Remember me escrita por J S Dumont


Capítulo 22
Capitulo 21 - Ameaça


Notas iniciais do capítulo

GENTE! Eu ia postar tudo aqui como prometi, mas quando terminei deu mais de 9.000 caracteres O.O e mais de 20 páginas, não daria para colocar tudo em um capitulo só, mas, como eu tinha dito que já terminaria com o passado e o restante já tá pronto, decidi postar no máximo cinco dias tá ai vocês não precisam esperar muito!
Entretanto, esse capitulo é muito importante porque lendo ele já dá para começar a imaginar o que aconteceu entre Peeta e Katniss, quando vocês lerem vão entender o que quero dizer ;) espero que gostem e até mais!



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Ameaça

A cada dia que passava eu sentia Katniss mais distante de mim, aquilo era estranho demais, e doía tanto que nada do que acontecesse comigo conseguia me animar o suficiente para eu esquecer esse detalhe.

Graças ao time, eu havia conseguido um quarto só para mim como sempre sonhei. Tudo bem que eu sentiria falta de Thomas, mas nada melhor do que dormir sem precisar escutar seus roncos ou aguentar o seu chulé, pensando por essa parte era bem tentador ter o meu próprio quarto, onde não precisasse dividir com mais ninguém.

Além disso, eu estava me destacando bastante no time, e muitos caras estavam me invejando por causa do meu namoro com Gabbe, mesmo eu não gostando dela como eu queria gostar eu não podia negar que ela era um tanto bonita. Ou melhor, a palavra bonita é pouco quando se trata dela. E enquanto eu estava deitado em minha cama, encarando o teto do meu novo dormitório eu pensava em tudo que estava acontecendo comigo.

Outros garotos adorariam estar em meu lugar, tornei-me atleta, sou popular, estou namorando uma garota bonita e estou na posição onde sempre sonhei em estar. Além de que tenho um quarto só para mim com regalias que quase nenhum outro aluno tem, sim eu sou privilegiado. Porém, nada disso me deixava tão feliz, e a razão para aquilo era óbvia. Faltava algo em minha vida, a Katniss.

Enquanto fechava os olhos eu pensava nela, ela estava tão próxima de mim, mas ao mesmo tempo estava tão longe, era como se eu ainda continuasse em Paris, com milhares de quilômetros nos afastando, foi então que enquanto pensava nela uma ideia surgiu em minha mente. Aquele quarto poderia ser muito útil para mim, ele poderia me ajudar a ficar próximo de Katniss. Eu sorri, enquanto completava os meus pensamentos.

Eu poderia ficar perto de Katniss, sem os outros precisar ficar sabendo.

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A única coisa que eu queria era que tudo voltasse a ser como era antes, eu só queria ter Katniss por perto como quando ela me dava aulas e eu a ajudava no manifesto dos vegetarianos, por isso eu decidi procura-la e tentar convencê-la de nos encontrarmos em meu quarto, nem que fosse apenas para jogar conversa fora, tudo bem que eu não poderia tocá-la, ou beijá-la como desejava desesperadamente fazer, mas só de tê-la próxima e poder falar com ela já seria um bom começo, com certeza só com isso eu já me sentiria bem.

Não precisei pensar muito para já imaginar onde ela deveria estar, a biblioteca foi o primeiro lugar que venho a minha mente, afinal, os livros eram as companhias da qual ela mais gostava de estar. Quando cheguei lá, constatei que acertei em cheio, porém para minha surpresa ela não estava sozinha.

Ela estava numa mesa, Finnick a sua frente, ela segurava a mão dele e um sorria para o outro, senti o meu estomago revirar de uma forma estranha ao observar aquela cena um tanto desagradável. Definitivamente eu não conseguia entender, o que aquele cara queria tanto com ela.

Parei próximo a porta e encarei-os seriamente, demorou alguns segundos para eles me notarem, seus sorrisos sumiram como num passe de mágica, e logo pude perceber que a “felicidade” tornou-se “nervosismo”.

