Os Jogos de Johanna Mason escrita por Tagliari


Capítulo 23
Capítulo 22 ― A garota do chicote


Notas iniciais do capítulo

Bom, aqui estou eu nesta maravilhosa postagem pré-programada para lhes entregar este capítulo recém-revisado. Esse cap é especial para os apoiadores do Team Sapphire UHHUUULLLL!!!
Obrigado a todos que comentaram anteriormente e se você ainda não apareceu para dizer oi para o autor, saiba que ainda dá tempo!
Até lá embaixo, cambada!

REVISADO EM 27.04.2017



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SINTO MEUS MEMBROS RETESAREM, certa de que Sapphire McLean pretende enrolar seu chicote de couro envolta do meu pescoço e estrangular-me. Entretanto o golpe não vem. Muito pelo contrário ― a garota não faz qualquer tipo de menção ofensiva.

Ela arqueia os lábios em um sorriso desconfiado que não chega aos olhos. O tributo do sexo feminino do Distrito 10 mudou poucas coisas desde a última vez em que a vi, quase duas semanas atrás. O corpo esguio aparenta estar ligeiramente mais magro do que antes, assim como os olhos mais encovados e destacados por olheiras arroxeadas. A pele parda não está mais corrigida uniformemente pela maquiagem ― as manchas branco-leitosas salpicando braços, mãos e parte do rosto. Com exceção do chicote, a garota carrega absolutamente nada.

Ela aproxima-se alguns passos e eu ergo ambos os machados em um claro sinal de hostilidade, pronta para atacar. Imediatamente Sapphire para e estende as mãos para cima como se se rendesse, mas sem soltar o cabo duro de couro do chicote.

― Ei! Calma aí. Venho em paz, Distrito Sete ― ela diz e volta a avançar, de repente adquirindo uma confiança esmagadora.

Então percebo que ela não vem em minha direção, mas, sim, para perto da carreirista ligeiramente desnorteada pelo tombo há pouco mais de um metro de mim. Sapphire retira da cintura uma pequena faca cerrada de um lado e lisa do outro.

― Se eu começo uma coisa, eu termino essa coisa, sacou? ― comenta, talvez se referindo à ruiva do 4. Então agacha, o que se torna um grande erro.

Tudo acontece muito rápido. Mesmo o tridente dourado da carreirista tendo voado de seu alcance durante a queda, ela ainda possui a ajuda da adaga que estava escondida no cós da calça. Não há tempo para eu soltar um grito de alerta ou ao menos a palavra se formar em minha cabeça.

Savera Spectrone, que obviamente estivera fingindo atordoamento, espera o momento certo para atacar ― que é quando Sapphire posiciona-se perto o suficiente para passar a faca em sua garganta ― e desfere um golpe limpo com sua lâmina. Entretanto, a garota do Distrito 10 é rápida, mas não o suficiente. A adaga enterra-se no braço direito dela, bem no centro de uma mancha branca. A garota do chicote, agora sem a arma, cambaleia por um instante e cai ao chão. Logo em seguida, a carreirista monta sobre a oponente, a adaga brilhando perversamente.

Eu poderia simplesmente fechar os olhos e dizer adeus a Sapphire McLean, mas não o faço. No lugar disso, talvez impulsionada pela loucura, resolvo agir. Em uma fração de segundo, desço o machado contra a cabeça de Savera, o último tributo vivo do Distrito 4. O som de seu crânio sendo partido lembra um galho seco sendo quebrado. Ela tomba para o lado, morta. Simples assim.

O canhão soa.

Sapphire não perde tempo e empurra o corpo da carreirista para a direita, fazendo-o desabar como um saco de farinha. Então solta uma pequena risadinha histérica, provavelmente feliz por continuar viva, e verifica o estrago feito no braço pela inimiga.

― Ah, essa foi realmente por pouco, não foi? ― ela diz concentrada demais no ferimento. ― Olha só para isso. Vai virar uma bela cicatriz de batalha. O que acha?

A garota olha para mim esperando uma resposta e, em um piscar de olhos, todo o seu entusiasmo morre. Fácil assim. Porque Sapphire sabe o suficiente sobre os Jogos Vorazes. Matar ou morrer ― sempre se tratou disso. Aposto que uma pergunta deve estar se formando em sua mente: “Quando ela vai partir meu crânio em dois também?”. A resposta: imediatamente.

Encaro a pessoa menos odiável que conheci na Capital. Acho que se ela tivesse nascido no Distrito 7, possivelmente seríamos grandes amigas. Mas ela não mora no 7, tampouco deve ser vista por mim como alguém amigável. Esse é o problema de gostar das pessoas. Um dia ou outro elas morrem e você sofre por isso. Sempre é assim. Nunca vai mudar.

