Rediscovering a Dream escrita por Loren


Capítulo 3
Capítulo Dois




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Onde o céu é o mar se encontram,

Onde as ondas se adoçam,

Não duvide, Ripchip,

Que no Lest absoluto está,

Tudo o que procura encontrar.

—Que bonito.

Ripchip soltou um grito afinado por conta do susto. Sorriu e juntou as mãos, parecendo um pouco envergonhado com a exposição em que foi visto.

—Oh, obrigado. Uma dríade do bosque cantou para mim quando eu era só um filhotinho. Eu nem imagino o significado, mas nunca me esqueci das palavras.- a ruiva sorriu, mas logo seu rosto fechou-se e tocou no assunto que a atormentava.

—Rip, o que acha que existe além das Ilhas Solitárias?

—O lugar mais oriental que se pode chegar é o fim do mundo, o País de Aslam.

—Acredita mesmo que tal lugar exista?

—Só nos resta acreditar, não é mesmo?- respondeu em um tom melancólico.

—Será que dá para chegar lá de barco?

—Bom, só existe um jeito de descobrir. Eu só espero que eu ganhe o direito de ver.- o rato reverenciou, pedindo licença.

Estavam na proa do barco e na madeira estava esculpida a cabeça de um dragão. Ripchip estava em pé, com as mãos apoiadas no pequeno chifre entre as narinas do dragão. Lúcia sentou-se de lado entre os chifres da cabeça e olhou o mar ao redor. Lembrava-se detalhadamente dos campos, montanhas, cachoeiras e bosques de Nárnia, mas do mar, vagamente. Não sabia dizer se era a memória enfraquecendo ou se durante a Idade de Ouro, pouco havia se aventurado pelas águas.

Era lindo. O brilho dos raios de Sol era refletido pelas águas e o fato de que qualquer lado para que se olhasse não havia terra alguma, apenas a linha do horizonte despertando a curiosidade e o receio, era de certo modo desesperador e divertido. Desviou o olhar do céu limpo e começou a analisar o barco. A tripulação consistia em uma dúzia de homens, três faunos e um minotauro. Todos estavam concentrados em suas tarefas. Não pareciam felizes, afinal, ninguém estaria baixo o Sol no horário de pico, mas com certeza não estavam desesperançosos e destroçados como na última vez. Parecia que a vida estava boa enfim.

Em um canto, entre barris e escrevendo furiosamente em um caderno estava Eustáquio Clarêncio Mísero, o primo de Lúcia e Edmundo. Havia ido parar ali por acidente, quando tivera a infeliz ideia de discutir com seus parentes no momento em que o quadro inundou o quarto da ruiva, transformando-o no mar de Nárnia e outros além. Lúcia sentou-se mal pelo imprevisto com o primo, mas o que a rainha não sabia, ou ao menos não se recordava, era que ninguém ia para Nárnia erroneamente.

Do outro lado, apoiada com os cotovelos na borda e as costas eretíssimas, estava Irina. Lúcia sentiu algo pesado em si, somente de olhar para a loira. Recordava-se de vê-la daquela forma um ano atrás. No entanto, parecia pior é por motivos desconhecidos.

—Rip?

—Sim, majestade.

—O que houve com Irina?- o rato virou-se e em seu rosto expressava-se o mais puro desentendimento.

—Perdão, majestade, mas creio que não entendi sua pergunta.

—Olhe para ela, Rip.

O rato se voltou para perto da Rainha outra vez e observou a loira.

—Ora, está normal. Não entendo vossa preocupação.- Lúcia arregalou os olhos, incrédula.

—Rip! Ela não era assim! Me recordo de quando ela passou por algo parecido. Foi por conta de Helena, sua irmã. Mas ela parecia estar... Sofrendo. Estava triste. Agora, é como se ela não sentisse nada!

—Ah.- de repente, a estranheza do assunto sumiu de sua face.- Compreendo aonde quer chegar, majestade.- o rato sentou-se com as costas eretas e pousou as mãos nos joelhos.- Ocorre que eu não havia entendido o assunto antes por este já ter se tornado comum.- a ruiva fez uma careta, confusa.- A senhorita Irina tem se comportado dessa forma já faz um ano e alguns meses.

Lúcia arregalou os olhos e prendeu o ofego da surpresa que sentia.