Ela olhou para Finnick depois virou para pegar seu livro e alguns chocolates que estavam na mesa, rapidamente ela os colocou no bolso. Ela falou algo para Finnick, que a respondeu, depois eles começaram a caminhar em direção a porta, Finnick passou primeiro, e ela passou logo atrás, quando ela estava passando ao meu lado eu não pensei duas vezes, tratei de chama-la.

Ela parou de andar no mesmo momento, e demorou alguns segundos para virar para mim.

— Podemos conversar? – eu perguntei.

Ela olhou novamente para Finnick, que sorriu e concordou com a cabeça, enquanto aproximava-se mais dela, aproximação da qual não gostei nenhum pouco, ele falou algo no ouvido dela, antes de se virar e ir embora, o que me fez ficar me perguntando em pensamentos que diabos ele teria falado a ela.

Ela então virou-se para mim, e pela sua expressão dava para notar claramente que ela estava nervosa.

— Eu preciso ir para o meu dormitório... – ela disse, olhando para baixo, parecia querer me evitar. – Eu preciso estudar... – inventou.

— Você não precisa, já é inteligente demais! – eu respondi, aproximando-se dela, ela então me olhou. – Você está me evitando?

— N-Não... – gaguejou.

— Está sim, eu estou com essa impressão... – eu respondi.

— Não, só que agora você é popular, tem outros amigos, uma namorada, e então você não tem muito tempo, bom... – ela se calou e olhou para baixo, e então automaticamente as palavras soltaram-se sem eu sequer perceber:

— Eu sinto sua falta...  

Ela me olhou com a boca entreaberta e eu continuei a encarando, nenhuma daquelas palavras eram mentira, talvez eu nunca tivesse sido tão sincero na minha vida como estava sendo com aquela simples frase, a falta que ela me fazia me torturou durante todas as férias e continuou me torturando durante todos aqueles dias na escola. A falta que ela me fazia não permitia que eu fosse feliz completamente, que eu me animasse com as minhas conquistas, que eu conseguisse dormir em paz.

Nunca imaginei que poderia sentir tanto a falta de alguém como eu estava sentindo a falta dela.

— Como? – ela perguntou, parecia um tanto surpresa.

Meio nervoso eu passei a mão no cabelo e aproximei-me um pouco mais.

— Eu não quero que deixemos de ser amigos, eu sei que nos afastamos um pouco, faz alguns dias que praticamente eu não te vejo, e mesmo que você ache que não, mas eu, eu sinto falta de você...

— Não, isso não é verdade... – ela respondeu, discordando com a cabeça. – Eu que sempre procurei estar próxima de você, eu que sempre fiz questão de ser sua amiga...

— Se você não se lembra Katniss, da ultima vez eu que fui atrás de você... – eu a lembrei.

— Porque você queria as aulas particulares... – ela respondeu. – E agora, o que você quer?

Eu dei uma risada irônica e discordei com a cabeça, eu não acreditava que ela pensava tão mal de mim assim.

— Não Katniss, não foi só por isso, e alias agora eu não quero nada, apenas que sejamos o que éramos... – respondi.

Ela demorou alguns segundos para me responder, segundos que pareceram séculos.

— Está bem Peeta, eu também nunca deixei de ser sua amiga... – ela respondeu, sua resposta foi o suficiente para eu sorrir e quando dei por mim já estava abraçando-a.

Ela colocou os braços em volta de mim, e senti o seu corpo amolecer em meus braços, ela estava quente, eu estava quente, a sensação era tão boa como nunca senti antes. Eu não queria soltá-la mais, mas sabia que tinha que fazer um esforço, eu não poderia estragar tudo e então a soltei.

— Vem comigo, eu quero te mostrar uma coisa... – eu disse pegando na mão dela, e puxando-a em direção ao meu novo quarto.

 - Onde você está me levando? – ela perguntou, permitindo que eu a levasse.

Eu não a respondi, apenas continuei conduzindo ela até o meu quarto, entrei nos corredores onde ficavam os quartos dos atletas, e tirei a chave do bolso da minha calça, destranquei a porta, abri-a e entrei, Katniss ficou com a boca entreaberta enquanto olhava em volta do quarto.

