Um completo pesadelo

A única coisa que eu queria era passar o meu aniversário ao lado de Katniss, eu queria ter um dia agradável ao lado dela, ouvi-la falar de coisas que eu não compreendo, me divertir com o jeito atrapalhado dela, e poder olhá-la, olhá-la a tarde inteira. Porém uma coisa é planejar e desejar e outra é conseguir.

Quando fomos o caminho todo juntos no ônibus, eu achei que até conseguiríamos ter um dia agradável no centro, porém foi só descermos, que Gabbe apareceu, parecendo decidida já a acabar com nossos planos.

Ela me abraçou e sorriu daquele jeito meio duvidoso, eu imaginei que ela só estava fazendo isso porque Katniss estava próxima, era uma maneira de tentar magoá-la.

— Mozinho... Hoje é seu aniversario, que tal pararmos com essas brigas e darmos uma volta juntos? – ela sugeriu, colocando os braços em volta do meu pescoço.

Ouvir aquilo parecia o fim, ficar a tarde toda com Gabbe escutando ela falar sobre coisas chatas e fúteis no meu ouvido.  Não, era realmente o fim, nem pensar, suspirei e puxei os braços dela para longe de mim.

— Olha Gabbe, Katniss e eu combinamos de tomarmos um café juntos... – eu disse, olhando para Katniss, percebi que ela não estava muito a vontade e com razão. Gabbe deixava qualquer um desconfortável.

— Ah sim sua amiguinha, mas não tem problemas, podemos ir nós três, o que vocês acham? – Gabbe perguntou.

— Não, que isso, vão vocês dois... – ela respondeu. Fazendo com que eu discordasse com a cabeça, inconformado.

— Eu faço questão querida, pode vir com a gente, o bom é que eu posso conhecê-la melhor... Eu gosto de conhecer os amigos do meu namorado... – ela respondeu, dando um ênfase na palavra “meu”.

Eu fiquei ali, congelado, as olhando, sem saber como sair daquela situação, eu queria ficar apenas com Katniss naquela tarde, mas eu sabia que não iria conseguir me livrar da Gabbe.

Só voltei em mim quando percebi que não estava mais só nós três, Gale havia se aproximado, com certeza porque já queria levar Katniss com ele, eu não pude evitar o nervoso de vê-lo tão próximo dela assim.

— Hei Katniss, eu estou indo lá naquela livraria que você me falou, quer ir? É que não estou querendo ficar de vela... – ele então apontou com a cabeça para Annie e Finnick que estavam parados mais na frente e conversavam bastante próximos um do outro.

— Claro! – ela disse rapidamente, deixando-me ainda mais nervoso. Bufei, enquanto sentia o estomago despencar, eu tentei pensar em falar qualquer coisa para reverter a situação.

— Mas Katniss... – eu iniciei, porém não sabia o que inventar, foi quando Gabbe já foi me interrompendo.

— Tenho uma ideia melhor, que tal nós quatro irmos ao café e depois passamos nessa livraria?... – Gabbe novamente sugeriu, apertando meu braço com força. Olhei para Gale e depois para Katniss, percebi que eles se entreolharam, Gale deu de ombros, porém Katniss pareceu não gostar muito da ideia.

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Pela primeira vez Gabbe conseguiu ter uma ideia que prestasse, era melhor ter Gale e Katniss próximos de nós, do que eles terem saído e ido sozinhos a qualquer lugar, pelo menos por perto eu conseguiria saber o que eles falavam, faziam, como tratavam um ao outro, e era o que eu fazia todo o tempo, desde que chegamos no café, eu reparava cada gesto deles, e principalmente a forma que Gale olhava para Katniss, era olhar interessado, estava claro para mim que ele gostava dela.

Eu não podia evitar a raiva que sentia em imaginar Katniss e Gale tendo alguma relação, era um sentimento estranho, porém inevitável. Minha vontade era de levantar, puxar Katniss e irmos para bem longe dali, mas não era possível, eu sabia que tinha que me segurar e continuar como sempre, disfarçando. Porém, por mais que eu tentasse evitar, eu sabia, cada dia estava mais claro para mim que eu sentia ciúmes de Katniss, e ainda, que eu a queria perto de mim, e já não bastava mais só a presença dela, eu estava começando a querer algo mais.

Eu estava tão distraído que não conseguia nem escutar o que Gabbe falava, ela parecia querer puxar assunto com Katniss e Gale, mas eu sabia que não era por simpatia, Gabbe nunca iria gostar de ter uma amiga como Katniss, ambas eram muito diferentes, e eu agradecia mentalmente por isso.  

Estava claro que Gabbe estava querendo é provocar, ela sentia raiva de Katniss, raiva que ela tentava de todo jeito disfarçar e que eu a cada momento ficava mais preocupado. Eu tinha medo do que ela poderia fazer, afinal, falam que mulheres magoadas e enciumadas são capazes de fazer qualquer coisa, Gabbe parecia ser esse tipo de mulheres.