—Sim, majestade. Começou logo no início da batalha contra os Calormanos. Claro que todos sabiam que a regente não tinha superado a partida de vosso irmão, rei Edmundo. Há boatos de que toda noite ela chora antes de dormir e outros de que fins de tarde, fazia o mesmo no colo da mãe. No entanto, em reuniões, festas, passeios, até mesmo visitas que ela fazia na aldeia, pareceu sempre estar bem. Sorria com frequência e sempre simpática e atenciosa. Eu, particularmente, a via mais vezes do que os aldeões. Ela estava bem, majestade. Talvez com saudades, mas estava bem.

—E o que mudou?

—Não sei dizer. Certamente todas as vezes que havia alguma batalha ou enfrentamento violento, ela se reclusava um pouco. É o normal esperado em tempos assim, até porque anúncios e discursos são responsabilidade do rei, o que a deixava mais afastada de todos, se possível. Mas a dos Calormanos ela chegou a afastar-se até mesmo dele.

—Caspian?- perguntou Lúcia, um tanto surpresa.

—Sim, majestade. Eles eram muito próximos. Quase como irmãos. Como a senhorita e o rei Edmundo.- o rato respirou fundo para continuar.- Dois meses depois houve o sequestro de Irina, no entanto, ela já havia planejado isso. Somente eu e mais um soldado sabíamos.

—Por que ela fez isso?

—Eu me perguntava a mesma coisa. Quando eu pretendia recusar tal absurda ideia, ela disse: “Se alguém estiver lá, saberá mais facilmente o que pretendem. Os Calormanos estão muito mais cuidadosos desta vez, mas se tiverem algo valioso em mãos, acharão que já ganharam. E eu sei sobreviver presa. Já passei por isso.”

—Algo valioso?

—Aslam a designou como regente para a posição de rainha. Para Aslam, um rei pode governar sozinho, mas somente será um bom reinado com uma rainha juntamente. Sua majestade não pretendia casar-se logo e Aslam respeitou. Entretanto, deixou Irina como substituta até a verdadeira rainha aparecer.- sem motivo coerente, Lúcia enrubesceu e mexeu nos cabelos.- Os Calormanos, porém, não entendiam isso. Achavam que ela era mesmo a rainha.

—E como você transportava as informações, Rip?

—Pelos aquedutos. Desaguam ao redor da ilha. Nada limpo e nada agradável, mas foram de grande ajuda. O soldado cúmplice me esperava e cavalgava até Nárnia com as notícias. Quando voltava, eu já tinha novas.

—E como você falava com Irina?

Ele deu de ombros.

— os calabouços do Castelo de Calormânja não são tão resistentes assim. Foi mais do que fácil derrubar um dos tijolos e cavar até o aqueduto mais próximo.

—Céus... E por quanto tempo ficaram assim?

—Dois meses, até o fim da batalha.

—Mas se a batalha havia terminado, por que ela continuou assim?- algo não encaixava para a ruiva.

—Quando ela voltou, descobriu que mãe estava de cama.- e de repente, tudo clareou-se.- Foram seis meses de doença, antes de vir a falecer.- a rainha surpreendeu-se.- Isso foi há dois meses. Ela largou o preto faz somente uma semana.

Lúcia estava perplexa. Tal comportamento agora fazia total sentido. Apesar de entender que já havia se passado algum tempo, não se imaginava superando tantos acontecimentos rapidamente. Compreendeu por fim a loira. Ainda sentia, na realidade, algo mais, algo escondido e pesado rondando-a. Mas ela balançou a cabeça e sorriu. Estava ali e o irmão também. Talvez esse fosse o motivo de Aslam os terem chamado.

 

 

 

—Iri?

Ela apenas murmurou em resposta.

—Podemos conversar?- ela assentiu e virou-se, sem erguer os olhos do chão. Ele remexeu-se e olhou para os marinheiros ao redor, desconfortável.- Não haveria um lugar mais... Reservado?

Ela assentiu novamente e caminhou em direção às escadas do convés. Desceu um lance e dirigiu-se para seus aposentos. Ele a seguiu, sem mencionar palavra alguma. Ela abriu e segurou a porta para ele entrar. Quando o fez, analisou o quarto. Era menor que o de Caspian. A janela ocupava tosa a extensão da parede contrária à porta, tendo abaixo baús instalados na madeira, com tampos retos. Proporcionando mais lugares para se sentar. À direita, a cama de casal com lençóis pêssego de algodão e em frente desta, um espelho alto pregado na parede. Ao lado, uma pequena mesa redonda com uma bacia e jarra para a higiene. Um baú extra aos pés da cama, provavelmente para as vestimentas ou pertences pessoais.

