença, preciso falar com o capitão.- e saiu, sem apressar os passos.

Edmundo suspirou.

—O que foi, Ed?

Ele deu de ombros e bebeu o copo em um só gole.

—Vamos, diga.

—Irina.- ela assentiu.- Não a reconheço. Está tão estranha... Tão distante. Não era o que eu esperava. E...- ele hesitou.

—E você esperou tanto.

Ele não disse e nem gesticulou coisa alguma.

—De fato, há algo estranho em Iri. Mas não me admira após tudo o que aconteceu.

—Como assi?

—Ela não te contou?

—Não.

—Achei que tinham conversado.- ele corou.

—Bem...- e a irmã riu baixinho.

—Tudo bem. Se poupe e escute.

E Edmundo escutou. E surpreendeu-se. E admirou-se. E enfureceu-se. E pasmou-se. E entristeceu-se. Tudo rapidamente porém tão intensamente que no final sentia-se tonto.

—Céus... Iri...

—Sim. Foi terrível.- Lúcia suspirou.- Devíamos ter ficado.

E, por fim, Edmundo culpou-se. Ergueu os olhos e encontrou, perto do timão, ela, o rei e o capitão conversando. O capitão dirigiu-se para o escritório, juntamente dos outros. Edmundo engoliu em seco quando viu Caspian dar a frente para Irina e lhe sorrir. Ela não retribuiu, apenas seguiu. Mas o gesto do rei não lhe saía da cabeça.

—Lúcia.

—Hum.

—Você acha que...- hesitava em tocar no assunto.

Mal havia se passado um dia desde que voltaram. Talvez estives sendo precipitado demais.

—O que foi, Ed?

—Nada.

—Como assim? O que você...

—Já disse. Esquece, Lúcia!- ordenou agressivamente.

Lúcia recuou um pouco, surpresa com o tom do irmão.

—Desculpa.- pediu, sincero e ela assentiu em silêncio.

Ainda estava magoada, mas estava muito mais preocupada. Desde a primeira vez em Nárnia que Edmundo não gritava mais com ela. Ia perguntar novamente. Insistiria até o irmão abrir a boca. Mas Eustáquio chegou e ela não pôde comentar mais nada, a não ser tentar mostrar inutilmente o lado bom dos acontecimentos para seu primo ranzinza e carrancudo.

 

 

 

—Se minhas contas não falham, devemos chegar ainda hoje ou amanhã, durante o crepúsculo, nas Ilhas Solitárias.

—Muito bem.

—Mais alguma coisa?

—Não, Drinian. Pode ir. Obrigado.

O capitão os reverenciou e se retirou, dando um último olhar de canto para o rei. Temia deixá-los a sós, mas era ordem e não havia a menor possibilidade de discordar.

—Bem- disse Irina, enrolando os mapas e dirigindo-se para o armário a fim de guardá-los-, parece que está tudo certo no rumo. Chegaremos antes do esperado.- e quando virou-se, seu corpo fora prensado contra o móvel.

Descompassada a respiração e um nervoso gostoso revirar-se em seu estômago, tentou protestar, mas da sua boca saíram apenas ofegos surpresos.

—Por favor, Irina. Pare com isso... Pare de me torturar com essa distância.- dito isso, apertou-lhe a cintura fortemente.

Sua boca estava próxima a testa dela e seus quadris estavam extremamente juntos. A barba raspando de leve a arrepiava e o cheiro invadindo suas narinas a desnorteava. Suas mãos pousavam sobre seus braços e como vestia apenas uma camisa fina e suada, conseguia sentir seus músculos retesados e bem trabalhados. Quando as mãos dele subiram mais um pouco, ela cravou as unhas. Ele suspirou de extâse.

—Isso sim... Torture-me somente dessa maneira.- sua boca desceu pela sua bochecha.

—Majestade...

—Não!- a empurrou um pouco mais e ela gemeu com o contato das partes.- Não me chame assim. Me chame como você me chamava. Como me chamou naquela noite. E naquele tom...- sussurrou, depositando beijos em seu pescoço.

—Por favor, pare...

Ele gemeu baixo e roçou os lábios nos dela. Seus corações palpitavam loucamente e ela dividia-se na sensação entre suas pernas e a ânsia de vomitar. Até que ela arregalou os olhos quando imagens apareceram em sua mente e retirando uma força de pouco se sabe onde, visto que estava completamente entrega ao momento, o empurrou. Ele a fitou surpreso e magoado. Já havia a visto lutando, mas nunca imaginara que um dia ela usaria sua força para tratá-lo assim. Ela, parecia atormentada.

—Não faça mais isso. Nunca mais.

—Irina...- tentou aproximar-se, mas ela o repeliu com um tapa na sua mão estendida.

—O próximo será em seu rosto.- avisou e caminhou para a porta, com graça e um pouco de pressa nos pés, mantendo a cabeça firmemente erguida. Antes de sair, disse sem olhá-lo.- E a propósito, a mentira dita sobre Lúcia querer me encontrar fora algo muito baixo. Deveria se envergonhar de tal atitude.

Ele sentiu-se ofendido e junto da mágoa que rondava seu peito, não aguentou-se em falar também.

—Se levar em conta atitudes, a senhoria devia fazer o mesmo.- ela riu sem gosto.

—Acredite, eu o faço.

Ele arrependeu-se. Apesar do riso, sabia o que ela sentia. Sabia que, de certa forma, sofria. Quando pretendia desculpar-se, ela saiu e ali sim, disparou a correr para o quarto. Felizmente, ninguém interferiu-se em seu caminho. Quando fechou a porta atrás de si, a raiva transbordou em lágrimas.


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