— Não me diga que esse... – ela dizia ainda olhando a sua volta, ela se calou enquanto parava o olhar no urso que me deu, ela sorriu e então me olhou. – É o seu novo quarto?

— Sim... Não é incrível! – eu disse bastante animado por poder compartilhar essa noticia com ela. Fui até a porta, tranquei-a rapidamente, afinal, não queria que ninguém aparecesse e me visse no quarto com ela. – O treinador me deu esse quarto depois que ganhamos o ultimo jogo! – eu disse indo até a minha cama e se sentando nela. Ela ficou algum tempo analisando o quarto, por alguns segundos ela pegou o livro Ship of Magic, cheguei a rele-lo nas férias.

Ela colocou novamente o livro na estante e voltou a me olhar.

— Fico tão feliz que você esteja se dando bem no time... – ela disse a mim, agora voltando a me olhar.

— Graças a você...  – eu disse, levantando da cama.

— Não, eu já disse que foi graças ao seu esforço! – ela respondeu rapidamente. – Mas, por que você me trouxe aqui? – perguntou, ainda confusa.

— Primeiro para saber onde eu durmo agora, segundo porque eu queria que nos encontrássemos aqui toda a noite... – eu disse, ela pareceu ficar um tanto surpresa.

— Como? – ela perguntou.

O meu sorriso se alargou.

— Como nós nunca conseguimos nos falar durante o dia, eu queria que você viesse aqui a noite por algumas horas, ninguém precisa ficar sabendo, e além do mais, teríamos privacidade e... – eu dizia até ver que estava começando a falar besteira, chacoalhei cabeça. – Não, não pense que eu estou com más intenções, não quero que você venha aqui para eu me aproveitar de você...

— Ah não? –ela perguntou, arqueando as sobrancelhas.

Eu concordei com a cabeça.

— Eu só quero que a gente faça algo juntos, assistir filmes, jogar videogame que eu sei que você gosta... – eu disse e ela começou a dar risada– E também para conversarmos, prometo que aceito até escutar alguns poemas do Shakepere...

— É Shakespeare... – ela me corrigiu.

— É esse cara ai! – eu disse, e fiquei animado ao vê-la sorrindo, parece que ela havia gostado da ideia. – Eu durmo aqui sozinho, então, é como eu disse, ninguém vai saber...

— E sua namorada? – perguntou. Eu suspirei e então desviei o olhar para o chão, sinceramente a ultima coisa que eu queria falar era de Gabbe.– Bom, quer dizer, acho que ela não vai ficar muito feliz se descobrir que uma garota tá vindo toda noite no quarto do namorado dela, mesmo que a garota seja uma baranga, não é?

— Não fala assim de você mesmo! – eu disse rapidamente, eu odiava quando Katniss fazia isso.

— Por que? – ela perguntou, olhando-me fixamente.

— Não gosto que você se menospreze... – eu respondi, parando bem na frente dela, se ela soubesse o quanto ela valia, pelo menos para mim, ela nunca mais falaria isso. Fiquei olhando-a por alguns segundos enquanto ainda a olhava.

— Peeta... – ela disse, num tom baixo quebrando o silencio, eu tirei os óculos dela e comecei a passar a mão em seu cabelo, enquanto ainda olhava-a fixamente, ela tinha um rosto tão bonito, pena que ela não conseguia ver isso.

— Sabe... Você tem olhos lindos... – eu comentei, ela então mordeu os seus lábios inferiores.

— Pareceu que você leu os meus pensamentos... – ela respondeu.

— Por que? – eu perguntei, franzindo as sobrancelhas.

— Eu também acho os seus olhos lindos... – ela respondeu.

 - Bom... Então temos isso em comum, um gosta do olho do outro... – eu disse, e então ela riu, enquanto pegava os óculos da minha mão e voltava a colocar.