Podia-se perceber o trabalho bem feito dos móveis e a qualidade dos travesseiros e tecidos. O conforto era o mesmo do rei, sem dúvidas. Mas havia uma simplicidade é humildade muito maior que Edmundo não entendia o porquê. Ela poderia ter muito mais e ele não duvidava que ela aceitasse. Porém, ele sentia como se ela mesma houvesse se imposto aquilo.

—Iri, por que...- ele ia perguntar se era mesmo o que estava pensando ou apenas delírio de sua mente, mas fora interrompido.

Pelos próprios pequenos e carnudos lábios dela. Ela o segurou pela nuca e o puxou contra si fortemente. Ele arregalou os olhos e apenas deixou suas mãos postas sobre as costas dela, antes de sentir sua língua invadir sua boca e começar a retribuir. Esqueceu-se de todo o discurso preparado e as perguntas que martelavam em sua cabeça. Ela só queria senti-lo. Não tinha a menor das ideias que a fez ter aquela atitude tão impulsiva. Mas quando fechou a porta e o fato de estarem sozinhos em um quarto, tão pertos um do outro, foi o bastante. Eles se beijaram trocando carícias por um par de minutos, até ele sorrir sobre o beijo e erguê-la do chão. Ela abraçou seu pescoço e gemeu, surpresa com a força que ele havia desenvolvido.

Ele a carregou até a cama e deitou sobre seu corpo magro e comprido. Detalhe que o preocupou, no entanto, naquele momento, decidiu deixar o assunto para depois. Ela agarrava seus cabelos e o beijava com voracidade. Ele, mais calmo, retribuía com apertões leves na cintura e quadril. Quando ela desceu as mãos para a gola dele, a fim de retirar sua blusa, o barulho da porta abrindo-se os fez pular de susto e sentarem-se imediatamente na cama.

Edmundo tinha as bochechas coradas, enquanto Irina tinha os lábios inchados. Os primeiros sentimentos dele foram de desgosto e vergonha. Ela, raiva e culpa. Ainda mais vendo os olhos do seu rei atual dividirem-se em tristeza e fúria. No fundo, ela se sentia uma traidora, sem ter porquê, afinal. Quanto à Caspian, saberemos mais à frente. Edmundo levantou-se e seu ato quebrou a conexão visual que a loira e o moreno estavam tendo. O rei mais velho engoliu em seco e pôs as mãos nas costas, tomando uma postura cordial e formal.

—Desculpem a intromissão. Não sabia que Irina estava acompanhada.

—Ah, tudo bem, ninguém devia de saber...- respondeu Edmundo, rindo nervoso. Entretanto, logo sua expressão endureceu.- Mas o que você veio fazer aqui, Caspian?

—Lúcia estava procurando por Irina, se bem me recordo. E eu já o procurava, Edmundo, para talvez treinarmos as espadas novamente. O que acha?- respondeu prontamente e sorriu sincero ao final.

O rei mais novo suavizou-se e sorriu juntamente, animado com a perspectiva de pegar na arma outra vez. Há tempos sentia essa falta. A loira levantou-se e passou as mãos nas rugas do vestido.

—Se me dão licença, senhores, irei ver o que Lúcia deseja.- acenou com a cabeça e retirou-se sem esperar por uma resposta.

—Vamos?- disse Caspian, batendo as mãos.

—Ah, claro. Onde consigo uma espada?- Edmundo perguntou, saindo do quarto.

—Drinian pode arranjar uma para vós. Ele está no fundo do barco, conferindo os estoques. Irei avisar aos marinheiros para fazerem uma pausa.

Edmundo assentiu e virou-se, ouvindo a porta bater. Caspian passou por ele e subiu as escadas rapidamente. Ele ainda permaneceu parado por alguns segundos, falando consigo mesmo o porquê do outro moreno ter entrado no quarto sem antes bater ou avisar. Nenhum homem faz tal disparate com o quarto de uma mulher solteira. Fosse Nárnia ou outro mundo, era quase regra. A não ser...

Ele balançou a cabeça e procurou por Drinian. Acreditando na própria mentira que era o melhor a se fazer e não porque temia a resposta.

 


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