— Hum... Vocês dois são amigos há muito tempo? – ela perguntou depois de alguns segundos em silencio, ela olhou para Gale e Katniss, e eles se entreolharam e concordaram com a cabeça. – Sabe vocês até que fariam um casal bonitinho e olha só não é querendo me gabar, mas eu nunca erro! – o sorriso dela se alargou.

Olhei para os dois com coração disparando, agora só faltava essa, Gabbe querer dar uma de cupido para cima dos dois, no mesmo momento minha vontade foi de se levantar e puxar Gabbe para fora do café, de tão desconfortável que estava a situação, porém o medo de deixa-los sozinho era maior. Eu não queria ficar imaginando o que os dois estariam fazendo, o incomodo de imaginar é pior do que ver Gabbe tentar juntá-los.

Engoli a raiva enquanto observava o desconforto de Katniss com o comentário e de Gale que até mesmo se engasgou com a própria saliva e começou a tossir.

— Somos apenas amigos! – Katniss disse olhando para Gabbe.

— É... Apenas amigos! – Gale concordou, meus olhos ficaram pregados em Katniss, ela também olhava-me fixamente.

— Ah é? Que pena, acho que vocês fariam um belo casal... – ela insistiu enquanto pegava sua xicara e dava um longo gole de café, ela continuava com os olhos grudados nos dois.

Quando saímos do café, Gabbe decidiu acompanhar Gale e Katniss até a livraria, ao entrarmos Gale e Katniss já foram nas estantes ver os livros, já Gabbe e eu ficamos lá, parados no meio da livraria, de braços cruzados.

Meus olhos pararam nos dois, Gale e Kartniss, senti o estomago revirar de forma estranha enquanto me lembrava do que Gabbe havia falado, Katniss e Gale faziam um belo casal, pois são parecidos, tem gostos iguais. Aquilo me incomodou, abaixei a cabeça, e tentei não olhá-los mais. Até que escutei a voz de Katniss:

— Peeta, eu acho que você ia gostar desse livro aqui! – eu voltei a olhá-la e vi que ela me olhava com um livro na mão, rapidamente me aproximei, deixando Gabbe para trás. Peguei o livro da mão dela, e observei a capa, ela era agradável.

— Vampiratas... Como será? – eu falei, e nós dois então começamos a ler a sinopse do livro.

O ano é 2505. Os oceanos se avolumaram e uma nova era de pirataria se inicia. Connor e Grace são gêmeos, e ficam órfãos depois da morte repentina do pai viúvo. Assustados, decidem fugir e enfrentar o mar, mas uma terrível tempestade os separa. Dois misteriosos navios rumam para o resgate – cada um encontra um dos gêmeos antes de desaparecer nas brumas. Connor está em um navio pirata e rapidamente se junta à tripulação. Grace vai parar em um navio que só desperta quando escurece. Trancada em uma cabine na qual velas se acendem sozinhas e refeições se materializam do nada, ela não demora a perceber que está no navio dos Vampiratas.

Após terminar de ler, escutei Katniss dizer:

— Eu vou ao banheiro, eu já volto! – ela entregou o livro para mim, e então a observei até ela entrar no banheiro. Dei de ombros e então voltei a olhar para o livro e comecei a olhar as páginas, até me distrai por alguns minutos, só voltei em mim quando Gabbe aproximou-se.

— Eles estão demorando, não acha? – ela perguntou.

— Eles? – eu disse, e depois olhei a minha volta, só então me dei conta de que Gale havia sumido.

Eles tinham ido embora... Juntos.

Meu estomago despencou, enquanto eu colocava o livro de volta na estante. Por que ela havia feito aquilo? Por que pelo menos ela não se despediu?

E então naquele momento a única coisa que desejei foi ir embora. Afinal, o meu aniversario estava sendo um completo pesadelo. Porém, como ainda estava muito cedo eu sabia que era impossível, e fui obrigado a passar o resto da tarde com Gabbe, andamos pelo centro e eu não podia negar que em todos os lugares que eu passava com ela, eu ficava olhando para os lados na esperança de ver Katniss, pelo menos de longe. Mas nada, sem sinal.

E então comecei a me torturar, pensando no que ela e Gale poderiam estar fazendo naquele exato momento, ele poderia estar tentando se aproximar, tocar nas mãos dela e falar palavras românticas, e se Katniss caísse na dele? Discordei com a cabeça e senti uma vontade imensa de bater a cabeça na parede para ver se eu parava de pensar nessas coisas.

Definitivamente o ciúmes é um dos sentimentos mais torturante que um ser humano pode sentir, pois ele é inevitável e impossível de controlar, por mais que tentemos não pensar, mais ele fica rondando em nossa mente, mexendo com nosso sistema nervoso, concluindo, o ciúmes é involuntário.

Quando finalmente deu o horário de irmos embora eu agradeci mentalmente, pelo menos no ônibus eu reencontraria os dois, quando entrei com Gabbe, já os avistei no fundo do ônibus, Katniss estava com a cabeça encostada na janela e Gale estava de braços cruzados e olhos fechados. Eles pelo menos não estavam muito pertos um do outro, dei um suspiro aliviado, enquanto escolhia um lugar para sentar, preferi escolher o mais próximo deles para poder continuar os observando.

