Rediscovering a Dream escrita por Loren


Capítulo 2
Capítulo Um


Notas iniciais do capítulo

Para Princess Eleanor.
Obrigada.



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—Edmundo...

Ele estendeu os braços. O sorriso continuava ali. Parecia aumentar a cada segundo, na realidade. O brilho dos olhos castanhos... Continuava ali. Continuava o mesmo.

—Iri! Céus! Quanto tempo!- ela piscou e voltou para a realidade onde toda uma tripulação e três majestades a observavam.

Ela olhou ao redor para todos, estranhamente começando a ofegar. Olhavam-na com ansiedade e receio. Todos sabiam pelo o que ela havia passado nos últimos anos, com base em certezas ou rumores, que importava? Apenas pelo seu semblante rotineiro, percebia-se o tormento que carregava nos ombros e na alma. No entanto, quando ela encontrou o olhar do atual rei de Nárnia, deparou-se apenas com tristeza.

—Irina?- desviou para ele, com quem realmente deveria preocupar-se.

O sorriso diminuira um pouco e os braços já não passavam toda aquela sensação de recepção. O brilho pemanecia. Ela aproximou-se com passos rápidos, até parar à sua frente.Fitou atentamente seu rosto. As linhas do maxilar acentuaram-se, o nariz alongou-se e os ombros alargaram-se. Estava mais alto. Seus olhos não batiam mais à altura dos seus castanhos, mas sim na base do seu pescoço. Os primeiros botões estavam abertos e ela perguntou-se se seu corpo teria mudado tanto quanto os traços.

—Iri?

E lá estava o brilho. Mesmo com as sobrancelhas juntas e os lábios apertados em uma linha, ainda estava lá.

—Oh céus...- ela tocou em seu rosto. A pele estava fresca.- É você! É você mesmo!- exclamou, misturada em sensações que lhe borbulhavam o sangue em extâse e embrulhavam o estômago em um desagrado inexplicável.

Jogou-se sobre si e enlaçou o pescoço em um abraço apertado. Ele a apertou contra si na cintura e todos os marinheiros vibraram quando viram o sorriso do seu antigo e estimado rei voltar a aparecer. Ela, com o rosto escondido em seu ombro, chorou em silêncio. E há tanto tempo, não sentia-se daquela forma.

Em paz.

 

 

 

Os reis estavam no camarote.

A rainha e a regente estavam em um quarto extra. Não tão grande quanto o do rei, mas sem faltar conforto. Fora construído para a loira. Ela fazia questão de participar de qualquer viagem possível. Caso permanecesse tanto tempo dentro do castelo, enlouqueceria. Mas ali em meio aos móveis, de frente para a janela, relembrava os últimos minutos vividos com os olhos fixos na divisória do céu e mar, tentando descobrir se já não estava louca. Teve a certeza do não quando ouviu a risada da ruiva. Olhou por sobre o ombro e sorriu de canto, observando a rainha rodopiar em frente à um espelho, alegre com o vestido emprestado da loira.

—Obrigada, Iri! Já começava a imaginar que teria que usar calças antes de te ver!

—Sempre às ordens, majestade.- ela parou e virou o rosto, com o cenho franzido.

—Não me chame assim. Fossem três anos, três meses, três dias, não interessa. Você não precisa.- a loira riu baixo e voltou a olhar pelo vidro.

—Aconteceu muita coisa, não é?- perguntou mais calma, aproximando-se lentamente da janela igualmente.

—Acredito que sim.- respondeu em um suspiro.

As duas permaneceram em silêncio. Lúcia apoiava o corpo ora em um pé, ora em outro. Lembrava-se da loira ser quieta, mas havia algo de diferente. Algo pesado e ruim. Fazia Lúcia sentir-se desconfortável, omo se estivesse perto de um boneco cheio de ar, mas sem vida alguma. Irina nada demonstrou. Estava acostumada que mal reparava nisso.

—Presumo que estejam nos esperando. Devemos ir. O rei quer saber o porquê de vocês terem voltado.- anunciou com uma voz tão cortês, que a ruiva mal podia crer que se trataram como íntimas alguma vez no passado. Afastou-se e caminhou em direção a porta.

—Irina?

—Sim?- virou-se e a rainha a fitava com uma leve preocupação.

—Está tudo bem?

—Por que não estaria? Vamos?- respondeu rapidamente e abriu a porta.

Lúcia assentiu e passou. Irina fechou o quarto e tomou a frente, sem perceber. Lúcia não magoou-se, mas o que lhe cortou o coração foi a indiferença e frieza que os olhos verdes transmitiam.

 

 

 

Era o escritório, pode-se dizer.

Ficava acima do camarote, atrás do timão. Era um aposento simples com uma mesa retangular, algumas cadeiras e um pequeno armário, onde eram guardados mapas, instrumentos de navegação e outros documentos importantes. Era bem iluminado, com bastantes janelas permitindo a passagem da luz e do brilho refletido pelo mar.

—Desde que se foram, os Gigantes do Norte se renderam de uma vez por todas.- Caspian apontou no mapa e arrastou o dedo para outros pontos.- Depois derrotamos os exércitos da Calormânia no Grande Deserto. A paz reina em Nárnia.