 - Está bem seu bobo, eu aceito! – ela disse e eu olhei-a com as sobrancelhas franzidas. – Mas eu não quero que ela descubra, na verdade isso tem que ficar entre a gente, não me importo que os outros acham, mas também não quero que as pessoas pensem que estamos fazendo coisas erradas no seu quarto...

— Combinado! – eu concordei.

E então foi assim que nossa amizade retornou, todas as noites ficávamos juntos no quarto, de inicio entre uma hora e meia a duas horas, juntos jogávamos videogame e ela me irritava por sempre ganhar em jogos de lutas, depois de uma semana ela começou a ficar mais de três horas comigo, me ensinou a jogar xadrez que alias era bem interessante, em pouco tempo eu já estava conseguindo ganhar dela, e pelo menos de algo eu podia me gabar.

Logo começamos a assistir filmes juntos, claro de terror que era um dos meus gêneros favoritos, apesar de que o que eu mais gostava era de ver a expressão de medo no rosto de Katniss durante os filmes  eu sabia que ela não gostava muito de filmes de terror, assistia mais para me agradar, e claro, eu aproveitava para rir do medo que ela sentia.

E foi durante um desses filmes que Gabbe apareceu, alias havíamos distanciado um pouco mais desde que comecei a ficar a maior parte da noite com Katniss, foi um afastamento natural, não deu muito para perceber, pelo menos de minha parte. Porém eu sabia que ela deve ter notado e muito esse afastamento.

De repente ela começou a bater na porta e a me chamar, Katniss e eu que estávamos deitado na cama assistindo filme nos entreolhamos assustados e comecei a olhar em volta do quarto pensando no que fazer, afinal, se Gabbe me encontrasse no quarto com outra garota piraria, ainda mais agora que estávamos afastados.

— Katniss... – eu iniciei meio assustado.

— Shiii... – ela fez, colocando o dedo na boca, como uma menção para eu ficar quieto.

Ela levantou-se e rapidamente deitou no chão, rolando para debaixo da cama. Dei um suspiro de alivio ao ver que ela havia conseguido pensar e então fui abrir a porta, já com a intenção de despachá-la o mais rápido possível.

Ela entrou no quarto com uma expressão bastante séria no rosto, parece que mulheres pressentiam quando tem algo de estranho no ar e eu não podia negar que realmente tinha, a nossa relação a cada dia estava mais distante e a cada dia que se passava eu sentia mais vontade de acabar com esse namoro,

 - O que foi? – eu perguntei levemente nervoso. Eu estava com medo de Gabbe perceber tudo, eu não teria nem como explicar a razão de Katniss estar debaixo da minha cama.

 - Se eu não vier em seu quarto, eu nunca te vejo, na verdade nessas ultimas semanas você quase nem fala comigo, eu estou achando um tanto estranho a nossa relação... O que houve com você Peeta? – ela perguntou e então engoli um seco.

— Eu só estou ocupado...  – eu falei a primeira coisa que passou pela minha cabeça.

— Ocupado? Ocupado com o que? Hoje eu estava pensando, e me dei conta de uma coisa, você nunca me chamou para dormir nesse quarto, por que Peeta? – eu não a respondi – Desde que eu comecei a estudar nessa droga de escola, nunca mais dormimos juntos, você quase nem fala comigo, está distante, parece estar me escondendo alguma coisa, para mim tem outra garota nessa história e essa garota é dessa escola e quando eu descobrir quem é ela, eu...

— Para Gabbe, isso é coisa da sua cabeça, já estou cansado dessas suas desconfianças... – eu a cortei, não queria que ela falasse mais, ela já havia falado suficiente. Katniss não precisava saber que Gabbe e eu já havíamos transado. – Eu estou com sono e vou dormir, nos falamos amanhã certo?

— Você nem vai me convidar para dormir com você? – ela perguntou.

— Hoje não... – eu respondi, abrindo a porta do quarto. – Tchau Gabbe, nos falamos amanhã...

— Peeta... – ela iniciou, olhando-me meio contrariada.

— Amanhã! – repeti. E então finalmente ela saiu do quarto, fechei-a rapidamente trancando logo em seguida, depois virei para olhar para cama, Katniss rolava para sair debaixo dela, ela levantou-se bem lentamente do chão e em seguida ajeitou o óculos.