 Enquanto os olhava eu ficava pensando no porque de Katniss ter sumido daquela forma... Por que ela pelo menos não avisou? Ela parecia evitar olhar em volta do ônibus, seus olhos estavam pregados no lado de fora, ela parecia observar a forte chuva que tinha começado a cair a pouco tempo,         Eu então imaginei que ela estava me evitando, só depois de muito tempo, quando já estávamos próximos da escola, é que ela me olhou. Meu coração no mesmo momento disparou, e só então notei que os olhos dela estavam tristes.

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Quando nós chegamos á escola eu já estava decidido a falar com Katniss, eu precisava desesperadamente saber o por quê ela havia feito aquilo, Gabbe teria falado algo a ela? Ou ela teria sumido com raiva dela ter estragado a nossa tarde? Será que ela estava esperando que eu fizesse alguma coisa? Eu poderia ter feito alguma coisa para ter evitado tudo isso?

Foi enquanto dobrando alguns corredores eu consegui avistá-la, ela caminhava em passos largos em direção ao seu dormitório, rapidamente a segui.

— Katniss, Katniss... – eu a chamei, notei que ela começou apressar os passos, ela parecia querer mesmo me evitar. Foi então que também aumentei os meus passos, e puxei-a pelo braço, afinal, eu não ia desistir tão fácil.

Nós nos encaramos por alguns segundos e depois ela desviou o olhar para o chão.

— Por que você foi embora? – eu perguntei. – Ainda mais daquele jeito, sem sequer se despedir, eu fiquei o resto da tarde te procurando... – eu perguntei, mas ela não me respondeu e nem voltou a me olhar. - Por que você está me evitando? É por causa da Gabbe? Eu juro que eu não queria que o passeio terminasse assim, eu...

— Peeta, chega! – ela me cortou, eu a encarei com as sobrancelhas franzidas, ela parecia estar nervosa. – Eu estou cansada disso tá legal... – ela acrescentou, notei os olhos dela começarem a lagrimejar. – Desde que te conheci, o que mais faço na minha vida é tentar ser sua amiga, tentei com todas as minhas forças e com toda minha alma ser uma boa amiga, fui compreensiva, te ajudei, sem pedir nada em troca, afinal, a sua felicidade já era o bastante para me deixar feliz, eu só queria, eu só desejava, que você gostasse pelo menos um pouquinho de mim, pelo menos um décimo do que eu gosto de você...  – ela falou e algumas lágrimas caíram dos olhos dela e ela as limpou rapidamente, meu coração disparava, e eu continuava olhando para ela sem reação alguma.  – Eu só quis ser sua amiga e eu já estava conformada com isso, acredite se Gabbe fosse uma garota legal até que eu ficaria feliz por você, mas sinceramente, ela é muito maldosa! – ela discordou com a cabeça.

Eu estava completamente confuso, não entendia o porque ela estava disparando tudo aquilo. O que poderia ter acontecido? Eu não fazia a mínima ideia, porém aquelas palavras pareciam me chicotear e a minha vontade era de abraça-la e de dizer que ela não precisava dizer mais nada.

— Katniss –  eu disse, tentando interrompê-la, não queria escutar mais, porém ela me cortou.

— Não eu não estou dizendo isso para fazer você sentir-se mal por não gostar de mim como eu gosto de você, eu nunca faria isso, pois você não é obrigado a nada, você não é obrigado nem a falar comigo...  – ela acrescentou, eu discordei com a cabeça, inconformado com as palavras dela. – Só que agora eu vejo que não dá mais Peeta, não, não é raiva por você estar namorando, não estou ressentida, não estou com dor de cotovelo, eu só vi que não dá mais para ser o que éramos, porque assim como você não é o Peeta de antes, eu também não sou a Katniss de antes, e principalmente agora não têm só nós dois, na verdade eu  percebi que eu estou sobrando... – ela finalizou, percebi que mais algumas lágrimas caíram dos olhos dela, mas ela se virou rapidamente, talvez para eu não vê-la chorando.

E então, ela foi embora. Sim, ela foi embora tão rápido que não deu tempo nem de eu pensar, eu fiquei ali parado, ainda digerindo as ultimas palavras dela, elas machucavam e como machucavam, discordei com a cabeça, enquanto me dava conta que ela disse que não queria mais ficar próxima de mim, que não queria mais ser minha amiga.

— Katniss... – eu sussurrei para mim mesmo, enquanto sentia meu corpo todo amolecer e meu estomago despencar tanto que eu não conseguia nem mais manter-me em pé, me sentei no chão e apoiei a cabeça com as mãos, enquanto ainda pensava nas palavras de Katniss. Elas ficavam se repetindo e se repetindo em minha mente, até que pouco a pouco o desespero começou a fazer eu me dar conta que eu precisava de Katniss Everdeen mais do que eu imaginava.

Continua...