Sapphire está completamente desprotegida, ferida. O chicote está fora do alcance, assim como a faca cerrada/lisa. Será tão fácil e ao mesmo tempo tão difícil. Mas sei que devo fazê-lo se quiser voltar para casa. E essa é a coisa que mais desejo.

Retiro meu único machado restante ― uma vez que o outro está no meio do campo de margaridas após eu tentar acertar o oponente à distância ― da fenda criada na cabeça da carreirista. O barulho de sucção que a retirada da arma faz me causa arrepios. Sapphire não se move. Sequer faz menção de defender-se. Talvez tenha percebido que não há escapatória. Na verdade, eu preferiria que ela tentasse me atacar, pois assim teria um motivo para matá-la. Mas, como já foi provado dezenas de vezes, não tenho toda essa sorte.

Será um serviço sujo, mas alguém tem que fazê-lo. Aproximo-me um passo e minha próxima vítima morde o lábio. Deveria ser um gesto insignificante, mas ele faz-me ficar atenta. Lembro-me quando Sapphire e eu nos conhecemos, no primeiro dia de treinamento. Ela mordeu o lábio inferior da mesma maneira enquanto tentava acender uma fogueira estúpida com nada mais do que fricção e um graveto. Isso quer dizer que ela está concentrada, sei disso.

― Você não vai me matar ― a garota do Distrito 10 diz. A voz soa rouca pela falta de uso, mas determinada.

Hesito, desconfiada.

Evito o impulso de olhar para os lados à procura de possíveis aliados da garota. Felizmente lembro que seu parceiro de distrito fora morto há pouco tempo, no ágape, pelas mãos de Savera. Ela está sozinha.

― E porque eu não te mataria? ― questiono, escolhendo as palavras cuidadosamente. Sinto os pelos da minha nuca ficarem eriçados.

― Porque você precisa de mim ― ela fala e começa a se levantar com movimentos lentos e calculados, tentando provar que não é uma ameaça.

Talvez seja a loucura do momento ou eu realmente esteja começando a perder meus parafusos, mas o comentário me faz rir.

― E porque eu precisaria?

Sapphire, já em pé, dá de ombros.

― Você ainda não fez as contas, Johanna Mason? Somando com nós duas, restam três tributos vivos. Eu, você e a carreirista do Distrito Um.

Não entendo aonde ela quer chegar. Afinal, se eu eliminá-la agora, terei que vencer apenas mais um inimigo para voltar para casa.

― Você não vai conseguir derrotar aquela vadia do Um sozinha, se é o que está pensando ― Sapphire alega como se estivesse lendo meus pensamentos. ― Vai precisar de mim. Não só para matá-la, mas também para encontrá-la. Então eu quero propor uma aliança.

Balanço a cabeça negativamente, recusando a oferta no mesmo instante.

― Eu não preciso de ajuda. Na verdade, acho que é você quem precisa ― constato ao pousar os olhos sobre o ferimento no braço da sobrevivente. Sangue vermelho e espesso escorre do corte e desliza até a ponta dos dedos, pingando pausadamente nas folhas secas ao chão.

Ela não parece se abalar.

― Eu discordo. Você precisa mais do que imagina. A carreirista está em um esconderijo que eu sei onde fica, porque a segui quando fugiu da Cornucópia na noite em que aquele vulcão entrou em erupção.

― Se a seguiu, porque não a matou de uma vez? ― questiono. Toda a história parece suspeita, um ato desesperado para sobreviver.

Sapphire suspira.

― Porque ela tem uma pequena vantagem sobre mim. Será necessário um cerco para matá-la. Foi por isso que desisti. Na verdade, eu tinha a esperança dela estar aqui no ágape ou simplesmente acabar morrendo por conta própria, mas isso não vai acontecer. Então precisamos dar um empurrãozinho para o inevitável, se é que me entende.

Coloco mais força no aperto ao cabo do machado.

― A única que coisa que entendo é que você está desesperada. E sabe o que pessoas desesperadas fazem? Elas mentem.

Minhas palavras fazem um sorriso amarelo brotar no rosto da garota do 10.

― Então você devia estar realmente desesperada na Capital. Sabe, eu realmente acreditei em cada palavra sua e pensei que você não passava de uma coitada fodida, uma vadiazinha vítima das circunstâncias. Para mim você só tinha uma sorte desgraçada por ainda estar viva. Só percebi que você era uma grande mentirosa agora a pouco, quando arrancou fora a cabeça do cara do Quatro. ― O meu ar de confusão instiga-a a continuar falando: ― Ah, é. Eu vi tudo. Eu estava ali, escondia. ― Aponta para um arbusto denso há cerca de trinta metros de distância.