  - Me desculpe por isso... – eu iniciei. Gabbe não devia ter aparecido, realmente o que havia acontecido havia sido bastante constrangedor.

— Não podemos mais fazer isso Peeta! – ela respondeu e no mesmo minuto meu coração disparou.

O que ela queria dizer com isso? Que não nos encontraríamos mais? Que eu não a veria todas as noites? Só de pensar nessa possibilidade eu me desesperei, aproximei-me dela bastante assustado, só que ela recuou.

   - Do que você está falando? – eu perguntei, com medo de escutar finalmente a confirmação da boca dela.

  - Não posso te ver todas as noites...

 - Mas por que? – eu perguntei, já pensando em como convenceria ela do contrario.

 - Isso está prejudicando seu namoro, eu tive que me esconder como se tivéssemos fazendo algo errado, mesmo que não estejamos fazendo, temos que parar com isso Peeta, não está certo! – ela se virou para sair do quarto, mas rapidamente a segurei pelo braço, num gesto desesperado.

 - Não faça isso! Eu já estou tão acostumado em te ver todos os dias, eu... – ela olhou para mim e sem coragem de continuar olhando para ela desviei o olhar para baixo. – Quer dizer, você é minha melhor amiga, você é mais importante para mim do que ela... – eu acrescentei, voltando a olhar para ela.

Ela me encarou com a boca entreaberta, parecia ter ficado extremamente surpresa com o meu comentário, mas também, eu não estava dizendo nenhuma mentira.

 - Mas... Uma namorada tem que ser mais importante do que uma amiga... – ela respondeu.

  - Isso não tem que ser uma regra, não é? – eu retruquei e depois puxei-a pelo braço. – Fica comigo aqui... Não vai embora agora, por favor! – eu pedi, ela ficou me olhando parecendo meio receosa, mas acabou desistindo de ir embora.

E então me senti mais aliviado, e enquanto puxava Katniss em direção a minha cama e voltava o filme para continuarmos assistindo, eu refletia sobre as minhas atitudes, estava claro que eu arrumei um problema com Gabbe, com certeza ela iria querer alguma explicação para a minha atitude tão brusca. Afinal, por causa de Katniss, eu praticamente a expulsei do quarto, e ainda sem pensar duas vezes.

Estava claro para mim que Katniss era a prioridade no momento, e eu não sabia se tudo o que eu estava fazendo era o certo, eu não podia fechar os olhos e fingir para sempre que somos amigos, uma hora isso tudo iria desmoronar e eu teria que tomar uma decisão. Eu estava ciente de que Katniss não vai esperar para sempre, e também nem eu vou aguentar esperar por muito tempo.

Enquanto ainda sentia minha cabeça girar, eu coloquei o braço em volta do ombro de Katniss, fazendo com que ela apoiasse sua cabeça em meu peito, soltei um longo suspiro enquanto sentia o calor do corpo dela misturando-se com o meu, a sensação era tão intensa e ao mesmo tempo tão boa que eu desejei nunca mais sair dali.

 E enquanto eu pensava ainda no que faria dali em diante, o filme acabou ficando para segundo plano, e de tanto pensar e pensar, sem chegar a nenhuma conclusão eu acabei adormecendo.

###

Quando acordei no outro dia não encontrei Katniss deitada na cama comigo, porém o cheiro do perfume dela me fazia imaginar que ela deveria ter ido embora a pouco tempo.

Suspirei, passei a mão em meu rosto e sem pensar duas vezes, levantei-me da cama, decidi tomar um longo banho, nada melhor para iniciar um novo dia.

 Vesti meu uniforme, e fui para o refeitório para tomar café da manhã, lá encontrei Thomas que se sentou ao meu lado e começou a falar de coisas que sequer prestei muita atenção, eu estava mais concentrado a olhar mesa por mesa, a procura de uma garota de cabelos cheios e óculos grandes, porém não encontrei. Foi então que parei o olhar em uma garota loira, ela estava séria, olhando diretamente para mim, seu olhar era bem ameaçador e isso fez com que meu coração disparasse e desviasse rapidamente o olhar.