—Paz?- Edmundo parecia desconcertado e um pouco decepcionado.

Caspian assentiu, estufando o peito e tomando uma postura orgulhosa com o feito.

—Isso é impressionante! Os Calormanos são tão fáceis de se lidar, mas quando decidem entrar em guerra são terríveis!- comentou Lúcia.

—Isso é um fato, mas devo muito do sucesso à ajuda dos nossos batalhões e à Irina.- a fitou e esta encolheu os ombros.- Não foi fácil, muito menos agradável, obviamente. Mas de grande ajuda.

—Fiz o que era necessário.- respondeu sem erguer o olhar.

Edmundo e Lúcia trocaram um olhar cúmplice e confuso.

—Do que falam?

O silêncio tomou conta do local por alguns segundos.

—A senhorita Irina foi feita como prisioneira. Entretanto, era apenas um plano para infiltrar-se.- respondeu Drinian, o capitão do navio.

O rei mais novo a fitou intensamente, com os olhos extremamente arregalados. Ela não expressava emoção alguma. Sua face era tão lisa e tão cheia de nada que, por um momento, ele a achou um mero fantasma, como aqueles que o visitavam em seus sonhos.

—Irina, é verdade?- ela assentiu e ele virou-se em um movimento bruto para o outro rapaz.- Como você permitiu isso?

Caspian o olhou desconcertado.

—Perdão?

—Como permitiu que levassem Irina? Como deixou que a levassem, sem ao menos tentar impedir?¹ Como pôde ter tal estúpida ideia?! Não se recorda do que ela já passou?! Como pôde fazer tal coisa?!

—Jamais seria capaz de pô-la em perigo! Seria uma ignorância tremenda de minha parte se o tivesse feito!

—Então como ela foi parar amarrada em mãos calormanas?!

—Eu me ofereci!- sua voz soou em alto e bom tom. Ele olhou para a loira, pasmo.- Era necessário que alguém o fizesse. Recolhi informações e mandava por Ripchip.

—Ripchip?

—Apesar de ser grande para um rato, Calormanos não tão espertos assim. Agora, basta desse assunto. Não é por isso que vieram à Nárnia.

Não podia crer realmente que ela havia passado por torturas e isolamentos outra vez. Recordava-se de um ano atrás, quando ali esteve e ela fora obrigada a passar o mesmo nas mãos dos telmarinos. A hipotética imagem de vê-la suja e machucada como antes, somando o fato de sua inexpressiva e indiferente emoção, fez o sangue ferver em profunda descrença e fúria.

—Se não há mais guerras para lutar, nem ninguém em perigo, por que estamos aqui?- perguntou Lúcia, tentando quebrar o estranho e desconfortável silêncio instaurado.

Caspian suspirou e relaxou os ombros. Desviou o olhar da loira, a qual havia observado desde sua última palavra dita.

—É uma boa pergunta. Estou me perguntando a mesma coisa.

Era confortante, mas ao mesmo tempo inesperada a chegada do rei e da rainha. Todas as outras vezes Nárnia estiver passando por grandes e severas mudanças, causadoras de violência, mortes e sangue. Não havia sentido os irmãos estarem ali, pois, felizmente, tudo estava sob controle.

—E para onde estamos indo?- indagou Edmundo, balançando a cabeça e dando um fim sua atenção à loira.

—Antes de retomar o trono do meu tio, ele tentou matar os sete melhores amigos do meu pai e seus aliados mais fiéis, os Sete Fidalgos de Telmar.

Ele virou-se para um quadro onde sete retratos estavam pregados sobre um mapa maior.

—Eles fugiram para as Ilhas Solitárias. Ninguém mais teve notícias deles.

O rei mais novo analisou cada rosto desconhecido.

—E você acha que aconteceu alguma coisa?

—Se aconteceu, é meu dever descobrir.- declarou com um pesar nos olhos.

Lembrava-se de cada senhor nitidamente. E lembrava-se da culpa que sentia por todos aqueles senhores terem perdido a calma de suas vidas por conta da ganância e do ódio de seu tio, assim como ele próprio perde algo importante. Quando recebera o peso da coroa em sua cabeça, havia prometido a si mesmo buscar e devolver para os fidalgos o que lhe fora tirado.

—O que fica à Leste das Ilhas Solitárias?

—Águas não mapeadas.- respondeu Irina, com um tom de voz um pouco sombrio.

—Lugares que mal dá para se imaginar, majestade. Há contos de serpentes marinhas e bichos piores.- complementou o capitão, Drinian.

Lúcia fitou o irmão que pareceu engolir em seco duas ou três vezes. Os olhos arregalados e respiração apressada delatavam seu nervosismo.

—Serpentes marinhas?- perguntou em um riso nervoso, tentando demonstrar descrença para com a hipótese sugerida.

—Pois bem capitão. Já chega de suas histórias de terror.- avisou Caspian, brincando com uma maçã e sorrindo com a postura de Drinian.

Estava mais do que acostumado com o jeito sério e frio, quase assustador do seu subordinado. Lúcia e Irina acompanharam o rei mais velho. Mas o mais novo prestara atenção somente na loira. Pois assim como a irmã, o sorriso não parecia inocente.


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