Cautelosamente, dou um passo para trás.

― Mesmo se eu acreditasse em tudo isso, coisa que não acredito, acho que há um pequeno problema ― comento.

Sapphire estreita os olhos em fendas como se fosse um gato desconfiado.

― Que seria...

Não sei por que, mas penso em como a Capital deve estar louca nesse exato momento, sentada na ponta do sofá, torcendo por mais sangue, as apostas elevando-se a números exorbitantes.

― Como você mesma disse, descobriu a poucos instantes que talvez eu não tenha falado toda a verdade antes dos Jogos. Então porque resolveu vir até no ágape para me procurar para fazer uma aliança, sendo que, segundo você, eu não deveria passar de uma chorona estúpida?

A garota do 10 revira os olhos como se estivesse tentando explicar algo muito fácil para uma criança muito burra.

― Eu não vim aqui procurar você. Eu tinha feito uma aliança com Malthus, o garoto do meu distrito, antes de entrarmos na arena, mas acabamos nos separando no banho de sangue. Columbae, minha mentora, disse que se isso acontecesse, a única maneira de conseguirmos nos juntar novamente seria durante o ágape, isso é, se ainda estivéssemos vivos. Então vim para cá a fim de procurá-lo. Quando cheguei perto do campo de margaridas, vi Malthus correndo para enfrentar a garota do 4 e percebi que ele era um grande idiota. Porque somente sendo muito estúpido para enfrentar um carreirista sozinho e sem um plano. Foi quando notei alguns tributos conversando na orla da floresta e fui ver quem era. Então você arrancou a cabeça do garoto fora. Entendeu?

Respiro fundo.

― Agora eu tenho que acreditar em tudo isso? ― questiono, cética.

Sapphire dá de ombros.

― Exato. Além do mais, eu te salvei de virar espeto no garfo da ruiva ― ela diz e aponta com a cabeça para o corpo inerte de Savera, uma poça de sangue expandindo-se a cada segundo, partindo da fenda na cabeça.

Isso me faz rir.

― Você me salvou? Fui eu que enterrei meu machado nela. Estava tudo sob controle antes de você chegar.

A garota da pele manchada recua, na defensiva.

― Isso não importa agora ― ela fala, mudando de abordagem. ― A questão é: vamos ter que agir juntas para conseguir eliminar o último tributo. Então sobrará só nós duas e resolveremos as coisas honestamente em uma última luta.

Pessoas honestas não ganham os Jogos Vorazes, penso.

― Ou eu posso simplesmente parar com essa baboseira e matar você de uma vez. E se essa carreirista realmente estiver escondida em algum lugar dessa porcaria de arena, os Idealizadores sempre dão um jeito de nos juntar no final. Como no ano passado ― cito e imediatamente desejo não ter dito isso.

Sapphire arqueia os lábios em um sorriso frio.

― Ah, é. O ano passado foi incrível, não? Uma pena que quase todos morreram na inundação. Seria triste se os Idealizadores fizerem algo semelhante, só que no lugar de uma represa estourada, eles colocarem a erupção de um vulcão. Aposto que, se você me matar e esperar os Idealizadores agirem e agruparem vocês duas, ao menos uma vai morrer no meio de um mar de lava, senão ambas.

Entendo o sorriso da garota do Distrito 10 imediatamente, porque os vulcões são sua grande jogada. Sei que ela está manipulando-me ― e que estou prestes a cair na armadilha. Mas que escolhas tenho? Se Sapphire estiver certa e somente ela souber a localização, a garota do chicote é minha melhor aposta para sair desse inferno. Se estiver mentindo, sempre posso apunhalá-la pelas costas enquanto dorme. Pois sinto em minhas entranhas que se houver outro vulcão ativo, morrerei certamente.

Olho Sapphire e vejo triunfo em seu olhar. Ela sabe que ganhou.

― E então? Somos aliadas, Johanna Mason?


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Notas finais do capítulo

Sim, galera. Sapphire McLean é muito mais que um rostinho bonito cheio de vitiligo. E então, curtiram essa manipulação? Críticas? Elogios? Dificuldades com a matemática? Então comentem para que eu possa ajudá-los!

AS BAIXAS (TOTAL):

• Garoto do 1

• Garoto do 2
• Garota do 2

• Garoto do 3
• Garota do 3

• Garoto do 4 (H.I.P., cara aleatório que fez um belo Discurso de Vilão antes de morrer)
• Garota do 4

• Garoto do 5
• Garota do 5

• Garoto do 6
• Garota do 6

• Garoto do 7

• Garoto do 8
• Garota do 8

• Garoto do 9
• Garota do 9

• Garoto do 10

• Garoto do 11
• Garota do 11

• Garoto do 12
• Garota do 12



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