 Depois de tomar café e perceber que realmente eu não encontraria Katniss no café da manhã, decidi ir ao meu armário pegar os livros para acompanhar a minha primeira aula do dia, despedi-me de Thomas, levantei-me e fui até o armário, enquanto o abria e pegava o livro, senti alguém cutucar minhas costas, virei-me deparando com Gabbe, ela me olhava tão séria que se olhar matasse, eu teria certeza que morreria naquele exato momento.

— Eu acho que mereço uma explicação, não é? O que está acontecendo Peeta? – ela perguntou, respirei fundo, virei-me e tranquei o armário, antes de virar e olhar para ela novamente.

— Desculpe Gabbe, mas ontem eu estava cansado, não queria discutir! – respondi, com indiferença.

— Só ontem? Seria mesmo só ontem?            Não Peeta, isso já acontece a algumas semanas, desde que você voltou para a escola, o que eu disse ontem é verdade, eu estou com a impressão de que você está interessado por outra pessoa, porque essa sua indiferença comigo não é normal! – ela respondeu e depois deu um passo em minha direção. – Nas férias ficávamos quase todo o tempo junto, você me tratava bem, me dava atenção, agora aqui, parece até mesmo outra pessoa, o que está acontecendo com você? Se cansou de mim é isso?

— Não Gabbe, não tem nada haver! – respondi, já desesperado para sair dali.

— Isso não está certo Peeta, uma hora ou outra vou descobrir a razão disso tudo, e tenha certeza eu não aceito ser tratada dessa forma, se tiver outra garota, eu acabo com ela! – ela disse num tom bastante firme, o que fez automaticamente meu coração disparar acelerado. Gabbe virou de costas para seguir o caminho, talvez para sua aula, quando meio desesperado chamei o nome dela.

No mesmo momento ela parou de andar, virou-se e olhou para mim. Eu dei alguns passos na direção dela, parei a sua frente e olhando-a fixamente, engoli um seco.

— Gabbe, não tem outra garota... – eu menti, enquanto suspirava. – Só que por um lado você tem razão, eu estou distante, e talvez eu acho que seja porque precipitamos muito as coisas, e não sei se estou querendo ter uma namorada no momento, sabe, eu estou meio confuso e acho melhor, nós darmos um tempo!

Gabbe olhou-me com a boca entreaberta, e fez uma expressão como se não estivesse escutado direto.

— Como? Você não está querendo terminar comigo, não é? – ela perguntou, puxando-me pelo braço, e encarando-me com as sobrancelhas arqueadas. – Olha só Peeta, eu vou fingir que não escutei isso, tá legal, e vou até ser boazinha e te dar uns dias para pensar, acho bom você voltar atrás com essa decisão, porque acredite amorzinho, ninguém me faz de idiota, e se você estiver pensando em me trocar por outra garota, acredite, eu vou acabar com você, vou acabar com ela e ainda, você vai ficar é com ninguém, porque eu faço ela te odiar para o resto da tua vida! – ela finalizou em um tom um tanto ameaçador, seus olhos brilharam tanto que por alguns segundos eu acreditei em sua ameaça.

Quando ela virou-se para trás e foi embora em passos bem largos, eu fiquei olhando-a até ela dobrar o corredor, passei a mão no cabelo e discordei com a cabeça, ficando preocupado, bastante preocupado.

“Mas que droga Thomas, que tipo de mulher é essa que você me apresentou?”.

Sinceramente depois do que aconteceu eu tive uma intensa vontade de matar Thomas, afinal, tantas garotas por ai ele tinha que me apresentar logo uma maluca? Porém, eu preferi não comentar nada com ele, se eu dissesse que estou tentando terminar com Gabbe, ele logo iria desconfiar de que Katniss está envolvida nessa minha decisão, e eu não queria mais ter que escutar seus comentários desnecessários.

Por sorte Gabbe cumpriu o que havia dito, e se manteve distante nos próximos dias, mas sempre que eu a olhava eu podia notar um olhar um tanto ameaçador dela para cima de mim, e aquilo fazia com que o meu estomago revirasse de forma estranha. Muito estranha.

Katniss continuou indo ao meu dormitório todas as noites e continuamos com nossa rotina de sempre, e cada dia eu sentia-me mais dependente dela. Com o passar dos dias o meu aniversário foi se aproximando e para minha surpresa caiu bem no dia em que a escola marcou uma visita ao centro, logo eu tive a ideia de convidar Katniss a dar uma volta comigo, seria agradável e também seria uma forma de ver como as pessoas reagiriam ao nos ver juntos, apesar de que por todos saberem que ela é minha amiga, eu acreditava que ninguém estranharia tanto em vê-la ao meu lado, isso claro, se nós nos comportássemos como dois amigos de escola, e essa era mesmo a minha intenção.

Katniss de inicio ficou meio receosa, a razão era obvia: Gabbe, eu também estava um pouco receoso por causa dela, ainda mais depois da ameaça que ela me fez. Porém, ao pensar melhor, eu queria passar á tarde com Katniss e não ia ser a ameaça de Gabbe que me deixaria com medo e me fizesse mudar de ideia, afinal, o que ela poderia fazer? Era somente um ressentimento normal de garota que não é acostumada a levar um fora, ela não poderia fazer nada contra nós dois, pelo menos era o que eu queria desesperadamente acreditar.

Como eu imaginava quando sentamos juntos dentro do ônibus, os alunos agiram com naturalidade, nada de olhares estranho por parte dos mais distantes, entretanto, pude notar que os amigos de Katniss acabaram nos olhando, mas para minha surpresa não foi olhares repreensivos, entretanto logo depois, foi a vez de Thomas nos encarar, o olhar dele já queria dizer tudo: “O que você está fazendo sentado com Katniss e não com Gabbe?”. É ele deve tá se perguntando isso nesse exato momento, eu ainda não havia contado nada do que aconteceu a ele, e provavelmente depois disso ele iria me interrogar até eu acabar confessando a verdade.

Katniss e eu conversávamos um assunto qualquer, quando, notei o olhar estranho de Gabbe em nossa direção, sim era um olhar um tanto estranho e ao mesmo tempo ameaçador, estava claro que ela não gostou nada em me ver sentado com Katniss. Ela arqueou as sobrancelhas, olhou-nos por mais alguns segundos e depois voltou a olhar para a frente. A ameaça dela voltou rapidamente em minha mente.

— Como você a conheceu? – Katniss perguntou de repente, fazendo acordar dos meus pensamentos.

— O que? – eu perguntei, olhando-me com as sobrancelhas franzidas.

— Gabbe... Aonde você a conheceu? – ela perguntou.

— Ela é vizinha do Thomas, passei alguns dias na casa dele e ai eu a conheci, ela já ia estudar aqui antes de eu conhece-la... – eu menti, desviando o olhar para os meus pés, eu não queria que ela soubesse que Gabbe decidiu estudar na escola, por causa de mim.

— Você gosta dela? – ela perguntou, eu voltei a olhá-la.

— Depende da definição de gostar...

— Tem tantas definições assim? Lógico que o gostar de namorada é diferente do que um gostar de amiga e...

— Eu não sei ainda o que é amar, quer dizer, eu ainda não consigo entender esse sentimento... – eu disse. Pelo menos a metade era verdade, ainda o amor era algo novo para mim e era confuso demais para ser entendido.

E então ela suspirou.

— Eu já acho que o amor é o sentimento mais fácil de ser percebido, ele é tão diferente de todos os outros sentimentos que é impossível não percebermos ele...

— Pode ser para você que é boa, sensível, honesta, não para alguém como eu... – e então desviei o olhar novamente.

— Você não é diferente, só quer acreditar que é, mas você é tão bom e sensível quanto eu... – ela disse, e então sorri para ela, parecia que às vezes ela me conhecia, até mais do que eu mesmo me conheço.

Continua...


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